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Treinamento funcional para o aprimoramento da força muscular e equilíbrio de idosos

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    A longevidade vem aumentando consideravelmente em todo o mundo, em conseqüência disso, o número de idosos poderá chegar a setenta milhões nos países desenvolvidos em 2030 (LACOURT; MARINI, 2006).

    No Brasil, as projeções para o ano de 2025 indicam que 15% da população estarão acima de 60 anos, isso se deve a melhoria das condições de saúde e a crescente expectativa de vida. O número de jovens no Brasil com idade entre zero e quatorze anos irá diminuir consideravelmente, e com o envelhecimento da sociedade o país terá que se adequar, organizar e amadurecer para conviver ao lado dessa crescente população (RUWER; ROSSI; SIMON, 2005; REBELATTO, 2006).

    O envelhecimento pode ser definido como um processo dinâmico e progressivo, que gera alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas. Muitos gerontólogos acreditam que essas alterações são atribuídas ao estilo de vida sedentário e esses fatores podem levar a diminuição de força, potência e equilíbrio resultando em provável diminuição da qualidade de vida dos idosos (REBELATTO, 2006;PEREIRA; TEIXEIRA; ETCHEPARE, 2006; OSUTO;BANDEIRA, 2009).

    A força muscular é uma das mais importantes valências físicas e pode ser definida como o estado de ser forte, a capacidade de um músculo produzir tensão ativa ou a capacidade que certo grupo muscular consegue exercer contra uma determinada resistência ou um esforço máximo (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997; TARTARUGA, 2005, BARBOSA, 2007; QUEIROZ; MUNARO, 2008).

    A diminuição da força em idosos ocorre principalmente pela perda de massa muscular que é um fenômeno denominado sarcopenia. Define-se esse, como um decréscimo da capacidade neuromuscular que ocorre com o envelhecimento levando também a alterações no nível metabólico basal e da atividade muscular. Esta perda acontece em duas fases: uma mais lenta, entre 25 e 50 anos com decréscimo em torno de 10% e uma mais rápida, entre os 50 e 80 anos com decréscimo em torno de 40% (MORAIS, 2005; TERNES; ZABOT, 2009).

    Analisando a estrutura muscular do idoso, observamos que ocorre um declínio tanto de fibras do tipo 1 (tônicas), quanto do tipo 2 (fásicas) bem como um aumento da gordura intramuscular e tecido conjuntivo resultando em uma diminuição das propriedades contráteis dos músculos (AGUIAR, 2008).

    Em indivíduos idosos, observamos também, uma diminuição significativa de unidades motoras, e isso se deve a degeneração de elementos neurais com o passar da idade (LACOURT; MARINI, 2006).

    A avaliação da força muscular global em idosos pode ser mensurada com a utilização de um dispositivo que opera segundo um princípio de tração e compressão, ele é denominado dinamômetro analógico. Ao se aplicar uma força externa no aparelho, uma mola é tensionada e ocorre a movimentação de um ponteiro. Sabendo-se o quanto de força é necessário para tencionar a mola o ponteiro irá determinar com exatidão a força estática externa aplicada ao aparelho (SANDOVAL; CANTO; BARAÚNA, 2004).

    Para realizarmos atividades de vida diária e obtermos independência funcional, a potência ou força explosiva, pode ter maior relevância do que a força muscular na realização de tarefas no dia-a-dia do idoso.

    A diminuição da potência esta diretamente relacionada a alterações indefinidas do SNC, como: retardo na velocidade de condução das fibras nervosas motoras; transmissão retardada da junção neuromuscular; diminuição no número ou na área transversal relativa das fibras tipo II; alterações no retículo sarcoplasmático e do metabolismo do cálcio dentro das fibras; alterações na composição de miosina das diferentes fibras; aumento do tecido não contrátil gerando uma maior resistência (LACOURT; MARINI, 2006).

    O envelhecer acarreta alterações sensórias importantes no organismo, ele acaba comprometendo a habilidade do sistema nervoso central em realizar o processamento dos sinais vestibulares, visuais e proprioceptivos responsáveis pela manutenção do equilíbrio (RUWER; ROSSI; SIMON, 2005).

    De acordo com Ribeiro; Pereira (2005), o equilíbrio é definido como uma resposta do sistema nervoso central ao detectar tanto antecipadamente, quanto momentaneamente a instabilidade além de ser capaz de gerar uma reposta que leve o corpo de volta para uma base de suporte (centro de gravidade), evitando a queda.

    O desequilíbrio é um dos principais fatores que limitam o idoso a realizar suas atividades funcionais corretamente. Entre 65 e 75 anos de idade, cerca de 30% dos idosos apresentam sintomas desta alteração sensorial e essa mesma porcentagem revela que pelo menos uma vez por ano ocorrem quedas nessa população, e quanto maior a idade maior será o risco (BOMFIM, 2004; RUWER; ROSSI; SIMON, 2005; SILVA, 2008).

    O equilíbrio pode ser avaliado de várias formas, uma maneira prática é através de testes, como a escala de Avaliação da Mobilidade Orientada pelo Desempenho (POMA), utilizada para avaliar e quantificar a habilidade do equilíbrio funcional, bem como acompanhar o progresso de pacientes com déficit de equilíbrio.

    A escala POMA foi criada por Tinetti, Williams & Mayewski em 1986 e adaptada culturalmente para o Brasil em 2003. Dividida em duas partes, sendo que a primeira avalia o equilíbrio e a segunda parte avalia a marcha (PERRACINI et al, 2010).

    A força muscular, a potência e o equilíbrio como foi relatado, sofrem alterações importantes com o passar dos anos, o que vem a gerar incapacidades funcionais, diminuindo significativamente a qualidade de vida do idoso. Com isso uma das alternativas para maximizar estas variáveis é a utilização do Treinamento Funcional (TF).

    O TF é um novo conceito, na qual é explorada a utilização do próprio corpo e de recursos que estimulem a propriocepção, a força e a resistência muscular bem como a flexibilidade, coordenação motora, equilíbrio e o condicionamento cardiovascular. Neste conceito, são utilizados exercícios que se aproximam da atividade física ou diária do indivíduo (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004; MONTEIRO; EVANGELISTA, 2010).

    O TF está fundamentado em duas diretrizes, que são: o respeito à individualidade biológica que é o primeiro passo para a prescrição de um programa de exercícios seguros e coerentes e ao princípio da especificidade do treinamento, na qual as adaptações que ocorrem no corpo humano, decorrente dos estímulos proporcionados pelo exercício, são específicas daquele determinado programa de treinamento (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004).

    A abordagem do paciente que será submetido ao TF deverá ser extremamente cautelosa, pois o indivíduo deverá interagir com as informações que irá receber. Para isso, o Fisioterapeuta utilizará a fala como voz de comando, a demonstração do movimento e o toque para que o paciente entenda o exercício e perceba a importância de se realizar corretamente (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004).

    A maioria dos idosos, devido ao estilo de vida sedentário, possui desequilíbrios musculares ao redor das principais articulações sinoviais, uma das conseqüências do desequilíbrio muscular reside na sua influencia sobre a qualidade e o controle dos movimentos (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004).

    O corpo humano possui músculos que estabilizam primariamente uma articulação e aproximam as superfícies articulares, esses são chamados estabilizadores. Os músculos que movimentam as articulações e produzem torque são chamados mobilizadores (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004).

    O treinamento em ambientes que possuam bases de suporte irregulares, como: areia, pisos escorregadios, depressões no solo, bem como a utilização de bola suíça, minicama elástica, proporcionam o recrutamento de músculos estabilizadores além de uma melhora no controle postural (PEREIRA, 2009).

    De acordo com Monteiro; Evangelista(2010) o corpo possui um centro de gravidade, onde se originam todos os movimentos. Os músculos que compõem este centro promovem a sustentação da coluna, da postura e de órgãos internos. Estes músculos podem ser divididos em dois grupos: os que pertencem à unidade interna (transverso do abdômen, oblíquo interno, multífido e os transversos espinhais lombares) e os que pertencem à unidade externa (reto abdominal, oblíquo externo, eretores da coluna, quadrado lombar, complexo adutor, quadríceps, isquiotibiais e glúteo máximo).

    Os músculos citados acima formam um cilindro de estabilidade ao redor da cintura, que é denominado CORE ou complexo lombo-pélvico.Se essas estruturas forem estimuladas e trabalhadas, os movimentos, a força e o equilíbrio provavelmente irão se maximizar (MONTEIRO; EVANGELISTA, 2010).

    O TF deve ser iniciado somente depois de uma avaliação cinesiofuncional, para que se encontre ou não desequilíbrios musculares, para que a partir daí, possamos traçar uma conduta segura e eficaz (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004).

    De acordo com Campos; Coraucci Neto (2004), o TF pode ser dividido em quatro módulos: preparação, consciência postural e cinestesia, treinamento funcional, treinamento funcional resistido.

    Os exercícios usados no TF podem ser progredidos da seguinte forma: de baixa velocidade para alta; posturas estáticas para dinâmicas; de menor intensidade para maior intensidade; movimentos controlados e conscientes para movimentos inconscientes e sem controle; de olhos abertos para fechados; movimentos bilaterais para unilaterais; movimentos simples para complexos; exercícios que exigem pouca coordenação para exercícios complexos; movimentos estáveis para movimentos instáveis; movimentos em um plano para movimentos em vários planos (MONTEIRO; EVANGELISTA, 2010).

    O Fisioterapeuta, ao utilizar o (TF), precisa ter muita criatividade e habilidade, para realizar mudanças necessárias no programa de treinamento. Ele pode alterar e progredir os exercícios, lembrando sempre de respeitar a individualidade biológica de cada indivíduo (CAMPOS; CORAUCCI NETO, 2004).

    O TF vem preenchendo um espaço importante na abordagem fisioterapêutica com a terceira idade, pois, é um conceito que visa melhoras na força muscular e equilíbrio através de exercícios que proporcionem estímulos diversos ao sistema nervoso para a melhora da função corporal nas atividades de vida diária.

    Os objetivos do trabalho foram: avaliar a eficácia do treinamento funcional na melhora da força, equilíbrio e marcha no paciente idoso, avaliar a força muscular de idosos através da dinamometria analógica manual, avaliar o equilíbrio funcional e marcha através da escala de Poma.

Casuística e métodos

    Estudo analítico experimental realizado no Centro de Gerontológico Sagrada Família mantida pela Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) em Goiânia Goiás, no mês de março a maio de 2010.

    O estudo foi dividido em duas etapas de avaliação, sendo anterior e posterior a aplicação do conceito de Treinamento Funcional.

    Inicialmente a amostra era composta por 14 idosos. A efetivamente analisada foi constituída por nove idosos de ambos os sexos com idade variando de 65 a 79 anos (X=72±4,36). Os idosos excluídos foram: dois por desistência e três por excesso de faltas.

    Todos os voluntários assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido e termo de autorização para utilização de imagem.

    O procedimento de avaliação do equilíbrio foi realizado através da escala de Poma, pois essa vem sendo muito utilizada para determinar os fatores de risco que levam a perda da independência e para quedas em idosos.

    Primeiramente foi avaliado o equilíbrio utilizando 13 itens com escore de 39 pontos, e posteriormente foi avaliado a marcha que conteve 9 itens com escore de 18 pontos, totalizando um escore de 57 pontos.

    A avaliação da força muscular global foi realizada com auxílio de um dispositivo que opera segundo o princípio de tração e compressão, este é denominado dinamômetro analógico (SANDOVAL; CANTO; BARAÚNA, 2004).

    Os pacientes primeiramente receberam uma explicação de como será o procedimento da avaliação da força muscular. Eles assumiram a posição sentada com o ombro na posição neutra e o cotovelo em 90 graus de flexão, o dinamômetro foi colocado nas mãos uma de cada vez, e posteriormente foi solicitado ao voluntário realizar a maior preensão palmar possível. Este procedimento foi acompanhado de uma voz de comando como: atenção, força, força, força e relaxa (SANDOVAL; CANTO; BARAÚNA, 2004).

    Os exercícios do treinamento funcional foram realizados em forma de circuito, os idosos tiveram que ser divididos em 2 grupos denominados TF1 e TF2. A prática para ambos os grupos foram nas terças e quintas-feiras, durante 1 mês, totalizando 8 sessões de 45 minutos. Esta divisão foi necessária para um melhor aproveitamento e didática durante a atividade do treinamento funcional.

    O circuito foi dividido em 7 estações que possuíam exercícios que promoveram: equilíbrio, ativação da musculatura do CORE, coordenação, agilidade e potência. Esses exercícios foram adequados de modo que reproduzisse as atividades funcionais diárias, como exemplo: caminhar com base estreita em um trajeto que possuía várias direções e transpassar obstáculos com alturas e larguras variadas segurando objetos com carga que variavam de 2 a 4 litros.

Resultados

    O programa de exercícios do Treinamento Funcional apresentou uma diferença real do equilíbrio entre os escores obtidos pela Escala de Poma no pré-teste (X=55,21±1,89) e no pós-teste (X=57,00 ± 0,00), sendo que o escore máximo para este teste é de 57 (Tabela 1 e 2).

    Observou-se, também uma diferença real da força muscular no pré e pós-teste pela Dinamometria Analógica Manual.

Tabela 1. Média e desvio padrão das variáveis analisadas – avaliação inicial

 

Tabela 2. Média e desvio padrão das variáveis analisadas – avaliação final

Discussão

    A análise em relação à amostra evidenciou que a idade não foi uma variável que interferiu no desempenho dos exercícios propostos e que o sexo feminino foi predominante como visto nos estudos de Morais et al. (2004) e de Montenegro (2006).

    Na avaliação do equilíbrio pela escala de Poma observou-se um aumento real do escore de 1,79 representando 3,25%. O TF proporcionou aos idosos atingir a pontuação máxima que é de 57. Na pesquisa realizada por Lojudice et al. (2008) onde foi realizado com o objetivo somente de avaliar o equilíbrio e marcha através da escala de Poma em 105 idosos institucionalizados com idade variando de 60 a 97 anos, verificou-se que do total dos participantes do estudo, 52 (49,5%) apresentam alterações no equilíbrio e na marcha e que deve ser enfatizado um treino específico para melhorar essas variáveis.

    Com relação à avaliação da força muscular pela dinamometria analógica manual, ocorreu um aumento real nos dois membros superiores, sendo que no membro superior direito foi de 4,89 Kgf representando 18% e no membro superior esquerdo foi de 2,22 Kgf representando 8,9%. O estudo feito por Rebelatto et al. (2006), concluiu que a força de preensão manual de 32 idosas com idades compreendidas entre 60 a 80 anos, que foram submetidas pela mesma avaliação, foi mantida após a intervenção de um programa de exercícios físicos durante 2 anos de prática.

    A independência funcional é de fundamental importância para o idoso, e para que ele consiga é necessário que o seu organismo esteja apto para a realização de tarefas comuns do dia-a-dia. De acordo com Montenegro (2006), na qual foi realizado com 22 mulheres apresentando idades compreendidas entre 64 a 91 anos, um programa de exercícios de cinesioterapia global como: treino de marcha pela área do jardim e exercícios ativos resistidos contra a gravidade veio a promover a melhora da capacidade funcional além de estimular a educação das mesmas em relação a normas de condutas posturais, para que elas pudessem ter maior controle, prevenir incapacidades e limitações nas atividades funcionais.

    Em estudo realizado por Morais et al. (2004), onde foi utilizado um treinamento de força trabalhando músculos isoladamente, durante 16 sessões com intensidade progressiva, em 7 idosas (X=68,7±2,5anos), para analisar a melhora da força muscular e atividades de vida diária, observou-se um aumento acentuado nessas variáveis. E foi evidenciado também que uma musculatura que se mantêm ativa pode ser responsável por uma vida mais independente, facilitando a realização de atividades cotidianas com mais eficiência e segurança. O treinamento proposto neste artigo, diferentemente desse estudo que enfatizou a prática de um treino de força muscular isolado, propôs uma abordagem que enfatizava o ganho de força muscular através de exercícios específicos do dia-a-dia dos idosos residentes no Centro Gerontológico Sagrada Família, na qual foi explorado exercícios em mais de um plano de movimento. Igualmente nesse estudo, o TF buscou aprimorar a capacidade em realizar atividades de vida diária, só que do ponto de vista observacional.

    Segundo Costa et al. (2009), na qual foi realizado exercícios multissensoriais organizados em forma de circuito composto por 13 estações com a amostra contendo 26 idosos durante 10 sessões, promoveu a melhora significativa do equilíbrio reduzindo expressivamente o risco de quedas. O desequilíbrio como foi relatado nesta pesquisa é um dos principais fatores que limitam os idosos em realizar suas atividades funcionais corretamente. Os exercícios elaborados do TF buscaram proporcionar estímulos diversos ao sistema nervoso central, semelhante a esse estudo.

    Analisando o trabalho realizado por Zambaldi et al. (2007) onde foi proposto durante 8 semanas com 6 idosas um treinamento de equilíbrio específico, não sistematizado, mostrou ter um efeito na melhora do equilíbrio proporcionando assim uma maior independência funcional. Mas no tocante a força muscular este estudo relatou que é necessário a prática de exercícios de força associados com treino de equilíbrio. Diferentemente dos exercícios propostos nesta pesquisa que visaram somente o treino de equilíbrio, o circuito do treinamento funcional buscou trabalhar de forma associada às duas variáveis visando melhorar a capacidade dos idosos em realizar determinadas tarefas.

    O propósito dessa intervenção, através desse recurso fisioterapêutico que é o treinamento funcional, promoveu a melhora da capacidade dos idosos em realizar tarefas específicas do seu dia-a-dia, fazendo-os adquirir força e equilíbrio, promovendo assim uma maior independência funcional.

    As recomendações desse trabalho é que se desenvolvam novas pesquisas nesse campo com idosos, pois sabemos que essa população está em uma crescente e que nós profissionais de Fisioterapia devemos explorar e criar recursos para melhorar a qualidade de vida dos idosos.

Conclusão

    A prática dos exercícios do Treinamento Funcional com o método empregado foi eficaz na melhora da força muscular bem como do equilíbrio e marcha dos idosos estudados.

    A dinamometria manual analógica mostrou ser um método seguro e eficaz para avaliar a força muscular de idosos.

    A escala de POMA é um método fidedigno e prático para avaliar o equilíbrio e marcha de idosos. Observando-se assim um aprimoramento da capacidade em realizar atividades comuns do dia-a-dia.

Referências

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Fonte

Testes clinimétricos de 2 instrumentos que mensuram atitudes e crenças de profissionais de saúde sobre a dor lombar crônica

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Introdução

A dor lombar é um dos motivos mais comuns que levam indivíduos a procurarem atendimento médico1. No Brasil, a dor lombar corresponde a 15% das consultas anuais na rede pública2. A elevada prevalência da dor lombar acarreta despesas substanciais à sociedade, as quais são relacionadas não apenas a custos diretos, mas principalmente a custos indiretos devido à incapacidade dos indivíduos para o trabalho3. Aqueles indivíduos com sintomatologia crônica, ou seja, de duração superior a três meses, são responsáveis pela maior parcela desses custos4.

A incapacidade gerada por episódios de dor lombar é extremamente variável, e sua magnitude parece não ser explicada pela intensidade da dor5. Por outro lado, fatores psicossociais têm sido considerados elementos-chave no desenvolvimento da incapacidade crônica6; por exemplo, aqueles indivíduos que acreditam que sua coluna é vulnerável tendem a demonstrar um comportamento cauteloso com relação à atividade muscular e o movimento. Consequentemente, eles estariam mais predispostos a maiores níveis de incapacidade7,8. Além disso, sabe-se que as atitudes e crenças sobre a relação entre dor e incapacidade também são capazes de influenciar as escolhas de profissionais de saúde com relação ao tratamento de indivíduos com dor lombar crônica9.

Nas últimas décadas, houve uma grande mudança sobre o entendimento dos diversos aspectos relacionados à dor lombar crônica10,11, porém muitas dessas atualizações não foram incorporadas pelos profissionais do campo das ciências da reabilitação e fisioterapia12 devido a atitudes e crenças que esses profissionais adquiriram durante o tempo. Apesar de as diretrizes de tratamento não recomendarem repouso ou tratamentos passivos para dor lombar crônica10, vários profissionais ainda prescrevem esse tipo de intervenção12. A identificação desses profissionais com crenças e atitudes inadequadas podem potencialmente auxiliar na obtenção de melhores resultados terapêuticos no futuro. Essa identificação é essencialmente baseada em escalas ou questionários desenvolvidos para mensurar o construto de atitudes e crenças. A escolha das melhores escalas deve ser baseada em sua aplicabilidade, adaptação à população-alvo e, principalmente em suas propriedades de medida (propriedades clinimétricas), como reprodutibilidade, validade e consistência interna13.

Em uma recente revisão sistemática da literatura14, foram identificadas cinco escalas para avaliar as atitudes e crenças de profissionais da saúde sobre a dor lombar, sendo a Health Care Providers' Pain and Impairment Relationship Scale (HC-PAIRS)15 e a Pain Attitudes and Beliefs Scale for Physiotherapists (PABS.PT)16 as mais frequentemente utilizadas.

A descrição dessas escalas encontra-se a seguir.

A escala HC-PAIRS

A escala HC-PAIRS foi desenvolvida a partir da Pain and Impairment Relationship Scale (PAIRS), a qual foi originalmente criada para avaliar as atitudes e crenças de indivíduos com dor lombar crônica15. Quinze itens que sugerem uma relação direta entre dor e incapacidade são pontuados em escalas do tipo Likert de sete pontos (sendo 0= "discordo totalmente" e 6= "concordo totalmente"). O escore total do HC-PAIRS varia de 0 a 90 pontos, com altas pontuações representando a forte crença na relação entre dor crônica e incapacidade e baixas pontuações representando baixa crença nessa relação. As propriedades clinimétricas da HC-PAIRS originalmente desenvolvida são satisfatórias, incluindo adequada consistência interna e validade discriminante15.

A escala PABS.PT

A escala PABS.PT foi desenvolvida para avaliar o papel das atitudes e crenças de fisioterapeutas no desenvolvimento e manutenção da dor lombar crônica16. Tal como a HC-PAIRS, 12 dos 31 itens que compõem a PABS.PT foram derivados de questionários já existentes que avaliam as atitudes e crenças de indivíduos com dor lombar crônica, como a Tampa Scale for Kinesiophobia (TSK)17,18. Posteriormente, os autores propuseram a exclusão de 15 dos 31 itens originais e a inclusão de três novos itens (totalizando 19 itens). A análise clinimétrica da escala modificada confirmou sua estrutura fatorial prévia19. Por meio da análise fatorial da PABS.PT, dois fatores foram identificados: orientação biomédica (composto pelos itens de 1 a 10) e orientação comportamental (composto pelos itens de 11 a 19). Os itens de ambos os fatores são pontuados em escalas do tipo Likert de seis pontos (sendo 0= "discordo totalmente" e 5= "concordo totalmente"). O escore total do componente de orientação biomédica varia de 0 a 50 pontos, e o escore total do componente de orientação comportamental varia de 0 a 45 pontos. Uma alta pontuação no primeiro fator representa a convicção na relação entre dor e dano tecidual, enquanto a alta pontuação no segundo fator indica a ausência dessa relação19.

Apesar de as atitudes e crenças de profissionais da saúde serem reconhecidas como um dos fatores capazes de influenciar os resultados observados durante o tratamento de indivíduos com dor lombar crônica, essa área de pesquisa ainda é incipiente14. No Brasil, tal tópico foi abordado em apenas um estudo, no qual a HC-PAIRS foi traduzida e adaptada culturalmente para o português-brasileiro e utilizada para investigar as atitudes e crenças de estudantes de fisioterapia sobre a dor lombar20. Contudo, as propriedades clinimétricas da escala adaptada ainda não foram avaliadas. Além disso, até o momento, ainda não foi desenvolvida a versão da PABS.PT em português-brasileiro. Portanto, o presente estudo teve como objetivo traduzir e adaptar a versão em português-brasileiro da PABS.PT e avaliar as propriedades clinimétricas das versões em português-brasileiro da HC-PAIRS e da PABS.PT.

 

Materiais e métodos

O estudo foi realizado em duas etapas. A primeira etapa consistiu na tradução e adaptação transcultural da escala PABS.PT para o português-brasileiro (a HC-PAIRS já tinha sido previamente adaptada para o português-brasileiro seguindo os mesmos procedimentos de adaptação utilizados neste estudo)20. A segunda etapa consistiu em testar as propriedades clinimétricas da versão em português-brasileiro da HC-PAIRS e da PABS.PT em 100 fisioterapeutas que trabalhavam com pacientes portadores de dor lombar em sua prática clínica. Foram testadas as seguintes hipóteses:

1. As versões em português-brasileiro das escalas HC-PAIRS e PABS.PT apresentariam um nível aceitável de consistência interna;

2. A versão em português-brasileiro da HC-PAIRS se correlacionaria positivamente com a versão em português-brasileiro da PABS.PT;

3. Tanto a HC-PAIRS quanto a PABS.PT apresentariam uma reprodutibilidade aceitável em um teste-reteste com sete dias de intervalo;

4. Tanto a HC-PAIRS quanto a PABS.PT apresentariam níveis baixos de efeitos de teto e piso.

Tradução e adaptação transcultural

Os procedimentos de tradução e adaptação transcultural seguiram as diretrizes do Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self report measures21, conforme descrito abaixo:

1. Tradução inicial: a escala PABS.PT original foi traduzida para o português-brasileiro por dois tradutores bilíngues independentes que desconheciam o instrumento;

2. Síntese das traduções: após a discussão e revisão das duas traduções, os tradutores produziram uma versão em consenso da PABS.PT em português-brasileiro;

3. Retrotradução: a nova versão da PABS.PT em português-brasileiro foi traduzida de volta para a língua inglesa por outros dois tradutores bilíngues independentes, os quais não tinham conhecimento prévio das versões originais dos questionários;

4. Um comitê de especialistas, composto pelos quatro tradutores e os autores deste projeto, revisaram todos os procedimentos anteriores, comparando todas as traduções e corrigindo possíveis discrepâncias para que a versão final da PABS.PT fosse testada no Brasil.

Os procedimentos de tradução e adaptação transcultural do HC-PAIRS20 foram idênticos aos realizados para o PABS.PT. Não foram realizados pré-testes para averiguar a compreensão dos itens dos instrumentos conforme sugerido pelas diretrizes21. Os participantes do estudo foram questionados quanto à compreensibilidade dos itens e não relataram problemas ao responder aos instrumentos.

Testes clinimétricos

As propriedades clinimétricas das versões em português-brasileiro das escalas HC-PAIRS e PABS.PT foram analisadas em uma amostra de 100 fisioterapeutas que trabalhavam com pacientes portadores de dor lombar em sua prática clinica, os quais foram recrutados por conveniência nas cidades de São Paulo-SP, Belém, PA, Maceió, CE e Belo Horizonte, MG, Brasil. Para participar do estudo, o fisioterapeuta deveria ser registrado junto ao Conselho Regional de Fisioterapia (CREFITO) de sua região, ter experiência no tratamento de pacientes portadores de dor lombar (essa informação foi obtida por meio da pergunta: Quantos pacientes com dor lombar você atende em média por semana?) e assinar um termo de consentimento livre e esclarecido concordando em participar do estudo.

O tamanho amostral de 100 fisioterapeutas foi definido seguindo as recomendações dos "Quality criteria for measurement properties of health status questionnaires22" que sugerem que, pelo menos, 50 participantes seriam necessários para as análises de reprodutibilidade, validade e efeitos de teto e piso, e, pelo menos, 100 participantes seriam necessários para análise de consistência interna.

As seguintes propriedades clinimétricas foram avaliadas:

1. Consistência interna: é a medida que testa se os itens de um instrumento de medida (ou as escalas do instrumento) são correlacionados (homogêneos), ou seja, se múltiplos itens de um instrumento mensuram o mesmo construto. A consistência interna dos instrumentos foi testada pelo valor de Alfa de Cronbach22. Valores de Alfa de Cronbach entre 0,70 e 0,95 representaram consistência interna aceitável22,23.

2. Reprodutibilidade: refere-se à capacidade de um instrumento de medida obter respostas semelhantes em um experimento de teste-reteste sob condições estáveis. A reprodutibilidade é um termo geral que engloba duas propriedades: confiabilidade e concordância22,24.

a. Confiabilidade: avalia até que ponto indivíduos podem ser distinguidos entre si apesar dos erros de medida. Em outras palavras, a confiabilidade nada mais é do que o erro relativo de um instrumento de medida22,24. A confiabilidade foi mensurada neste estudo pelo Coeficiente de Correlação Intraclasse (CCI) do tipo 2,125,26. CCIs inferiores a 0,40 representam confiabilidade pobre; entre 0,40 e 0,75, confiabilidade moderada; entre 0,75 e 0,90, confiabilidade substancial e superiores a 0,90, confiabilidade excelente23.

b. Concordância: pode ser definida como o erro absoluto do instrumento de medida. O procedimento estatístico de mensuração da concordância tem como objetivo determinar a proximidade entre dois escores mensurados em tempos distintos. A concordância é sempre expressa nas mesmas unidades de medida do instrumento por meio do Erro-Padrão da Medida (EPM). O EPM foi calculado pela razão entre o desvio-padrão (DP) da média das diferenças e a raiz quadrada de 2 (DP das diferenças/2)24. A concordância foi avaliada pelo percentual do EPM em relação ao escore total do questionário, sendo: menor ou igual a 5%, concordância muito boa; entre 5,1% e 10%, concordância boa; entre 10,1% e 20%, concordância questionável e acima de 20,1%, concordância fraca27.

3. Validade do construto: refere-se a até que ponto o escore de um determinado instrumento se correlaciona com o escore de outro instrumento que mede o mesmo construto (ou construtos similares). A validade do construto deve ser avaliada a partir de uma formulação de hipóteses a priori. O teste estatístico utilizado no presente estudo para essa avaliação foi o teste de Correlação de Pearson (r)22. A validade do construto pode variar de fraca a boa, sendo considerada fraca se r<0,30; moderada se 0,30 < r < 0,60 e boa se r>0,6028.

4. Efeitos de teto e piso: são considerados presentes quando mais de 15% dos participantes respondem a um questionário com escore máximo (teto) ou mínimo (piso)22. Uma das consequências dos efeitos de teto e piso é a impossibilidade de distinção entre os participantes que respondem com escores muito baixos ou muito altos e os demais participantes, levando à redução da confiabilidade do instrumento. Os efeitos de teto e piso foram calculados por análises de frequência a partir da soma do número de indivíduos que responderam com escores máximos (teto) e mínimos (piso) e da posterior conversão dos valores em percentuais.

Todos os fisioterapeutas responderam às escalas HC-PAIRS e PABS.PT duas vezes por meio de entrevistas, sendo a primeira na linha de base (dia 0) e a segunda sete dias depois (dia 7). O intervalo de sete dias foi escolhido para evitar a memorização das respostas anteriores, mas também para que não houvesse tempo suficiente para que as crenças a respeito da dor lombar fossem modificadas (por exemplo, devido à realização de cursos de atualização). As entrevistas da linha de base e sete dias depois foram agendadas previamente com os participantes, e não houve perdas amostrais entre a primeira e a segunda entrevista. Dados demográficos, tais como idade, gênero, local de trabalho e experiência profissional, também foram coletados na linha de base.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Belo Horizonte, MG, Brasil, sob o registro de número FR-146074.

 

Resultados

Um total de 100 fisioterapeutas de ambos os gêneros participaram do estudo, sendo todos adultos jovens, com experiência profissional inferior a 5 anos, seguindo diferentes linhas de tratamento para dor lombar e atuando em diferentes tipos de ambientes clínicos (Tabela 1).

 

 

A versão final da escala PABS.PT traduzida e adaptada transculturalmente para o português-brasileiro está descrita no Anexo 1. As Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados referentes às análises de consistência interna, reprodutibilidade e validade do construto dos instrumentos e de suas respectivas subescalas. A consistência interna variou entre 0,67 e 0,74; a confiabilidade, entre 0,70 e 0,84; a concordância, entre 3,48 e 5,06 e o percentual do EPM em relação aos escores totais dos questionários variou entre 4,8 e 7,7% (Tabela 2). Esses resultados refletem valores adequados de consistência interna e reprodutibilidade. A matriz de correlação com os resultados da análise de validade do construto mostra valores de correlação que variam do fraco ao moderado em praticamente todos os casos, com exceção da correlação entre a subescala PABS.PTFator biomédico e a HC-PAIRS, que não alcançou significância estatística (Tabela 3).

 

 

Discussão

Os objetivos do presente estudo foram traduzir e adaptar transculturalmente a escala PABS.PT para o português-brasileiro e testar as propriedades clinimétricas das versões em português-brasileiro das escalas HC-PAIRS e PABS.PT. A amostra recrutada se originou de diversas regiões do país (Belém, Maceió, São Paulo e Belo Horizonte). Além disso, os participantes eram fisioterapeutas com diferentes níveis de formação acadêmica e experiência profissional, os quais trabalhavam em diferentes ambientes clínicos. Tomados em conjunto, esses fatores são de extrema relevância no que diz respeito à validade externa do estudo.

A consistência interna é a medida da homogeneidade dos itens de um questionário, ou seja, ela avalia se o conjunto de itens que compõem o instrumento (ou um dos fatores/subescalas do instrumento) se refere a um mesmo construto13,22. Observou-se um valor aceitável de Alfa de Cronbach (0,71) para a escala HC-PAIRS. Dois estudos encontraram valores semelhantes. O primeiro15 analisou atitudes e crenças de profissionais de saúde em relação a pacientes com dor lombar crônica. Esse estudo recrutou 150 profissionais de saúde americanos, entre eles, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais e educadores físicos, e se observou um valor Alfa de Cronbach de 0,78. O segundo7 analisou uma amostra de 156 terapeutas holandeses, dentre eles, quiropatas, fisioterapeutas, terapeutas manuais e osteopatas, e também encontrou valores aceitáveis de consistência interna para a mesma escala (Alfa de Cronbach =0,83).

A escala PABS.PTé interpretada de acordo com um modelo bidimensional. Neste estudo, a avaliação da consistência interna da escala PABS.PT resultou em um valor aceitável de Alfa de Cronbach para a sub-escala PABS.PTFator biomédico (0,74), mas não para a subescala PABS.PTFator comportamental (0,67). Mais uma vez, esses resultados são semelhantes aos resultados de estudos clinimétricos previamente conduzidos. Por exemplo, Houben et al.19 analisaram uma amostra de 295 terapeutas holandeses e encontraram valores de Alfa de Cronbach de 0,73 para a subescala PABS.PTFator biomédico e de 0,68 para a subescala PABS.PTFator comportamental. Em outro estudo em que foram testadas as propriedades clinimétricas da versão em alemão da PABS.PT29, também foi encontrado um valor aceitável de Alfa de Cronbach para a subescala PABS.PTFator biomédico (0,77), mas não para a subescala PABS.PTFator comportamental (0,58). O mesmo padrão de resultados foi observado no estudo de Ostelo et al.16, no qual os valores de Alfa de Cronbach foram de 0,84 para a subescala PABS.PTFator biomédico, e de 0,54 para a subescala PABS.PTFator comportamental. É interessante observar que em todos os estudos nos quais a consistência interna da PABS.PT foi avaliada, ela foi sempre superior para a subescala PABS.PTFator biomédico, quando comparada à subescala PABS.PTFator comportamental. Visto que a consistência interna da subescala comportamental é problemática em todas as versões existentes nas diferentes línguas, descarta-se a hipótese de que a moderada consistência interna da versão em português seja devido a problemas de tradução/adaptação ou compreensão dos itens pelos participantes. Estudos são necessários para que os itens dessa subescala sejam revisados e testados novamente.

A reprodutibilidade se refere à capacidade de um instrumento de medida obter respostas semelhantes sob condições estáveis24 e é avaliada por meio do erro relativo (confiabilidade) e absoluto (concordância) do instrumento. No presente estudo, foram encontrados valores de confiabilidade que variaram de moderado a substancial. Para a escala HC-PAIRS, foi encontrado um CCI de 0,84 (IC 95% 0,77 a 0,89). De maneira similar, o estudo de Rainville et al.9 também encontrou um Índice de Correlação de Pearson moderado (0,64) no teste-reteste da HC-PAIRS. Para a escala PABS.PT, foram encontrados CCIs de 0,80 (IC 95% 0,72 a 0,87) para a subescala PABS.PTFator biomédico e de 0,70 (IC 95% 0,57 a 0,94) para a sub-escala PABS.PTFator comportamental. Valores similares de CCIs foram encontrados no estudo de LE Laekeman, Sitter e Basler29 (0,83 para a subescala PABS.PTFator biomédico e 0,70 para a subescala PABS.PTFator comportamental).

Os valores de concordância encontrados no presente estudo foram de 4,34 para o HC-PAIRS, 5,06 para o PABS.PTEscore total, 3,57 para o PABS.PTFator biomédico e 3,48 para o PABS.PTFator comportamental.

Os percentuais do EPM em relação ao escore total dos questionários variaram entre 4,80% (HC-PAIRS) e 7,70% (subescala PABS.PTFator comportamental), representando uma concordância, no mínimo, boa. Não foram encontrados estudos anteriores que mensuraram a concordância desses instrumentos.

A validade do construto é testada quando se correlaciona o escore de um determinado instrumento de medida com o escore de outro instrumento que mede o mesmo construto (ou um construto similar). A validade do construto pode variar de fraca a boa, sendo considerada fraca se r<0,30; moderada se 0,30 < r < 0,60 e boa se r>0,6028. A matriz de correlação apresentada na Tabela 3 apresenta correlações que variam de fraca a moderada em todos os casos, com exceção das correlações entre a subescala PABS.PTFator comportamental e as escalas PABS.PTFator biomédico e a HC-PAIRS, que não alcançaram significância estatística. É importante ressaltar que a PABS.PT e a HC-PAIRS não avaliam construtos idênticos e, além disso, não existe um padrão-ouro para tais construtos e, portanto, valores moderados de correlação são aceitáveis suportando nossa hipótese de que elas se correlacionariam positivamente. Enquanto a PABS.PT avalia as atitudes e crenças de profissionais de saúde a respeito do desenvolvimento e manutenção da dor lombar crônica, a HC-PAIRS avalia a crença de profissionais de saúde na relação entre a intensidade dor e a incapacidade em pacientes com dor lombar crônica. Dessa forma, não são esperados altos valores de correlação entre esses dois instrumentos. No presente estudo, encontrou-se uma correlação positiva, porém fraca, entre a HC-PAIRS e a subescala PABS.PTFator biomédico (r=0,28; P=0,005). Já no estudo de Houben et al.19, observou-se uma correlação moderada entre essas escalas (r=0,51; P<0,001). Da mesma forma, observou-se uma correlação fraca entre a HC-PAIRS e a PABS.PTFator comportamental (r=0,19; P=0,06), enquanto o estudo de Houben et al.19 encontrou uma correlação negativa (r=-0,36; P<0,001). As diferenças em termos de validade do construto em diferentes países podem ser explicadas por uma combinação entre aspectos culturais, diferenças amostrais ou ainda por diferenças no próprio contexto educacional da estrutura curricular dos programas educacionais de fisioterapia.

Nosso estudo possui algumas limitações que devem ser consideradas na interpretação dos resultados. Primeiro, não foram realizados os pré-testes para analisar a compreensibilidade dos itens das escalas antes de se iniciar a coleta de dados. As diretrizes de adaptação transcultural21 sugerem que o pré-teste seja feito em uma pequena amostra de indivíduos para testar se a versão final é de fácil compreensão. Apesar de os participantes do estudo terem considerado os instrumentos como de fácil preenchimento, não se pode descartar a possibilidade de que o pré-teste teria identificado a necessidade de revisão de algum dos itens do PABS.PT. A versão do HC-PAIRS utilizada neste estudo também não foi pré-testada20. Segundo, a ordem das escalas que foram preenchidas pelos participantes não foi aleatória. Apesar de esse procedimento somente ser mandatório em instrumentos com altos níveis de semelhança, como as versões longa e curta do Questionário de Dor de McGill30, não se pode descartar a possibilidade de os padrões de respostas dos participantes terem sidos influenciados pela ordem de aplicação dos instrumentos.

Diversas escalas já foram desenvolvidas para a avaliação das atitudes e crenças de profissionais da saúde sobre a dor lombar14. Entretanto, antes do desenvolvimento deste estudo, a HC-PAIRS consistia na única escala já traduzida e adaptada culturalmente para o português-brasileiro e suas propriedades clinimétricas ainda não haviam sido testadas20. Os resultados deste estudo indicam que as versões em português-brasileiro da PABS.PT e da HC-PAIRS possuem níveis aceitáveis de reprodutibilidade. Os níveis de validade do construto dessas escalas variaram de fraco a moderado. Além disso, não se observaram efeitos de teto e piso em ambos os instrumentos. Portanto, a partir deste momento, já é possível utilizar, com confiança, as versões em português-brasileiro da PABS.PT e da HC-PAIRS em futuras investigações, a fim de se conhecer melhor o perfil das atitudes e crenças de profissionais da saúde (incluindo fisioterapeutas) e seu impacto no tratamento de pacientes com dor lombar no Brasil.

 

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 Autor:

Mauricio O. MagalhãesI; Leonardo O. P. CostaI; Manuela L. FerreiraII; Luciana A. C. MachadoIII

 

 


Anexo 1 - Clique para ampliar


Posição correta ao dormir evita dores na coluna

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Dor nas costas tem sido um problema cada vez mais frequente na população. Segundo o ortopedista e traumatologista Jorge Aldi de Andrade Sirqueira, as dores nas costas se constituem no principal motivo das consultas dos clínicos, reumatologistas e, principalmente, ortopedistas. E pelos mais diversos motivos. "Os fatores de risco mais relevantes das lombalgias e dorsalgias são sobrecarga ou esforço físico adicional, posturas incorretas, obesidade, sedentarismo e estresse", comentou o médico.

A posição ao deitar-se para dormir e também o colchão e o travesseiro utilizados também podem influenciar na saúde da coluna. "Em relação às posturas, são importantes os cuidados durante as atividades laborativas, como evitar longo período assumindo uma mesma posição, e até mesmo durante o repouso. E durante o sono, em geral, o decúbito dorsal (deitar com a barriga voltada para cima) e lateral (para os lados esquerdo ou direito) são as melhores posturas. Além disso, pessoas que apresentam dor nas costas devem evitar dormir com a barriga para baixo", explicou.

Sobre o tipo de colchão mais indicado para dormir, Jorge Aldi disse que o colchão semi-rígido é o mais adequado e que a densidade da espuma deve variar com o peso da pessoa. Já quem dorme de lado deve utilizar um travesseiro da altura do ombro. "Em decúbito dorsal, o travesseiro deve ser bem baixo, com exceção daqueles que possuem hipercifose (giba), ou seja, aumento pronunciado da concavidade da curva torácica, que necessitam travesseiros mais elevados", esclareceu.

Travesseiro X Torcicolo
O ortopedista ressaltou, ainda, que a postura durante o sono é tão importante quanto o tipo do colchão e travesseiro e que, com o passar do tempo, a espuma ortopédica do colchão perde a qualidade e o colchão se deforma, havendo a necessidade de troca. O mesmo pode acontecer com o travesseiro de espuma.

"O uso inadequado do travesseiro pode desencadear contratura muscular na região cervical, o chamado torcicolo, que cursa com dor intensa e rigidez no pescoço. Geralmente, a tensão muscular reduz durante o primeiro ou segundo dia com a utilização de analgésicos e com o uso de colar cervical, forma de imobilizar parcialmente a coluna cervical", explicou Aldi.

Ele lembrou, também, a importância de salientar que na maioria dos casos de 'dor nas costas' há uma combinação de fatores que são responsáveis pelo desencadeamento do quadro doloroso. "È importante identificar os principais fatores e tentar reduzir os efeitos danosos à coluna vertebral. Pessoas que apresentam dificuldades em assumir posturas corretas podem ser beneficiadas com a realização de exercícios posturais, alongamentos ou RPG (Reeducação Postural Global)", acrescentou.

Como dormir melhor

  • Coloque seu travesseiro sob sua cabeça, não sob seus ombros;
  • Evite travesseiros com muito enchimento, eles não deixam sua cabeça descansar em uma posição neutra;
  • Durma de lado, com seus joelhos levemente dobrados e com um travesseiro entre seus joelhos. Essa é a melhor maneira de manter uma postura corporal adequada enquanto permanecer deitado. Evite torcer suas pernas em direção ao tórax. Se você tem que dormir de costas, coloque um travesseiro sob seus joelhos para dar um apoio à curvatura normal da parte inferior das costas;
  • Evite dormir de barriga para baixo, já que isso pode agravar as dores nas costas e no pescoço;
  • Muitos fabricantes de colchões promovem os de superfície extra-firme, mas pode ser que um colchão seja firme demais. Do mesmo modo, alguns colchões podem ser macios demais, especialmente os que possuem uma cobertura extra-macia de penas. Nenhuma das duas situações permite o repouso dos seus músculos, já que eles precisam trabalhar durante a noite toda para encontrar uma posição confortável e para manter a postura correta.
  • Fonte: Jornal da Cidade


Bruxismo é associado ao estresse em 100% dos casos

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Muitas pessoas apertam e rangem os dentes enquanto dormem, um problema progressivo que pode desgastar e até mesmo amolecer os dentes. Foto: Shutterstock

Acordar com dor de cabeça ou na mandíbula pode ser sinal de bruxismo. Muitas pessoas apertam e rangem os dentes enquanto dormem, um problema progressivo que pode desgastar e até mesmo amolecer os dentes. Segundo o cirurgião-dentista Rodrigo Bueno, consultor da ABO, o bruxismo é associado ao estresse em 100% dos casos. "Todos os pacientes com sintomas de bruxismo têm aumento, direto ou indireto, da tensão emocional", diz. 
 
Assim, o acompanhamento psicológico, junto ao tratamento com o dentista, pode ajudar na cura do bruxismo, uma vez que a psicoterapia identifica e trata as dificuldades emocionais associadas ao problema. Para diminuir a tensão, é indicado praticar esportes, ioga e fazer exercícios de relaxamento. 
 
Para Rodrigo, pessoas com bruxismo têm termômetro psicológico na boca. "O melhor é perceber que o problema não vem do nada e tentar achar suas causas no dia a dia", afirma. O profissional explica que qualquer situação estressante pode piorar o sintoma. "Se o frio funcionar como agente estressante para uma pessoa, é possível que aumente a tensão", exemplifica. 
 
No consultório do dentista, o método usado para tratar o bruxismo é o encaixe de placas de acrílico na arcada dental, especialmente durante a noite. Estas placas ajudam a distribuir a força muscular em todos os dentes. Por último, o dentista deve fazer um ajuste fino do fechamento da boca através de seus instrumentos odontológicos de corte. Este procedimento é seguro e indolor ao paciente e rapidamente leva a um alívio do sintoma.
 
Crianças
Apesar de ser mais frequente entre os 15 e 40 anos, o bruxismo pode afetar pessoas de todas as idades. Durante a infância, o problema é mais comum na fase das trocas dentárias. "É possível existir desde a conclusão da oclusão infantil (dentes de leite) e pode ganhar destaque nas fases de trocas dentárias devido aos desequilíbrios mastigatórios comuns ao período", explica Bueno.
 

Correr com orientação adequada diminui a dor nas costas

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A dor nas costas é um termo popular para um trio de problemas bem conhecido da Medicina: a lombalgia, a cervicalgia e a dorsalgia. O nome identifica a região das costas em que o desconforto aparece: na coluna lombar (área mais baixa, próxima ao quadril); na coluna cervical (região do pescoço) ou na coluna dorsal (o meio da coluna,respectivamente.

Dependendo da região das costas e da gravidade do problema, ele chega a gerar incapacidade funcional. Cerca de 80% da população, em todo o mundo, já teve ou irá ter dor nas costas ao longo da vida segundo a Organização Mundial da Saúde. O número só vem atrás do total de vítimas de dor de cabeça.

Praticada com acompanhamento adequado, a atividade física age de forma preventiva. Isso porque ela fortalece os músculos que dão sustentação à coluna e combate a obesidade (que exige demais do esqueleto).

Mas a falta de orientação pode transformar até os atletas saudáveis em alvo de algum problema nas costas. Excesso de peso, excesso de gordura abdominal, flacidez abdominal, encurtamento da musculatura posterior das pernas, encurtamento e/ou fraqueza da musculatura lombar e movimentos bruscos são as causas mais comuns de problemas de coluna entre os praticantes de corrida.

O uso de tênis e palmilhas inadequados também favorece o mal. Para se prevenir, alongue bastante os músculos atrás da coxa e das costas, na região lombar. E faça abdominais, porque é a musculatura desta região é importante na sustentação e estabilidade durante seus treinos de corrida, diminuindo a sobrecarga na musculatura lombar e paravertebral (todos os músculos em volta da coluna dorsal).


A evolução da produção científica em áreas da fisioterapia

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Introdução

A cada dia os profissionais buscam segmentos de atuação diferenciados no mercado de trabalho estimulados pela promoção da saúde.

O fisioterapeuta é conhecido como o profissional que cuida da reabilitação das funções motoras.  Durante muito tempo, o Sistema de saúde tem imposto ao profissional uma atuação voltada quase que exclusivamente para o tratamento, apesar da importância do fisioterapeuta em outras áreas de atuação. (1)

A tendência da fisioterapia tem sofrido grandes mudanças. Hoje a prática clínica é cada vez mais alicerçada em produções científicas e os profissionais se interessam por estas produções e seus resultados (6) Fica especificado que os profissionais da área de saúde sentem cada vez mais necessidade de conhecimento e embasamento cientifico.

A fisioterapia busca o desenvolvimento de pesquisas que precisam ser divulgadas e constantemente revisadas para o avanço da ciência e da prática clínica.

A busca por informações cientificas são facilitadas para que todos os profissionais da área de saúde possam ter acesso, produzindo interações e ampliação de conhecimento teórico. As bases de dados bibliográficos sempre estão disponibilizadas em sites de busca onde se encontram produções multidisciplinares. Sendo necessário apenas expor um limite e uma especificação do assunto. Ex.: ano, palavra-chave.

Os principais sites de busca são:

  • Pubmed/ Medline
  • Ovid
  • Scienc Direct

Este artigo tem como objetivo avaliar a evolução da produção científica em áreas da fisioterapia e utilizar estas produções  tanto na docência quanto na  clínica  fisioterápica reciclando e atualizando profissionais e acadêmicos. (2)

Materiais e Métodos

A pesquisa foi desenvolvida no site PUBMED/MEDLINE. As áreas de atuação selecionadas foram: reumatologia, reabilitação em reumatologia, traumato-ortopedia, reabilitação em traumato-ortopedia, cardiologia, reabilitação em cardiologia, pneumologia e reabilitação em reumatologia. As áreas de atuação selecionadas  deram se por serem os ramos mais comuns de atuação na clínica fisioterápica, para cada termo foi designado três palavras-chave que se encontram na Tabela 1.O período de busca vem do ano de 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006 e 2007.

Tabela 1: Áreas e palavras-chave utilizadas na pesquisa.

Áreas

 Palavras-Chave

Reumatologia

  • Physiotherapy
  • Bone
  • Rheumatics

Traumato-ortopedia

  • Physiotherapy
  • bone
  • traumatic

Cardiologia

  • Physiotherapy
  • heart
  • muscle

Pneumologia

  • Physiotherapy
  • lung
  • muscle

O site foi acessado no dia 24 do mês de abril do ano de 2008 as 11:30 horas, com as áreas de atuação e palavras-chave (Tabela 1) seguindo um período de busca do ano de 2007, 2006, 2005, 2004, 2003, 2002, 2001 e 2000.

Análise

Os resultados encontrados e apresentados na Tabela 2 e nos gráficos mostram uma tendência no desenvolvimento da pesquisa na área de Pneumologia após uma grande queda. Sendo possível este desenvolvimento devido ao grande interesse da classe médica nos aspectos do tratamento conservador em patologias pneumológicas. Neste aspecto, é possível ser considerado também o aumento do índice de indivíduos com doenças pulmonares ao longo dos últimos anos.

As pesquisas no ramo de cardiologia apresentam uma grande elevação no inicio do ano 2000. Foi uma época de intensa pesquisa devido ao acometimento da população em doenças cardiovasculares. Houve também um grande interesse da classe médica no ramo de reabilitação cardiovascular. Nos dias de hoje, houve uma queda nas pesquisas neste ramo devido ao desvio de foco para outras patologias.

Os gráficos também evidenciam um aumento atual no ramo de pesquisas em Traumato-ortopedia após uma instabilidade vinda de alguns anos anteriores. Esse crescimento nas pesquisas são derivadas da altíssima incidência de lesões ortopédicas produzidas nos dois últimos anos.

No ramo de Reumatologia, os gráficos evidenciam uma grande elevação em anos anteriores derivadas dos estudos em lesões articulares, recentemente houve uma queda. Porém, as pesquisas estão aumentando um pouco mais nos últimos dois anos.

 

Resultados

De 01/01/2007 para 31/12/2007 forma encontrados sete artigos para reumatologia, 9 para traumato-ortopedia, 38 para cardiologia, e 21 para pneumologia; De 01/01/2006 para 31/12/2006 foram encontrados 10 artigos para reumatologia, 11 para traumato-ortopedia, 52 para cardiologia, 15 para pneumologia; De 01/01/2005 para 31/12/2005 foram encontrados 14 artigo para reumatologia, 4 para traumato-ortopedia, 48 para cardiologia, 14 para pneumologia; De 01/01/2004 para 31/12/2004 foram encontrados 16 artigos para reumatologia, 2 para traumato-ortopedia, 35 para cardiologia, 5 para pneumologia; De 01/01/2003 para 31/12/2003 foram encontrados 10 artigos para reumatologia, 8 para traumato-ortopedia, 33 para cardiologia e 7 para pneumologia; De 01/01/2002 para 31/12/2002 forma encontrados 8 artigos para reumatologia, 5 para traumato-ortopedia, 29 para cardiologia, 12 para pneumologia; De 01/01/2001 para 31/12/2001 forma encontrados 9 artigos para reumatologia, 4 para traumato-ortopedia, 32 para cardiologia, 12 para pneumologia; De 01/01/2000 para 31/12/2000 foram encontrados 10 artigos para reumatologia, 8 para traumato-ortopedia, 28 para cardiologia, 17 para pneumologia.(Tabela 2)

Dos artigos com as áreas de busca e palavras-chave( Tabela 1) voltados para reabilitação foram encontrados: De 01/01/2007 para 31/12/2007 foram encontrados 2 artigos  em reabilitação em reumatologia, 6 em reabilitação em traumato-ortopedia, 11 em reabilitação cardiológica, 9 em reabilitação em pneumologia; De 01/01/2006 para 31/12/2006 foram encontrados 2 artigos  em reabilitação em reumatologia, 5 em reabilitação em traumato-ortopedia, 8 em reabilitação cardiológica, 6 em reabilitação em pneumologia; De 01/01/2005 para 31/12/2005 foram encontrados 5 artigos  em reabilitação em reumatologia, 1 em reabilitação em traumato-ortopedia, 17 em reabilitação cardiológica, 8 em reabilitação em pneumologia; De 01/01/2004 para 31/12/2004 foram encontrados 12 artigos  em reabilitação em reumatologia, nenhum artigo em reabilitação em traumato-ortopedia, 7 em reabilitação cardiológica, 4 em reabilitação em pneumologia; De 01/01/2003 para 31/12/2003 foram encontrados 5 artigos  em reabilitação em reumatologia, 3 em reabilitação em traumato-ortopedia, 16 em reabilitação cardiológica, 6 em reabilitação em pneumologia; De 01/01/2002 para 31/12/2002 foram encontrados 5 artigos  em reabilitação em reumatologia, nenhum artigo em reabilitação em traumato-ortopedia, 6 em reabilitação cardiológica, 5 em reabilitação em pneumologia; De 01/01/2001 para 31/12/2001 foram encontrados 4 artigos  em reabilitação em reumatologia, 1 em reabilitação em traumato-ortopedia, 10 em reabilitação cardiológica, 7 em reabilitação em pneumologia; De 01/01/2000 para 31/12/2000 foram encontrados 5 artigos  em reabilitação em reumatologia, 4 em reabilitação em traumato-ortopedia, 12 em reabilitação cardiológica, 8 em reabilitação em pneumologia.(Tabela 2)

O número de artigos publicados nas respectivas áreas de atuação ao longo dos anos segue especificados na Tabela 2.

Tabela 2: Números de artigos publicados nas respectivas áreas de atuação

 

2007

2006

2005

2004

2003

2002

2001

2000

Reumatologia

7

10

14

16

10

8

9

10

Reabilitação em Reumatologia

2

2

5

12

5

5

4

5

Traumato- Ortopedia

9

11

4

2

8

5

4

8

Reabilitação em
Traumato-ortopedia

6

5

1

--

3

--

1

4

Cardiologia

38

52

48

35

33

29

32

28

Reabilitação em Cardiologia

11

8

17

7

16

6

10

12

Pneumologia

21

15

14

5

7

12

12

17

Reabilitação em Pneumologia

9

6

8

4

6

5

7

8

 

Conclusões

O crescimento da fisioterapia como ciência está diretamente relacionado com a incessante busca pelo conhecimento e o estudo de novas técnicas, métodos e terapias. (9)

É necessário se ter um embasamento teórico, técnico e científico cada vez mais apurado, e, isso só é possível através da produções científicas realizadas de forma profissional seguindo toda a metodologia cientifica preconizada e explícita alicerçando a prática clínica. (2)

Ao longo dos últimos sete anos, foram desenvolvidas pesquisas que serviram como base teórica primordial para cada profissional em sua respectiva área.

Porém, sabe-se que as restrições vindas de muitos integrantes da própria classe impedem o progresso.

É necessário que todos os profissionais estejam atentos à necessidade de informações atualizadas no ramo da área biomédica visando desenvolvimento das pesquisas, evoluções das produções já existentes.

Fica evidente que todo o trabalho até aqui desenvolvido já demonstra um grande progresso dos profissionais da área de fisioterapia e da profissão em si. Não deixando de estar evidente de que é só um começo e que serão necessárias ainda muitas produções científicas para alcançarmos o avanço desejado por todos.

Referências Bibliográficas
  1. Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, Promotores de Bem estar, ano 3-n7 -julho de 2005 – Edição Vestibular.
  2. Departamento de fisioterapia, fonoaudiologia e TO , faculdade de medicina USP; Disponível em: http://www.fm.usp.br/fofito/fisio/revista.php, acesso em: 01/05/08
  3. ARAUJO, L. Z. S., de. As´pectos éticos da pesquisa científica. Pesqui. Odontol. Brás. [on line]. Maio 2003, vol. 17 supl. 1 [citado 07 Outubro 2003], p. 57-63. Disponível na WorldWideWeb: http://www.scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-74912003000500009&Ing=iso ISSN1517-7491.
  4. Universidade da Região da Campanha, Graduação em fisioterapia, Disponível em: http://www.urcamp.tche.br/graduacao/fisioterapia.html, acesso em: 13 outubro 2007
  5. Dias RC, Prática baseada em evidências: sistematizando o conhecimento científico para uma boa prática clínica. Editorial. Ver. Fisioterapia Univ. São Paulo 2003; 10(2)
  6. Haddad N. Metodologia de estudos em ciências da saúde. São Paulo : Roca; 2004.
  7. Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Resolução COFFITO-80 de 21 de maio de 1987. Diário Oficial da União 1987 Maio 21; 93: Seção 1: 7609.
  8. Atallah NA, Peccin MS, Cohen M, Soares BGI. Revisões sistemáticas e metanálises em ortopedia. São Paulo: Lopso; 2004.
  9. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21. São Paulo: . Cortez, 2000.
  10. REBELATTO, J. R., BOTOMÉ, S. P., Fisioterapia no Brasil. 2 ed. São Paulo: Manole, 1999.
  11.  Uma ferramenta de pesquisa e desenvolvimento da fisioterapia, Avaliação postural computadorizada. Disponível em: www.fisiometer.com.br, acesso em:01/05/2008
  12. Pataco, V., Ventura, M., Resende, É., Metodologia para trabalhos acadêmicos e normas de apresentação gráfica. Universidade Estácio de Sá. Rio de Janeiro, 2004.

Artigo Publicado em: 20/06/2009
Autor(a): Thatiana Nunes Velasco

FisioImagens 37

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http://i1236.photobucket.com/albums/ff443/chakalat/fisioimagens.gif

















Imagens da Fisioterapia para se conhecer mais sobre a nossa atuação

Frases para Fisioterapia/Fisioterapeutas

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Segue abaixo algumas frases que norteiam nossa profissão e acabam a descrevendo!

Se ao me ver você perde os movimentos, não se preocupe...  Eu faço fisioterapia!!!!

"Fisioterapia... O trabalho é nosso, o resultado é seu!"

" Quando as lágrimas são tiradas dos olhos de um Fisioterapeuta, sem dúvidas é a comprovação que no mínimo um sorriso de satisfação nasceu da esperança de um paciente" ( Mandarim)

" Cada degrau um sorriso, cada evolução uma conquista e é assim que o sonho começa a se realizar " (Mandarim)

"Ser fisioterapeuta é ter duas mãos e um coração entre elas, é manter expressão serena, mesmo com a alma desesperada."

"Para ser fisioterapeuta tem que manter a mente quieta mesmo diante do desespero, ter um brilho no olhar mesmo quando não temos esse motivo."

"Ser fisioterapeuta é acreditar na esperança que dias melhores virão, é vencer o sentimento de onipotência que nós é erroneamente delegado, é reconhecer nossos próprios limites."

" O Velho é aquilo que com o tempo não é capaz de realizar funções que antes o cabia,já o Idoso é a reunião da experiencia de feitos funcionais e a capacidade de viver em função da vida com o avanço da idade "

"Para ser fisioterapeuta tem que manter a mente quieta mesmo diante do desespero, ter um brilho no olhar mesmo quando não temos esse motivo."

"O movimento é nossa arma e nossa arte, através dele nos fazemos ciência. Nele depositamos nossos sonhos de trazer à vida, o que sem vida parece estar."

"O movimento é nossa arma e nossa arte, através dele nos fazemos ciência."

"Nao sou fácil, sou de Fisio!"

"Fisioterapia, mexendo com você!"

"Ser fisioterapeuta é acreditar na esperança que dias melhores virão, é vencer o sentimento de onipotência que nós é erroneamente delegado, é reconhecer nossos próprios limites."

No Youtube 1: Saiba como prevenir e tratar dores nas pernas e varizes

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Essa nova seção do blog tem o objetivo de mostrar o que anda acontecendo no nosso canal do Youtube. Aliás, você já se inscreveu nele?

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O nosso primeiro video escolhido foi sobre as dores nas pernas decorrentes por causa de Varizes e/ou de origens vasculares.

Esse tipo de de patologia, apesar de ser tratada pela Fisioterapia, ainda não é de conhecimento geral da população, embora já haja vários profissionais atuantes com cirurgiões vasculares e angiologistas.

Esse vídeo traz o depoimento de várias pessoas que tem essas dores e dicas de profissional para prevenção.

Assista!

Atuação do Fisioterapeuta na Uroginecologia

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A fisioterapia uroginecológica atua no tratamento conservador das disfunções urogenitais e anorretais contribuindo para o bem estar físico e social de mulheres e homens que são acometidos por estas disfunções.

Situações como incontinência urinária, incontinências fecais, urgência miccional, constipação, flacidez perineal, disfunções sexuais, dores pélvicas, prolapsos genitais, gravidez, pós-parto, cirurgias pélvicas, prostatectomia radical, são os focos principais da atuação da fisioterapia uroginecológica.

A incontinência urinária (IU) é definida como sendo qualquer perda involuntária de urina. A IU mais comum é a de esforço caracterizada pela perda involuntária de urina ao tossir, espirrar ou realizar esforço físico. Existem outros tipos de incontinência como, por exemplo,  a de urgência que é aquela em que a bexiga é hiperativa, ou seja, trabalha demais e faz surgir a toda hora vontade de urinar.

A incontinência urinária não é condição de risco para saúde, porém afeta a realização plena de atividades diárias por constrangimento higiênico e social; tem influência direta na qualidade de vida de mulheres cada vez mais jovem, pois é um sintoma que não está limitado apenas às mulheres idosas.

As causas da  IU em homens são bastante variadas e a identificação da origem é essencial para o tratamento adequado. Em homens, sem problemas neurológicos, a incontinência urinária está na maioria das vezes associada à história de cirurgias prostáticas. Durante estas cirurgias pode haver lesão do esfíncter ou do nervo responsável pelo seu funcionamento levando a perdas urinárias. As perdas também podem decorrer de um excesso de contrações da bexiga durante o enchimento ou mesmo de transbordamento da urina.

Quanto mais precoce for o encaminhamento da (o) paciente para a fisioterapia, maior será a chance de sucesso do tratamento.  Atualmente a fisioterapia é o primeiro tratamento proposto para a IU leve e moderada; para aqueles casos de IU grave  que  exigem  tratamento cirúrgico, a fisioterapia no pré e pós-operatório inclui-se no processo terapêutico melhorando muito o resultado cirúrgico.

O tratamento na fisioterapia uroginecológica é realizado após cuidadosa avaliação e consiste em:

- reeducação manual através de exercícios perineais;
- terapia comportamental após realização de diário miccional;
- treinamento da musculatura do assoalho pélvico;
- eletroestimulação e biofeedback.


Hidroterapia auxilia pacientes que se recuperam de fratura ou entorse

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Ao caminhar na rua, você tropeça num desnível, pode sofrer uma entorse do tornozelo, capaz de gerar uma ruptura ou esgarçamento de tendão ou até uma fratura de algum osso da articulação. Em alguns casos, pode acontecer uma fratura cominutiva. Cominutiva? É a fratura onde o osso se estilhaça, fragmenta-se.

Dependendo da gravidade do caso e do paciente, o médico pode optar pelo tratamento conservador. Existem as fatalidades, mas podemos prevenir ou diminuir a ocorrência destas lesões através do fortalecimento e alongamento da musculatura envolvida e a flexibilidade articular da mesma, através de exercícios diários.

Hidroterapia treino aeróbico na água eu atleta (Foto: Divulgação)
Treinamento aeróbico na água auxilia na recuperação de entorse no tornozelo (Foto: Divulgação)

A propriocepção (termo utilizado para nomear a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo) neste caso é do pé e como reagir aos desequilíbrios, ou seja, pisos irregulares, degraus, situações inesperadas. A hidroterapia permite trabalhar força, flexibilidade, e equilíbrio, tirando partido da flutuação e do desequilíbrio causado pela turbulência sem risco de cair no solo.

Por exemplo, estou cuidando de um paciente com entorse de tornozelo, seguido de queda com torção sobre o pé esquerdo num degrau de 10cm (causou fratura do terço distal da tíbia da fíbula e fratura cominutiva do calcâneo). O médico optou pelo tratamento conservador, imobilizando a articulação com o uso de gesso, sem cirurgia, placas ou parafusos.

Após a retirada do gesso, a indicação foi hidroterapia, sendo o trabalho inicial sem carga, em "deep water" (profundidade superior à altura da pessoa), portanto sem força da ação da gravidade, utilizando a resistência da água. Na medida em que o paciente evolua e passe de duas para uma só muleta, ou seja, aumentando a descarga do peso corporal, podemos acompanhar tal evolução na hidroterapia. A partir daí, passamos a trabalhar na região da piscina com menor profundidade, submetendo o paciente a uma maior atuação da força da gravidade.

Hidroterapia treino aeróbico na água eu atleta (Foto: Divulgação)

O objetivo do trabalho hidroterápico neste caso é ganhar mobilidade articular em primeiro lugar, seguindo-se o fortalecimento e finalmente a propriocepção. No trabalho que está sendo realizado na foto, na prancha amarela que está sobre o step, o fisioterapeuta faz turbulência aumentando o desequilíbrio e ocasionando uma resposta mais intensa do paciente. Este exercício já é o final do tratamento.

O tratamento é progressivo, onde a intensidade é regulada de acordo com a capacidade de cada individuo. No atleta, podemos exigir mais, pois este, por hipótese, está acostumado a exercitar-se e os resultados são mais rápidos. Em pacientes sedentários, o ritmo é mais lento. Devemos obedecer e respeitar as diferenças individuais sempre.

Autora: Sandra Wegner

Estabilidade articular do joelho no quadro do "joelho-flutuante"

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INTRODUÇÃO

Na literatura, o termo "Joelho Flutuante" foi utilizado pela primeira vez por Blake e Mcbryde, em 1975, para definir fraturas simultâneas das diáfises do fêmur e da tíbia ocorridas no mesmo membro(1). Posteriormente, as fraturas intra-articulares do joelho passaram a fazer parte desta definição.

A incidência dessas lesões tem aumentado nos últimos anos. É uma lesão grave, causada por traumas de alta energia, como os acidentes motociclísticos e automobilísticos, produzindo lesões músculoesqueléticas e viscerais potencialmente letais(2-4).

Nas décadas de 60 e 70, o tratamento era instituído de forma conservadora, realizado através da tração esquelética e aparelho gessado. As fraturas com cominuição e envolvimento articular tornaram-se grandes desafios terapêuticos e invariavelmente, evoluíam com dor, rigidez e perda significativa da função articular. A dificuldade de se manter o alinhamento das fraturas e as complicações decorrentes do longo período em que o paciente necessitava ficar acamado contribuíram para que os resultados clínicos fossem verdadeiras catástrofes (1, 5).

Nos últimos quinze anos, o melhor conhecimento da evolução clínica das fraturas e suas complicações, avançadas técnicas de estabilização e fixação definitiva aliada à abordagem menos traumática produziram resultados significativamente superiores ao tratamento conservador(6,7). Assim, o melhor atendimento pré-hospitalar e a padronização da avaliação dos politraumatizados contribuíram para que pacientes com lesões cada vez mais graves sobrevivessem, estabelecendo um novo desafio terapêutico: o restabelecimento funcional do membro afetado.

Entretanto, a falta de avaliação sistemática das articulações vizinhas às fraturas tem sido responsabilizada como uma causa de maus resultados tardios. Neste contexto, a articulação do joelho merece atenção especial, pois parte da energia do trauma é absorvida pelo complexo cápsulo-ligamentar do joelho(8). Durante a avaliação inicial, a identificação de sinais clínicos como a presença da hemartrose, escoriações, equimoses, estalidos articulares, podem sugerir prováveis mecanismos de lesão cápsulo-ligamentar. Deste modo, o diagnóstico precoce é fundamental, pois permite uma abordagem terapêutica mais adequada evitando a cronicidade da lesão e o aparecimento de complicações secundárias à instabilidade articular(9,10).

Neste trabalho foi avaliado no quadro do "joelho-flutuante" a presença e freqüência de lesões ligamentares do joelho e identificar nos diversos padrões de fratura apresentados nesta casuística sua possível contribuição para perda de movimento articular.

 

MATERIAIS E MÉTODOS

No período de 1999 a 2004 foram atendidos vinte e dois pacientes com fraturas concomitantes do fêmur e da tíbia ipsilaterais tratadas cirurgicamente. Após a convocação dezessete pacientes compareceram para a reavaliação. A estabilidade articular do joelho foi avaliada através do exame físico, que constou de testes de estabilidade anterior e posterior, valgo e varo, assim como o arco de movimento do joelho.

Paralelamente, foram analisadas as radiografias nas incidências de ântero-posterior e perfil dos sítios de fratura e da articulação do joelho, realizadas na admissão do paciente no pronto-socorro. Este estudo radiológico foi complementado com as projeções: ântero-posterior, perfil e estresse anterior e posterior comparativo. As fraturas foram classificadas a partir das radiografias obtidas na época do acidente. Importante ressaltar que nesta casuística nenhum paciente apresentava antecedente de lesões ou sintomas nos joelhos previamente à lesão.

O resultado clínico pós-operatório foi classificado de acordo com os critérios descritos por Karlström e Olerud(11) (Quadro 1). Neste trabalho, foram considerados satisfatórios os resultados classificados como excelentes e bons.

A partir dos prontuários foram feitos os registros gerais dos pacientes, como idade, sexo, lado acometido, presença de lesões viscerais associadas e outras fraturas, tempo de internação e seguimento pós-operatório, o tempo decorrido entre a fixação provisória e a fixação definitiva, assim como o tempo transcorrido até o encaminhamento do caso para avaliação do grupo de cirurgia do joelho (Quadro 3 , 4 e 5).

 

 

 

 

 

 

 

 

Quatorze pacientes eram do sexo masculino (82,3%) e três do sexo feminino (17,7%), com média de idade de 31,2 anos (mínima de 15 anos e máxima de 55 anos) e vítimas de acidentes em vias públicas (quedas de motocicletas, atropelamentos, colisões). Em três casos (17,6%) foram diagnosticadas lesões viscerais associadas e em dez casos (58,8%) a presença de fraturas em outros ossos além do fêmur e da tíbia. Em quinze pacientes (88,2%) o lado esquerdo foi acometido e o direito em apenas dois casos (11,8%). O tempo de seguimento pós-operatório variou de 4 a 61 meses, com média de 21,8 meses.

A localização dos traços de fratura do fêmur e da tíbia (diafisário ou intra-articular) foi descrita pela classificação de Fraser (12) (Quadro 2). O grau de exposição das fraturas foi classificado pelo método de Gustillo e Anderson(13), separadamente para cada osso. O grau de cominuição das fraturas foi classificado pelo método AO(7).

Quadro 3 - Dados referentes a idade, sexo, lado acometido, presença de lesões viscerais e fraturas de outros ossos além do fêmur e da tíbia.

O quadro 4 expõe a forma como os pacientes foram tratados na urgência, o tipo de osteossíntese empregado como tratamento definitivo, e o tempo de seguimento pós-operatório. A Figura 1-A ilustra o caso n° 2, onde a estabilização inicial das fraturas foi realizada com fixador externo tubular (montagem trans-articular) e osteossintese minima com 2 parafusos esponjosos e arruelas para redução das superficies articulares do femur e da tibia. As Figuras 1-B e 1-C apresentram o controle radiologico da osteossintese definitiva das fraturas, nas radiografias de frente e perfil, respectivamente.

 

 

Os pacientes foram divididos em um grupo onde foi inicialmente realizado a fixação provisória da fratura e outro grupo onde a síntese definitiva foi instituída no atendimento de urgência.

Na avaliação objetiva do joelho foram consideradas as medidas da amplitude de movimento aferidas com o auxílio do goniômetro, a estabilidade articular pelos testes de Lachman, gavetas anterior e posterior, testes de estresse em varo e valgo (a zero e trinta graus de flexão) associadas às radiografias comparativas realizadas com e sem em estresse ligamentar. A Figura 2-A e B ilustra o teste de gaveta anterior e o controle radiologico da manobra clinica visto na incidência de perfil, respectivamente.

 

 

A interpretação subjetiva do paciente em relação aos sintomas relacionados ao joelho foi pontuada pela escala de Lysholm(14), escore graduado de zero a cem. Nesta casuística foram considerados resultados satisfatórios os que obtiveram índices acima de 85. A análise estatística confrontou os dados referentes à limitação do movimento do joelho, instabilidade articular e os diversos padrões de fratura segundos as classificações de Gustillo e Andersen , Fraser, AO e o tipo de fixação instituído na urgência. Neste estudo foram utilizados como métodos estatísticos o teste não paramétrico de Mann-Whitney e o teste exato de Fisher.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A classificação dos diversos padrões de fratura foi feita segundo os critérios de Gustillo e Andersen (grau de exposição), Fraser ("joelho flutuante") e A.O. (cominuição), conforme apresentado no Quadro 5. Em dois casos (n° 14 e 15), as fraturas não puderam ser classificados devido a falta de documentação radiográfica inicial.

O Quadro 6 apresenta os resultados obtidos através das avaliações do exame físico, Escala de Lysholm, Escore de Kärsltron no seguimento pós-operatório dos 17 pacientes.

 

DISCUSSÃO

O quadro do "joelho flutuante" constituí-se num grande desafio terapêutico para toda a equipe médica envolvida no atendimento de pacientes politraumatizados. É uma lesão grave, produzida por traumas de alta energia e comumente associada a outras lesões. Neste série 64,71% dos casos apresentavam lesões concomitantes.

Karlström(11) apresenta casuística de 32 casos de "joelho flutuante" acompanhados em seu serviço, durante os últimos quinze anos. O autor enfatiza que cerca de 18 casos (56,25%) ocorreram nos últimos cinco anos, refletindo o aumento significativo da incidência desta lesão. Segundo Hee(15), a população mais acometida é formada por adultos jovens do sexo masculino, vítimas de acidentes de trânsito decorrentes de traumas de alta energia. Devido à magnitude do trauma, as fraturas podem apresentar padrões variados, com diversas configurações, cominuição dos fragmentos e a associação de importantes lesões de partes moles. Yokoyama(8), avaliando 66 casos, registrou a ocorrência de 29% de fraturas expostas do fêmur, e 65,2% de fraturas expostas da tíbia.

Nossa casuística, encontra-se de acordo com as observações feitas por Hee(15), apresenta prevalência de 82,35% de pacientes do sexo masculino e com idade media de 31,18 anos. A incidência de fraturas expostas no fêmur e na tíbia foi, respectivamente, 58,82% e 70,59% dos casos, enquanto, as fraturas intra-articulares estavam presentes em 41,2% dos casos, e 76,5% foram classificados quanto a exposição como Gustillo & Andersen índice maior ou igual a dois.

Na presença de lesões extensas de partes moles, com grande desvitalização tecidual, a utilização de fixadores externos trans-articulares auxilia a abordagem das lesões dos tecidos moles, enquanto é feita a estabilização provisória das fraturas com bloqueio articular. Nesta série, em 64,71% dos casos foi empregado o fixador externo trans-articular.

Hee(15) analisando o prognóstico do resultado final do tratamento desta lesão conclui que fraturas cominutivas, fraturas intra-articulares e lesões extensas de partes moles são fatores que contribuem para a restrição articular na evolução clinica pós-operatória. Segundo Karlström, uma limitação da função articular de pelo menos 20° ou menos que o normal já torna o resultado regular.

De forma semelhante, os casos que evoluíram desfavoravelmente, cursaram com limitação de movimento articular. Esta limitação esteve diretamente relacionada com a presença de fraturas intra-articulares (Fraser 2), fratura exposta fêmur e fratura exposta tíbia que ocorreram, respectivamente em 20%, 71,4% e 66,7% dos casos.

Durante o atendimento do politraumatizado com quadro de "joelho flutuante", a atenção da equipe médica, invariavelemnte, esta voltada para o manejo de condições potencialmente letais, a estabilização das fraturas e cuidados com as lesões de partes moles, fatos que contribuíram para que a avaliação da estabilidade articular do joelho não seja feita. A falta de diagnóstico das lesões ligamentares é uma condição relatada na literatura. Fraser(12) refere que apenas 8% dos pacientes receberam alta hospitalar com diagnóstico de instabilidade, mas ao serem reexaminados, este número subiu para 39%. Walling(10), enfatiza a necessidade de se pesquisar a presença de lesões ligamentares em pacientes com fraturas do fêmur associadas com trauma de alta energia, ou com sinais locais de edema ou escoriação no joelho.

Walker(6) observou 33% de instabilidade no joelho em pacientes com "joelho flutuante". Szalay(16) estudando a incidência de lesões ligamentares no "joelho flutuante" e nas fraturas de fêmur isoladas, obteve respectivamente, 53% e 31%. Yue(17) demonstrou que em crianças este padrão se mantém, embora em menor escala. Walker(9), avaliando os joelhos de pacientes com fraturas extra-articulares, identificou 50% de instabilidade anterior, 31% medial, 13% póstero-lateral e 6% posterior. Da mesma forma, Szalay(16) encontrou em 54,2% dos casos instabilidade anterior do joelho, póstero-lateral em 29,2% e posterior em 29,2%.

Doze pacientes (70,59%) apresentaram alguma alteração objetiva no exame físico do joelho. Foi observada limitação importante do arco de movimento, definida como flexão menor que 40°, em sete pacientes (41,18%). A instabilidade articular do joelho foi diagnosticada em oito pacientes, representando 47,06% dos casos, com a seguinte distribuição: cinco casos de lesão do ligamento cruzado anterior, sendo em três destes cinco, associado à lesão do canto póstero-lateral, e dois casos de instabilidade posterior do joelho associada à lesão do canto póstero-lateral. Em um paciente não foi possível avaliar adequadamente a estabilidade anterior e posterior do joelho, embora apresentava-se com instabilidade em varo e valgo associadas, o joelho não realizava flexão além de 30°. Vale ressaltar que nesta casuística, 88,2% dos pacientes (15), por questões diversas, não retornaram ao trabalho. Apesar da alta incidência de instabilidade no exame físico, poucos pacientes se queixaram de falseios, conforme descrito por Fraser(12).e Szalay (16) .

A literatura mostra que os resultados clínicos obtidos no tratamento do "joelho-flutuante" variam consideravelmente. Enquanto Anastopoulos(18) e Hee(15) apresenta respectivamente, 81% e 68,6% de resultados satisfatórios, Fraser(12), considera apenas 30% de resultados satisfatórios nos pacientes tratados cirurgicamente, chegando a afirmar que o tratamento do "joelho flutuante" apresenta resultados desanimadores.

Neste trabalho, a avaliação subjetiva do joelho, medida pelo índice de Lysholm, mostrou-se insatisfatória em 64,7% dos casos, enquanto 35,3% dos pacientes re-avaliados, o resultado foi considerado satisfatório. Entretanto, na análise feita pela escala de Karlström, 88,2% dos casos foram considerados como resultados insatisfatórios. Em apenas 11,8% (2) dos casos, os resultados foram classificados como satisfatórios nos dois métodos de avaliação, e 64,71% (onze) dos casos foram considerados como resultados insatisfatórios pelos dois escores. As principais causas apontadas para o mau resultado foram: o não retorno ao trabalho, em 88,2% dos casos; a diminuição do arco de movimento do joelho, em 46,7% dos casos e queixa de falseio em 5,9%.

Os resultados obtidos nesta casuística reforçam que na avaliação inicial do paciente com quadro do "joelho-flutuante", deve-se necessariamente, incluir a inspeção criteriosa do membro afetado na busca de sinais clínicos como escoriações, equimoses, ferimentos que possam nos auxiliar a identificar possíveis mecanismos de lesão ligamentar, assim como a pesquisa de sinais radiológicos que possam sugerir lesões ligamentares, como a presença de avulsões ósseas (fratura de Segond, caso nº 17). Paralelamente, após a redução e fixação das fraturas, a estabilidade articular do joelho deve ser re-avaliada.

A padronização e sistematização no atendimento são indispensáveis para que estas lesões possam ser diagnosticado precocemente, permitindo uma abordagem mais adequada, estabelecendo a melhor estratégia cirúrgica para cada caso, como vias de acesso e a utilização de implantes que não dificultem reconstruções ligamentares futuras.

 

CONCLUSÕES

O melhor atendimento pré-hospitalar e a padronização da avaliação dos politraumatizados contribuíram para que pacientes com lesões cada vez mais graves sobrevivessem, estabelecendo um novo desafio terapêutico: o restabelecimento funcional do membro afetado. Neste contexto, os resultados obtidos neste trabalho reforçam a necessidade da avaliação sistemática da estabilidade articular do joelho, visto que o quadro de "joelho flutuante" está freqüentemente associado à lesão cápsulo-ligamentar desta articulação.

 

REFERÊNCIAS

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2. Arslan H, Kapukaya A, Kesemenli CC, Coban V. "The floating knee in adults: twenty-four cases of ipsilaleteral fractures of the femur and the tibia". Acta Orthop Traumatol Turc. 2003; 37:107-12.         [ Links ]

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4. Schiedts D, Mukisi M, Bouger D, Bastaraud H. Ipsilateral fractures of the femur and tibial diaphyses". Rev Chir Orthop Reparatrice Appar Mot. 1996; 82:535-40.         [ Links ]

5. van Raay JJ, Raaymakers EL, Dupree HW. Knee ligament injuries combined with ipslateral tibial and femoral diaphyseal fractures: the "floating knee". Arch Orthop Trauma Surg. 1991; 110:75-7.         [ Links ]

6. Ostrum RF. Treatment of Floating knee injuries through a single percutaneous approach. Clin Ortop Relat Res. 2000; (375):43-50.         [ Links ]

7. Müller ME. A Classificação compreensiva das fraturas dos ossos longos. In: Müller ME, Allgöwer M, Schneider R, Willenegger H. Manual de Osteossíntese: Técnicas Recomendadas pelos Grupos AO-ASIF. 3ª ed. São Paulo: Manole, 1993. p.118-150. Tradução: Nelson Gomes de Oliveira          [ Links ]

8. Yokoyama K, Tsukamoto T, Aoki S, Wakita R, Uchino M, Noumi T, et al. Evaluation of functional outcome of the floating knee injury using multivariate analysis. Arch Orthop Trauma Surg. 2002; 122:432-5.         [ Links ]

9. Walker DM, Kennedy JC. Occult knee ligament injuries associated with femoral shaft fractures. Am J Sports Med. 1980; 8:172-4.         [ Links ]

10. Walling AK, Seradge H, Spiegel PG. "Injuries to the knee ligaments with fractures of the femur". J Bone Joint Surg Am. 1982; 64:1324-7.         [ Links ]

11. Karlström G., Olerud S.; "Ipsilateral fracture of femur and tibia". J Bone Joint Surg Am. 1977; 59:240-3.         [ Links ]

12. Fraser RD, Hunter GA, Waddell JP. Ipsilateral fractures of femur and tibia". J Bone Joint Br. 1978; 60:510-5.         [ Links ]

13. Gustilo RB, Anderson JT. Prevention of infection in the treatment of one thousand and twenty five open fractures of long bones: retrospective and prospective analyses. J Bone Joint Surg Am 1976; 58:453-8.         [ Links ] 

14. Tegner Y, Lisholm J. Rating systems in the evaluation of knee ligament injuries. Clin Orthop Rel Res. 1985; 19:43-9.         [ Links ]

15. Hee HT, Wong HP, Low YP, Myers L. "Predictors of outcome of floating knee injuries in adults: 89 patients followed for 2-12 years. Acta Orthop Scand. 2001; 72:385-94.         [ Links ]

16. Szalay MJ, Hosking OR, Annear P. "Injury of knee ligament associated with ipsilateral femoral shaft fractures and with ipsilateral femoral and tibial shaft fractures". Injury. 1990; 21:398-400.         [ Links ]

17. Yue JJ, Churchill RS, Cooperman DR, Yasko AW, Wilber J. The floating knee in the pediatric patient. Nonoperative versus operative stabilization. Clin Orthop Relat Res. 2000; (375):124-36.         [ Links ]

18. Anastopoulos G, Assimakopoulos A, Exarchou E, Pantazopoulos TH. "Ipsilateral fractures of femur and tibia" Injury. 1992; 23:439-41.         [ Links ]

Autor:

Felipe Antônio de MarcoI; Alessandro Zorzi RozimI; Sérgio Rocha PiedadeII

IMédico-Residente do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FCM – UNICAMP
IIProfessor Doutor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FCM – UNICAMP


Reabilitação do AVC com a quiropraxia

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Sistema nervoso e Motor

"O AVC é a terceira principal causa de morte nos Estados Unidos ea principal causa de incapacidade em adultos. Anualmente, cerca de 750 mil americanos sofrem um derrame. Embora as taxas de incidência permaneceram constantes ao longo das últimas 3 décadas, a mortalidade diminuiu, deixando um número crescente de pacientes que necessitam de reabilitação. Aproximadamente dois terços dos sobreviventes de AVC têm residual déficits neurológicos que persistentemente prejudicar a função. Especificamente, disfunção da extremidade superior (UE) hemiparesia [fraqueza em um lado do o corpo] prejudica o desempenho de muitas atividades diárias tais como vestir, tomar banho, auto-cuidado, e escrita, reduzindo assim a independência funcional. Na verdade, apenas 5% dos adultos recuperar a função total do braço após acidente vascular cerebral e 20% não recuperar o uso funcional. Assim, estratégias alternativas são necessárias para reduzir a incapacidade a longo prazo e comprometimento funcional de hemiparesia UE [fraqueza em um lado do corpo] "(p. 2390).

De acordo com Kleim e Jones (2008), os neurocientistas (especialistas que estudam como o cérebro e o sistema nervoso de trabalho) são frequentemente questionado sobre terapias específicas que devem ser incluídos em programas de tratamento clínico. Eles vão relatar que os pontos de dados para as células do cérebro que possui a capacidade de alterar sua estrutura e função em resposta a uma variedade de pressões internas e externas e é chamado de "plasticidade neural". Eles vão dizer que, "A plasticidade neural é acreditado para ser a base para a aprendizagem no cérebro intacto e reaprender no cérebro danificado que ocorre através da reabilitação física. Neuroscience pesquisa fez avanços significativos na compreensão experiência-dependente plasticidade neural, e estes resultados estão começando a ser integrada com a investigação sobre os efeitos degenerativos e regenerativos de dano cerebral "(Kleim & Jones, 2008, p. S225). Quando qualquer tipo de dano cerebral, o objetivo é limitar os danos adicionais e ajudar a restaurar a função tanto quanto possível.
 
Whithall et al. (2000) relatou que, " Tradicionalmente, os métodos de reabilitação AVC têm sido focados nos primeiros três meses após o AVC e consistem em grande parte das abordagens movimento passivo (não específica) ou de formação compensatória do braço nonparetic [não afetadas].

Esta janela de tempo é consistente com estudos de história natural de recuperação de acidente vascular cerebral que mostram um platô após 3 meses. Recentemente, ambos os paradigmas para as intervenções de reabilitação e o prazo para possível recuperação motora UE têm sido desafiados. Experimentos demonstram que os ganhos funcionais e plasticidade neural são possíveis de ocorrer, via prática ativa, muito tempo depois da recuperação espontânea seria de esperar ao fim. Por exemplo, modelos de macaco de acidente vascular cerebral crônica demonstram recuperação funcional, bem como a reorganização cortical após ser forçado a usar seu membro parético. Com base no paradigma desta "forçados use ', Taub, Wolf, e seus colegas constrangidos braço nonparetic [não afetados] dos pacientes com acidente vascular cerebral crônica e obrigou o uso do braço parético em tarefas específicas atividades em um intensivo de 2 semanas protocolo "(p. 2390).
 
O objetivo da reabilitação é criar novos caminhos para o cérebro para se expressar na forma de movimento e função para permitir que a vítima de derrame recuperar a função, tanto quanto possível. Isso permite que o indivíduo a viver uma vida tão normal como ele / ela pode, sem cuidados e apoio de assessores, dispositivos e especialistas, tornando um nível de física e consequente independência emocional.

Taylor e Murphy relatou em 2010 que, quando a atividade motora é seguido por um ajustamento espinhal quiroprática manipulação /, alterou a maneira pela qual o sistema nervoso central responderam a tarefas de treinamento motor. Em ambos os paciente com e sem dor de garganta recorrente, que afetou positivamente o processo de utilização dependente de mudanças plásticas neural. A pesquisa passou a relatar que a manipulação da coluna vertebral ajustar / Só leva a melhora da função. No entanto, a manipulação da coluna vertebral / ajuste em combinação com as tarefas de treinamento motor "... não resulta apenas em integração sensório-motor alterado, mas também altera a forma como o sistema nervoso central responde a uma tarefa funcional ..." (Taylor & Murphy, 2010, p. 268). Taylor continua afirmando: "Os resultados deste estudo sugere que isso é possível, como uma melhor capacidade de filtrar as informações somatossensoriais em circuitos de integração sensório-motora foi observada após a mesma tarefa de treinamento de 20 minutos motor, quando este foi precedido de manipulação da coluna de disfuncional dos sujeitos articulações cervical. Este achado foi semelhante ao que foi anteriormente observado após a manipulação da coluna sozinho e indica que a manipulação da coluna melhora gating ou filtragem de informação sensorial, a capacidade do SNC mantém mesmo após a intervenção de treinamento motor "(Taylor & Murphy , 2010, p. 269). Embora ninguém sugere que ajustando a manipulação / deve substituir o treinamento motor ou aquisição de habilidades, os resultados indicam que a manipulação deve melhorar significativamente os resultados da reabilitação com vítimas de derrame.

Fonte

Feliz Natal!

Fisioterapia na Asma Infantil

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A asma é uma doença inflamatória grave, crônica, de caráter intermitente e reversível com tratamento ou espontaneamente, que tem alta incidência na infância, trazendo repercussões socioeconômicas significativas. É caracterizada por hiper-responsividade das vias aéreas inferiores e por limitação variável ao fluxo de ar, que é a principal alteração fisiopatológica. Na verdade, há uma obstrução tanto ao fluxo inspiratório quanto ao fluxo expiratório, gerando aprisionamento de ar, aumento do volume residual funcional e, conseqüentemente, hiperinsuflação pulmonar. Essas alterações acabam modificando a relação ventilação-perfusão e piorando a hipoxemia. Constata-se que o aumento do trabalho respiratório é decorrente da hiperinsuflação que provoca uma diminuição da complacência pulmonar associada à elevada resistência imposta ao fluxo aéreo. Ainda, é possível observar que, com o aumento da pressão intra-alveolar, pelo aprisionamento de ar, distalmente ao ponto de obstrução, há uma redução do fluxo sangüíneo nos capilares alveolares (compressão mecânica), ampliando o espaço morto funcional. Ao mesmo tempo, é possível ter áreas de colapso alveolar pela obstrução total das vias aéreas, causando vasoconstrição hipóxico-reflexa e conseqüente aumento do shunt intrapulmonar e hipoxemia.

Vale ressaltar, além do mais que os distúrbios na relação ventilação-perfusão, por alterarem as trocas gasosas, geram um quadro de hipoxemia e de acidose, as quais aumentam ainda mais a resistência vascular pulmonar, trazendo repercussões hemodinâmicas negativas, como a hipertensão pulmonar. Pela intensa hipoxemia, a tendência da criança é hiperventilar como mecanismo compensatório, entretanto isso vai levar ao aumento do trabalho respiratório, e, em decorrência, há um maior consumo de oxigênio e síntese de gás carbônico. Desta forma, é fácil perceber que a hipóxia tissular e a hipercapnia resultam em um quadro de acidose metabólica e respiratória intensas, contribuindo para a depressão de todo o sistema cardiovascular e, nos casos extremos, para o óbito.
    
De maneira geral, observa-se que as infecções virais são um desencadeante comum de asma em crianças, de difícil diagnóstico. Da mesma forma que existem crianças que têm uma crise de asma ocasionada pelo exercício, muitas são consideradas como asmáticas após apresentarem três ou mais episódios de sibilância e/ou dispnéia, embora a tosse recorrente também possa atuar fornecendo indícios de um diagnóstico de asma.

Atualmente, os conhecimentos sobre a fisiopatologia da asma, bem como os referentes à ventilação mecânica, têm fornecido ferramentas suficientes para que o fisioterapeuta possa atuar em prol da criança e do adolescente que evoluem com asma. Mesmo com a atuação de uma equipe multiprofissional, o manejo de crianças que evoluem com mal asmático ainda é bastante complexo e muito difícil.

Clinicamente, a asma é caracterizada por uma hiperdistensão do tórax (padrão de hipersinsuflação), taquidispnéia intensa, com tiragens e uso da musculatura acessória (especialmente escalenos e esternocleidomastóideo). Inicialmente a tosse se apresenta seca, contudo, em grande parte das vezes, há uma evolução para tosse produtiva. São também audíveis sibilos e, em grande parte dos casos, roncos e estertores crepitantes. Na radiografia de tórax, além do padrão de hipersinsuflação, é possível verificar a horizontalização das costelas, verticalização das clavículas e hipertransparência em todo o parênquima pulmonar.

Durante a crise, em grande parte dos serviços, são administrados broncodilatadores e antiinflamatórios. Ainda, é prescrita a oxigenoterapia, e, nos casos extremos em que não se consegue reverter a crise com o tratamento clássico, indicam-se a intubação orotraqueal e a ventilação mecânica, sendo, em algumas situações necessário, além da sedação, a própria curarização. Nestes casos mais graves, a criança deverá ser continuamente monitorada, considerando-se a hemodinâmica, gasometria e ventilação. Além disso, a ventilação mecânica deverá ser plenamente ajustada a esse tipo de paciente para que se possa evitar os efeitos deletérios desta terapia, como o barotrauma, o atelectrauma e o biotrauma, principalmente.
 

TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO

As manobras de fisioterapia relacionadas aos cuidados respiratórios na asma consistem em técnicas manuais, posturais e cinéticas dos componentes tóraco-abdominais , que podem ser aplicadas isoladamente ou em associação a outras técnicas, em que, de forma geral tem os seguintes objetivos:

• mobilizar e eliminar as secreções pulmonares;
• melhorar a ventilação pulmonar;
• promover a reexpansão pulmonar;
• melhorar a oxigenação e as  trocas gasosas;
• diminuir  o trabalho respiratório;
• diminuir o consumo de oxigênio;
• aumentar a mobilidade torácica;
• aumentar a força muscular respiratória;
• aumentar a endurance;
• reeducar a musculatura respiratória;
• promover a independência respiratória funcional;
• prevenir complicações;
• acelerar a recuperação;
• melhorar o estado emocional do paciente.



Novidades do Faça Fisioterapia para 2013!

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Um ano novo inspira novos projetos! E assim que surgiu a idéia da reformulação do Faça Fisioterapia para 2013. Embora mudança mais visivel (que foi a do Layout), esteja no ar desde o fim de Novembro, nesse blog principal e no blog das especialidades, o blog Faça Fisioterapia mudou internamente e, a partir de 2013, contará com nosas colunas para distribuir melhor o conteúdo.

Nos blogs de especialidades  seao publicados matérias, artigos, textos sobre patologias de cada especialidade espefica e atuação do Fisioterapeuta com indicações de tratamentos orientando pacientes, estudantes e profissionais. Esses blogs terão atualização semanl, com cada dia na semana correpsondendo a um blog. Portanto, conheça as especialidades abordadas:

Eventualmente, quando o assunto não se enquadrar nessas especialidades, ele serápostado no blog principal.

O blog principal ganhará colunas que terão dias certos para serem publicadas. Na segunda-feira serão publicados dicas de cursos e de conteúdos que desenvolvam a carreira do estudante/profissional dentro da Fisioterapia. Na terça-feira, sempre um assunto sobre a faculdade ou sobre a profissão de Fisioterapia ou indicações de link para visita na internet. Na quarta-feira, será a vez da publicação de artigos cientificos dos mais variados assuntos. Na quinta-feira, será a vez do FisioCast (o podcast da Fisioterapia) ou "Eu vi no Youtube", que fala de um video que está em nosso canal no Youtube. E na sexta-feira, para terminar bem a semana, a colaboração de um convidado. 

Além disso, tem a atualização do FisioVideos, sempre com assuntos atuais para o Fisioterapeutas com explicações teóricas ou praticas, entrevista com profissionais e videos mostrando nossa profissão, tem a newsletter da Fisioterapia enviada para quem é cadastrado com o clipping das melhores noticias da semana e o SMS da Fisioterapia, sempre com mensagens para fisioterapeutas e estudantes.

Nossas Redes Sociais (Twitter, Facebook, Youtube, Tumblr, Google + e orkut) estão abertas a sugestões, criticas, elogios e bate papo. Essa organização do Faça Fisioterapia é feita de uma forma para se levar a maior quantidade de Fisioterapia para quem tem a profissão como missão!

Feliz 2013, pessoALL! Que seja de realização e sucesso!

As práticas do cuidar na oncologia: a experiência da fisioterapia em pacientes com câncer de mama

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A fisioterapia é uma ciência aplicada, cujo objeto de estudo é "o movimento humano em todas as suas formas de expressão", quer nas alterações patológicas, psíquicas ou orgânicas (Brasil, 21 maio 1987). Mesmo em outros tempos, quando essa área do saber ainda se subordinava aos ditames da profissão médica, seu campo de ação já se delineava nos maiores centros científicos do mundo. O Conselho de Fisioterapia da Associação Médica Americana, em 1937, assim a definia: "É um termo empregado [no] tratamento da enfermidade por vários meios físicos, compreendendo o emprego do calor, da massagem, do exercício, da luz, da água, da eletricidade e elementos mecânicos e físicos de outros gêneros" (Asociación Médica Americana, 1937).1

Desde os primeiros tempos de sua formação, a atividade fisioterapêutica volta-se para os processos de recuperação do indivíduo por meio de um conjunto de técnicas corporais que agem sobre o organismo humano, imprimindo-lhe uma mobilização ativa ou passiva, restaurando o gesto e a função das diferentes partes do corpo. Tem como objetivos principais prevenir, manter e restaurar a integridade dos movimentos, órgãos, sistemas e funções. Trata-se de manter o movimento, segundo Kisner e Colby (2005, p.3), sem a ocorrência de sintomas, durante atividades funcionais básicas ou complexas.

É amplo o campo de atuação da fisioterapia nas áreas de ortopedia, neurologia, cardiologia, angiologia, reumatologia, pediatria, ginecologia, geriatria, pneumologia e oncologia. Para cada área apresenta seus recursos de tratamento. A fisioterapia se utiliza de métodos e técnicas que atuam tanto na melhora da sintomatologia quanto na prevenção e qualidade de vida. Os recursos terapêuticos incluem a eletroterapia, a mecanoterapia, a fototerapia e a cinesioterapia. Atua em diferentes disfunções dos sistemas neurolocomotor, musculoesquelético, cardiorrespiratório.2

Por ser um profissional que detém conhecimentos amplos, o fisioterapeuta pode atuar em diversos campos da atenção à saúde. Na clínica realiza diagnóstico cinético-funcional, prognóstico, prescrição, indução do tratamento, reavaliação e alta do paciente. O fisioterapeuta pode, também, desempenhar suas atividades em ambulatórios, consultórios, centros de reabilitação, áreas que envolvam a saúde coletiva e no ensino (Brasil, 21 maio 1987).

O tratamento fisioterápico é imprescindível para qualquer indivíduo cuja atividade diária esteja comprometida. Nos processos de doença, contribui na redução de quadros dolorosos e evita possíveis complicações após cirurgias ou longos períodos de imobilizações (Kisner, Colby, 2005, p.4).

É importante lembrar que até bem pouco tempo as atribuições dos fisioterapeutas e dos profissionais de saúde, de um modo geral, estavam bastante restritas à doença. As possibilidades de intervenção se voltavam basicamente para o tratamento de patologias e a reabilitação de organismos lesados por meio da terapia. O modelo de saúde era o reabilitador. A prevenção de problemas e a promoção de saúde não faziam parte do leque de atuação do profissional. Havia, segundo Rebelatto e Botomé (1999, p.18-19), uma exclusiva atenção ao tratamento de pessoas fisicamente lesadas.

Ao longo de sua história, portanto, a fisioterapia teve suas ações concentradas em dois níveis de atenção à saúde: o responsável pelo diagnóstico e tratamento das doenças e o responsável pela reabilitação. Isso se deveu, em parte, à própria trajetória da fisioterapia. No Brasil, as epidemias de poliomielite e os altos índices de acidentes de trabalho, nos anos 1950, orientaram a atuação profissional para as atividades recuperativas (Rebelatto, Botomé, 1999, p.20; Barros, 2008).

Além disso, a ausência de uma tradição em ensino e pesquisa, de cursos para formação de profissionais e a pouca experiência em instituições de saúde contribuíram para ratificar essa situação. Mesmo quando da criação dos primeiros cursos no país, os currículos continuavam a intensificar o ensino de técnicas e métodos de trabalho. Poucos visavam uma atuação profissional socialmente significativa, transformadora da realidade da saúde brasileira. A mudança de orientação foi um processo lento e gradativo.

Aos poucos, as atividades curativas e reabilitadoras foram cedendo espaço à atenção primária em saúde, ampliando significativamente o leque de intervenção da fisioterapia. Novas especialidades foram sendo criadas, privilegiando a área da prevenção e promoção. É possível dizer que o surgimento da fisioterapia oncológica acompanhou esse processo de mudança da intervenção fisioterapêutica.

A fisioterapia em oncologia é uma especialidade recente e tem como metas preservar e restaurar a integridade cinético-funcional de órgãos e sistemas, assim como prevenir os distúrbios causados pelo tratamento oncológico. No Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, teve seu início nos anos 1980, vinculada ao Serviço de Cirurgia Torácica. A fisioterapia oncológica lida com as sequelas próprias do tratamento, atuando de forma preventiva para minimizá-las.3

Em relação aos pacientes que passaram por uma mastectomia de mama, a fisioterapia oncológica atua no pós e no pré-operatório. Aborda vários aspectos, desde a preparação do paciente para a cirurgia até a reabilitação funcional no pós-cirúrgico. O paciente que se submete a um programa preventivo no pré-operatório diminui o tempo de internação e retorna mais rapidamente às atividades diárias e ocupacionais. Num contexto mais amplo, um programa fisioterapêutico preventivo auxilia evitando complicações comuns no paciente mastectomizado (Bergmann, 2008).

 

A formação do campo da fisioterapia no Brasil: breve histórico

A institucionalização da fisioterapia como área de ensino e de pesquisa e o estabelecimento da comunidade de fisioterapeutas no Brasil ainda são processos recentes. Descrever o modo pelo qual a consolidação da comunidade e o amplo campo de atuação da fisioterapia se processaram no país não é uma tarefa muito fácil. Essa dificuldade está relacionada ao estudo da emergência e consolidação de qualquer profissão, em especial aquelas que nasceram como uma especialização da área médica. Vejamos, por exemplo, o caso da enfermagem de saúde pública.

A enfermagem, a duras penas, conquistou um espaço que desafiava a hegemonia médica, particularmente no trabalho de saúde pública (Castro Santos, 2008). No cenário brasileiro, desde o final da década de 1920 a enfermeira foi cada vez mais reconhecida como um ator importante dos serviços de saúde pública. Nos centros de saúde e no trabalho de visitação às famílias, a enfermagem se legitimava como profissão. A base de seu trabalho estava na educação sanitária, levada às famílias em centros urbanos e nos trabalhos de profilaxia rural (Castro Santos, Faria, 2005; Faria, 2006; Castro Santos, Faria, 2008).

Segundo Carrara (1996, p.75), a emergência e consolidação de qualquer especialidade realizam-se simultaneamente em vários planos. É preciso considerar, em primeiro lugar, o momento em que a comunidade científica se estabelece, com seus congressos, sociedade, centros de pesquisa, periódicos e fontes de financiamento. Em segundo, é importante a instituição do ensino especializado, com suas cátedras, concursos, teses e, ainda, no caso de uma ciência aplicada, como é a fisioterapia, a abertura e expansão de um mercado de novos serviços.

No final do século XIX e início do XX novos centros de pesquisa, institutos, faculdades, universidades e laboratórios foram criados, em resposta ao movimento da comunidade científica brasileira no sentido de valorização e expansão do trabalho científico. Nesse período, começaram a surgir as várias especializações na área da medicina e cursos para formação de profissionais na área da saúde. Essa implantação se realizou entre as duas últimas décadas do século XIX e primeiras três décadas do século XX. Essas instituições passam a ser vistas como um local para formação de novos pesquisadores, imbuídos de um padrão de trabalho científico (Schwartzman, 1979; Santos Filho, 1980, 1991).

Alguns marcos fundamentais na história institucional da fisioterapia no Brasil e em outros países podem ser apontados. Segundo Figueirôa (1996), foi logo após a Primeira Guerra Mundial que começaram a surgir os grandes centros de reabilitação, de reaprendizagem do movimento e reeducação funcional. Na Alemanha, por exemplo, as primeiras escolas foram as de Kiel (1902) e Dresden (1918). De acordo com Sanchez, foram muitas as parcerias entre fisioterapeutas e médicos nessa época, destacando-se o exemplo do médicocirurgião alemão Rudolf Klapp, que em parceria com as fisioterapeutas Blederbeck e Hess desenvolveram o Método Klapp. Na Inglaterra, a parceria entre a fisioterapeuta Berta Bobath e o neurofisiologista Karel Bobath foi uma das mais frutíferas (Sanchez, 1984, p.29).4

Nos EUA, a primeira associação de fisioterapia foi criada em 1921 - American Physical Therapy Association. A partir de então, vários departamentos de fisioterapia foram organizados nos diversos hospitais americanos. Essa teria sido, de acordo com o Conselho de Fisioterapia da Associação Médica Americana, uma solução condizente com o desenvolvimento de uma "legítima prática fisioterápica" (Asociación Médica Americana, 1937, p.318).5

Em 1951 foi fundada, em Londres, a World Confederation for Physichal Therapy (WCPT), com a adesão de 13 países. Em 2001 a WCPT representava mais de 82 paísesmembros, inclusive o Brasil, congregando mais de 225 mil fisioterapeutas em todo o mundo (Barros, 2003).

Na América Latina, as primeiras instituições foram organizadas entre as décadas de 1920 e 1950. A crescente urbanização e industrialização, o surgimento das epidemias de poliomielite e os primeiros centros de reabilitação criaram novas possibilidades para os fisioterapeutas. Na Argentina, o Instituto Municipal de Radiologia e Fisioterapia de Buenos Aires, fundado em 1925, tinha como propósito prestar serviços especializados e formação profissional em fisioterapia (Opas, 1941). Na Colômbia, em 1952, foi criada a Escola Nacional de Fisioterapia, e em 1956, no Chile, foi organizada a Escola de Fisioterapia da Universidade do Chile (Barros, 2008, p.946).

No cenário brasileiro, em relação ao ensino, São Paulo tomaria a dianteira. Ainda em 1929 foi criado o Serviço de Fisioterapia do Instituto do Radium Arnaldo Vieira de Carvalho6, para dar assistência aos pacientes do Hospital Central da Santa Casa de Misericórdia, sob a direção de Ovídio Pires de Campos. O Instituto do Radium surgiu do empenho de Vieira de Carvalho ao sugerir a criação de um centro de radioterapia, em razão do número crescente de casos de câncer em São Paulo. O Instituto se caracterizava por ser uma instituição filantrópica sem fins lucrativos, cujo objetivo era o diagnóstico, a prevenção e o tratamento do câncer (Rebelatto, Botomé, 1999, p.49; Marques, Sanches, 1994, p.5-6).7 Nesse mesmo ano foi organizado o Serviço de Fisioterapia do Hospital das Clínicas, iniciando-se, em 1951, o primeiro curso para a formação de técnicos em fisioterapia no país. A meta era formar técnicos para as atividades predominantemente curativas e reabilitadoras (Sanchez, 1984, p.31).8 Segundo Oliveira (2004, p.249), os primeiros cursos foram organizados e ministrados basicamente por médicos e enfermeiras, que não tinham claro quais disciplinas deveriam ser oferecidas aos alunos.

Algum tempo depois, Godoy Moreira, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), fundou, em conjunto com a Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) e a WCPT, o Instituto Nacional de Reabilitação, anexo à cadeira de Ortopedia e Traumatologia daquela faculdade. Um novo curso para formação de técnicos em fisioterapia foi organizado, com duração de dois anos, para atender aos programas de reabilitação que a Opas estava interessada em desenvolver na América Latina. Algum tempo depois, a Reitoria da USP regulamentou o curso (Marques, Sanchez, 1994, p.6).9

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, em 1954, estava sendo fundada a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação (ABBR), o primeiro centro no país voltado para a paralisia infantil, cujo idealizador foi o arquiteto Fernando Lemos. Dois anos depois, foi criado, por Juscelino Kubitscheck, o Centro de Reabilitação na Associação Beneficente, e em 1956 começaram a funcionar os cursos para formação de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais (Batista, 1988) na Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro (ERRJ), a primeira instituição no país a oferecer um curso regular de graduação em fisioterapia (Brasil, 2 dez. 1965). A formação dos fisioterapeutas acontecia em salas de aula da própria ABBR. Os alunos também se deslocavam para outras instituições, como a Policlínica do Rio de Janeiro, Hospital Carlos Chagas, Hospital Estadual Getúlio Vargas, Hospital Jesus, Hospital Pedro Ernesto e Cruz Vermelha (Figueirôa, 1996; Reis, 2004).

As disciplinas oferecidas aos alunos eram: anatomia descritiva, fisiologia humana, cinesiologia clínica, massoterapia, termoterapia, patologia médica, clínica neurológica, fisiologia humana, cinesioterapia, clínica reumatológica, clínica psicossomática, fundamentos da reabilitação, clínica, ortopédica e clínica traumatológica. Um segundo curso, iniciado em 1957, teve sua duração ampliada para três anos. O último ano era dedicado ao estágio obrigatório, que acontecia no Centro de Reabilitação. Entre 1958 e 1980 foram cerca de quinhentos fisioterapeutas formados nos cursos da ABBR (Barros, 2008, p.948).10 Aos poucos esses profissionais foram assumindo as disciplinas nos cursos oferecidos tanto no Rio de Janeiro quanto em outros estados brasileiros.11

No Hospital das Clínicas de São Paulo começava a funcionar a Clínica Ortopédica e Traumatológica da Faculdade de Medicina de São Paulo, que tinha como finalidade o atendimento aos traumatizados do aparelho locomotor e aos doentes da paralisia infantil. A Clínica era procurada por pacientes de todos os estados do Brasil e do exterior. No Hospital das Clínicas também funcionava o Instituto Nacional de Reabilitação (Inar), implantado pelo decreto 27.083 de 21 de dezembro de 1956, com a finalidade de dar atendimento e recuperação aos operários acidentados. Ambos possuíam serviços de fisioterapia (USP, 1997).

Em 1957 nascia, em São Paulo, a Associação Paulista de Fisioterapeutas (APF) e em agosto de 1959 foi fundada a Associação dos Fisioterapistas do Estado de São Paulo, hoje denominada Associação Brasileira de Fisioterapia (ABF). Essa Associação desempenhou um importante papel na transformação do curso de nível técnico para nível superior, contribuindo para o reconhecimento do fisioterapeuta como profissional de nível superior (Sanchez, 1984, p.8). Nesse período também começaram a ser formuladas leis que regulamentariam a atuação dos fisioterapeutas no Brasil. Muitas vozes levantam-se em defesa da emancipação e da profissionalização da fisioterapia e contra a condição reabilitadora de sua atuação. Editoriais da recém-criada Revista da Associação Brasileira de Fisioterapia passam a criticar as intromissões dos médicos e a reivindicar o direito à soberania profissional, defendendo a capacidade dos próprios profissionais em traçar os rumos da profissão (Barros, 2003; Oliveira, 2004, 2005).12

Em 1962, o Conselho Federal de Educação estabeleceu o currículo mínimo para a formação universitária em fisioterapia no país.13 No entanto, insistia na caracterização desses profissionais como "auxiliares médicos" ou "técnicos em fisioterapia", a desempenhar tarefas de caráter terapêutico sob a orientação e a responsabilidade do médico. Ao médico caberia diagnosticar a doença e orientar a equipe. Ao técnico em fisioterapia caberia apenas executar as técnicas que conduzem à reabilitação do paciente.

No Primeiro Congresso Brasileiro de Fisioterapia, realizado no Rio de Janeiro, entre 12 e 14 de novembro de 1964, o conflito profissional ganhou nova dimensão. A ABF começou a apregoar a autodeterminação como forma de garantir o crescimento e a evolução da profissão de fisioterapeuta no país (Galvão, 2000).14 Em várias capitais brasileiras foram surgindo associações regionais de fisioterapia, ligadas à Associação. Novas escolas foram criadas, no entanto, de acordo com Galvão (2000) eram grandes as resistências por parte dos médicos à consolidação da profissão. Apesar das dificuldades enfrentadas, a ABF procurou centrar suas ações no reconhecimento oficial da profissão.

No final dos anos 1960 a profissão foi regulamentada no país. O decreto-lei 938 assegurava o exercício das profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Reconhecia esses profissionais como diplomados por escolas e cursos reconhecidos de nível superior, porém definia como atividade executar técnicas fisioterápicas para restaurar e conservar a capacidade física do paciente. Esses profissionais poderiam, ainda, dirigir ou assessorar serviços em estabelecimentos públicos ou particulares, exercer o magistério e supervisionar alunos em atividades práticas (Brasil, 13 out. 1969).

A lei 6.316, decretada em 1975 pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente Geisel, criou o Conselho Federal de Fisioterapia (Coffito) e o Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito).15 O artigo 13 deixava claro que o fisioterapeuta poderia desempenhar atividades várias em hospitais, clínicas, ambulatórios, asilos, por meio da apresentação de sua carteira profissional de fisioterapeuta.

Embora os avanços tenham sido muitos desde a criação dos primeiros cursos, é importante ressaltar que, ainda hoje, são grandes as limitações que a legislação impõe ao profissional de fisioterapia. Para Salmória e Camargo (2008), dois fatores importantes contribuem para as dificuldades no estabelecimento da profissão, no que se refere ao seu reconhecimento pelos demais profissionais de saúde: o fato de a fisioterapia ainda ser uma profissão recente e a forte presença de profissionais fisioterapeutas jovens no mercado de trabalho.

 

O câncer e a mastologia

Ao longo da história das doenças, o câncer foi visto de diversas formas: como uma doença incurável, como uma doença contagiosa, como um problema social, como um problema de saúde pública. Nos meios médicos pouco se sabia sobre como evitar o sofrimento e os índices de mortalidade. Em fins do século XIX e inícios do século XX, o câncer começou a ser visto como uma 'enfermidade' merecedora de atenção médico-social, de busca e acumulação de conhecimentos científicos e de medidas de prevenção. As estatísticas de óbitos, que revelaram uma situação crítica, contribuíram para uma tomada de posição por parte de governos e de autoridades da saúde.16

O desenvolvimento de novas técnicas de assepsia e antissepsia e os avanços nas cirurgias ampliaram as possibilidades de intervenção. A utilização da radioterapia no tratamento das displasias foi um instrumento importante da medicina contra o câncer. As inovações no tratamento do câncer favoreceram o interesse pela doença nos círculos médicos em vários países, inclusive no Brasil. O câncer passou a ser objeto de pesquisa. As discussões sobre as causas, incidência e possível contagiosidade ganharam espaço nos congressos internacionais de medicina (Teixeira, Fonseca, 2007, p.13-22).

Nos círculos médicos havia a preocupação em conhecer mais sobre o câncer e as novas técnicas de tratamento. Ao contrário de doenças como hanseníase, sífilis e tuberculose, o câncer não era controlado por medidas higiênicas, sendo as cirurgias e a radioterapia as únicas ações profiláticas (Sanglard, 2008, p.189).

A partir de então, começaram a surgir as primeiras instituições de pesquisa, centros de radioterapia e de tratamento especializado na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. No Brasil, desde 1920, o Departamento Nacional de Saúde Pública, no âmbito do Ministério da Justiça e Negócios Interiores, abrigava uma Inspetoria de Profilaxia da Lepra, das Doenças Venéreas e do Câncer, primeiro órgão federal destinado à campanha contra a doença no país.

Segundo Mirra (2005, p.1-2), a preocupação em conhecer a incidência do câncer no Brasil era muito antiga. Em 1904 Azevedo Sodré publicou um artigo sobre a frequência da doença no país, na revista Brasil Médico. Ainda segundo o autor, as primeiras publicações oficiais referentes às taxas de mortalidade por câncer datam de 1944, organizadas pelo então Ministério de Educação e Saúde, contendo dados referentes ao período de 1929 a 1932 (Sodré, 1904). Nas primeiras décadas do século XX, os inquéritos epidemiológicos realizados nos vários estados brasileiros mostravam que a extensão da doença era ainda maior do que se imaginava.

Os médicos brasileiros não ficaram alheios a esse novo campo de estudos que se inaugurava. Em 1922 foi criado, em Belo Horizonte, o Instituto do Radium, voltado para pesquisa e tratamento do câncer, nos moldes do Instituto de Radium de Paris (Teixeira, Fonseca, 2007, p.34). Algum tempo depois foi inaugurado o Instituto Nacional do Câncer (Inca), responsável pela formulação e implantação da política de atenção oncológica no país, incluindo prestação de serviços médicos, ensino, pesquisa e elaboração de programas educativos. Essas iniciativas podem ser consideradas o início da organização da luta contra o câncer no Brasil.

Devido à incidência das afecções mamárias, uterinas, cervicais, cutâneas, novos serviços foram criados. Tornou-se imprescindível a criação de áreas especializadas. No Inca, desde final dos anos 1930 vinham sendo organizadas sessões especializadas. Em 1957 foi criada a Seção de Mastologia, sob a chefia do médico Alberto Lima de Moraes Coutinho, que a dirigiu entre l957 e l967. Alberto Lima foi o pioneiro da mastologia brasileira. Com o intuito de divulgar pesquisas nessa especialidade, organizou vários cursos no Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros. Em 1959 fundou a Sociedade Brasileira de Patologia Mamária, hoje Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), da qual foi presidente por três vezes. A atuação de Lima de Moraes foi importante para o reconhecimento da mastologia como especialidade médica (Guimarães et al., 2002, p.135-138).

Atualmente as afecções da mama são consideradas um importante problema de saúde pública no Brasil.17 O carcinoma mamário é a neoplasia mais frequente entre as mulheres e corresponde a uma das principais causas de óbitos no país. Em diversas partes do mundo, e também no Brasil, as campanhas apoiam-se nas orientações médicas de que o câncer é curável se detectado e tratado quando de seu início. Na população brasileira, no entanto, a maioria dos diagnósticos de câncer de mama é realizada em estádios mais avançados, quando se faz necessário instituir tratamentos mais radicais, com aumento significativo da morbidade (Abreu, Koifman, 2002, p.114; Bergmann et al., 2004, p.312).

Os tratamentos radicais incluem a mastectomia, com retirada da mama, dos músculos do peito, de todos os gânglios linfáticos da axila, de alguma gordura em excesso e pele. O papel da fisioterapia oncológica é fundamental na reabilitação do paciente e na prevenção de possíveis complicações.

A fisioterapia oncológica é uma área ainda nova, mas em expansão. No Inca foi organizada em 1980, vinculada ao Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital do Câncer I (HC I). Na época contava com poucos fisioterapeutas. No final da década de 1980 e início da seguinte houve a necessidade da incorporação de novos profissionais. Em virtude da demanda crescente de atendimento hospitalar, o espaço físico foi reestruturado em um setor bem equipado e com autonomia de condutas e rotinas de atendimentos.18

 

A fisioterapia em oncologia

A fisioterapia em oncologia é uma especialidade que tem como objetivo preservar, manter, desenvolver e restaurar a integridade cinético-funcional de órgãos e sistemas, assim como prevenir os distúrbios causados pelo tratamento oncológico.19 Em maio de 2008 realizou-se o Terceiro Congresso Brasileiro de Fisioterapia em Cancerologia, voltado exclusivamente para acadêmicos e profissionais da área. Foram discutidos temas relacionados à abordagem fisioterapêutica em pacientes amputados; em pacientes que sofreram cirurgias toracoabdominais; nos cuidados paliativos oncológicos; no ensino e na pesquisa em oncologia; nas políticas públicas de saúde; na fisioterapia respiratória em oncologia; na neurocirurgia oncológica; na mastologia; na oncologia clínica; e na urologia oncológica. Cada vez mais cresce a participação da fisioterapia nessa área, em especial no pré e pós-operatório de câncer de mama, como será mostrado adiante.

 

As pesquisas em centros mundiais de referência

A Escola de Saúde Pública de Harvard, reconhecida como uma referência internacional sobre pesquisas de câncer de mama, aponta o extenso lobby das doentes, bem como o impacto da mídia, que geram um intenso debate sobre prevenção, métodos e possibilidades de cuidado e cura. Um importante estudo brasileiro indica, nessa mesma direção, a organização eficiente das mulheres com câncer de mama, que se destacam dos pacientes de câncer prostático justamente pelo grau de organização de seus interesses e pela maior pressão sobre órgãos e recursos públicos e privados (Coutinho, Soares, 2000). Uma matéria sobre as pesquisas realizadas em Harvard confirma o papel crescente do câncer feminino na agenda científica daquele importante centro mundial. O que hoje se sabe sobre os fatores de risco do câncer de mama - em relação à idade da primeira gestação - na verdade resultou de estudos de forte impacto internacional, realizados há mais de trinta anos sob a liderança do epidemiologista e professor da Harvard School of Public Health (HSPH), Brian MacMahon (Pollack, 1992, p.4-10).

A partir de estudos pioneiros como os da equipe de MacMahon, hoje se sabe que os fatores de risco são multifatoriais: fatores hormonais; alterações genéticas; história familiar; menopausa tardia; menarca precoce; primeira gravidez após trinta anos; ingestão regular de álcool; exposição a radiações ionizantes em idade inferior a 35 anos; e nuliparidade (Pollack, 1992, p.4-6). O conhecimento gerado pelas pesquisas, nas últimas décadas, teve impacto direto sobre a prevenção do câncer de mama e alguns resultados que contrariavam hipóteses ou 'achados' até certo ponto consensuais. Por exemplo, a amamentação, associada positivamente à saúde neonatal, não parecia conferir proteção para o câncer de mama. Tampouco se confirmou a hipótese da associação entre obesidade, constituição corporal e risco de câncer de mama na pós-menopausa.

Outros estudos conduzidos em Boston, pelos pesquisadores dos departamentos de Epidemiologia e Nutrição da HSPH, vieram a confirmar hipóteses correntes sobre a associação entre menstruação precoce, menopausa tardia e carcinoma mamário (Pollack, 1992). A mulher ficaria exposta por mais tempo aos altos níveis de estrogênio do corpo. Se por um lado, diziam os estudos, ela estaria protegida das doenças coronarianas e da osteoporose, por outro teria um risco de 40% de desenvolver a doença.

O papel dos anticoncepcionais na etiologia do câncer de mama também foi bastante discutido na mesma época, quando os resultados de pesquisas apontavam para a elevação do risco de carcinoma pelo consumo de contraceptivos, antes do ciclo reprodutivo feminino.20

 

A fisioterapia e o câncer de mama

O câncer de mama causa alterações físicas e emocionais importantes nas mulheres. A OMS ressalta que a detecção precoce é fundamental, pois o tratamento é mais efetivo quando a doença é diagnosticada em fases iniciais, antes do aparecimento dos sintomas clínicos (Brasil, 2004, p.84; Brasil, s.d. - Inca, Relatório anual 2005, p.20). Segundo Bergmann (2000), quanto mais precoce o diagnóstico, melhores são as condições de tratamento e maior é a sobrevida das mulheres acometidas.

O câncer de mama é uma doença complexa, com formas de evolução lenta ou rapidamente progressiva. É uma doença sistêmica, envolve vários órgãos. O carcinoma mamário consiste na formação de um tumor maligno a partir da multiplicação acelerada de células anormais, podendo apresentar-se através de inúmeras formas clínicas e morfológicas (Guia..., s.d.). É relativamente raro antes dos 35 anos de idade, mas acima dessa faixa sua incidência cresce rápida e progressivamente. O câncer de mama tem cura quando detectado no início. O índice de sucesso no tratamento é de 90%, e quase sempre não é preciso retirar toda a mama (Brasil, 2004, p.84; Brasil, s.d. - Inca, Relatório anual 2007).

O principal sintoma é o nódulo no seio, acompanhado ou não de dor mamária (detectado através do autoexame, do exame feito pelo médico ou por mamografia). Podem surgir alterações na pele que recobre a mama, como abaulamentos ou retrações ou, ainda, nódulos palpáveis na axila e secreção mamilar.21 O rastreamento é feito por meio da mamografia, que permite a detecção precoce, por sua capacidade de localizar lesões em fase inicial (Brasil, s.d.; Brasil, 2004, p.84; Brasil, s.d. - Inca, Relatório anual 2004, p.27).

É o estádio em que se encontra o tumor que determina se o câncer pode ser removido cirurgicamente. A União Internacional Contra o Câncer (UICC) criou uma classificação, denominada estadiamento para definir se um tumor está em estado avançado ou não. Essa classificação tem como base três fatores: o tamanho do tumor, a avaliação da extensão dos linfonodos e a presença ou não de metástases.

Os casos são classificados em estádios que variam de 0 a IV graus crescentes de gravidade da doença (Diagnóstico..., 2009). O tratamento irá depender diretamente do grau do estadiamento. Nesse sentido, se o tumor é diagnosticado em estádios mais avançados, os recursos terapêuticos se tornam mais limitados e mutilantes (Paci et al., 1996; Gerber et al., 1992, citado em Bergmann, 2000). Segundo Abreu e Koifman (2002, p.114), os estadiamentos III e IV chegam a corresponder a cerca de 60% dos diagnósticos iniciais. Um dos motivos para tal situação estaria no número insuficiente de mamógrafos.

Para o fisioterapeuta oncológico, é fundamental ter conhecimento do estádio em que se encontra o paciente. A má utilização dos recursos fisioterapêuticos poderá contribuir com a proliferação celular nas redes linfática e sanguínea. Assim como o tratamento para o câncer de mama, a cirurgia adequada varia de acordo com o tipo de tumor e o estágio da doença. Na cirurgia conservadora é retirada apenas uma parte da mama. Nas cirurgias radicais (mastectomia), a mama é retirada por completo e, eventualmente, é extraído também o músculo peitoral. Ambas as modalidades cirúrgicas são normalmente acompanhadas pela retirada de nódulos linfáticos das axilas (linfonodos). A mastectomia é um procedimento cirúrgico que evita a disseminação do câncer.22

As cirurgias acarretam, como foi dito, danos físicos importantes para o paciente. A imensa maioria submete-se a abordagem cirúrgica da axila, e o pós-operatório pode levar a complicações como seroma, deiscência da ferida cirúrgica, aderência cicatricial, retrações, fibroses, dor na incisão cirúrgica, dor na região cervical, alterações de sensibilidade, alterações posturais, diminuição da capacidade respiratória, diminuição de amplitude de movimento, fraqueza, encurtamentos musculares e linfedema precoce. Entre todas as complicações decorrentes do tratamento para câncer de mama, o linfedema secundário do membro superior, é a mais frequente (Leitch et al., 1998; Pezner et al., 1986; Clarysse, 1993; Segerstron, 1992; Tadych, Donegan, 1987, citado em Bergmann, 2000).

 

A fisioterapia precoce e o pós-operatório

A fisioterapia precoce tem como objetivo prevenir complicações que poderão ocorrer caso não se tenha o adequado conhecimento dos fatores prognósticos. Do ponto de vista clínico, os mais importantes são o tamanho do tumor e o comprometimento axilar. Segundo Abreu e Koifman (2002, p.115), o conhecimento dos fatores prognósticos é fundamental na determinação dos programas terapêuticos e fisioterapêuticos.

A prevenção de complicações deve estar presente em todas as fases do câncer de mama: no diagnóstico; no tratamento (quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e cirurgia); na recorrência da doença e nos cuidados paliativos. Segundo Batiston e Santiago (2005, p.30-31), é fundamental iniciar um programa fisioterapêutico precocemente, quando as pacientes ainda não apresentam complicações, como limitações de movimentos, dor, linfedema e aderência cicatricial. No entanto, muitas são encaminhadas tardiamente, o que diminui a probabilidade de recuperação.

No pós-operatório imediato, a intervenção fisioterapêutica busca "identificar alterações neurológicas ocorridas durante o ato cirúrgico, presença de sintomas álgicos, edema linfático precoce e alterações na dinâmica respiratória" (Brasil, 2004, p.84). No decorrer do tratamento, objetiva-se a adequada recuperação funcional e, consequentemente, melhor qualidade de vida para a paciente (Guia..., s.d.). Alguns trabalhos têm chamado atenção para a importância da avaliação da qualidade de vida em pacientes submetidos à mastectomia como uma estratégia de intervenção terapêutica. A oncologia foi, segundo Makluf, Dias e Barra (2006, p.50), a especialidade que se viu confrontada com as necessidades de se avaliar qualidade de vida.

Hoje, duas situações predominam no tratamento do câncer: de um lado, a cura completa, sem sequelas físicas e/ou funcionais; de outro, o que se observa é a necessidade de um tratamento mais agressivo que pode deixar limitações significativas. Neste segundo caso, se faz necessário o envolvimento ativo de uma equipe multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e nutricionistas. Mas é importante que a equipe de saúde esteja preparada para diagnosticar e intervir precocemente.

Segundo Rezende et al. (2006, p.37-38), considerando a expectativa de sobrevida para mulheres submetidas à mastectomia radical, tornou-se fundamental o aprimoramento das técnicas de reabilitação para proporcionar uma adequada recuperação física e mental. Nos últimos anos, muitas propostas de tratamento foram desenvolvidas com o intuito de minimizar as complicações pós-operatórias.23 Várias são as terapias indicadas, algumas baseadas em exercícios de alongamento global e fortalecimento muscular, outras em exercícios ativos assistidos progredindo para exercícios ativos resistidos, exercícios respiratórios, manobras de drenagem linfática manual, além de movimentos de facilitação neuromuscular proprioceptiva e atividades funcionais. Pode-se ainda aplicar técnicas e condutas fisioterapêuticas para melhora da postura, como reeducação postural global (RPG), antiginástica, cinesioterapia. Os recursos analgésicos (Tens, crioterapia, mobilização passiva, técnicas de relaxamento muscular) complementam o tratamento fisioterapêutico (Bergmann et al., 2006, p.100).

A intervenção da fisioterapia pode ser medida pelo grau de independência alcançado pela paciente, proporcionando alívio da dor, diminuindo os riscos de infecção, aumentando a mobilidade de membros superiores e reduzindo a necessidade de medicamento como analgésicos.

Durante o período de internação o enfoque é global, prevenindo, minimizando e tratando complicações respiratórias, motoras e circulatórias. A dor é uma das principais e mais frequentes queixas da paciente, devendo ser valorizada, controlada e tratada em todas as etapas da doença. Segundo Bergmann et al. (2006, p.100-101), as diversas técnicas para analgesia caracterizam a fisioterapia em oncologia (Bergmann, 2008).

 

O estabelecimento da profissão e a consolidação da fisioterapia em oncologia

A atuação abrangente e a acumulação de experiência profissional estão redirecionando o campo de atenção do fisioterapeuta. Esse profissional vem atuando em todos os níveis de assistência à saúde, incluindo a prevenção, a promoção, o tratamento e a recuperação, com ênfase no movimento e na função.

Embora o processo de profissionalização da fisioterapia no Brasil tenha sido marcado pela hegemonia médica na saúde, assim como as demais profissões em saúde, é possível dizer que a profissão vem crescendo no domínio do conhecimento e da atuação profissional. O fisioterapeuta, que até bem pouco tempo era visto como um auxiliar do médico, hoje é reconhecido, pela legislação em vigor, como um profissional capaz para avaliar e tratar o seu paciente de forma autônoma, com conhecimento suficiente para múltiplas funções na atenção à saúde.

O fisioterapeuta vem adquirindo prestígio profissional, cada vez mais reconhecido como um ator importante nos serviços de saúde. Seu espaço diante da autoridade médica, ainda que reduzido, tem reconhecimento legítimo. Isso se deve, em parte, a ter conseguido reivindicar algum monopólio sobre uma área do conhecimento - a cinesioterapia funcional - e a sua atuação em ambulatórios, consultórios, centros de reabilitação, Programa Saúde da Família e nas atividades de ensino, tanto na graduação como nos programas de pós-graduação.

O que determina a autonomia e o campo de atuação de uma profissão? O conhecimento, a capacidade científica e a credibilidade. A consolidação de uma tradição de pesquisa dependerá do grau de comprometimento profissional, consenso e adesão da comunidade. Tais elementos são pré-requisitos para a continuação de uma tradição de pesquisa. Somente o profissional comprometido conseguirá desenvolver estruturas cognitivas estáveis para lidar com os problemas que comprometem diretamente a qualidade do trabalho científico e que afetam a estabilidade e a identidade da comunidade (Kuhn, 1989, p.30-31).

Wilensky (1964, p.137-142) enfatiza que o grau de autonomia de uma profissão é medido não só pela competência, habilidade e jurisdição a padrões de treinamento, mas também pela aderência ao ideal de serviço e às normas de conduta profissional. Um profissional deve, ainda, convencer o público de que seus serviços são confiáveis. Freidson (1975, 1998) lembra que a autonomia é condição para alcançar-se legitimidade e mérito na atividade científica. O reconhecimento de uma profissão está intimamente relacionado ao prestígio de seus profissionais. Assim como o médico necessita conquistar a confiança de seus clientes - mediante a resolução de problemas que os afligem -, o fisioterapeuta precisa mostrar capacidade de controlar uma área de atividade, ser possuidor de conhecimento técnico e especializado na 'arte e técnica' do cuidar.

A fisioterapia, reconhecida e habilitada para a prevenção de doenças e recuperação da saúde, vem formando profissionais capazes de controlar uma área de atividade e preocupados com a realidade social. As discussões em torno da formação e da atuação surgem com a necessidade de estudar e trabalhar a saúde como uma condição social de múltiplas dimensões. As universidades, em especial as públicas, vêm propondo cada vez mais alternativas de atuação socialmente relevantes. A saúde coletiva tem contribuído nesse sentido, buscando a articulação da área da saúde com outras áreas de conhecimento, como por exemplo a das ciências sociais. Essa aproximação tem permitido ao profissional de saúde pensar e agir relacionando-se com as diversas áreas de conhecimento.

A fisioterapia vem experimentando um crescimento, nas duas últimas décadas, em especial em oncologia, e a preocupação quanto à formação tem acompanhado esse crescimento. Pesquisadores, coordenadores e professores de vários estados brasileiros estão conscientes da necessidade de mudanças nos currículos, para garantir a formação de um profissional competente e que contribua para a construção do setor saúde no Brasil, proporcionando melhores condições de vida, integração psicossocial do indivíduo e condições para o exercício da cidadania. Essa atitude é reforçada por Deliberato (2002, p.6), quando afirma que "o caminho do profissional fisioterapeuta na direção das ações preventivas, em vez de centralizarse no modelo curativo, representa na verdade uma via inteligente e exequível".

Por fim, cabe destacar que, uma vez que a saúde passou a ser associada às condições sociais, e não mais simplesmente vinculada ao tratamento das doenças, a fisioterapia precoce passou a desempenhar um papel fundamental. No tocante à fisioterapia em oncologia, busca-se levar uma melhor qualidade de vida aos pacientes com câncer, minimizando os efeitos adversos do tratamento. Os resultados positivos estão relacionados à recuperação físico-funcional. Eles advêm da aplicação sistematizada de recursos terapêuticos diversos, com o foco sempre voltado para o controle dos sintomas imediatos referidos pelo paciente (Bergmann, 2008).

 

Considerações finais

Cada vez mais se faz necessária a atuação da fisioterapia em pacientes com câncer de mama, do ponto de vista do tratamento e da prevenção, para minimizar os efeitos da cirurgia radical ou mesmo superá-los. O carcinoma mamário é o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres brasileiras. A fisioterapia expandiu e consolidou sua atuação em oncologia, em especial no tratamento do câncer de mama feminino. A preocupação com a formação profissional tem acompanhado esse crescimento. O treinamento e a competência em fisioterapia são fundamentais para se alcançarem os resultados esperados. O fisioterapeuta precisa ter claro o objetivo de tratamento, facilitando a aceitação da paciente ao atendimento. É preciso considerar o caráter preventivo e antecipar possíveis complicações para evitar sofrimentos desnecessários. O profissional bem formado estará apto a prever complicações. O benefício a ser buscado é a preservação da vida e o alívio dos sintomas, dando oportunidade, sempre que possível, para a independência funcional da paciente. A reinserção em suas atividades de vida diária é importante para restaurar a autoestima. "A ausência de autoestima faz com que sejamos algozes de nós mesmos", disse um médico de renome. Erving Goffman (1985) o cientista social estudioso das 'identidades deterioradas', não diria outra coisa. Cumpre respeitar, resguardar e resgatar identidades perdidas. Ao contribuir efetivamente para a retomada da atividade física, a fisioterapia pode colaborar para a conquista da autoestima pela paciente, para a aceitação de si própria, de seus limites e possibilidades funcionais.

 

AGRADECIMENTOS

A autora agradece as sugestões feitas por Gulnar Azevedo e Silva Mendonça a uma versão anterior deste artigo.

 

NOTAS

1 Nesta e nas demais citações de textos em outros idiomas, a tradução é livre.

2 Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Fisioterapia (Brasil, 4 mar. 2002).

3 A esse respeito, ver http://www.inca.gov.br/index.asp (acesso em 12 de julho de 2008).

4 Berta e Karel Bobath criaram o método Bobath ou conceito neuroevolutivo. O método foi criado nos anos 1950 para tratamento de bebês, crianças e adultos com lesões no sistema nervoso. É uma técnica de reabilitação neuromuscular que utiliza os reflexos e os estímulos sensitivos para inibir ou provocar uma resposta motora. Ver Davies, 1996.

5 Na década de 1960 eram 15 mil fisioterapeutas em atividade em todo o país (Barros, 2003).

6 Médico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que obteve o primeiro sucesso na extirpação total de um estômago atacado por um câncer do piloro. Foi fundador e primeiro diretor da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, até 1920 (Marinho, 2003).

7 Os primeiros aparelhos de raios X chegaram ao Brasil em final da década de 1890, trazidos por médicos do Rio de Janeiro e da Bahia que retornavam de viagens à Europa. No Rio de Janeiro, o médico Álvaro Alvim foi o pioneiro no uso desses equipamentos. Em 1897 instalou, em seu consultório de fisioterapia, um aparelho de raio X e trabalhou com a técnica até 1928, quando faleceu em virtude de lesões ocasionadas pelo seu uso (Teixeira, Fonseca, 2007, p.23).

8 O curso tinha dois anos de duração e funcionou até 1958.

9 Através da portaria G.R. 347 de 7 de abril de 1967; ver Barros, 2003.

10 Em Minas Gerais, o primeiro curso de fisioterapia foi criado em virtude da necessidade de mão de obra especializada para atendimento de portadores de deficiências físicas nos Hospitais Arapiara e da Baleia. Os cursos de fisioterapia e fisiatria eram lecionados na Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG). Esses cursos foram organizados por médicos mineiros (ortopedistas e fisiatras) que trouxeram para o país um modelo norte-americano de reabilitação, uma vez que se especializaram em ortopedia ou fisiatria nos Estados Unidos, alguns no Instituto de Reabilitação da Universidade de Nova York. Ver Nascimento, 2004; Nascimento et al., 2006.

11 A partir dos anos 1960, é significativa a participação dos fisioterapeutas na elaboração dos currículos, buscando adequá-los às suas necessidades profissionais, rompendo, de certa forma, com a submissão ao médico (Oliveira, 2004, p.253).

12 Por outro lado, segundo Oliveira (2004, p.259), os médicos criticavam o fato de os fisioterapeutas reclamarem para si atividades que eram próprias dos fisiatras, especialistas em medicina física e reabilitação. A Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação de São Paulo se posicionou contra a intromissão 'abusada' nas atividades profissionais que 'sempre' foram atribuições exclusivas dos fisiatras.

13 Através do parecer 388/63, homologado pela portaria 511/64 do MEC; ver Rebelatto, Botomé, 1999, p.65.

14 Desde então foram realizados 17 congressos de fisioterapia em várias partes do país.

15 Segundo Barros (2003), a criação desses conselhos se deve à implantação, meses antes, do Plano de Classificação de Cargos no serviço público federal, o qual, na tentativa de reduzir cargos e carreiras, englobava diferentes profissionais com a mesma denominação. Foi por esse motivo que os fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos ficaram sob a denominação de técnicos de reabilitação, que perdurou até 1984.

16 Coutinho e Soares (2000) colocam em discussão as premissas de que as decisões na área de saúde pública seguem considerações epidemiológicas racionais, baseadas em índices de risco associados ao contágio, a taxas de incidência e de mortalidade etc. Ainda que tais fatores venham a nortear os investimentos em programas de controle e prevenção, os autores baseiam-se em estatísticas norteamericanas para demonstrar que o acesso às verbas federais está intimamente relacionado à capacidade de negociação dos grupos organizados. Os autores citam os exemplos das políticas de câncer da próstata e de mama, nos Estados Unidos. Embora as taxas de mortalidade sejam muito próximas para ambas as doenças, as campanhas de câncer de mama recebem naquele país mais recursos, em função da "eficácia das ações dos grupos de pressão na construção de um consenso político em torno da relevância de suas causas" (p.33).

17 No Brasil, o carcinoma mamário é o que mais causa mortes entre as mulheres. Os índices são maiores que em outros tipos de câncer (Brasil, s.d. - Inca, Relatório anual 2007). As estimativas para os anos de 2008 e 2009 são desoladoras. Cerca de 49 mil mulheres terão câncer de mama. Os estados com os maiores índices são: São Paulo (15.640), Rio de Janeiro (7.680), Rio Grande do Sul (4.880), Minas Gerais (4.280) e Santa Catarina (1.610) (Brasil, 2008).

18 A esse respeito ver http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=682 (acesso em 28 de julho de 2008). O Hospital do Câncer III possui um serviço de fisioterapia, unidade responsável pelo atendimento exclusivo de pacientes com câncer da mama do Instituto Nacional de Câncer.

19 Ver http://www1.inca.gov.br/conteudo_view.asp?id=682 (acesso em 28 de julho de 2008).

20 Um estudo importante publicado no Sao Paulo Medical Journal chama atenção para a relação positiva entre perda de peso corporal e câncer de mama (Vasconcelos, Mendonça, Sichieri, 2001).

21 Ver, a respeito, o site do Instituto Nacional do Câncer (http://www.inca.gov.br/conteudo_view.asp; acesso em 1 de julho de 2008).

22 Ver, a respeito, o site Oncoguia (http://www.oncoguia.com.br/site/interna.php; acesso em 28 de julho de 2008) e Guia..., s.d. (http://cancermama.net/; acesso em 2 de junho de 2008).

23 Ver descrição das rotinas do Serviço de Fisioterapia do Hospital do Cancer III/Inca em Bergmann et al., 2006.

 

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AUTORA:

Lina Faria

Pesquisadora do Instituto de Medicina Social/ Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Condomínio Village, casa 19 22202-317 - Petrópolis - RJ - Brasil. lina@compuland.com.br


Principais distúrbios genito-urinários no idoso: uma revisão

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1. INTRODUÇÃO

Uma das características da sociedade atual é o grande número de pessoas que atinge idade avançada, que está relacionado ao progresso mundial, e ao aumento cada vez maior de pessoas preparando-se para uma vida mais longa, com melhores perspectivas de vida social e psicologicamente sadia. O número de pessoas com idade de 60 anos ou mais continua aumentando gradativamente. No Brasil, segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial da Saúde, entre 1950 a 2025, a população de idosos no país crescerá 16 vezes contra 5 vezes da população total, o que nos colocará em termos absolutos com a sexta população de idosos do mundo. Os idosos, que em 1991 representavam 7,3% da população, em 2025 irão representar 15%. (GUS, 1999; SILVA et al., 2007).
 

Na mulher idosa deve-se dar ênfase a área genito urinário e no homem aos problemas relacionados a próstata. Os Distúrbios Genito Urinário ocorrem na população idosa, pois os rins sofrem hipoplasia com a idade, podendo a sua massa chegar a uma redução superior a um terço de seu tamanho no idoso. Esse fenômeno reflete em um menor número de glomérulos com conseqüente insuficiência relativa da filtração glomerular e da osmolaridade urinária. Toda medicação para o paciente idoso deve ter em consideração parâmetros de funcionamento renal. A avaliação da diurese, tanto no volume quanto no aspecto da urina, é obrigatória. O ideal é obter-se a urina miccional, porém, em algumas situações, é difícil conseguir a micção voluntária do doente. Essa situação é muito encontrada no idoso, por apresentar quadros de confusão mental ou por ter distúrbios miccionais decorrentes de baixa contratilidade vesical e perda do tono esfincteriano, provocando retenção ou Incontinência Urinárias. Afecções da próstata ou operações sobre esse órgão, comuns em homens idosos, agravam ainda mais os distúrbios miccionais. O paciente acamado, com dor e logo após um trauma operatório, ou quando submetido a um bloqueio anestésico raquidiano pode ter dificuldade miccional, mesmo sem qualquer distúrbio. (PETROIANU, 1998; PETROIANU 1999).
 

A incontinência urinária é uma das grandes síndromes geriátricas, freqüentemente negligenciada, com alto grau de morbidade direta e indireta. Por ser uma situação que causa constrangimento, não costuma ser mencionada às equipes de saúde, tendo que ser ativamente buscada. O desconforto gerado determina isolamento social e perda da auto-estima. A incontinência urinária não tratada predispõe a infecções genito urinárias que podem levar a uro-sepse, maceração da pele facilitando a candidíase e formação de escaras; interrompe o sono e predispõe a quedas, sendo um dos principais fatores que levam à institucionalização do idoso. A IU é estimada em 11 a 14% de homens e 17 a 55% de mulheres idosas. Embora seja comum, é uma situação perfeitamente reversível e tem significação social com conseqüências emocionais. (VERAS et al., 2007; SILVA et al., 2007).
 

O envelhecimento do sistema ginecológico leva a alterações funcionais que podem contribuir para o aparecimento de doenças, além de haver uma maior prevalência de câncer nessa fase da vida. Câncer é o nome dado a um grupo de doenças malignas caracterizadas pelo crescimento anormal e descontrolado de células que sofreram alteração em seu material genético, em algum momento de seu ciclo celular. Essas células geneticamente modificadas podem invadir os tecidos e órgãos, espalhando-se para outras regiões do corpo. Segundo a OMS, o câncer é responsável por 12,5% das mortes, por ano, em todo o mundo. Na maioria dos países em desenvolvimento, 80% são de câncer do colo uterino. Nas regiões Norte e Nordeste do país o câncer de colo uterino ocupa o primeiro lugar. (http://www.inca.gov.br/rbc/n_54/v04/pdf/333_344_Analise_ dos_Metodos_de_Avaliacao.pdf, 2008).
 

A próstata é a sede de dois dos problemas clínicos mais comuns enfrentados pelos idosos: hiperplasia prostática benigna (HPB) e carcinoma de próstata (DUTHIE e KATZ, 2002). A hiperplasia prostática benigna está presente em aproximadamente 50% dos homens após os 50 anos de idade. (REIS, et al., 2003). O câncer de próstata ocupa atualmente a segunda ou terceira posição entre os tumores malignos mais comuns no sexo masculino nos países ocidentais. É encontrado principalmente em homens idosos e à medida que a expectativa de vida aumenta, passa a tornar-se mais importante. Estima-se que cerca de um em cada dez homens desenvolva evidência clínica da doença. Porém somente um terço dos pacientes diagnosticados morre da doença, pois tratando-se de pacientes idosos, em geral a mortalidade acaba sendo atribuída a outras causas. (http://www.fosp.saude.sp.gov.br/html/epid_cpr.html)


O objetivo desta investigação foi identificar e analisar as publicações sobre os principais Distúrbios Genito-Urinários que acometem o idoso: Incontinência Urinária, Câncer de próstata, Câncer de Colo do útero. Realizou-se uma revisão bibliográfica a fim para abordar esses distúrbios e trazer maiores informações a população idosa, bem como aos seus cuidadores, ocasionando melhoria na qualidade de vida desta população. O conhecimento produzido beneficiará profissionais da área da saúde e pacientes, causando uma melhor integração do profissional junto ao portador das patologias ou síndrome.
 


2. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que tende a coletar e analisar as contribuições e abordagens literárias sobre Distúrbios Genito Urinários no Idoso, entre eles: Incontinência Urinária, Câncer de Próstata e Câncer de colo de útero. Para a coleta de dados foram determinadas as seguintes palavras-chave: Idoso; Incontinência Urinária; Câncer de próstata, Câncer de útero. Esses dados foram obtidos por consulta em publicações de anos de 1985 à 2008 através de um levantamento bibliográfico com artigos nacionais e internacionais, livros, teses, entre outros, em base de dados bibliográficos: Scielo, Lilacs, Bireme, em sites (bibliotecas virtuais) e outros.
 


3. DISCUSSÃO

Foram encontradas 38 (Trinta e oito) referências bibliográficas sobre os Distúrbios Genito Urinários, sendo utilizados para realizar esta revisão 32 (trinta e duas), pois as referências restantes foram excluídas da revisão, devido a não se adequar ao objetivo específico da nossa investigação, que é Distúrbios Genito Urinários na população idosa. Das 32 (trinta e duas) abordagens literárias, 25 (vinte e cinco) eram da língua portuguesa, o que equivale a 78,125%, e 7 (sete) da língua inglesa, sendo 21,875%.
 


INCONTINÊNCIA URINÁRIA

A Sociedade Internacional de Incontinência Urinária a define como perda involuntária de urina, demonstrável objetivamente e que constitui um problema higiênico e social. Tem causa multifatorial, sendo elemento gerador de exclusão social, interferindo na saúde física e mental do paciente e comprometendo sua qualidade de vida. (RODRIGUES, 2008).


A Incontinência urinária (IU) é um condição de saúde significante para os idosos cuja prevalência é maior nesta população, não sendo considerada uma doença, mas uma condição que afeta essa parcela populacional, restringindo-lhes a independência e a dignidade. (Rodrigues & Rino, 1994). Essa condição, embora não represente risco à vida, gera grandes repercussões psicossociais e comprometimento físico nas pessoas portadoras, trazendo modificações negativas nos seus hábitos de vida, e podendo provocar até um isolamento social. Há evidências de que os incontinentes experimentam sentimentos de solidão, tristeza e depressão mais expressivos que os continentes e que a influência da IU na qualidade de vida varia de acordo com o tipo de incontinência e com a percepção individual do problema. Os pacientes idosos podem sofrer graves seqüelas que advêm da perda de urina constante, tais como escaras, celulites, e quedas sendo esta causa freqüente de internação em casas de repouso (CARVALHO, 2000).
 

A IU é relativamente freqüente na população que envelhece. Estudos revelam que a prevalência da IU no idoso varia de 8 a 34%. A freqüência em mulheres é duas vezes mais que em homens, sendo estimada em 11 a 14% de homens idosos e 17 a 55% de mulheres idosas. Atinge mais mulheres por diversos fatores, tais como avanço da idade, deficiência estrogênica, multiparidade, entre outros. (SILVA et al., 2007). Apesar da alta prevalência em indivíduos idosos, 63% dos homens e 59 % das mulheres não procuram auxílio médico (REIS et al., 2003).
 

Em pesquisas realizadas, observou-se que 5% a 37% de idosos que vivem em comunidade, 38% a 55% os quais encontram-se em instituições por tempo prolongado e 19% dos idosos que estão em hospitais de cuidado a episódios agudos, são incontinentes urinários de alguma forma. (RODRIGUES & RINO, 1994).
 

As alterações hormonais do envelhecimento, como o aumento na secreção de vasopressina e do hormônio natriurético, resulta na eliminação preponderante dos líquidos ingeridos, durante o dia, no período noturno, mesmo na ausência de insuficiência venosa, insuficiência cardíaca, doenças renais ou obstrução prostática. Essas mudanças, associadas à ocorrência de distúrbios do sono fazem com que pessoas com mais de 65 anos apresentem 1 a 2 episódios de noctúria, mesmo na ausência de qualquer enfermidade, sendo uma das alterações mais freqüentes do hábito urinário no idoso, ocorrendo em 26% a 66% na população a partir da quinta década e chegando a 55% nos pessoas com mais de 70 anos de idade. (REIS, et al., 2003).
 

Alterações da motivação, da destreza manual, da mobilidade, da lucidez e a existência de doenças associadas (diabetes mellitus e insuficiência cardíaca, entre outras), freqüentemente encontradas no idoso, podem ser responsáveis pela incontinência urinária no idoso, sem que haja comprometimento significativo do trato urinário inferior. (REIS, et al., 2003; RODRIGUES, 2008).
 

O impacto causado pelo envelhecimento está relacionado à diminuição da complacência uretral ou ausência de contratilidade do detrusor. A força de contração da musculatura detrusora, a capacidade vesical e a habilidade de adiar a micção aparentemente diminuem, no homem e na mulher. Contrações involuntárias da musculatura vesical e o volume residual pós-miccional aumentam com a idade em ambos os sexos. Entretanto, a pressão máxima de fechamento uretral, o comprimento uretral e as células da musculatura estriada do esfíncter alteram-se predominantemente nas mulheres. Além das alterações decorrentes da senilidade dos tecidos, doenças próprias do indivíduo idoso também contribuem para o desenvolvimento de incontinência urinária. A presença de instabilidade detrusora em muitos indivíduos idosos continentes sugere que a relação entre urge-incontinência e instabilidade detrusora seja mais fraca em pessoas idosas do que em jovens. Nos idosos, a característica das contrações involuntárias, de menor amplitude, necessitam de alterações estruturais e funcionais do esfíncter uretral para que ocorra a urge-incontinência. Fatores como o trofismo vaginal e a presença de distopias também influenciam a presença da urge-incontinência. (REIS, et al., 2003; RODRIGUES, 2008). Além disso, a idade tende a diminuir o suporte do colo vesical, o comprimento da uretra e a competência do assoalho pélvico que oferece suporte suplementar à uretra. Desse modo, há coexistência de fatores exteriores ao trato urinário, que afetam a continência e que são mais freqüentes nos idosos. (GUCCIONE, 2002).
 

Existem tipos de IU, sendo a aguda ou transitória e a persistente ou estabelecida. A incontinência aguda ou transitória está associada a uma condição clínica ou cirúrgica aguda e freqüentemente é resolvida quando as causas que a predispõem são eliminadas, são elas: delirium, onde há existência do estado confusional do idoso chega às vezes a interferir na capacidade de se dirigir ao sanitário em tempo para o esvaziamento vesical; restrição da modalidade, onde a freqüência e urgência miccional estão presentes; infecção; inflamação do trato urinário ou sistêmica, que favorecem o aparecimento da incontinência; medicamentos, psicológica, devido a sedativos, diuréticos, relaxantes musculares, narcóticos e anticolinérgicos, que podem vir contribuir para o desenvolvimento da incontinência e fatores psicológicos como a hostilidade, raiva, depressão também podem ocasionalmente estar associados a ela. A incontinência persistente ou estabelecida pode ter aparecimento súbito apresentando quadro agudo, ou desenvolver-se gradualmente, sem se conhecer a causa que a precipita, freqüentemente evoluindo com severidade. (RODRIGUES & RINO, 1994).

Classificação:


Incontinência de esforço - é a perda involuntária da urina quando a pressão intravesical excede a pressão uretral máxima, devido a elevação da pressão intrabdominal e ausência da contração do detrusor. Este tipo descreve a perda da urina durante exercícios, ou em situações de espirro ou riso. É mais freqüente em mulheres, mas pode ocorrer em homens após cirurgia de próstata; A causa mais freqüente de incontinência urinária de esforço é a hipermotilidade uretral decorrente da fraqueza do assoalho pélvico ou conseqüente a procedimentos cirúrgicos. A deficiência esfincteriana intrínseca também é freqüentemente observada e está geralmente associada à desnervação do assoalho pélvico, à radioterapia prévia, à diminuição dos níveis estrogênicos. (RODRIGUES & RINO, 1994).

Incontinência de urgência - é a perda involuntária da urina associada ao forte desejo de urinar, freqüentemente associada com a condição da pessoa, como no caso de Acidente Vascular Cerebral, Demência Senil, Doença de Parkinson, Escleroses Cerebrais Múltiplas, podendo ocorrer também em pessoas idosas saudáveis. Está associada com a instabilidade do músculo detrusor, onde há um aumento das contrações da musculatura detrusora, que contrai precipitadamente, inibição e hiperreflexia da bexiga; (RODRIGUES & RINO, 1994).

Incontinência por transbordamento - é a perda involuntária da urina quando a pressão intravesical excede a pressão máxima da uretra devido a elevação da primeira associada a distensão da bexiga na ausência de atividade de detrusor, há uma hipoatividade do detrusor, onde o detrusor se contrairá quando o paciente tenta urinar, sendo raro entre idosos. As possíveis causas incluem: obstrução anatômica devido ao aumento da próstata; bexiga neurogênica não inibida, resultante da perda da função iniciadora sobre a micção, quando o idoso percebe que a bexiga está distendida, mas não consegue inibir o reflexo miccional, apresentando perdas freqüentes de pequeno volume de urina; bexiga neurogênica atônica em que o indivíduo não percebe a distensão vesical com o acúmulo de urina e portanto, o reflexo miccional não chega a ser desencadeado, como ocorre nos pacientes diabéticos; (RODRIGUES & RINO, 1994).


Incontinência funcional - é diagnosticada quando há perda involuntária da urina associada a incapacidade ou falta de vontade de usar o toalete apropriadamente. Está associada as perdas cognitivas e físicas dos idosos e a fatores psicológicos e ambientais que influenciam o uso da toilete. A causa básica pode ser neurogênica ou não. (RODRIGUES & RINO, 1994).

 
Incontinência urinária mista - definida como a combinação da incontinência urinária de esforço e de urgência. A hiperpressão abdominal e a contração não inibida do detrusor, que são as duas forças de expulsão podem superar as forças de retenção. A elevada freqüência da incontinência urinária mista é decorrente da fraqueza esfincteriana. A urgência miccional é clinicamente predominante, sendo a mais desconfortável socialmente (VIANA, 2001).

A prevenção da IU visa à realização de exercícios que aumentam a força do esfíncter externo da bexiga, fortalecer a musculatura pélvica, principalmente o músculo elevador do ânus; evitar contraturas; manter a tonicidade muscular; melhorar a capacidade de recrutamento da musculatura, melhorar a transmissão de pressões na uretra e a coordenação reflexa durante o esforço. (XHARDEZ, 2001).


Existem técnicas Fisioterapêuticas que podem ser utilizadas de forma preventiva, para que haja reeducação pélvica perineal, são elas: contração do intróito vaginal contra a resistência, exercícios descontraturantes; exercícios de Kegel, entre outros. O fortalecimento desses músculos é de extrema importância não só na gestão da incontinência urinária, mas sim durante toda a vida; pois os mesmos agem como uma rede para apoiar o útero, a bexiga, intestinos e outros órgãos do arcabouço pélvico (VIANA, 2001).
 

O Tratamento fisioterapêutico, na maioria das vezes, concentra-se na IU mista, por transbordamento e IU de esforço, sendo as demais tratadas com uso de fármacos e cirurgias, dependendo da situação. Os exercícios perineais ou a eletroestimulação devem ser indicados antes do tratamento farmacológico (ARRUDA et al., 2007). As condutas mais utilizadas pela Fisioterapia são: cinesioterapia, através de exercícios de propriocepção e perineais; eletroestimulação, envolvida no relaxamento e na contração uretral e da musculatura indiretamente envolvida no ato da micção (abdome, nádegas e coxas) onde se observa que impulsos eferentes dos nervos pudendos promovem contração reflexa da musculatura estriada que envolve a uretra e, concomitantemente, acompanha-se de reflexo inibitório da contração do músculo detrusor; tem-se ainda o uso do Biofeedback, no qual é um método empregado para o reconhecimento da musculatura esquelética. Independente do tipo de terapêutica, sendo ela fisioterapêutica, farmacológica, ou cirúrgica, o tratamento deve ser realizado pela equipe de saúde, com a participação do paciente e das pessoas que lhe prestam cuidados, além de que a fisioterapia pode atuar tanto no pré como no pós-operatório, contribuindo para os resultados cirúrgicos obtidos e, assim, mantendo o paciente continente e melhorando a sua qualidade de vida. (GROSSE e SENGLER, 2002; GUEDES & SEBBEN, 2006).
 


CÂNCER DE PRÓSTATA

A próstata, glândula de dimensões diminutas localizada na base da bexiga, pode ser sede de dois processos distintos. O primeiro é o crescimento benigno, chamado de hiperplasia, que acomete quase 90% dos homens após os 40 anos e que produz dificuldade para a eliminação da urina. O segundo é o câncer da próstata, que surge associado ou não ao crescimento benigno e que se manifesta quase sempre depois que os homens completam 50 anos. (http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed1098/caprostata.htm)


O parênquima prostático é composto de tecido glandular dentro de um estroma fibromuscular. As glândulas e o estroma fibromuscular da zona de transição sofrem mudanças marcantes com o envelhecimento. Ocorre uma verdadeira hiperplasia desses elementos a qual parece ser hormônio-sensível. Além da sensibilidade hormonal, o componente muscular liso da próstata é responsivo à estimulação nervosa. (DUTHIE e KATZ, 2002)
 

A evidência de hiperplasia benigna prostática é de mais 50% dos homens com idade acima de 70 anos. A probabilidade de achados de câncer prostático é diretamente proporcional à idade, e quanto mais idoso um homem fica, mais provável é que o câncer esteja oculto em alguma região da próstata. Ao menos 80% dos homens de 90 anos de idade abriga um adrenocarcinoma em algum ponto da próstata. (DUTHIE e KATZ, 2002)
 

Todo homem nasce programado para ter câncer da próstata, pois todos carregam em seu código genético os chamados "proto-oncogens", que dão a ordem para uma célula normal se transformar em outra maligna. Isto só não ocorre indiscriminadamente porque a função dos proto-oncogens é antagonizada por outro grupo de gens protetores, chamados de "supressores", dos quais os mais conhecidos são o p53 e o p21. Estes gens promovem o suicídio das células toda vez que elas sofrem um processo de degeneração maligna, num fenômeno conhecido como apoptose. O câncer da próstata surge porque as múltiplas divisões celulares, que ocorrem em todos os seres vivos, acompanham-se de discreta fragmentação dos cromossomos, que vão se privando de parte do seu material genético. Com o decorrer dos anos acumulam-se perdas dos gens supressores, que libera a atividade dos proto-oncogens e permite a degeneração das células prostáticas. (http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed1098/caprostata.htm).
 

A grande maioria dos casos ocorre em homens com idade superior a 50 anos e naqueles com história de pai ou irmão com câncer de próstata. Os riscos aumentam de 2,2 vezes quando um parente de 1º grau (pai ou irmão) é acometido pelo problema, de 4,9 vezes quando dois parentes de 1º grau são portadores do tumor e de 10,9 vezes quando três parentes de 1º grau têm a doença. Nos casos hereditários, o câncer se manifesta mais precocemente, muitas vezes antes dos 50 anos. Por isto, os homens com história familiar devem realizar exames preventivos a partir dos 40 anos e não dos 50 anos, como se recomenda habitualmente. (GOMES, et al., 2008).
 

O câncer de próstata causa poucos sintomas nos seus estágios iniciais e, infelizmente, é apenas nos estágios iniciais que pode ser tratado com sucesso. A maioria dos homens apresentando sintomas relativos ao esvaziamento vesical tem algum outro problema que não o câncer de próstata, como a HPB ou infecção do trato urinário como fonte do problema. (DUTHIE e KATZ, 2002) A avaliação inicial da glândula prostática, deve ser suficiente para rastrear a presença de câncer prostático. Quando a avaliação inicial sugere que o paciente pode encontrar-se em risco elevado de apresentar câncer de próstata, devem ser indicados testes adicionais. (DUTHIE e KATZ, 2002)
 


Testes diagnósticos:

Antígeno Prostático-Especifico é uma glicoproteina especificamente fabricada na próstata e encontrada na circulação dos homens com tecido prostático. O PSA pode estar elevado em pacientes em condições prostáticas anormais como o câncer de próstata, a HPB ou condições inflamatórias da próstata. Níveis elevados inexplicados devem alertar para a possibilidade de presença do câncer prostático e deve ser feito encaminhamento imediato para a realização de ultra-sonografia prostática e biopsia. (DUTHIE e KATZ, 2002)


O exame de ultrassom feito através do ânus permite visualizar as chamadas áreas hipoecóicas dentro da próstata, típicas das lesões cancerosas. Este exame, falha em 60% a 70% dos pacientes, deixando de evidenciar tumores que estão presentes ou demonstrando áreas hipoecóicas que não são malignas. Por isto, o ultrassom é utilizado pelos urologistas em alguns casos de dúvida clínica e, principalmente, para orientar a realização de biópsias da próstata. (http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed1098/caprostata.htm). Portanto, a ultra-sonografia da próstata é usada como ferramenta de diagnóstico para orientar as biópsias quando há suspeita de câncer prostático, seja pelo toque retal, pelo nível anormal do PSA ou por uma história que seja sugestiva de câncer de próstata, como a presença de metástases ósseas recentes sem causa aparente em um homem idoso. (DUTHIE e KATZ, 2002)
 

O encaminhamento para biopsia de próstata está indicado quando a próstata for anormal e levante suspeita de câncer prostático ao toque retal, quando o nível anormal do PSA não estiver relacionado com a inflamação ou aumento inexplicável da próstata, quando a ultra-sonografia prostática for anormal, levantando suspeita de câncer ou quando houver suspeita de câncer de próstata metastático em um paciente sem história anterior de câncer. (DUTHIE e KATZ, 2002)
 

Ao planejar o tratamento do câncer da próstata, os médicos levam principalmente em consideração a extensão da doença. Os tumores localizados inteiramente dentro da glândula, denominados estágio A ou B, às vezes não precisam ser tratados, mas quando isto for necessário, pode-se recorrer à cirurgia, tecnicamente denominada prostatectomia radical, ou à radioterapia. Quando o câncer atinge os envoltórios da próstata, o chamado estágio C, costuma-se indicar tratamento radioterápico. Finalmente, quando o tumor se estende para outros órgãos, instalando outros focos de câncer denominados metástases, a doença é classificada como estágio D e é tratada com castração ou hormônios.(http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed1098/caprostata.htm). Uma grande controvérsia médica envolve o tratamento dos pacientes com câncer localizado da próstata. Observou-se que 89% e 93% dos pacientes submetidos à prostatectomia radical e entre 66% e 86% dos casos tratados com radioterapia externa estavam curados após 10 anos de acompanhamento. O painel deu importância à avaliação feita após 10 anos, porque com cinco anos quase 100% dos pacientes com câncer localizado da próstata estão vivos, qualquer que seja o tratamento aplicado. Embora o prognóstico dos casos de tumor disseminado pelo organismo seja mais reservado, cerca de 35% destes pacientes permanecem vivos e bem após cinco anos, muitos sobrevivendo mais de 10 anos.A existência de focos de tumor ou metástases em outros órgãos torna inútil a tentativa de se erradicar o tumor prostático inicial através de cirurgia ou de radioterapia. (http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed1098/caprostata.htm) A prevenção do câncer da próstata não pode ser feita de forma eficiente, no momento, porque ainda não são conhecidos os fatores que modificam a maquinaria celular, tornando-a maligna. (http://www.uronline.unifesp.br/uronline/ed1098/caprostata.htm).
 

 

CÂNCER DE COLO UTERINO

O câncer do colo do útero é o segundo tipo de câncer mais comum em mulheres em todo o mundo. Na maioria dos países em desenvolvimento, ocorrem 80% de todos os casos de câncer do colo do útero, este é o tipo mais comum de câncer, mesmo quando ambos os sexos são analisados conjuntamente Ele é decorrente de alterações celulares que tem uma progressão gradativa e é por isto que esta é uma doença curável quando descoberta no início. (ARMSTRONG, MUÑOZ & BOSH, 1992).


O câncer de colo uterino, considerando sua condição anatômica, diferentemente da maior parte dos tumores malignos do ser humano, apresenta aspectos epidemiológicos, etiológicos e evolutivos bem definidos para sua detecção em estágios pré-malignos ou iniciais. Porém, apesar da metodologia para o seu rastreamento ser de fácil acesso, baixo custo e fácil execução, ainda representa a segunda maior estimativa de incidência de neoplasia maligna na população feminina brasileira, com mais de 20 mil casos novos em 1996. (DA MOTTA et al., 2001). O grupo de risco clássico são mulheres obesas, hipertensas, diabéticas com baixa paridade, na pós-menopausa e da raça branca. O pico de incidência é na sexta década, mas pode ocorrer cerca de 2-5% dos casos antes dos 40 anos. Atualmente considera que a principal causa seja a ação de estrogênio não antagonizada por progestágeno, como observado nos casos de obesidade, ciclos anovulatórios, TRH sem progestágeno, baixa paridade e uso de Tamoxifen.(FREITAS et al., 2002). As mulheres são usuárias mais freqüentes do sistema de saúde do que seus companheiros. Entre as mulheres com idade acima de 65 anos, 88% compareceram a uma consulta médica durante os últimos 12 meses; 75% das mulheres desse grupo etário procuram o médico em média cinco vezes no ano; e 85% consultam-se com clínicos gerais e médicos de família em vez de ginecologistas para os cuidados ginecológicos rotineiros (MOSSEY & SHAPIRO, 1985). A maioria das mulheres reconhecem tanto a necessidade da colpocitologia como sua periodicidade, principalmente entre as mais jovens. As mulheres acima de 60 anos eram as que mais referiam (54,1%) não conhecer a necessidade da colpocitologia oncótica, nem sua periodicidade (58,8%); o grupo que melhor referia conhecimento da necessidade e periodicidade da colpocitologia oncótica foi o de mulheres entre 40 e 60 anos. O achado microbiológico mais freqüente foi Gardnerella sp. (8,6%). Presença de papilomavírus humano (HPV) foi significativamente menor nas mulheres acima de 60 anos (DA MOTTA et al., 2001). O surgimento da colpocitologia oncótica vem reduzindo a incidência e a mortalidade do câncer de colo uterino, sendo um instrumento fácil e barato de rastreamento (DA MOTTA et al, 2001; FRANCOUS et al., 2001). O exame ginecológico e os esfregaços para Pap são as principais razões para a diminuição do número de consultas ao médico na idade avançada, embora morbidade e mortalidade significativas continuem sendo devidas à doença ginecológica. O diagnóstico do câncer ginecológico nas idosas ocorre em um estágio mais avançado (DUTHIE & KATZ, 2002). As doenças malignas ginecológicas mais comuns nas mulheres idosas são similares àquelas na população em geral. O câncer do corpo uterino é o mais comum, (BORING, SQUIRES & TONG, 1992) seguido em segundo e terceiro lugares respectivamente pelo câncer de ovário e de colo uterino. Os dados de Investigação, Epidemiologia e Resultados Finais mostram que 81% dos cânceres ginecológicos em mulheres mais idosas originam-se no corpo uterino ou no ovário, fazendo dessas duas malignidades, sem dúvida, as malignidades ginecológicas mais comuns nesse grupo etário (KENNEDY, FLAGG & WEBSTER, 1989; BARANOVSKY & MYERS, 1986). O diagnóstico é confirmado através de biópsia, que deve ser realizada através de histerectomia ou curetagem fracionada. .(FREITAS et al., 2002). O tratamento oncológico deve ser instituído o mais precocemente possível e deve também ser definido de acordo com as situações clínicas apresentadas durante a evolução da doença, visando, assim, a uma melhor qualidade de vida do paciente. Nesse contexto, a atuação multidisciplinar contribui de maneira bastante efetiva para o sucesso do tratamento do câncer, já que consegue abordar as necessidades do indivíduo de forma específica e, ao mesmo tempo, global. (http://www.inca.gov.br/rbc/n_54/v04/pdf/333_344_Analise_dos_Metodos_de_Avaliacao.pdf,2008)

 

A cirurgia é a modalidade principal de tratamento, sendo procedimento curativo ou redutor de tamanho diante de quimioterapia sistêmica. A droga cisplatina tem sido a base do tratamento, mas, infelizmente, esta droga possui toxicidade renal. O tratamento da moléstia em estágio avançado raramente é curativo. Uma vez que a doença tenha sido detectada, é improvável que o tratamento destes pacientes seja diferente daquele utilizado para mulheres mais jovens. Entretanto, em função do estágio avançado da doença por ocasião de sua manifestação, o uso de quimioterapia e radioterapia poderá ficar limitado em virtude da idade do paciente. (DUTHIE & KATZ, 2002). A fisioterapia oncológica é uma especialidade que traz benefícios para o tratamento de pacientes internados e especialmente para aqueles que fazem tratamento em domicílio. Seus recursos contribuem para complementar o alívio da dor, diminuir a tensão muscular, melhorar a circulação tecidual, prevenir ou reduzir linfedemas e minimizar a ansiedade do paciente, já que o estresse e a depressão podem ser agentes agravantes do câncer. (http://www.inca.gov.br/rbc/n_54/v04/pdf/333_344_Analise_dos_Metodos_de_Avaliacao.pdf, 2008). O prognóstico depende do estádio clinico-cirurgico, em que se consideram o grau e o tipo histológico, a profundidade de invasão miometrial, a presença de invasão vascular, ganglionar e metástase a distância. .(FREITAS, et al., 2002). O risco de uma mulher com idade acima de 65 anos de desenvolver câncer ovariano, endometrial ou cervical, comparado com mulheres de 40 a 65 anos, é aproximadamente três vezes maior para o câncer de ovário, duas vezes maior para o câncer uterino e 10% maior para o câncer cervical. (DUTHIE, 2002). As pacientes mais idosas apresentam problemas de saúde que resultam em morbidade e inabilidades que causam inpacto negativo na qualidade de vida. Muitos desses problemas têm uma etiologia basicamente ginecológica e, com a atenção ao exame ginecológico adequado, podem ser prevenidos ou diagnosticados e tratados. Cerca de 30% das mulheres pós-menopausa têm problemas ginecológicos não diagnosticados.(DENNY, KOREN & WISBY, 1989). A queda da mortalidade por câncer do útero não especificado sinaliza uma melhora na precisão do diagnóstico clínico e na qualidade do preenchimento do atestado de óbito, e indica aumento de cobertura do teste de Papanicolaou (FONSECA, et al., 2004).

 

4. CONCLUSÃO


A análise de todo o texto faz-nos refletir, através das fontes bibliográficas, que mesmo com diversos estudos realizados sobre os Distúrbios Genito-Urinários na população idosa, ainda há necessidade de mais informações a respeito das patologias e/ou síndromes abordadas nesta revisão bibliográfica, pois muitos pacientes necessitam saber mais sobre suas patologias, bem como seus cuidadores e assim obter melhoria na condição de vida do paciente. Observa-se neste presente estudo que a Incontinência Urinária (IU) é uma condição muito freqüente na sociedade, atingindo milhões de pessoas, principalmente idosos do sexo feminino. Entretanto, estudos ainda são necessários, afim de melhor compreender a IU e encontrar formas cada vez mais eficazes de tratá-la. (RODRIGUES, 2008). O envelhecimento traz mudanças nas células que aumentam a sua suscetibilidade à transformação maligna. Isso, somado ao fato de as células das pessoas idosas terem sido expostas por mais tempo aos diferentes fatores de risco para Câncer, isso explica em parte o porquê do câncer ser mais freqüente nesses indivíduos (BRANDÃO et al., 2004). As melhorias dos indicadores de saúde, como o aumento da expectativa de vida, assim como o avanço da medicina fazem com que seja possível observar o fenômeno do envelhecimento da população. Cada vez mais é preciso estar atento e apto a tratar as doenças do idoso, melhorando dessa forma sua condição de vida. (REIS et al., 2003).
 

 

5. REFERÊNCIAS

Análise dos métodos de avaliação,dos recursos e do reconhecimento da fisioterapia oncológica nos hospitais públicos do Distrito Federal, 2008. Disponível em: http://www.inca.gov.br/rbc/n_54/v04/pdf/333_344_Analise_dos_Metodos_de_Avaliacao.pdf
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Trabalho realizado por:

Alcinésio Filho *

Diana Dias *

Maria Carolina Espínola *

     carol.espinola88@hotmail.com

Mona Lisa Lopes *

Rayanne Neves *


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Artigo - Fisioterapia e saúde coletiva: desafios e novas responsabilidades profissionais

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Introdução

A implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e a busca dos objetivos da universalidade, integralidade e equidade têm suscitado diversas elaborações e proposições referentes aos modelos assistenciais adotados, à lógica de financiamento e às práticas profissionais. No que tange à atuação profissional, tem se tornado crescente o debate em torno da necessidade de adequação das profissões à realidade epidemiológica e à nova lógica de organização dos sistemas de serviços de saúde. Nesse sentido, o presente trabalho busca refletir sobre a atuação da fisioterapeuta no SUS.

Desde a sua origem, a fisioterapia tem um caráter essencialmente curativo e reabilitador. Em decorrência das guerras e do alto índice de acidentes de trabalho, gerou-se grande número de óbitos e mutilados, em sua maioria de homens em idade produtiva, desencadeando uma baixa na força de trabalho. Essa situação fez surgir a necessidade de reinserir indivíduos lesionados e mutilados ao setor produtivo. Daí, surgiram os centros de reabilitação, com o intuito de restaurar a capacidade física dos acidentados e mutilados, e quando não mais possível restaurar a capacidade física original, desenvolver a capacidade residual, adaptando-a para outra função1.

A fisioterapia foi instituída no Brasil como profissão de nível superior em 1969, através da publicação do Decreto-Lei no 938/692. Anteriormente a esse período, a ocupação de fisioterapeuta era de nível técnico e sua função era de executar técnicas, prescritas por médicos, com objetivo de reabilitar pessoas lesionadas. Com a publicação do Decreto-Lei no 938/69, o fisioterapeuta ganha status de nível superior e autonomia profissional; no entanto, sua atuação continua destinada, quase que exclusivamente, às ações rea-bilitadoras.

Rebellato e Botomé3, ao analisarem a legislação que regulamenta a profissão, observam limitações nas possibilidades de atuação em outros níveis de atenção. Apontam restrições à prática profissional impostas pelo Decreto-Lei no 938/69 que institui "atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicas com a finalidade de restaurar; desenvolver e conservar a capacidade física do paciente". Um profissional de nível superior, especialmente da área de saúde, não pode restringir-se a apenas executar métodos e técnicas. Deve ter a capacidade de mais do que executar procedimentos, analisar e produzir novos saberes. Outra questão que também merece destaque é a restrição da atuação à restauração, desenvolvimento e conservação da capacidade física, ou seja, o profissional deve atuar apenas sobre a capacidade física, não sendo sua responsabilidade atuar para o desenvolvimento da qualidade de vida e saúde de forma plena. Observa-se, ainda, possibilidade de atuação limitada, em virtude da prática desse profissional estar voltada apenas para atenção ao paciente, isto é, aos indivíduos já cometidos por algum tipo de distúrbio que interferem em sua capacidade física, restringindo a atuação a outros níveis que não seja a reabilitação.

Levando-se em consideração o contexto histórico do período de publicação do referido decreto-lei, pode-se tolerar que as condições de saúde da população e a própria lógica de organização do sistema de saúde vigente corroboravam essa forma de atuação. No entanto, as mudanças no perfil epidemiológico e as transformações no sistema de saúde brasileiro, com destaque para a implantação do SUS, impõem novos desafios à fisioterapia e novas responsabilidades aos profissionais.

Diante disso, esse artigo tem por objetivo discutir a reorientação do campo de atuação profissional da fisioterapia e novas possibilidades de atuação no SUS. Inicialmente, realiza-se um debate sobre as transições demográfica, nutricional e epidemiológica e as demandas profissionais diante dos novos modelos assistenciais. A seguir, discute-se a fisioterapia coletiva, como novo modelo de atuação profissional. E, por fim, apresentam-se algumas possibilidades de atuação do fisioterapeuta na atenção básica e no âmbito coletivo.

 

Novo perfil epidemiológico e os novos modelos assistenciais

Para entender o papel da fisioterapia na sociedade brasileira, quais são suas responsabilidades e quais são seus desafios, é necessário conhecer o perfil epidemiológico da população, ou seja, quais são as principais causas de morbidade e mortalidade da população. De maneira geral, a maioria dos países tem passado por um processo chamado de transição epidemiológica, definida como mudança nos padrões de morte, morbidade e invalidez, que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, so-ciais e econômicas4.

Embora existam diferenças consideráveis entre os tipos básicos de transição epidemiológica, Barreto e Carmo5 descrevem que, em maior ou menor proporção, na maioria dos países, esse processo caracteriza-se por diminuição na mortalidade e natalidade e mudança na carga da doença, diminuindo a prevalência de óbitos por doenças infecto-contagiosas e aumentando a carga por doenças crônico-degenerativas.

No Brasil, como na maioria dos países latino-americanos e em desenvolvimento, a transição epidemiológica ocorreu de forma complexa, não como uma mudança de uma carga de doenças para outra, mas como uma sobreposição de fatores. Conforme afirmado por Omram4, o desenvolvimento desse novo perfil epidemiológico ocorre em concomitância com outras condições, a exemplo da transição demográfica e a transição nutricional.

O elevado crescimento populacional, o aumento da taxa de urbanização e a crescente expectativa de vida caracterizam a transição demográfica brasileira6-8. A questão nutricional também interfere sobremaneira no perfil epidemiológico de uma população. O Brasil apresenta mudanças significativas no perfil nutricional da população, com a gradativa superação da fome endêmica e epidêmica e a crescente prevalência da obesidade, migrando a principal preocupação da fome/desnutrição para o sobrepeso/obesidade9-11. Essas mudanças constituem-se em grande preocupação para as autoridades sanitárias, visto que a obesidade apresenta-se como importante fator de risco para problemas de saúde como hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia, etc.

Ao analisar o perfil de mortalidade da população brasileira no decorrer do século XX, observa-se a principal característica da teoria da transição epidemiológica: diminuição da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) e aumento dos óbitos por doenças do aparelho circulatório (DAC), por doenças neoplásicas (NEO) e por causas externas (CE)5,11. No começo do século passado, doenças infecciosas como varíola, sarampo, malária e tuberculose foram responsáveis por quase metade de todos os óbitos ocorridos no Brasil. Isso devido, principalmente, às péssimas condições de higiene e saúde e à baixa cobertura da assistência médica6. No decorrer do século, essa carga de doenças altera-se com a diminuição gradativa dos óbitos por DIP e o aumento dos óbitos pelas chamadas doenças da modernidade, DAC, NEO, CE.

O perfil de morbidade da população não se transformou na mesma cadência do perfil de mortalidade, ou seja, a substituição de uma carga de doença por outra. O atual perfil de morbidade caracteriza-se pela superposição entre as cargas de DIP e as DAC, NEO e CE12. O quadro mórbido apresenta-se extremamente complexo, em que se passou a conviver com as doenças da modernidade, sem haver um recrudescimento das DIP, sempre presentes diante da pobreza e do subdesenvolvimento. Essa situação, presente não só no Brasil, mas também na maioria dos países subdesenvolvidos, é denominada por Frenk13 como acumulação epidemiológica.

Esse quadro epidemiológico, aliado a outras razões ideológicas, econômicas e políticas, tem motivado a reestruturação dos modelos de atenção à saúde e consequente redefinição das responsabilidades e da prática do profissional fisioterapeuta. A organização dos sistemas de serviços de saúde tem sido um dos temas centrais do debate conceitual no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS)14. Os sistemas de saúde têm se constituído como campo de disputa, onde se enfrentam atores com interesses e matizes ideológicas diversas, a fim de conformar o sistema para atendimento de interesses diversos.

A forma de organização dos serviços de saúde no Brasil é objeto de análise de Paim15, que identi-fica dois principais modelos de atenção à saúde, o modelo médico-assistencial privatista e o modelo sanitarista. No entanto, essas formas de organização apresentam-se limitadas e incapazes de atender as reais necessidades de assistência a saúde da população. Diante dessa limitação e com o advento do SUS, surgem novas proposições de organização da atenção à saúde, fundamentada nos princípios da universalidade, integralidade e equidade, e objetivando consolidar os pressupostos do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira.

Dentre as proposições dos modelos assistências, o modelo de vigilância à saúde16 destaca a regionalização e a hierarquização como princípios estratégicos e define a atenção básica como eixo de reestruturação do sistema. A atenção básica, mais do que o oferecimento de uma assistência primária, constitui-se como eixo estruturante do sistema, devendo inclusive os outros níveis de atenção serem planejados a partir das demandas emanadas desse primeiro nível14.

Diante desse cenário, cabe à fisioterapia uma releitura de seus fundamentos e análise de sua prática, com vistas a adaptar-se a essa realidade e contribuir para a mudança do quadro social e sanitário do país. Em consonância com os princípios propostos pelo modelo de vigilância à saúde16, o fisioterapeuta deve ser inserido em outros níveis de atenção e desenvolver suas ações de acordo as diretrizes da territorialização e da adscrição de clientela.

Com a atuação dentro de um território estabelecido e como uma população definida, o fisio-terapeuta passa ter a possibilidade de acompanhar mais proximamente e ser responsável pela saúde da população adscrita. A lógica da responsabilização estimula o desenvolvimento de novas relações entre profissionais e usuários, com o estabelecimento de vínculos, e a possibilidade de um acompanhamento continuado, o que potencializa o desenvolvimento de ações promocio-nais e preventivas16,17.

 

Fisioterapia coletiva: novo modelo de atuação profissional

A Figura 1 apresenta uma representação esquemática da limitada área de atuação da fisioterapia reabilitadora. Pela sua própria concepção e sua conformação ao modelo assistencial curativo, a fisioterapia destinou-se, quase exclusivamente, ao controle dos danos de determinadas doenças. A atuação na fisioterapia reabilitadora é destinada à cura de determinadas enfermidades e/ou a reabilitação de sequelas e complicações. Seu objeto de intervenção é o sujeito individualizado, quando não, apenas partes ou órgãos isolados do corpo.

 

 

Esta atuação direcionada apenas para o controle de danos impõe restrições à prática do profissional fisioterapeuta, que se limita a intervir apenas quando a doença já está instalada e, na maioria dos casos, de forma avançada. Nesse caso, destacam-se como locus de atuação o hospital e a clínica de reabilitação, espaços tradicionalmente estabelecidos e popularmente valorizados para a prática fisioterapêutica. A priorização desses espaços condiciona e restringe as possibilidades de intervenção em apenas um nível de atenção, a reabilitação. Tal situação impõe à população grande carga de doenças e sequelas, que poderiam ser, em muitos casos, evitadas. Os conhecimentos inerentes à fisioterapia também podem contribuir para prevenção de doenças e sequelas, quando utilizados em outros níveis de atenção.

Segundo o modelo da história natural da doença, proposto por Leavell e Clark18, os níveis de prevenção são hierarquizados em prevenção primária, secundária e terciária, a depender do momento da intervenção. Ao relacionar a atuação do fisioterapeuta com esses níveis de prevenção, observa-se uma atuação destinada ao controle de danos (doenças, sequelas e agravos), ou seja, restringindo-se ao nível da reabilitação.

Embora, nos últimos anos, a fisioterapia tenha ampliado e aprofundado seus conhecimentos técnicos e alargado sua área de atuação, a exemplo da acupuntura, estética, Pilates, RPG, fisioterapia desportiva e fisioterapia respiratória, essa ampliação ocorreu, majoritariamente, no nível terciário. Mesmo com a ampliação das possibilidades de atuação do profissional, ainda predomina uma atenção destinada à recuperação de distúrbios ortopédico-traumatológicos e neurológicos. Como em sua gênese, a fisioterapia ainda concentra seu foco na reabilitação de indivíduos vítimas de doenças ocupacionais, lesões por traumas e acidentes, sequelados de doenças isquêmicas ou cerebrovasculares e distúrbios do sistema nervoso central e periférico.

Diante dos novos desafios da sociedade brasileira, com profundas mudanças na organização social, no quadro epidemiológico e na organização dos sistemas de saúde, surge a necessidade do redimensionamento do objeto de intervenção da fisioterapia, que deveria aproximar-se do campo da promoção da saúde e da nova lógica de organização dos modelos assistenciais, sem abandonar suas competências concernentes à reabilitação. Esse redimensionamento do objeto de intervenção e da praxis profissional conduz às mudanças mais profundas, de natureza epistemológica, na concepção e atuação do profissional fisioterapeuta.

Frente a esses desafios e necessidades, surge a proposição do modelo da fisioterapia coletiva19 como base para reorientação do foco de atenção e da prática profissional do fisioterapeuta. A fisioterapia coletiva engloba e amplia a fisioterapia reabilitadora, possibilitando o desenvolvimento da prática fisioterapêutica tanto no controle de dados quanto no controle de riscos. A Figura 2 apresenta uma esquematização desse modelo da atuação da fisioterapia, que contempla a fisioterapia reabilitadora e alarga as possibilidades de atuação para além do nível terciário.

 

 

Enquanto a fisioterapia reabilitadora concentra sua atuação, quase que exclusivamente, no controle de danos, seja buscando a cura de determinadas doenças que restringem a locomoção humana, seja reabilitando sequelados de patologias diversas ou desenvolvendo a capacidade residual funcional de indivíduos que tiveram lesões irreparáveis de determinadas funções, a fisioterapia coletiva possibilita e incentiva a atuação também no controle de risco, ou seja, no controle de fatores que potencialmente podem contribuir para o desenvolvimento da doença.

Aqui reside a diferença crucial entre os objetos de intervenção dos dois modelos de atuação profissional, o momento da intervenção. Enquanto no controle de danos a intervenção ocorre quando a doença já está instalada, e muitas vezes em estado avançado, no controle dos riscos, a intervenção ocorre antes da doença acontecer, ou seja, antes do aparecimento de sequelas e complicações limitadoras do movimento.

Com relação ao sujeito da intervenção, no controle de danos, a atuação é direcionada ao indivíduo doente; já no controle de riscos, a atuação é direcionada aos grupos populacionais doentes e não doentes, mas com risco potencial de adoecer15. Esse direcionamento da atuação para o nível primário e destinado ao coletivo de pessoas potencializa os resultados das ações de saúde, pois além de inibir o surgimento e desenvolvimento de doenças evitáveis, busca transformar as condições de vida dos grupos populacionais.

Os riscos a que está exposta a população podem ser de natureza comportamental, educacional, social, econômica, biológica, físico-química, dentre outros15,16. Para a identificação desses riscos, duas necessidades impõem-se ao profissional fisioterapeuta: atuação em equipe multidisciplinar e utilização de conhecimentos de outras áreas do saber, como a epidemiologia, a geo-grafia e as ciências sociais.

Os conhecimentos relativos à fisioterapia tradicional são, por si só, insuficientes para os diagnósticos da situação/condição de risco. Há necessidade de romper o isolamento e o individualismo da prática fisioterapêutica reabilitadora, emergindo uma nova lógica de atuação em equipe multiprofissional e interdisciplinar. O profissional fisioterapeuta deve interatuar não só com profissionais da área de saúde, como médicos, enfermeiros, psicólogos, agentes comunitários de saúde, nutricionistas, etc., como também com profissionais de outras áreas do saber, como sociólogos, antropólogos, historiadores, estatísticos, engenheiros, educadores, dentre outros.

No que se refere aos conhecimentos necessários à nova prática profissional, o fisioterapeuta deve aproximar-se de saberes da epidemiologia, que poderá oferecer conhecimentos quanto à distribuição das doenças nas coletividades, sua magnitude e potenciais fatores de risco, e das ciências sociais, que poderão desvelar os fatores culturais, comportamentais e religiosos do processo saúde-doença, bem como subsidiar a contextua-lização da realidade histórico-social na determinação do risco.

Com relação à interação com outros campos da área de saúde, torna-se necessária uma aproximação da fisioterapia com a vigilância sanitária, vigilância epidemiológica, vigilância nutricional, vigilância à saúde do trabalhador e vigilância ambiental, com vistas à identificação e acompanhamento de problemas que requerem atenção contínua, ação sobre territórios definidos e articulação entre as ações promocionais, preventivas, curativas e reabilitadoras16.

Assim, deve ser destacado que o modelo da fisioterapia coletiva não visa extinguir as ações de cura e reabilitação característica da fisioterapia reabilitadora, mas sim acrescentar novas possibilidades e necessidades de atuação do fisio-terapeuta frente ao atual quadro sanitário e da nova lógica de organização do SUS.

As definições e proposições aqui expostas não dizem respeito à mera adjetivação - reabilitadora ou coletiva - da profissão de fisioterapia, mas sim à adequação e redefinição da praxis profissio-nal e do seu objeto de trabalho. O objeto da atuação da fisioterapia continuará sendo o movimento humano; no entanto, essa atuação não se dará, exclusivamente, no indivíduo doente e sequelado; antes, porém, a atuação será direcionada às coletividades humanas, buscando transformar hábitos e condições de vida, promovendo saúde e evitando, consequentemente, distúrbios do sistema locomotor.

A fisioterapia necessita romper com as barreiras do modelo biologicista-curativo em que sempre se apoiou e se aproximar da saúde coletiva, que valoriza o social como categoria analítica do processo saúde-doença e propõe novas formas de organização do setor saúde20. A aproximação entre fisioterapia e saúde coletiva possibilitará novas reflexões sobre o papel da fisioterapia no atual quadro epidemiológico e na nova lógica de organização dos serviços de saúde, com grande potencial para a redefinição epistemológica do campo científico da profissão, tornando-a cientificamente mais fundamentada, sanitariamente mais contextualizada e socialmente mais comprometida.

 

Fisioterapia e atenção básica: novas possibilidades de atuação

Com a definição da atenção básica como eixo central de reestruturação do modelo assistencial brasileiro, impõem-se uma nova lógica de organização dos serviços e uma redefinição na atuação dos profissionais de saúde. Esse novo modelo busca romper com o curativismo do modelo vigente, reestruturando e articulando a assistência com ações de promoção da saúde, controle de risco e prevenção de doenças. Cabe destacar o enfoque que deve ser dado às ações intersetoriais, visto da incapacidade do setor saúde de reverter, isoladamente, os determinantes mais gerais e estruturais das condições de vida21. Estes determinantes só poderão ser transformados com a articulação dos diversos setores do governo e da sociedade, como infraestrutura, economia, educação e habitação, em ações desenvolvidas em conjunto e com a participação da sociedade.

Quanto ao modelo de prestação de serviços de saúde, esse deve ser descentralizado e hierarquizado, e organizado em níveis crescentes de complexidade14-16. O sistema deve estruturar-se de forma a oferecer uma ampla cobertura da atenção básica, contemplando grandes parcelas da população. A atenção básica deve ser resolutiva, solucionar os problemas de saúde mais prevalentes na população e encaminhar para outros níveis os problemas não solucionados em seu âmbito.

Essa lógica de estruturação do sistema objetiva o oferecimento de uma assistência integral à população. E integralidade não é apenas diretriz do SUS, integralidade é "bandeira de luta", é um conceito que permite uma identificação dos sujeitos como totalidades. A assistência integral extrapola a estrutura organizacional da assistência de saúde e prolonga- se pela qualidade real da atenção individual e coletiva assegurada aos usuários do sistema de saúde22. Ainda segundo o conceito de integralidade, as pessoas são encaradas como sujeitos, a atenção deve ser totalizadora e levar em conta as dimensões biológica, psicológica e social, visto que o homem é um ser indivisível e não pode ser explicado pelos seus componentes considerados separadamente23.

Para atingir a assistência integral, é necessário ampliar a capacidade do sistema, com garantia do acesso à atenção primária, secundária e terciária, sem perder de vista as ações promocionais e de controle de riscos. No entanto, os municípios têm demonstrado dificuldades para garantir o acesso da população aos outros níveis de assistência, especialmente no nível secundário24. Os municípios, especialmente os de pequeno e médio porte, têm conseguido, relativamente, ampliar a cobertura do Programa de Saúde da Família (PSF); no entanto, têm encontrado dificuldades no estabelecimento de um sistema regionalizado de referência e contrarreferência que garanta uma assistência integral à população. Segundo Alves25, a expansão do PSF tem favorecido a equidade e universalidade da assistência, uma vez que as equipes têm sido implantadas, prioritariamente, em comunidades antes restritas quanto ao acesso aos serviços de saúde. Todavia, a integralidade das ações continua a ser um problema para o sistema de saúde.

Diante desse contexto, a aproximação entre a fisioterapia e o nível primário apresenta-se como alternativa capaz fortalecer a atenção básica, aumentando a resolutividade do sistema e contribuindo para a garantia da integralidade na assistência. A fisioterapia, embora historicamente tenha se mantido no nível da reabilitação, possui competências e habilidades suficientes para a atuação em outros níveis. Neste sentido, apresentam-se algumas possibilidades de atuação do fisioterapeuta na atenção básica e em ambiente comunitário.

 

Vigilância dos distúrbios cinesiofuncionais

A vigilância dos distúrbios cinesiofuncionais constitui-se em subárea da vigilância epidemiológica responsável pelo acompanhamento e monitoramento da integridade físico-funcional e dos distúrbios relacionados à locomoção humana. Essas ações de vigilância devem ocorrer a partir da atenção básica e com a participação do fisioterapeuta, ou fazendo parte da equipe de saúde da família ou interatuando com essa. A equipe de vigilância tem a responsabilidade pela saúde cinesiológica e funcional de determinadas populações em territórios definidos.

De acordo ao atual cenário epidemiológico, algumas condições apresentam maior potencial para a limitação da capacidade funcional das populações, a exemplo das patologias relacionadas ao aparelho cardiocirculatório, às causas externas e ao aumento da população idosa. As doenças cerebrovasculares quase sempre deixam sequelas que levam à limitação da locomoção humana ou incapacidade física. Os episódios de violência, especialmente os acidentes de tráfego, além de produzirem considerável número de óbitos, possuem grande poder incapacitante e têm gerado grandes contingentes de sequelados.

A saúde da população idosa merece especial atenção, em virtude da longevidade trazer consigo limitações na funcionalidade do aparelho locomotor, restringindo a deambulação e marcha dos idosos. Essa situação torna-se digna de ser monitorada, visto que a restrição à mobilização dos idosos ou o confinamento no leito apresentam-se como fatores de risco para o desenvolvimento de uma série de outras doenças.

Desta forma, a vigilância e o acompanhamento dos distúrbios cineticofuncionais têm por objetivo fornecer dados e informações relevantes para as equipes de saúde, tanto na definição do perfil epidemiológico da população, como subsidiando as atividades de planejamento e intervenção. Todavia, essa vigilância não deve se restringir aos limites da atenção básica. Deve constituir-se como instrumento para o monitoramento das condições de saúde nos âmbitos municipal, estadual e federal, subsidiando a definição de políticas públicas.

 

Orientações posturais

A questão da postura deve ser difundida em âmbito coletivo não apenas como questão estética, mas como atitude corporal inerente a uma vida saudável e fator preventivo para diversas doenças. No âmbito da atenção básica, o fisioterapeuta deve atuar preferencialmente com grupos populacionais, orientando sobre as posturas mais adequadas para cada grupo ou para cada situação. A prática da educação em saúde não deve e não pode ser entendida como ação vertical e unidirecional, do profissional que sabe para a população que não sabe26. O processo de educação e orientação postural deve ser construído coletivamente, levando-se em consideração quais os hábitos, costumes e crenças com poder de influência na postura daquela comunidade. Nesse sentido, dentre as possibilidades de atuação do fisioterapeuta na orientação postural, no âmbito da atenção básica, destaca-se a atuação em grupos de escolares, de gestantes e de idosos.

O desenvolvimento de hábitos posturais saudáveis deve começar ainda na fase da infância. A percepção e a conscientização da postura corporal, se iniciadas quando da formação dos conceitos iniciais da criança, podem acompanhá-la durante toda vida, desenvolvendo nos cidadãos consciência da própria postura. Desta forma, o fisioterapeuta deve atuar na orientação postural de crianças, em especial de escolares, instituindo uma cultura de valorização e cuidado com a postura corporal. A educação postural de escolares deve ser uma atividade continuada, articulada entre os setores de educação e saúde, com destacada participação dos professores, e que valorize o espaço da escola e o mundo da criança como locus preferencial de atuação.

O período de gestação gera importantes repercussões na postura corporal, na marcha e no retorno venoso, além de desencadear dores lombares e desconforto respiratório27. Em virtude dessas alterações, o fisioterapeuta deve atuar em grupos de gestantes, organizados a partir de cada PSF, orientando quanto às posturas corporais, exercícios de alongamento, relaxamento e auxílio ao retorno venoso, orientações sobre exercícios respiratórios, além de incentivo ao aleitamento materno e orientações dos cuidados com o bebê. Deve-se destacar a importância do desenvolvimento de atividades em grupo, que além da realização das atividades anteriormente descritas, possibilita um espaço de partilha de medos, inseguranças, expectativas e experiências.

No que se refere à população idosa, a atuação do fisioterapeuta na atenção básica possibilita o desenvolvimento de ações relacionadas à melhoria da postura, o estado físico-funcional, além de estimular o desenvolvimento da autoestima e bem-estar. O fisioterapeuta deve trabalhar com grupos de idosos, realizando as seguintes atividades: orientação da postura corporal; exercícios de relaxamento, alongamento e auxílio ao retorno venoso; caminhadas e atividades físicas moderadas; orientação quanto ao posicio-namento adequado do mobiliário do lar, banheiros e dispositivos auxiliares; dentre outros.

 

Desenvolvimento da participação comunitária

O envolvimento e a participação da comunidade têm sido cada vez mais utilizados como instrumento para elevação dos níveis de saúde. Além disso, a participação comunitária propicia a valorização da cidadania e elevação do capital social28. O ser humano é, em essência, um ser participativo e a prática da participação facilita o crescimento da consciência crítica, fortalece o poder de mobilização e interação para o entendimento e condução de sua vida social29. Desta forma, o fisio-terapeuta deve atuar no âmbito comunitário, incentivando e estimulando a participação da comunidade nas questões relacionadas à saúde.

Deve-se buscar o despertar da comunidade para a valorização da saúde individual e coletiva e conscientizar a população sobre o seu protagonismo na condução do sistema de serviços de saúde. Nesse sentido, a participação lograria a identificação dos principais problemas que atingem a comunidade; a corresponsabilização pela saúde; a participação no planejamento e definição das ações de saúde; a fiscalização dos recursos da saúde; a identificação de crenças e hábitos prejudiciais à saúde, estimulando hábitos de vida saudáveis; a mobilização da comunidade para a realização de campanhas de vacinação, prevenção de doenças, aleitamento materno, etc.

Apresenta-se aqui os conselhos locais de saúde como importante instrumento para potencia-lizar a participação da comunidade. O fisioterapeuta, juntamente com os demais componentes da equipe, deve estimular a criação desses conselhos, tendo como referência uma unidade básica de saúde, com população e território adscritos. A exemplo dos conselhos municipais de saúde, os conselhos locais devem ser compostos por representantes dos usuários, dos profissionais de saúde e dos gestores, e devem ter a responsabilidade de discutir os principais problemas de saúde da localidade, definindo estratégias a serem implementadas em nível local e elaborando proposições para discussão no âmbito municipal e regional.

 

Desenvolvimento de ambientes saudáveis e incentivos a estilos de vida saudáveis

A atuação do fisioterapeuta no desenvolvimento de ambientes saudáveis perpassa por ações desenvolvidas junto aos indivíduos, as famílias e a comunidade, objetivando promover condições dignas de vida e saúde. O fisioterapeuta deve promover a conscientização e a mobilização da comunidade em defesa de moradias dignas e condições estruturais básicas, como abastecimento de água, esgotamento e tratamento dos dejetos sanitários, coleta de lixo e pavimentação de ruas; identificar barreiras arquitetônicas e mobilizar a comunidade para reversão dessas barreiras; sensibilizar a comunidade para defesa do meio ambiente, a exemplo de preservação de áreas verdes e mananciais, além de estar atento para os níveis de educação, lazer e condições de trabalho da população.

No que tange ao desenvolvimento de habilidades pessoais, o fisioterapeuta atuará, principalmente, no desenvolvimento de hábitos de vida saudáveis tais como incentivo à prática da atividade física regular; adoção de hábitos alimentares saudáveis; combate ao tabaco, ao álcool e às drogas ilícitas; desestímulo à promiscuidade e estabelecimento de relações parentais estáveis; educação sexual para jovens e adultos; e incentivo à valorização e corresponsabilização da própria saúde e saúde da comunidade. Desta forma, o fisioterapeuta contribuiria ao desenvolvimento da promoção da saúde, tanto no desenvolvimento de habilidades individuais, quanto nas questões estruturais condicionantes das condições de vida.

 

Considerações finais

Esse trabalho apontou algumas possibilidades de atuação do fisioterapeuta no SUS, com destaque para o nível primário. No entanto, deve ser destacado que ele não esgota os limites da prática fisioterapêutica na atenção básica, existindo muitas outras possibilidades que devem ser apresentadas e debatidas em outros estudos.

Deve ser destacado que os profissionais enfrentarão dificuldades para atuação na atenção básica e no desenvolvimento de atividades preventivas e promocionais. A grande demanda por assistência em reabilitação apresenta-se como fator limitante para o exercício em outros níveis. A dificuldade de acesso da população aos níveis secundários de assistência ocorre também nos serviços de fisioterapia, desencadeando num grande contingente de cidadãos com limitações na saúde físico-funcional desassistidas, o que vai agravando cada vez mais sua saúde motora. O atendimento a essa demanda reprimida tende a sufocar as possibilidades de desenvolvimento de outras atividades no nível primário.

Cabe ao fisioterapeuta, em consonância com a equipe de saúde e com os gestores locais, planejar e desenvolver estratégias para contemplar tanto as ações de reabilitação, que não podem deixar de ser desenvolvidas, quanto as ações de promoção da saúde e prevenção de doenças. A atuação do fisioterapeuta na atenção básica não deve corresponder ao exclusivo desenvolvimento de ações de reabilitação no PSF, o que corresponderia à simples reprodução do modelo biomédico-curativo na comunidade, mas sim constituir-se de nova força para a transformação da realidade social e epidemiológica.

As desigualdades sociais em saúde e a exclusão social devem permear as prioridades da atuação do fisioterapeuta na saúde coletiva. A demanda reprimida de deficientes e pessoas com limitações físico-motoras têm forte relação com a exclusão socioeconômica, em que, muitas vezes, as complicações dos distúrbios musculoesqueléticos ou o agravamento de incapacidades relacionam-se ao desenvolvimento de hábitos não saudáveis ou apenas à impossibilidade de custear o transporte até o serviço de fisioterapia.

Como síntese, apresentam-se alguns princípios que devem nortear a atuação do fisioterapeuta no nível primário. O fisioterapeuta deve atuar em equipe multiprofissional e com abordagem interdisciplinar, objetivando a integralidade da assistência. Deve seguir a lógica da territorialização, adscrição da população e responsabilização, inserindo a prática do cuidado continuado. A atuação deve ocorrer, preferencialmente, no âmbito coletivo, com o envolvimento e a participação da população. As ações devem ser articuladas com diversos setores da sociedade e dos governos, primando pela reversão dos determinantes e condicionantes sociais da saúde.

Por fim, destaca-se a importância da formação profissional para consolidação do modelo de fisioterapia coletiva. O fisioterapeuta possui formação curativo/reabilitadora, biologicista e pautada em princípios flexnerianos, o que condiciona as concepções e as práticas profissionais à fisioterapia reabilitadora. Nesse sentido, a mudança na formação profissional, com a gradual substituição da ênfase curativo/reabilitadora para uma lógica promocional/preventiva, apresenta-se como condição indispensável à implementação de um novo modelo de atuação. A formação deve incluir e valorizar os conhecimentos inerentes à saúde coletiva, ao SUS e às ciências sociais. A formação aqui sugerida não diz respeito, unicamente, aos atuais estudantes de graduação e futuros profissionais, mas também deve contemplar o grande contingente profissional em pleno exercício da profissão, com uma educação continuada e transformadora.

 

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Autor:

José Patrício Bispo Júnior

Instituto Multidisciplinar de Saúde, Universidade Federal da Bahia. Av. Olívia Flores 3000, Candeias. 45055-090 Vitória da Conquista BA. jpatricio@ufba.br

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