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Como foi a minha faculdade de Fisioterapia!

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O meu curso de Fisioterapia foi dividido em matérias básicas, as gerais, especificas, muito especificas e eletivas. Dentre as eletivas, cursei materias que deveriam estar nas especificas. No muito especificas, deveriam ser eletivas e por aí vai. E, antes de cursar, eu escolhi a faculdade pelo curriculo e pelos professores. Mas deixa eu explicar o que é são essas matérias.

As matérias básicas, que cursei nos primeiros períodos e que foram pré requisito para as demais, foram as mais importantes para o meu conhecimento como fisioterapeuta. Talvez se tivesse teria estudado mais do que eu estudei se soubesse disso na prática (eu fui uma aluna ruim). Cinesiologia, Eletroterapia, Termoterapia, Anatomia, Biomecânica, Semiologia, Recursos Manuais  passaram por mim mas tenho a impressão que eu não passei por elas todas.Tempos depois, tive que retomar estudos de eletroterapia e semiologia, principalmente, Até porque a área de semiologia que eu tive foi muito voltada pra área de clinica médica, na Santa Casa, no Rio de Janeiro. A intenção era que o especifico os alunos vissem nas matérias especificas mas acabou não acontecendo. Explicarei mais abaixo. Esse ciclo era como o fundamental. Depois desse ciclo, entrei pelas especialidades médicas (as gerais) para depois entrar nas matérias das especialidades (especificas) e etc.

Depois desse basicão, o curriculo da minha faculdade tinha as principais especialidades da área médica. Eram aulas dadas por médicos, falando de patologias médicas e esse foi o grande furo no meu curriculo. As aulas eram dadas em hospitais, por médicos e era pra ter aulas práticas mas poucos professores deram essa aula prática. Nesse ciclo, tive aulas em alguns hospitais do Rio de Janeiro, de Ortopedia, Pneumologia, Neurologia, Clinica Medica, Reumatologia, Cardiologia, Pediatria mas quase não tivemos aula prática. Então, a parte de semiologia espeficicas teve uma lacuna que não foi preenchida.

Depois desse passar por esse ciclo, fomos para as matérias especificas, que eram a Fisioterapia na Ortopedia I, Fisioterapia na Neurologia I e etc. Esse foi o ponto forte do meu curriculo universitários. Meus professores foram muitos bons, a fisioterapia finalmente se revelou e eu, que já tinha feito da fisioterapia minha profissão por amor, embora já fosse formada em Educação Fisica, comecei a entender as patologias e os seus tratamentos. Tive que passar por todas as especialidades no ciclo universitário. Se pudesse escolher, provavelmente não teria cursado a Fisioterapia na Pneumologia I, mas não seria uma fisioterapeuta generalista, se não tivesse passado por ela.

O ciclo mais especifico e as eletivas, eram feitas da nossa preferencia. A gente tinha um número determinado de créditos para cumprir entre essas duas modalidades e assim foi feito. Passei por Fisioterapia Preventiva, Fisioterapia na ATM, Fisioterapia na Ortopedia II, Fisioterapia na Neurologia II e outras matérias que não me lembro agora. Mas foi tipo uma "lapidação" do conteúdo que já tinha sido dado.

Uma das matérias mais diificeis que enfrentei na faculdade foi Biofísica e, até hoje, não entendi porque tive que cursar essa matéria. Não sei se era uma dessas matérias que o MEC determina uma faculdade ter, mas lembro que penamos (eu e toda turma) pra terminar o trabalho final.  Mas passei não só por ela, mas por todas as outras sem reprovação!

Bons tempos que não voltam. Lamento não ter aproveitado mais e como nesse ano faço 10 anos de formada, acho que a nostalgia tomou conta de mim. É isso!

Cada um tem a sua história de faculdade.

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Avaliação antropométrica e musculoesquelética de pacientes com síndrome de Marfan

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Introdução

A Síndrome de Marfan (SM) é uma doença autossômica dominante do tecido conjuntivo, causada por mutações no lócus do gene da fibrilina1 no cromossomo 151, a qual envolve vários sistemas, tais como esquelético, ocular, cardiovascular, pulmonar, tegumentar e neurológico.

Sua incidência é de aproximadamente 1/9.800 indivíduos, e a sua prevalência de 4 a 6/10.000 indivíduos, sem preferência racial ou étnica. Na SM, 30% dos casos não têm história familiar, ou seja, são resultantes de casos isolados em decorrência de novas mutações2-4. A expectativa de vida é em torno de 32 anos, sendo primariamente determinada pela gravidade do envolvimento cardiovascular, entretanto, com a otimização do tratamento clínico com betabloqueador e cirurgia eletiva, a sobrevida pode aumentar para 72 anos, necessitando de cuidados de diferentes profissionais da saúde, entre eles o fisioterapeuta5.

De acordo com a Nosologia de Ghent6, dada a sua variabilidade clínica e fenotípica, o diagnóstico da SM ocorre segundo critérios clínicos, acompanhados de manifestações primordiais no sistema cardiovascular, oftalmológico, esquelético, neurológico e outros, além da história familiar7.

Mutações nesse gene causam alterações no tecido conjuntivo presente em todos os sistemas. O tecido conjuntivo é responsável pela propriedade viscoelástica dos vasos sanguíneos, tensão e elasticidade da pele e matriz para calcificação óssea2,3. A alteração da fibrilina gera uma flacidez nos ligamentos articulares, favorecendo a hipermobilidade articular e, consequentemente, redução na contenção do crescimento ósseo, comprometendo o sistema musculoesquelético1. As principais manifestações esqueléticas consistem em elevação da estatura, alterações da caixa torácica, sendo a escoliose presente em aproximadamente 62%7 dos pacientes e o pectus excavatum e o pectus carinatum, em 60% deles8. A aracnodactilia, identificada pelos dedos longos e finos, e a dolicostenomelia, caracterizada pela desproporção entre a relação da envergadura e da altura, também são características comuns na SM4,7.

Por se tratar de uma doença multissistêmica9, a gravidade das manifestações estão relacionadas ao fenótipo da doença, e os sinais são idade-dependentes, dessa maneira, esses pacientes necessitam do cuidado de uma equipe multidisciplinar especializada, sendo o fisioterapeuta o profissional indispensável para a prevenção e tratamento das condições limites decorrentes da SM.

O aumento da expectativa de vida nessa população5, associado a alguns fatores de risco, predispõe algumas manifestações ortopédicas importantes, e o fisioterapeuta, ao realizar o diagnóstico cinético funcional, pode identificar precocemente os distúrbios do sistema musculoesquelético, contribuindo para o tratamento adequado e a melhoria da qualidade de vida desses pacientes. O presente estudo tem por objetivo avaliar as medidas antropométricas e as alterações musculoesqueléticas nos pacientes com SM e analisar a frequência do tratamento fisioterapêutico nesses pacientes.

 

Materiais e métodos

O estudo foi caracterizado como analítico observacional transversal. Foram avaliados 26 pacientes com Síndrome de Marfan, após diagnóstico genético-clínico baseado nos critérios de Ghent6. A pesquisa foi realizada no ambulatório público multidisciplinar de Síndrome de Marfan do hospital da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil, no período de fevereiro de 2006 a fevereiro de 2008. Foram incluídos na pesquisa todos os pacientes com SM que apresentavam idade entre 6 e 19 anos e que apresentavam exames complementares de radiografia de coluna, tórax e esterno, dos últimos seis meses. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP, sob o parecer de número 0381/05. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelos responsáveis, autorizando a participação de crianças e adolescentes.

Avaliação clínica

Os pacientes foram avaliados a partir de questionário padronizado com informações referentes ao histórico pessoal e familiar e características demográficas. Após a entrevista, realizou-se o exame físico, em que a inspeção do tórax foi feita em perfil e de frente, a fim de se avaliarem as deformidades da parede torácica anterior. Na sequência, realizaram-se as medidas de antropometria e analisaram-se os exames complementares.

Avaliação antropométrica

Para aferição da massa corpórea, utilizou-se uma balança mecânica tipo plataforma convencional (Filizola®, São Paulo, SP, Brasil), com capacidade máxima de 140 kg. Os participantes retiravam os sapatos e permaneciam com a menor quantidade de roupa possível, mantendo-se no centro da balança em posição ortostática com os braços ao longo do corpo. A determinação da altura foi realizada por meio de estadiômetro (modelo E120P, Tonelli, Siderópolis, SC, Brasil), com um campo de uso de 0,80 a 2,25 m. Para avaliação da envergadura, utilizou-se fita métrica, de fibra de vidro, com extensão de 200 cm e precisão de 0,1 mm, realizada com o paciente na posição ortostática, encostado na parede, quando se solicitava uma abdução dos membros superiores, sendo a mensuração feita de uma extremidade do dedo médio ao outro. A dolicostenomelia foi realizada com a medida do índice da envergadura/altura, sendo positivo com o valor >1,054,7 (Figura 1).

 

 

Para o diagnóstico do estado nutricional dos indivíduos, utilizou-se o índice de massa corporal (IMC), [massa corpórea (kg)/altura (m2)]. Realizou-se a cirtometria torácica por meio de uma fita métrica sobre a caixa torácica do paciente. As medidas foram realizadas na região axilar e na região do terço distal do esterno (região xifoide), estando o paciente na posição ortostática e em máxima inspiração10.

Para medir o perímetro da cintura, posicionou-se a fita métrica flexível na menor curvatura localizada entre as costelas e a crista ilíaca. Para aferição do perímetro do quadril, posicionou-se a fita métrica na área de maior protuberância glútea. A medida do índice da relação circunferência da cintura e quadril (RC/Q) foi obtida pela divisão dos perímetros da cintura (cm) e do quadril (cm), sendo considerado inadequado o valor >0,95 para homens e >0,80 para mulheres4,5.

Para a confirmação da presença de aracnodactilia, utilizou-se a manobra do sinal do polegar1,3,11, em que se solicitava uma adução de polegar e flexão dos dedos, considerando-se positivo quando a falange distal do polegar ultrapassasse a região palmar. Outra manobra realizada foi a de Walker-Murdoch, em que se solicitava ao paciente que segurasse o punho com a mão contralateral; se o dedo mínimo e o polegar conseguissem se unir, conseiderava-se o teste positivo1,11 (Figura 2).

 

 

Dados antropométricos populacionais

Os dados antropométricos, como massa corpórea e altura populacionais, foram obtidos a partir dos dados divulgados pelo governo brasileiro, por meio do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)12.

Exames complementares

Radiograma de coluna, tórax e esterno

As radiografias de coluna foram realizadas na posição perfil e póstero-anterior, sendo panorâmicas, incluindo de T1 ao sacro. Aos pacientes que utilizavam colete, pediu-se que fosse retirado, por um período de quatro a seis horas, para realização do raio X. A medida de angulação da curva escoliótica foi realizada entre as vértebras T1-T12 pelo método de Cobb13.

A análise da caixa torácica anterior ocorreu de forma objetiva pela avaliação da radiografia de perfil do esterno, classificando o tipo de deformidade torácica em: pectus carinatum - quando apresentava uma protrusão do esterno e pectus exca vatum - quando apresentava uma depressão do esterno14,15.

Ecocardiograma

Os indivíduos apresentaram exame ecocardiográfico dos últimos seis meses, realizado no serviço, nos modos uni e bidimensional, com o estudo de Doppler de onda contínua, pulsátil e mapeamento de fluxo em cores, em equipamento com transdutores de 5,0 e 2,5 MHz (modelo SD800, Philips Healthcare, Andover, MA, United States). Para avaliar a função cardíaca, as principais variáveis analisadas foram: 1) diâmetro da aorta (mm), 2) átrio esquerdo (mm), 3) septo interventricular (mm), 4) parede posterior do ventrículo esquerdo (mm) e 5) diâmetro diastólico do ventrículo esquerdo (mm), além de pesquisa de regurgitações valvares16.

Análise estatística

Os dados foram avaliados utilizando o software GraphPadPrism (GraphPad Software, Inc. CA, USA), e a normalidade, o teste de distância K-S. Os dados contínuos paramétricos foram representados em média e desvio-padrão, os não-paramétricos, em mediana e mínimo e máximo. Os dados antropométricos obtidos na população avaliada foram comparados com as medianas populacionais publicadas pelo IBGE em um tempo, utilizando o teste WMW (Wilcoxon-Mann-Whitney). Os dados categóricos foram representados em frequência absoluta (n) e frequência relativa (%) e comparados entre grupos independentes, utilizando o teste do qui-quadrado. Considerou-se, para todo o estudo, risco alfa<5%.

 

Resultados

Características antropométricas e musculoesqueléticas

Foram avaliados 26 pacientes com SM, com idade 13,65±2,61 anos, 17 do gênero feminino. As variáveis antropométricas foram divididas de acordo com o gênero, evidenciando que as diferenças entre as variáveis estudadas foram mais acentuadas no gênero masculino (Tabela 1).

 

 

Na comparação com os dados populacionais apresentados pelo IBGE12, observou-se que as crianças e adolescentes com SM apresentavam valores superiores em relação à altura e peso quando comparadas com os dados antropométricos de outras crianças e adolescentes (Tabela 2).

Em relação às alterações ortopédicas, encontrou-se a presença de pectus e escoliose em 19 (73%) indivíduos, somente o pectus, em 3 (11%) pacientes, e 4 (15%) não apresentaram nenhuma deformidade de caixa torácica. O grau médio de escoliose foi de 20,76±9,83, analisado pelo ângulo de Cobb. Apenas um (3%) paciente de maior gravidade utilizava colete no momento da avaliação, o que pode ter minimizado, apesar de discretamente, o grau médio de escoliose no grupo. Quanto ao tipo de pectus, o predomínio foi do carinatum, em 16 (61%) pacientes. A dolicostenomelia foi observada em 11 (42%), e a aracnodactilia predominou em 80% deles. De acordo com a entrevista realizada, 11 (42%) pacientes já haviam realizado fisioterapia para tratamento das disfunções musculoesqueléticas por um período médio de um ano após o diagnóstico da SM, nos últimos três anos antecedentes à pesquisa.

Características clínicas

Dos pacientes avaliados, a presença de história familiar de Síndrome de Marfan ocorreu em 15 (60%) deles, sendo superior em relação aos casos isolados. O principal medicamento utilizado foi o betabloqueador, em 15 pacientes (60%).

As características cardiovasculares e ecocardiográficas estão demonstradas na Tabela 3. A análise revelou a presença de algumas alterações ecocardiográficas, sendo 12 (46%) pacientes com refluxo mitral mínimo, dois (8%) com leve e um (4%) com moderado; quanto à aorta, somente um (4%) apresentou ectasia mínima, e 8 (31%) apresentaram ectasia leve. Somente dois (8%) pacientes apresentaram ecocardiograma normal.

 

 

Discussão

Os resultados encontrados no presente estudo demonstraram que os pacientes com SM apresentam alterações antropométricas musculoesqueléticas, e tais características podem ser detectadas na avaliação fisioterapêutica, a fim de identificar precocemente aquelas passíveis de prevenção e tratar as já instaladas.

O comprometimento do tecido conjuntivo pode gerar alterações no sistema musculoesquelético, pois as fibras elásticas e colágenas são responsáveis pela elasticidade e resistência dos ligamentos17,18. Na análise histopatológica, alguns autores observaram fragmentação da fibrilina na biopsia muscular de pacientes com SM; sendo assim, esses pacientes são mais propensos a apresentar manifestações musculoesqueléticas19.

O presente estudo demonstrou elevada estatura nos pacientes com SM, sendo esses valores superiores aos encontrados nos dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE12. A falta de contenção gerada pela frouxidão ligamentar favorece o crescimento excessivo e induz à redução do IMC em relação aos padrões de normalidade preconizados pela OMS, sendo essa população caracterizada como subnutrida com base no IMC. Alguns estudos já relataram algumas limitações do IMC, uma vez que pode não refletir adequadamente a composição corporal, principalmente quanto às porcentagens de gordura, músculos e ossos, além de diferenças sexuais, étnicas e grau de atividade regular, que também parecem influenciar essa variável20,21.

A razão entre as medidas da RC/Q, que caracterizam a distribuição central da gordura, tem sido utilizada para identificar risco ao desenvolvimento de complicações metabólicas e cardiovasculares22. Pacientes com SM apresentam valores inferiores aos preconizados pela OMS, certamente influenciados pelo fenótipo da própria síndrome18,23.

Dentre os sinais clínicos típicos da SM, a aracnodactilia é uma característica comum na SM, identificada pelos dedos longos e finos24, e a dolicostenomelia, que foi descrita pela primeira vez em 1896, é caracterizada pelas extremidades alongadas e delgadas25. Essas características foram identificadas neste estudo, sendo a aracnodactilia extremamente frequente, entretanto a relação entre a envergadura e a altura (dolicostenomelia) não foi frequente. A dolicostenomelia pode variar com a idade, durante o crescimento e desenvolvimento4,7. Outros sinais clínicos importantes, tais como alterações ocular, cutânea, pulmonar, espondilolisteses, menor extensão dos cotovelos, pes planus e palato arqueado, não foram avaliados em nossa população, visto a necessidade de outros equipamentos. Entretanto, o diagnóstico foi confirmado por exame genético.

Quanto às alterações de caixa torácica, uma das manifestações mais comum na SM é o pectus, caracterizado por uma desproporção no crescimento das placas cartilaginosas do esterno e das cartilagens costocondrais14,15. A presença de pectus carinatum foi maior nessa população, assim a progressão do pectus carinatum pode ocorrer durante a fase de crescimento, podendo se agravar principalmente nos pacientes com predisposição genética26. Os distúrbios respiratórios relacionados ao pectus carinatum dependerão do grau e da associação de outras deformidades torácicas, como cifose e escoliose26-28, por isso é importante que as alterações musculoesqueléticas sejam precocemente detectadas, a fim de prevenir complicações futuras.

Neste estudo, observou-se elevada frequência de escoliose nos pacientes com SM, que, por sua vez, parece ocorrer em consequência da velocidade do pico de crescimento, que ocorre mais precocemente e por tempo maior nessa população, demonstrando um discrepante crescimento dos membros quando comparados com os da população em geral, o que favorece o aparecimento de deformidades na coluna18.

O diagnóstico da escoliose é extremante complexo, uma vez que o paciente dificilmente apresentará queixa de dor, dificultando a aceitação e adesão ao tratamento. No entanto, a avaliação postural de pacientes com SM pode identificar precocemente o surgimento dessa deformidade antes que os sintomas apareçam. Nos casos mais severos de pacientes com escoliose de moderada a severa, podem-se observar complicações cardiorrespiratórias pela limitação da expansibilidade da caixa torácica devido ao desvio da coluna vertebral29. O ângulo de Cobb é determinante para indicação do tratamento. Os pacientes com SM com escoliose não-estruturada apresentam boa evolução com o tratamento conservador, incluindo fisioterapia com ou sem associação de colete. Dessa forma, torna-se importante o diagnóstico precoce da escoliose nos pacientes com SM, buscando corrigir ou evitar a progressão dela.

O tratamento fisioterapêutico foi realizado para os pacientes que apresentavam disfunções musculoesqueléticas, entretanto, por se tratar de uma doença multissistêmica, diversas áreas da fisioterapia podem contribuir para a prevenção e terapêutica dessas disfunções. Alguns estudos17,30 relatam a necessidade da fisioterapia no atendimento conservador de algumas manifestações esqueléticas e descrevem que a fisioterapia respiratória, no pré e pós-operatório do paciente com SM, contribui para o sucesso no desmame ventilatório, diminuindo as disfunções respiratórias e, consequentemente, as complicações30. Além disso, durante a avaliação física e funcional detalhada, o fisioterapeuta pode identificar manifestações clínicas que são pertinentes à SM, contribuindo, junto à abordagem multiprofissional, para o diagnóstico precoce da SM e tratamento de suas complicações.

 

Conclusão

A altura elevada e a presença de pectus carinatum e aracnodactilia são alterações antropométricas e musculoesqueléticas mais frequentes nos indivíduos com SM. O tratamento fisioterapêutico é pouco frequente.

 

Agradecimento

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa de estudo.

 

Referências

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Por:

Graziella F. B. CiprianoI; Guilherme C. BrechII; Paulo A. T. PeresI; Cássia C. MendesI; Gerson Cipriano JúniorIII; Antônio C. C. CarvalhoI

IDepartamento de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, SP, Brasil
IILaboratório de Estudos do Movimento, Instituto de Ortopedia e Traumatologia, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
IIICurso de Fisioterapia, Faculdade Ceilândia, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil


O que é a Síndrome da Pedrada?

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Uma lesão no tendão de Aquiles é muito comum, principalmente quando falamos de um esporte como a corrida, que tanto solicita a função do músculo da panturrilha. Estima-se que 11% de todas as patologias que acometem corredores estão relacionadas ao tendão de Aquiles.

Ele é um grande e calibroso tendão que se localiza atrás do tornozelo, ligando os músculos da panturrilha (sóleo e gastrocnêmio) ao osso do calcanhar (calcâneo). Ele fornece força na fase de impulso da passada (ciclo da marcha), pois sua função é levar a ponta do pé para baixo, ou seja, nos ajuda ficar na ponta do pé (flexão plantar) ou saltar.

É formado por um tecido inelástico, composto, na sua maior parte, por colágeno, porém é pobre em suprimento sanguíneo. São as fibras colágenas que dão resistência às trações sofridas pelo tendão.

A história clínica é marcada por dor súbita localizada na panturrilha, de grande intensidade, algumas vezes acompanhada de um estalido audível. O corredor leva um susto e acredita ter recebido uma pedrada na região da panturrilha, daí o nome de "síndrome da pedrada". No atletismo, os tiros de corrida, figuram entre as situações esportivas em que esta lesão mais acontece.

Durante a corrida ou atividades que incluem saltos, o tendão de Aquiles sofre forças de tensão repetidas por contração e estiramento dos músculos da panturrilha e isso pode facilitar o aparecimento de lesões por falta de oxigênio (hipóxia).

Uma lesão no tendão de Aquiles pode causar desde um processo degenerativo ou inflamatório até uma ruptura que pode ser parcial ou total. Uma inflamação no tecido que envolve o tendão é chamada de paratendinite. Já a inflamação ou degeneração sofrida pelo próprio tendão é conhecida popularmente como tendinite de Aquiles (atualmente conhecida por tendinose de Aquiles).

Tendinose é o termo mais adequado para descrever o processo degenerativo que ocorre no tendão, pois estudos comprovaram que, numa lesão, o processo inflamatório é ausente ou insignificante, predominando a degeneração. A inflamação, se ocorrer, é mínima e nos primeiros dias de lesão apenas. Por este motivo, o termo "tendinite" está sendo substituído por "tendinose". Esta pode ser considerada aguda ou crônica, de acordo com o tempo de permanência dos sintomas. Já a ruptura pode ser total ou parcial, que é quando parte das fibras são lesadas.

SINAIS E SINTOMAS

Os sintomas podem acometer somente um lado ou bilateralmente. A dor geralmente se localiza de 2 a 6 cm acima do calcanhar.

Como estamos falando sobre lesões do tendão de Aquiles e estas incluem desde um processo inflamatório numa fase inicial até uma lesão completa do tendão, é importante salientar que os sintomas podem ser parecidos, apesar das lesões se diferenciarem, como nos casos das tendinoses e rupturas parciais. Por isso, é importante a consulta com um médico ortopedista para que seja feito um diagnóstico correto e um tratamento adequado.

No caso de uma lesão aguda os sintomas se manifestam com as seguintes características:
- Dor no tendão durante os exercícios. Melhora com o repouso. A dor aparece gradualmente durante os exercícios, podendo até diminuir ou desaparecer ao longo da corrida.
- Edema (inchaço) sobre o tendão.
- Vermelhidão sobre a pele, no local da lesão.
- O atleta pode sentir um rangido quando pressiona seu dedo no tendão ou move seu pé.
- As dores experimentadas na fase aguda da patologia tendem a desaparecer após um aquecimento antes da corrida, mas retornam quando a atividade é interrompida.

A tendinose ou ruptura crônica é uma condição difícil de tratar, particularmente em atletas mais velhos que parecem sofrer mais desta patologia. Se não tratada, os sintomas pioram até ficar impossível correr.

Os sintomas são parecidos com a fase aguda, só que mais presentes ou intensos:

- Dor difusa e rigidez no tendão, principalmente pela manhã ou após tempo prolongado na posição sentada. A dor não cede ao repouso.
- Podem aparecer nódulos ou regiões inchadas no tendão.
- Edema, vermelhidão e aumento de temperatura sobre o tendão.
- Dor no tendão quando anda, especialmente em subidas ou ao subir escadas.
- Diminuição de força dos músculos da panturrilha, que pode acontecer durante a caminhada ou corrida.
- Limitação da amplitude de movimento do tornozelo na flexão dorsal, ou seja, quando dobramos o tornozelo levando os dedos em direção à "canela".
- Pode ocorrer crepitação durante os movimentos ativos do tornozelo.

Nos casos de ruptura do tendão, o atleta poderá sentir um estalo e muitas vezes se descreve uma sensação de ter levado uma pedrada na panturrilha ou um chute (síndrome da pedrada). Nos casos de ruptura total haverá impossibilidade de levantar o calcanhar do solo quando em pé ou de fazer o movimento como de acelerar quando sentado ou deitado. E no exame físico se percebe um "defeito" no local onde ouve a ruptura do tendão.

AS PRINCIPAIS CAUSAS

- Sobrecarga ou excessos no treino (tempo, distância e intensidade). Uma tensão exagerada ou tensões repetitivas em demasia aumentam o risco de lesões no tendão por falta de oxigênio (hipóxia), o que dificulta a recuperação deste tecido após grandes atividades.
- Trauma causado pela contração repentina e/ou excessiva dos músculos da panturrilha como num sprint final.
- Falta de flexibilidade da musculatura da panturrilha.
- Uso de calçados inadequados.
- Alterações posturais como anteversão do fêmur, tíbia vara, pé pronado, entre outras.
- Alterações da biomecânica na corrida: modo como o pé toca no solo, movimentos dos membros inferiores, passada, ritmo, correr sem tocar o calcanhar no solo.
- Corridas em aclives, corridas com saltos ou subidas em escadas: correr nestas condições tencionará o tendão, que ficará mais alongado do que numa passada larga (passo grande) e isso fará com que ele fique fadigado mais precocemente.
- Tipo de pisada: pronação excessiva pode aumentar a tensão no tendão. Como o pé rola para dentro (pé chato), a região inferior da perna roda para dentro assim como roda o tendão de Aquiles, causando um estresse longitudinal, em toda sua extensão.
- Aumento súbito na velocidade ou distância percorrida.
- Tempo de descanso insuficiente.

GELO E OUTROS TRATAMENTOS

Quanto mais precocemente se inicia o tratamento, melhores as chances de bons resultados. No caso de tendões a recuperação é mais lenta, principalmente por ser pouco vascularizado, portanto, paciência e empenho no tratamento são decisivos na recuperação.

Será necessária uma consulta com ortopedista para avaliação da lesão e tipo de pisada, para que o diagnóstico e o tratamento adequado e individualizado seja traçado. Exames complementares como ultrassonografia ou ressonância magnética serão necessários para visualizar o tipo e extensão da lesão.

Pode ser necessário o uso de medicamentos antiinflamatórios e o tratamento cirúrgico pode ser indicado em alguns casos, principalmente na lesão total. Não devem ser utilizadas infiltrações de esteróides no tendão por aumentar os riscos de ruptura total.

É indicado repouso relativo, de acordo com o quadro apresentado pelo atleta, ou seja, pode ser indicado apenas diminuir o ritmo da atividade ou interromper a corrida por um determinado tempo. Muitas vezes é indicada a substituição da corrida por natação ou deep running, para diminuir o impacto e esforços sobre o tendão, facilitando sua recuperação.

A aplicação de gelo irá auxiliar no alívio de dores e na diminuição de edema (inchaço). O gelo deve ser feito por 20 minutos, podendo ser repetido a cada 3 horas no início dos sintomas (fase aguda). Pode se associar elevação da perna para auxiliar na drenagem de edema, se houver.

Após a avaliação da lesão e do tipo de pisada, pode ser indicado o uso de palmilha para correção do calcanhar e para diminuir forças sobre o tendão, ou palmilhas que fornecem um amortecimento, o que seria uma medida temporária. O uso de calcanheiras é útil para tirar as tensões do tendão, mas deve ser avaliado para não estimular o encurtamento muscular.

A utilização de calçados adequados evita lesões, portanto, a avaliação do tipo de pisada se torna importante para a compra do tênis. Para atletas com pronação excessiva (pé chato), o ideal é um calçado com menos amortecimento e mais estabilidade e para atletas com supinação excessiva (pé cavo), um calçado com mais amortecimento e boa flexibilidade é mais indicado.

Tão importante quanto usar um calçado adequado para o seu tipo de pisada e atividade física é saber quando "aposentar" seu tênis. Calçados excessivamente desgastados podem contribuir para uma lesão por não exercerem mais sua função de estabilidade, suporte e amortecimento. Vale lembrar que também pode acontecer de aparentemente o tênis parecer em bom estado, porém já ter perdido sua capacidade de amortecer impactos, por exemplo. Por isso é bom ficar de olho nas indicações dos calçados e trocá-los de acordo com a quilometragem percorrida e peso corporal, para que não fiquem desgastados demais.

A AJUDA DA FISIOTERAPIA

Além da melhora da lesão e sintomas, o tratamento fisioterapêutico tem como objetivo o retorno à corrida sem riscos de recidivas (nova lesão).

Numa fase inicial de lesão, o objetivo é minimizar a lesão tecidual com a utilização de ultra-som e gelo numa posição alongada do músculo da panturrilha, ou seja, com o tornozelo dobrado (dedos em direção à "canela").

Numa fase intermediária, é indicada a utilização de ultra-som e laser para estimular a síntese de colágeno e cicatrização. Um alongamento suave dos músculos da panturrilha contribuirá para o realinhamento das fibras de colágeno e deve ser seguido pela aplicação de gelo numa posição alongada do tendão.

Já a fase final do tratamento visa melhorar a cicatrização da lesão e fortalecer os músculos. Deve-se aplicar o gelo no final dos exercícios com objetivo de diminuir a dor e prevenir possíveis reações inflamatórias.

A aplicação de técnicas de massagem também auxiliará na melhora das aderências e contribuirá para a reorganização das fibras do tendão, além de ajudar no deslizamento da camada que o recobre.

O músculo da panturrilha ou tríceps sural é um músculo estático, ou seja, tem a função de sustentação, manutenção de postura e posição, além de auxiliar na flexão do joelho e fazer a flexão plantar (dedos para baixo, longe da "canela"). Por estes motivos e por sua própria fisiologia, tem tendência a se encurtar (mesmo em quem não pratica esportes!). Além disso, o encurtamento deste músculo estimula a pronação do retropé e predispõe a lesões e alterações na postura. Por isso é importante mantê-lo alongado.

Como é comum alterações posturais predispor a lesões, técnicas como a RPG (reeducação postural global), que visam alinhar o corpo e seus segmentos, podem auxiliar no tratamento ou evitar lesões, além de contribuir para a melhora da flexibilidade.

Tão importante quanto os alongamentos e fortalecimentos que irão reequilibrar a musculatura são os exercícios de propriocepção que levam informações ao cérebro e otimizam a função motora. Eles melhoram as reações da articulação quando há mudanças de direção, velocidade e terreno, favorecendo a biomecânica correta da corrida e evitando lesões. Eles devem ser orientados pelo fisioterapeuta, de forma gradual e introduzidos na fase correta do tratamento.

O retorno à corrida deve ser gradual, acompanhado dos exercícios para alongar e fortalecer os músculos da panturrilha, até que força, resistência, flexibilidade e amplitude de movimento estejam adequadas (quando comparados ao lado não lesionado). Dessa forma o tendão estará preparado para exercer sua função plenamente e receber as tensões transferidas a ele durante a corrida.

A prevenção é a melhor medida quando falamos em lesão tendínea. Apesar do tendão ser inelástico, ele se beneficia com o alongamento muscular pois ocorre diminuição das forças e tensões sobre ele. Portanto, o alongamento deve ser realizado mesmo distante dos treinos (pode ser feito em casa) para manter a elasticidade do músculo e evitar lesões no tendão. Da mesma forma, é importante fazer um aquecimento adequado da musculatura para que esta esteja preparada para a corrida, além do desaquecimento.

POR:  ALESSANDRA ARKIE E KENIA GUERRA BAUMANN (fisio-rpg@uol.com.br)


Saiba mais sobre a História da Fisioterapia

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Napoleão Bonaparte acabou por contribuir indiretamente com o desenvolvimento dos primeiros serviços organizados de Fisioterapia no Brasil, ao invadir Portugal e fazer com que a família real portuguesa desembarcasse no país em 1808.

Com os monarcas, vieram os nobres e o que havia de recursos humanos de várias áreas para servir à elite portuguesa, de passagem por estas terras.

Dentre todas as contribuições do reinado, o surgimento das primeiras escolas de ensino médico destacam-se como a grandiosa obra dos portugueses no país, em particular os avanços obtidos na cidade do Rio de Janeiro.

No século XIX, os recursos fisioterápicos faziam parte da terapêutica médica, e assim há registros da criação, no período compreendido entre 1879 e 1883, do serviço de eletricidade médica, e também do serviço de hidroterapia no Rio de Janeiro, existente até os dias de hoje, sob denominação de "Casa das Duchas".

O médico Arthur Silva, em 1884, participa intensamente da criação do primeiro serviço de Fisioterapia da América do Sul, organizado enquanto tal, mais precisamente no Hospital de Misericórdia do Rio de Janeiro.

São Paulo não vai ficar atrás e o médico Raphael Penteado de Barros é fundador do departamento de eletricidade médica, no que hoje pode ser considerada a USP, nos idos de 1919.

Dez anos após, em 1929, o médico Waldo Rollim de Moraes coloca em funcionamento o serviço de Fisioterapia do Instituto do Radium Arnaldo Vieira de Carvalho.

Na década de 30, Rio Janeiro e São Paulo possuíam serviços de Fisioterapia idealizados por médicos que tomavam para si a terapêutica de forma integral, experimentando recursos físicos que outros médicos, à época, não ousavam buscar para minimizar as seqüelas de seus pacientes.

Esses médicos eram distintos dos outros por estarem preocupados não apenas com a estabilidade clínica de seu paciente, mas com sua recuperação física para que pudessem voltar a viver em sociedade, com iguais ou parecidas funções anteriores ao agravo da saúde.

Essa visão ampla de compromisso com o paciente, engajando-se num tratamento mais eficaz que promovesse sua reabilitação, uma vez que as incapacidades físicas por vezes excluíam-no socialmente, levou aqueles médicos a serem denominados médicos de reabilitação.

As faculdades de Medicina lhes eram úteis para embasar cientificamente sua prática médica, pelo acesso ao conhecimento adquirido pelos cientistas europeus sobre fisiologia humana e o emprego crescente dos recursos hídricos, elétricos e térmicos.

Através de trabalhos e apresentações de teses, criou-se uma cultura de atenção diferenciada às deficiências não apenas físicas, mas também mentais e sensoriais.

Esse foi um período valioso no sentido de tornar possível recuperar funções de seres humanos que, em período não muito distante, não tinham perspectiva de melhora das suas incapacidades.

2ª GUERRA MUNDIAL COMO FATOR DECISIVO DE DESENVOLVIMENTO

A 2ª Guerra Mundial tem como novidade o envolvimento direto do Brasil, com o envio de pracinhas para a frente de combate dos Aliados, diferentemente da 1ª Guerra.

Os reflexos dessa participação estão no desenvolvimento da Fisioterapia enquanto prática recuperadora das seqüelas físicas de guerra, com a modernização dos serviços de Fisioterapia no Rio de Janeiro e em São Paulo e criação de novos em outras capitais do país.

A modernização dos serviços, com o conseqüente aumento da oferta e da procura, vai levar a que os chamados médicos de reabilitação se preocupassem com a resolutividade dos tratamentos.

Com este objetivo, empenharam-se para que o ensino da Fisioterapia como recurso terapêutico, então restrito aos bancos escolares das faculdades médicas nos campos teórico e prático, deveria ser difundido entre os paramédicos, que eram os praticantes da arte indicada pelos doutores de então.

Assim, em 1951 é realizado em São Paulo, na USP, o primeiro curso no Brasil para a formação de técnicos em Fisioterapia, com duração de um ano em período integral, acessível a alunos com 2º grau completo e ministrado por médicos.

Homenageando o professor de física biológica da Faculdade de Medicina, que criou um serviço de eletrorradiologia na referida cadeira em 1919, o curso paramédico levou o nome de Raphael de Barros, formando os primeiros fisioterapistas (denominação da época).

Curiosamente, os cursos de Fisioterapia iniciam-se em São Paulo antes do Rio, apesar dos primeiros serviços terem se desenvolvido na antiga capital federal.

Só em 1952 é que a cátedra de Fisioterapia é retomada na Faculdade de Ciências Médicas do RJ e é criada, em 1954, a Associação Beneficente de Reabilitação (ABBR), que 2 anos depois ministra o curso de técnico em reabilitação.

Entidades como a Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD), Lar Escola São Francisco e as Casas da Esperança surgem absorvendo esse novo conceito de assistência diferenciada, incorporando em seu meio os paramédicos dos novos cursos.

As primeiras turmas formam os que estarão nos consultórios e clínicas auxiliando os médicos, que prescreviam os exercícios com e sem carga, as massagens, o uso do calor, da luz, dos banhos e dos rudimentares recursos eletroterápicos disponíveis para a recuperação do paciente.

Afinal, o que representou a criação de um curso que formava técnicos no sentido mais restrito?

Diferentemente dos países da Europa (como na França, que em 1927 já possuía faculdade de Fisioterapia), no Brasil o ensino de Fisioterapia restringia-se a aprender a ligar e desligar aparelhos, reproduzir mecanicamente determinadas técnicas de massagem e exercícios, tudo sob prescrição.

Os primeiros profissionais eram auxiliares do médico, seus ajudantes de ordem; não possuíam os conhecimentos necessários para o diagnóstico, o funcionamento normal e patológico avaliação do corpo humano, nem os mecanismos de lesão e conduta terapêutica.

É curioso observar que, há pouco mais de 40 anos atrás, os primeiros profissionais não passavam de meros aplicadores de aparelhos, só dominavam a arte, não a ciência, e uma arte rudimentar, há anos-luz do que se pensa e se faz atualmente na forma de procedimentos fisioterapêuticos.

Podemos concluir que, para chegar ao status que chegou nos dias de hoje, a Fisioterapia teve que escalar muitos degraus.

A preocupação crescente com a qualidade do atendimento oferecido fez com que esses cursos paramédicos se ampliassem.

Em 1959, com a fundação do INAR (Instituto Nacional de Reabilitação), denominação influenciada pelo grupo norte-americano que veio a São Paulo, organizado pela seção latina da Organização Mundial de Saúde (OMS), o curso da USP foi ampliado para o período de 2 anos, embora não fosse ainda considerado de nível superior.

Quando o INAR transmuta-se para Instituto de Reabilitação (IR), em 1964, criam-se os cursos superiores de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional.

No Rio de Janeiro, à mesma época, a ABBR, mais tarde SUAM, teria cumprido papel semelhante ao da USP em São Paulo.

A PRINCÍPIO, CURSO TECNICISTA DE NÍVEL MÉDIO, DEPOIS SUPERIOR

O Parecer 388/63 e a Portaria Ministerial 511/64

É tão claro o papel secundário da Fisioterapia nos idos de 50 e 60, entendida como modalidade integrante da terapêutica médica, que o CFE - Conselho Federal de Educação emite no Parecer 388/63 a primeira definição oficial da ocupação do fisioterapeuta: é definido como auxiliar médico; explicita que lhe compete a realização apenas de tarefas de caráter terapêutico (ou seja, incapaz de avaliar o paciente); e que a execução das mesmas tarefas deve ser precedida de uma prescrição médica - o exercício profissional é desempenhado sob a orientação e responsabilidade do médico.

Referendando a concepção de médico de reabilitação, sendo submetido a este, o fisioterapeuta faria, junto com outros profissionais de saúde, membro de uma equipe de reabilitação, portanto não competindo ao fisioterapeuta o diagnóstico da doença ou da deficiência a ser corrigida, mas ao cumprimento das tarefas ordenadas pelos médicos.

Conforme um extrato do Parecer, nas considerações de uma comissão de peritos nomeados pelo Diretor de Ensino Superior do MEC em 1962:

"1 - (…) A referida Comissão insiste na caracterização desses profissionais como auxiliares médicos que desempenham tarefas de caráter terapêutico sob a orientação e responsabilidade do médico. A este cabe dirigir, chefiar e liderar a equipe de reabilitação, dentro da qual são elementos básicos: o médico, o assistente social, o psicólogo, o fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional.

2 - Não compete aos dois últimos o diagnóstico da doença ou da deficiência a ser corrigida. Cabe-lhes executar, com perfeição, aquelas técnicas, aprendizagens e exercícios recomendados pelo médico, que conduzem à cura ou à recuperação dos parcialmente inválidos para a vida social. Daí haver a Comissão preferido que os novos profissionais paramédicos se chamassem Técnicos em Fisioterapia e Terapia Ocupacional, para marcar-lhes bem a competência e as atribuições. O que se pretende é formar profissionais de nível superior, tal como acontece a enfermeiros, obstetrizes e nutricionistas. Diante disso, não há como evitar os nomes de Técnicos em Fisioterapia e Técnicos em Terapia Ocupacional".

Não nos parece que tenham sido felizes os peritos do MEC, pois não conseguiram emplacar uma denominação tecnicista a profissionais de nível superior.

Porém, inspirado em tal Parecer, é publicada uma Portaria Ministerial de n.º 511/64 no ano seguinte, que estabelece o currículo mínimo do curso superior de Fisioterapia numa versão tecnicista:

"Art. 1º - O currículo mínimo dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional para a formação de Técnico em Fisioterapia e de Técnico em Terapia Ocupacional compreende matérias comuns e matérias específicas, como se segue:

  1. Matérias comuns: Fundamentos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Ética e História da Reabilitação, Administração Aplicada.

  1. Matérias específicas do curso de Fisioterapia: Fisioterapia Geral, Fisioterapia Aplicada.(…)

Art. 2º - A duração dos cursos de Fisioterapia e Terapia Ocupacional será de 3 anos letivos".

É evidente que o currículo mínimo da Portaria não permitia capacitar um acadêmico para a elaboração de um diagnóstico fisioterapêutico, compreendido como avaliação físico-funcional; e que, para tanto, neste processo fossem analisados e estudados os desvios físico-funcionais intercorrentes na sua estrutura e funcionamento, com a finalidade de detectar e parametrizar alterações apresentadas, considerados os desvios dos graus de normalidade; e para o qual fosse necessária a prescrição das técnicas próprias da Fisioterapia, baseada na constatação da avaliação físico-funcional, qualificando-as e quantificando-as.

Nada disso: o que se pretendia, simplesmente, era formar um profissional tutelado.

Essa tutela tem nome, é a visão médico-centrada, que diminui o brilho da atuação de um profissional tão importante como o médico, a partir do momento em que lhe sobrecarrega de funções que ele não tem condições nem de exercê-las nem de supervisioná-las, na opinião do autor, com a qualidade que o usuário dos serviços necessita (não só em Fisioterapia, mas em Terapia Ocupacional e em Fonoaudiologia) e consegue obtê-la com os bons profissionais das respectivas áreas.

Os primeiros acadêmicos de nível superior tem sua formação imbuída com essa concepção médico-dependente, o que nos permite entender porque alguns chegam a defendê-la.

OS PROGRESSOS OBTIDOS PELA ASSOCIAÇÃO DA FISIOTERAPIA

Os Congressos da ABF como Expressão da Ciência Fisioterapêutica

Associação dos Fisioterapistas do Estado de São Paulo, fundada em 19 de agosto de 1959 e hoje denominada Associação Brasileira de Fisioterapia (ABF), vai desempenhar um papel importante não apenas na transformação do curso de nível técnico para nível superior, mas na referência profissional visando organização da categoria para reconhecimento pela União.

Até agora não explicado em detalhes, o fato da junta militar que governava o país em 1969 (os ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar) ter assinado o Decreto-lei n.º 938 foi um salto excepcional no reconhecimento profissional do fisioterapeuta, em especial pela redação dos seus 3 primeiros artigos:

"Art. 1º: É assegurado o exercício das profissões de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, observado o disposto no presente Decreto-lei.

Art. 2º: O fisioterapeuta e o terapeuta ocupacional, diplomados por escolas e cursos reconhecidos, são profissionais de nível superior.

Art. 3º: É atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente."

O reconhecimento como profissional de nível superior é tão ou mais importante que a exclusividade de atuação, e com certeza essa conquista de mais de 30 anos atrás não deve ser esquecida, fruto da atuação direta junto às autoridades por fisioterapeutas conscientes do papel profissional da categoria, provavelmente inspirados nas associações científicas e profissionais.

Por mais contraditório que seja, em plena vigência do AI-5, período onde mais se desrespeitaram os direitos humanos no Brasil desde a proclamação da declaração universal em 1948, os direitos dos usuários de Fisioterapia puderam ser mais respeitados, garantindo-se em lei o profissional mais adequado para sua recuperação.

Em 1969, a OMS e a WCPT (World Confederation of Physical Therapy) promovem no México o primeiro curso de Mestrado em Fisioterapia, do qual são egressos Danilo Vicente Define e Eugênio Lopez Sanchez.

A Resolução n.º 4 do Conselho Federal de Educação, em 28 de fevereiro de 1983, fixou os cursos de Fisioterapia para, no mínimo, 4 anos de duração, assim como o Supremo Tribunal Federal à mesma época rerratifica a constitucionalidade dos artigos 3º e 4º do Decreto-lei 938 (privatividade do exercício profissional do fisioterapeuta) e do parágrafo único do artigo 12 da Lei 6.316 (obrigatoriedade do registro das prestadoras de serviços de Fisioterapia nos CREFITOS), contra representação de inconstitucionalidade movida pela Sociedade Brasileira de Medicina Física e Reabilitação – SBMFR, a entidade que representa os médicos fisiatras.

O fisioterapeuta tem sua maioridade reafirmada pela justiça e os órgãos formadores referendam-na, nos currículos.

Entretanto, não basta apenas lutar pelo lugar ao sol, é necessário transparecer à sociedade a reciclagem e aperfeiçoamento contínuos dos fisioterapeutas.

Se uma profissão de saúde não reúne seus melhores quadros em periodicidade regular, em algum lugar do país por algum tempo, e não possuir revistas especializadas, dificilmente conseguirá trocar experiências e criar uma cultura própria, embasada em fundamentos científicos.

Para tanto, as conferências e congressos profissionais tiveram e têm o seu lugar, mesmo que se acredite que estiveram aquém do que poderiam realizar.

A primeira reunião de escala nacional realizada por fisioterapeutas no Brasil foi em 1962, denominada como a primeira conferência da ABF.

A partir daí, predominam os Congressos Brasileiros de Fisioterapia (CBF), assim datados, numerados e localizados:

1964 – I CBF – Rio de Janeiro, capital da antiga Guanabara.

1972 – II CBF – São Paulo, capital.

1976 – III CBF – Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

1979 – IV CBF – Recife, em Pernambuco.

1981 – V CBF – Salvador, na Bahia.

1983 – VI CBF – Curitiba, no Paraná.

1985 – VII CBF – Belo Horizonte, em Minas Gerais.

1987 – VIII CBF – Rio de Janeiro, capital.

1989 – IX CBF – São Paulo, capital.

1991 – X CBF – Fortaleza, no Ceará.

1993 – XI CBF – São Paulo, capital.

1995 – XII CBF – Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

1997 – XIII CBF – São Paulo, capital.

1999 – XIV CBF – Salvador, na Bahia.

Provavelmente, a Conferência de 1962 foi fator determinante para filiação da entidade brasileira à WCPT (World Confederation of Physical Therapy), que ocorreu entre aquele ano e o seguinte (há informações diferentes sobre o a data correta).

Como também pode ser observado, a diferença entre um congresso e outro foi diminuindo com o tempo, sendo que os últimos 11 congressos realizaram-se com intervalo de 2 anos entre eles.

Regulares, portanto, os congressos o são há 20 anos; cabe refletir se, hoje, estão ocupando papel primordial na evolução da ciência fisioterapêutica, se o profissional está identificando neste espaço o momento de assimilação das novas metodologias e técnicas, para melhor desempenho da ciência e da arte.

Fica a pergunta: os congressos brasileiros de Fisioterapia estão em consonância com o estágio de desenvolvimento que é exigido da profissão?

Sociedades de estudo foram formadas, algumas delas também realizando congressos, jornadas e demais atividades com regularidade e imenso respeito entre os fisioterapeutas especializados.

O destaque é para a Sociedade Brasileira de Fisioterapia Respiratória e Intensiva - SOBRAFIR, fruto do trabalho incansável de Maria Ignez Feltrin e outros incansáveis colegas.

Tais fatos vão consolidando a profissão de maneira irreversível, sendo necessário expandir sua autonomia e conquistar o espaço que a Fisioterapia pode e deve ocupar.

O Parecer 388/63 e a Portaria Ministerial 511/64 são aposentados precocemente, apesar de terem deixado alguns saudosos, principalmente entre alguns maus empresários e profissionais de saúde, que preferem contratar leigos por motivos inconfessáveis, ainda não conquistados para uma visão centrada na equipe de saúde, sendo o fisioterapeuta seu membro efetivo.

O SISTEMA COFFITO-CREFITOS, CRIADO AO FINAL DOS ANOS 70

"Auxiliar de Fisioterapia": previsto, não constituído e ilegalmente incorporado ao mercado

Coincide a aquisição do funcionamento regular dos congressos científicos com o momento de criação do COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, determinada pela Lei 6.316, de 17 de dezembro de 1975, e sua instalação em agosto de 1977, e a dos CREFITOS por região administrativa do país, em número de 3, no ano seguinte.

Tanto quanto a Fisioterapia se organizou associativa e administrativamente, cresceu a autoridade científica da profissão junto à sociedade, e vice-versa.

Entre os diversos artigos da mais importante lei produzida pela Congresso Nacional sobre a Fisioterapia no país, os destaques estão em seu artigo 1º, que constitui o sistema COFFITO-CREFITOS, e nos incisos II e III do artigo 5º, abaixo reproduzidos:

"Art. 5º. Compete ao Conselho Federal:

I - (…)

II - exercer função normativa, baixar atos necessários à interpretação e execução do disposto nesta Lei e à fiscalização do exercício profissional, adotando providências indispensáveis à realização dos objetivos institucionais.

III - supervisionar a fiscalização do exercício profissional em todo território nacional."

Ora, o Decreto-lei 938 conferia a um órgão competente do Ministério da Saúde, sabe-se lá qual seria, fiscalizar o exercício profissional da Fisioterapia, o que acabou não acontecendo, facilitando o desrespeito flagrante verificado durante a década de 70.

Por incrível que pareça, até os dias de hoje ainda existem os que não querem reconhecer o que a União já o fez há quase 30 anos passados, pelos primeiros 10 anos de reconhecimento sem que estivesse estruturado o organismo de defesa da qualidade de atendimento na Fisioterapia, o COFFITO, representado em São Paulo pelo CREFITO-3 (3 por ser a 3º região administrativa do país, na organização interna do Conselho Federal).

A Associação Profissional dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais do Estado de São Paulo [NA: não confundir com a ABF – Associação Brasileira de Fisioterapia, que organiza os congressos bianuais, associação de caráter científico-cultural] ganha do Ministério do Trabalho, em 12 de agosto de 1980, o reconhecimento enquanto Sindicato dos Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais, Auxiliares de Fisioterapia e Auxiliares de Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo – SINFITO/SP.

A exigência de ser incluído o termo "Auxiliares" na denominação do Sindicato das categorias por parte do MT, deve-se à interpretação do artigo 10 do Decreto-lei 938, que previa aquelas duas funções para os que trabalhassem na prática de Fisioterapia até a publicação do decreto da junta militar e fossem submetidos a uma avaliação de seus conhecimentos – aprovados, poderiam utilizarem-se do título para exercer a profissão de Auxiliar, com os mesmos direitos do fisioterapeuta. Recordando:

"Art. 10. Todos aqueles que, até a data da publicação do presente Decreto-lei , exerçam sem habilitação profissional, em serviço público, atividades de que cogita o artigo 1º, serão mantidos nos níveis funcionais que ocupam e poderão ter as denominações de auxiliar de Fisioterapia e auxiliar de Terapia Ocupacional, se obtiverem certificado em exame de suficiência.

§ 1º. O disposto no artigo é extensivo, no que couber, aos que, em idênticas condições e sob qualquer vínculo empregatício, exerçam suas atividades em hospitais e clínicas particulares.

§ 2º. A Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura promoverá, junto às instituições universitárias competentes, dos exames de suficiência a que se refere este artigo" .

Porém, não deixa de trazer confusão ao mercado de trabalho, em especial aos empregadores desejosos de poderem contar com uma mão de obra não-qualificada, para pagar salários inferiores ao do profissional habilitado e assim garantir um maior lucro, uma vez que os direitos do consumidor ainda não haviam sido regulamentados.

A década de 70 foi a que mais produziu o falso "auxiliar" no mercado de trabalho, através de uma série de cursos em todo país, muitos deles patrocinados por aqueles que lucravam (e ainda lucram) com o exercício ilegal da profissão e – pasmem! – alguns desses cursos ainda levavam a chancela de órgãos oficiais da União, em flagrante confronto com a legislação da profissão.

O Conselho Federal publica em 1982 a Resolução COFFITO-30 para regular a situação do Auxiliar de Fisioterapia (aquele que estava previsto no Art. 10 do Decreto-lei 938).

Uma vez que a Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura não promoveu, junto às instituições universitárias competentes, o tão propalado exame de suficiência, o COFFITO toma para si a incumbência de fazê-lo.

Amparado na função normativa que lhe foi atribuída pelo art. 5º da Lei 6.316, o COFFITO resolve conceder inscrição na categoria de "Auxiliar de Fisioterapia" para os aprovados no exame de suficiência e que comprovassem o exercício profissional antes de 13 de outubro de 1969.

De quebra, proíbe o uso da denominação de "Auxiliar de Fisioterapia" para concluintes de cursos de 1º e 2º graus e o emprego dos termos "Fisioterapia" e "Fisioterapeuta" para quem não preencher os quesitos do Decreto-lei 938.

Como o Ministério da Educação e Cultura não se interessou em indicar instituição universitária para realização do exame de suficiência, assim como os interessados não se manifestaram para sua aplicação (quem sabe, apostando na revogação do decreto ou na impossibilidade de se reverter a poluição do mercado de trabalho, provocada pela quantidade imensa de leigos no país exercendo a profissão irregularmente), não existe ninguém aprovado.

Portanto, não existe legalmente o auxiliar de Fisioterapia no Brasil.

Trinta e um anos após o Decreto-lei n.º 938/69, o fisioterapeuta (profissional habilitado para a efetivação do processo fisioterapêutico que, no âmbito assistencial, contém as fases de admissão, diagnóstico, prognóstico, prescrição, intervenção e alta) é uma das profissões mais procuradas do país nos concursos vestibulares das principais instituições públicas de ensino superior, de acordo com a proporção entre candidatos/vaga e com a multiplicação de novos cursos nas escolas particulares em todo Brasil.

Autoridade máxima na Fisioterapia, obtendo crescentemente senhoridade científica e com a atual projeção de seu trabalho nos meios de comunicação de massa, o fisioterapeuta passou a ser uma profissão cobiçada pela juventude na última década do século XX.

Abordagem fisioterapêutica precoce em pacientes críticos queimados

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Define-se queimadura como trauma de origem térmica capaz de ocasionar variadas lesões que, de acordo com o nível, pode levar o enfermo a óbito, tais como, hiperemia restrita à área queimada, alterações celulares e imunológicas decorrentes do insulto, envolvimento das vias respiratórias e ocorrência de traumatismos associados1.

De acordo com a espessura da pele atingida, as queimaduras se classificam em primeiro, segundo e terceiro graus. Epiderme e/ ou derme constituem o primeiro e segundo graus. Já no terceiro grau, a hipoderme é atingida, afetando o tecido celular subcutâneo e ósseo1.

Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 28.000 mortes no mundo, em 1998, foram causadas por queimaduras e mais de 90% ocorreram em países subdesenvolvidos2.

Nos hospitais são atendidos, anualmente, uma média de 100.000 pacientes, um total de 10% do número geral de acidentes ocorrido no Brasil no mesmo período. Destes atendidos, 2.500 irão falecer por conta das lesões, direta ou indiretamente3.

Entre as maiores causas de acidentes que levam à queimadura, 75% ocorrem dentro de ambientes domésticos, sendo mais frequentes em crianças: chama de fogo, contato com água fervente ou outros líquidos e objetos aquecidos. Líquidos inflamáveis, eletricidade e agentes químicos têm maior incidência em adultos4.

Em média, 30% dos indivíduos queimados apresentam o tórax como a região corporal mais atingida, incluindo edema da parede torácica, perda da elasticidade do tecido epitelial e dor. Decorrente desse fato, surge a dificuldade respiratória como causa de mortalidade. Foram importantes os progressos na qualidade da terapia de queimaduras nos últimos tempos, aumentando a longevidade dos indivíduos5.

A medida mais eficaz para o controle do índice de acidentes desse tipo é um forte trabalho de orientação e prevenção por meio de mobilização social e campanhas educacionais6.

Na Unidade de Queimaduras, encontram-se as competências necessárias para o tratamento de reabilitação física dos pacientes críticos, com grandes áreas queimadas, perdas cutâneas ou danos secundários, em fase aguda ou posterior à reconstrução cirúrgica7.

O enxerto de pele e o controle do processo de cicatrização fazem parte do tratamento da queimadura, podendo ocorrer infecções e possíveis sequelas8.

Em cada estágio da queimadura, o fisioterapeuta atua com recursos singulares, permitindo à lesão cicatrizar de maneira correta e evitando complicações. Isto aperfeiçoa os índices de recuperação, reduz sequelas e melhora física e psicologicamente a qualidade de vida, reintegrando o indivíduo ao convívio social9.

A rotina da pessoa acometida por esse tipo de acidente é reconfigurada mediante sua condição física atual, tornando-se um obstáculo para a retomada de seus afazeres tradicionais, o que implica diretamente no envolvimento familiar, vida sexual e rotina profissional, sendo necessária a reconstrução de sua autoestima10.

A presença do fisioterapeuta na unidade de queimados pode se fazer necessária, uma vez que este tem o conhecimento das sequelas sistêmicas e suas complicações, podendo acompanhar os objetivos clínicos e realizar as respectivas modalidades para um tratamento adequado, minimizando o quadro clínico e, consequentemente, o alívio da queixa principal do paciente.

Deste modo, esse trabalho tem como objetivo analisar a assistência da fisioterapia de forma precoce em pacientes nos diversos tipos de queimaduras.


MÉTODO

Foi realizada revisão descritiva dos últimos dez anos (2002-2012), com estratégia de busca elaborada utilizando artigos indexados nas bases de dados LILACS, SciELO, PubMed e Medline.

As palavras-chave e os termos descritivos mais encontrados nos resumos foram computados e uma carta de termos foi elaborada para compor combinações de palavras que possuíam a melhor sensibilidade e especificidade à pesquisa.

As palavras-chave escolhidas e os cruzamentos das palavraschave utilizadas com descritores encontrados no MeSH e DeCS foram: (Inglês: Physical Therapy Modalities; Português: Modalidades de Fisioterapia) AND (Inglês: Burn Units; Português: Unidade de Queimados); (Inglês: Physical Therapy Department; Português: Serviço Hospitalar de Fisioterapia) AND (Inglês: Burn Units; Português: Unidade de Queimados); (Inglês: Intensive Care Units; Português: Unidade de Terapia Intensiva) AND (Inglês: Burn Units; Português: Unidade de queimados) AND (Inglês: Physical Therapy Specialty; Português: Fisioterapia).

Após o relacionamento dos artigos, os resumos foram lidos para identificação de conteúdos que estavam de acordo com a revisão proposta.

Os critérios de inclusão dos artigos foram definidos a partir das questões investigadas, tipo de metodologia e idioma do texto (inglês e português).

Foram excluídos os artigos que, após o cruzamento das palavras-chave, não se relacionaram com o tema da pesquisa.


RESULTADOS

Foram encontrados nove artigos, sendo selecionados cinco que preencheram os critérios de inclusão (Quadro 1). Foram excluídos quatro artigos por serem de caráter de revisão bibliográfica.




DISCUSSÃO

No processo de pesquisa, a literatura mostrou-se escassa quando abordada a prática da fisioterapia dentro de uma Unidade de Queimados, embora tenha observado que são distintas as técnicas fisioterapêuticas aplicadas para o tratamento de queimaduras, variando conforme o tipo de lesão.

Segundo Borges1, as queimaduras podem causar, além de hiperemia restrita à área queimada, alterações celulares e imunológicas decorrentes do insulto e o envolvimento das vias respiratórias.

Rocha et al.5 acrescentam, citando que, decorrente disto, surge a questão a dificuldade respiratória como causa de mortalidade e informam que os progressos na qualidade da terapia de queimaduras nos últimos tempos colaboram para o aumento da longevidade. Com a fisioterapia respiratória, deve ser trabalhado o posicionamento do paciente, evitando o desenvolvimento de afecções secundárias, que poderão piorar os problemas respiratórios.

De acordo com Ferreira et al.8, o tórax encontra-se em 28,8% das regiões corporais mais afetadas em pacientes com caso de acidentes por queimaduras, apresentando edema da parede torácica, perda da elasticidade da pele e dor. Em seu estudo observacional, avaliaram alterações da pressão inspiratória máxima e da pressão expiratória máxima em pacientes com recurso de curativo oclusivo no tratamento de queimaduras, devido a menor utilização dos músculos respiratórios ocasionado por esse recurso, associaram-no com atividade física, observando a diminuição em 20% de PIMAX e PEMAX em pacientes que não a praticaram.

Em relação aos estudos de mecânica respiratória, Souza et al.9 relataram o caso em uma paciente com lesão inalatória, sendo esta a principal causa de morte em pacientes queimados, pelo maior tempo em ventilação mecânica, levando também à fraqueza dos músculos respiratórios. Em seu estudo, avaliaram o desmame com o tubo T, confirmando sua eficácia na melhora respiratória, possibilitando o retorno à respiração espontânea, diminuindo o risco de maiores complicações respiratórias associadas à ventilação mecânica.

Segundo Andrade et al.4, entre as maiores causas de acidentes que levam à queimadura, 75% ocorrem dentro de ambientes domésticos, sendo mais frequentes em crianças. A partir dessa porcentagem, o presente trabalho pesquisou tratamentos sobre crianças acometidas com acidentes de queimaduras, encontrando-se uma pesquisa realizada por Silva et al.3, no qual apresentam a balneoterapia, que consiste em uma terapia por meio de banhos, como um recurso terapêutico, combinando com uso do brincar. Concluíram que este torna o período de hospitalização menos doloroso, agressivo e incômodo. Andrade et al. 4 citam, ainda, o laser terapêutico, como um recurso valioso no tratamento de queimados, pela sua capacidade de induzir cicatrização rápida e organizada. Associado ao laser, Rocha et al.5 citam a crioterapia com a finalidade de aliviar a dor, o infravermelho, para aumento da mobilidade articular e reparo de lesões de tecidos moles, o ultrassom, com o objetivo de acelerar a síntese de fibroblastos e colágeno, e o TENS, para melhora da inervação sensorial.

Segundo Junior et al. 10, pacientes que sofreram queimaduras consideram que as modificações decorrentes do trauma resultam em prejuízo à qualidade de vida, devido às desvantagens experimentadas no cotidiano, tanto para dificuldade para conseguir determinado emprego, tempo gasto para cuidados com a queimadura, como relacionamento afetivo e sexual com o cônjuge, devido a suas limitações físicas e psíquicas. Em seu estudo observacional, avaliaram o impacto da queimadura na qualidade de vida em indivíduos após a alta hospitalar, concluindo que 38,11% dos casos obtiveram um trabalho de reabilitação, ajudando, assim, a diminuir os danos causados com a queimadura, melhorando a qualidade de vida e um retorno ao campo de trabalho.

Seguindo por essa linha de pesquisa, em qualidade de vida, Hettiaratchy et al.7 publicaram uma série de casos, avaliando, em fichas de internação, a evolução de pacientes após o tratamento fisioterapêutico, verificando que, em cada estágio da queimadura, a fisioterapia atua com recursos singulares, permitindo à lesão cicatrizar de maneira correta, evitando complicações e melhora da qualidade de vida, reintegrando o indivíduo ao convívio social, além de citar a unidade de queimaduras como um recurso necessário, combinando uma equipe bem praticada, com realizações rápidas e o fácil acesso às salas de operações.

Entretanto, Milka et al.6, em estudo observacional sobre o conhecimento de prevenção de queimaduras na população, a partir de um questionário em um hospital de Curitiba, avaliaram que somente 26,67% dos entrevistados demonstraram saber o que fazer em caso de um acidente de queimaduras, concluindo, assim, que programas de prevenção são necessários para produzir melhores resultados em relação ao custo-benefício da população. Dentre esses programas de prevenção, encontra-se o trabalho realizado por Costa et al.2, na Liga Acadêmica de Queimaduras, em Goiânia, onde realizam um projeto visando à conscientização da comunidade em relação a acidentes por queimaduras, envolvendo acadêmicos no trabalho científico e social voluntário.


CONCLUSÃO

A comprovação da eficácia do tratamento fisioterapêutico em Unidades de Queimados ainda necessita de ensaios clínicos controlados, pois a literatura se mostra muito escassa sobre esse desfecho.

Os desfechos analisados podem colaborar de forma eficaz para a evolução do caso clínico do paciente, diminuindo a sua queixa principal, sendo conciliado com programas de prevenção à população, resultando, assim, em diversos benefícios para a qualidade de vida física e posterior inclusão social após a lesão por queimaduras.


REFERÊNCIAS

1. Borges SF. Modalidades terapêuticas nas disfunções estéticas. Tratamento fisioterapêutico em pacientes queimados. 2a ed. São Paulo: Phorte; 2010. p.505-6.

2. Costa AP, Afonso CL, Demuner JMM, Moraes JM, Pires WC. A importância da Liga Acadêmica de Queimaduras. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(3):101-5.

3. Silva AKC, Azevedo Neta FC, Bessa MSH. O brincar como meio de intervenção terapêutica ocupacional na preparação de crianças para balneoterapia. Rev Bras Queimaduras. 2010;9(4):146-54.

4. Andrade AG, Lima CF, Albuquerque AKB. Efeitos do laser terapêutico no processo de cicatrização das queimaduras: uma revisão bibliográfica. Rev Bras Queimaduras. 2010;9(1):21-30.

5. Rocha MS, Rocha ES, Souza JP. Fisioterapia em queimados: uma pesquisa bibliográfica acerca dos principais recursos fisioterapêuticos e seus benefícios. Rev Campina Grande. 2010;9(1):1-11.

6. Milka LT, Bueno Netto RF, Toebe BL, Andretta MA, Prestes MA, Takaki LJ. Prevenção de queimaduras: avaliação do conhecimento sobre prevenção de queimaduras em usuários das unidades de saúde de Curitiba. Rev Bras Queimaduras. 2011;10(3):85-8.

7. Hettiaratchy S, Moloney D, Clarke J. Patients with acute skin loss: are they best managed on a burns unit? Ann R Coll Surg Engl. 2001;83(1):26-9.

8. Ferreira TCR, Carepa SS, Spinelli JL, Bastos JO, Costa LR. Avaliação da mecânica respiratória em pacientes queimados com curativo oclusivo. Rev Bras Queimaduras. 2011;10(2):50-6.

9. Souza TR, Santos RT, Olivatto RM. Treinamento muscular respiratório em lesão inalatória: relato de caso. Rev Bras Queimaduras. 2009;8(3):110-4.

10. Júnior GFP, Vieira ACP, Alves GMG. Avaliação da qualidade de vida de indivíduos queimados pós alta hospitalar. Rev Bras Queimaduras. 2010;9(4):140-5.

Autores: Vinícius Tassoni Civile; Camila Stefano Finotti

A importância da pós graduação no meu curriculo de Fisioterapeuta

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Eu comecei a minha faculdade de fisioterapiauqando já estava no quarto período da faculdade de Educação Física. Logo, me formei primeiro em Educação Física e dois anos depois, me formei em Fisioterapia. Quando me formei em Fisioterapia, meio ano depois, terminei minha pós graduação de treinamento desportivo. Nesse meio tempo fiz especialização em Estética, RPG e cursos de fisioterapia na dtm, biomecânica e anatomia.

As especializações determinaram a área que eu segui dentro da Fisioterapia. Sempre atuando com a área postural e com atletas amadores, participantes de corridas, maratonas e esportes de aventura, se eu não tivesse as especializações que eu fiz, seria complicado ter eficiência em alguns momentos, justamente pela especificidade.
E é essa especialização que, muitas vezes, falta ao profissional de Fisioterapia. Há muitos generalistas e poucos especialistas. E, as vezes, quem é especialista, que fez uma pós ou um curso mais longo, não trabalha na área escolhida por falta de oportunidade.

O mercado está competitivo, as boas oportunidades são disputadas, tem o risco do desemprego porque muitos se sujeitam a ganhar pouco, a área da saúde é bastante abrangente e possui diversas áreas de atuação. Porém, a busca por profissionais mais qualificados, com maior conhecimento na sua área de atuação, ainda faz da pós-graduação um diferencial devido à maioria dos profissionais que terminam a graduação não dão continuidade aos estudos. Por isso se tornou imprescindível, uma obrigação, passando a integrar um dos principais itens que compõe um currículo bem construído.

A ascensão profissional está ligada a especialização do seu curriculo, que valoriza o seu "passe".  No meu caso, que sempre teve consultório próprio,  essa valorização veio com os pacientes recuperados de uma forma mais rápida.  O conhecimento que adquiri e a visão que passei a ter da profissão foram as coisas mais importante que a pós graduação me deu. Além disso, a pós-graduação amplia a rede de contatos, proporciona o desenvolvimento profissional e a maturidade à carreira, serve de base para tomar decisões, para enfrentar novos desafios e ampliar o conhecimento. Os gerentes de RH hoje em dia valorizam os currículos que apresentam continuidade dos estudos, pois demonstra o interesse no aprimoramento do conhecimento, fator fundamental para a melhoria do trabalho, visando um atendimento qualificado na prestação de serviço aos clientes.

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A Fisioterapia é o conjunto de técnicas usadas no tratamento e na prevenção de doenças e lesões. Faz parte da especialidade de um fisioterapeuta prevenir, diagnosticar e tratar disfunções do organismo humano causadas por acidentes, má-formação genética ou vício de postura.

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Ele pode atuar em clubes esportivos, hospitais, centro de reabilitação, clínicas de fisioterapia e ortopedia, empresas e escolas. O fisioterapeuta também pode se especializar em acupuntura e, nesse caso, trabalhar em clínicas ou com atendimento particular.

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* Dados do GUIA DO ESTUDANTE Profissões Vestibular 2011


O efeito agudo da liberação miofascial e do alongamento por FNP em docentes com lombalgia idiopática

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Introdução

    Atualmente, parte da população sofre de disfunções na coluna vertebral devido às más posturas corporais adotadas durante o cotidiano, associado ao déficit de condicionamento físico, trabalho com cargas excessivas e tarefas repetitivas. Cerca de 70 a 80% dos indivíduos adultos em algum período de suas vidas são acometidos pela lombalgia, sendo uma das mais freqüentes complicações da saúde humana (SOUZA, 2009).

    Por apresentar uma etiologia multifatorial, a lombalgia pode estar associada a fatores sócio-econômicos e demográficos, estilo de vida urbano sedentário, obesidade, posturas viciosas durante o trabalho, aumento da sobrevida média da população e contraturas musculares (POLITO et al, 2003).

    A postura é um dos fatores que interfere no aparecimento desta sintomatologia, Jesus e Marinho (2006) descrevem o ortostatismo e a força da gravidade exercida sobre o corpo, causadores do aumento exagerado da lordose lombar, contribuindo para a tensão e fa­diga da musculatura paravertebral desencadeada pelas posturas inadequadas e mantidas por longos períodos.

    Sendo o encurtamento muscular uma das características do paciente com lombalgia, Polachini et al (2005) relata que um músculo encurtado tende a gerar diminuição da flexibilidade e dores freqüentes, resultando em limitação na mobilidade articular. A carência de flexibilidade na região do tronco e quadril, é um dos maiores fatores para o surgimento de dores lombares, onde os níveis de flexibilidade articular reduzido representam 80% dos quadros álgicos (ACSM apud ROSA; LIMA, 2009).

    Diversas são as associações de técnicas utilizadas pelos profissionais da área de fisioterapia como tratamento para a dor lombar. Nesse contexto, Calonego e Rebelatto (2002) afirmam em estudos que as técnicas de terapia manual baseadas em manobras miofasciais, além de se mostrarem eficazes, podem ser aplicadas nos quadros de lombalgia aguda. A miofasciaterapia é uma técnica que atua com mobilizações manuais da fáscia visando quebrar o espasmo muscular, aumentar a circulação local e diminuir a dor (MOURAD, 2005).

    Uma das causas da lombalgia trata-se do encurtamento muscular e conhecendo as vantagens e respostas da prática clínica do alongamento e da liberação miofascial na fisioterapia, é necessário observar os efeitos destas técnicas na diminuição desta sintomatologia do paciente, proporcionando um equilíbrio entre qualidade de vida, mobilidade e estabilidade, resultando em um bom desempenho funcional.

    A partir do exposto e pela carência de estudos do tratamento de docentes com esta sintomatologia, formulou-se a idéia desta pesquisa, a qual dispõe-se a analisar o efeito agudo da liberação miofascial e do alongamento por FNP em professores com lombalgia.

Materiais e métodos

    Esta pesquisa de caráter intervencionista com abordagem quantitativa, foi realizada no Laboratório de Cinesioterapia do Centro Universitário do Norte – Laureate International Universitiesno período de agosto a novembro de 2011, na cidade de Manaus/AM.

    Anteriormente à realização do estudo foi solicitada via ofício autorização para o desenvolvimento da pesquisa e houve resposta assinada pela direção da universidade permitindo sua realização. Os aspectos éticos envolvidos numa pesquisa com seres humanos foram observados no desenvolvimento do estudo, obtendo-se a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (em anexo) envolvendo seres humanos (CEP) do Centro Universitário do Norte.

    Para a composição da amostra foi realizada uma entrevista com quarenta professores selecionados de forma intencional do Centro Universitário do Norte que relataram apresentar lombalgia, dos entrevistados quinze fizeram parte da pesquisa, sendo cinco homens e dez mulheres. Foram excluídos do estudo aqueles indivíduos que não se encontravam entre a faixa etária de 25 a 55 anos, com a sintomatologia há menos de um ano possuindo o diagnóstico de outras patologias associada a lombalgia, que estivessem realizando algum tratamento e/ou utilizando-se de fármacos durante o período da pesquisa, assim como a incompatibilidade de horários entre os docentes e acadêmicos.

    No dia agendado, os docentes passaram por uma avaliação através da Escala Visual Analógica (EVA), uma régua gradu­ada de 0 a 10, na qual 0 significa ausência de dor e 10, a pior dor imaginável. Os participantes do estudo foram instruídos a marcar na escala o nível de dor no presente momento antes do atendimento.

    A avaliação da flexibilidade foi realizada em seguida com a utilização do flexímetro, consistindo em um inclinômetro gravidade-dependente, cuja escala é de um grau, preso a uma fita de velcro, os movimentos avaliados foram a flexão e extensão da coluna, além da flexão e extensão do quadril do hemicorpo esquerdo e direito de cada paciente, sendo coletado três mensurações para cada movimento avaliado a fim de realizar o cálculo da média, conforme protocolo idealizado pelo grupo de pesquisa.

    Durante a avaliação da flexão da coluna, o paciente foi posicionado em ortostatismo tendo a sua pelve estabilizada pelo avaliador, evitando a inclinação anterior. Com o mostrador do flexímetro posicionado lateralmente na região torácica, 15 cm abaixo da linha axilar, o paciente foi orientado a realizar a flexão da coluna.

    Para avaliar a extensão da coluna o paciente foi posicionado em ortostatismo, com suas mãos na parte posterior do quadril, tendo o mostrador do flexímetro posicionado lateralmente na região torácica, 15 cm abaixo da linha axilar. Quando orientado a realizar a extensão, o indivíduo não poderia projetar a pelve para frente e nem a flexionar os joelhos.

    Na avaliação da flexão do quadril, o paciente foi posicionado em decúbito dorsal na maca com o flexímetro a 30 cm da espinha ilíaca ântero-superior, sendo o mostrador posicionado na face lateral da coxa avaliada. A pelve do mesmo foi estabilizada evitando a elevação do quadril e o joelho contralateral mantido em extensão. Para minimizar a tensão proveniente do gastrocnêmio, o paciente realizou a flexão plantar durante a flexão do quadril.

    Para a extensão do quadril o paciente foi posicionado em decúbito ventral com a cabeça rodada lateralmente, fixando-se o flexímetro na face lateral da coxa avaliada a 40 cm da espinha ilíaca póstero-superior para que não houvesse alteração da angulação com alguma movimentação do joelho, com este estendido o paciente realizava a extensão do quadril. Durante a movimentação o avaliador estabilizava a pelve do paciente para evitar que o quadril perdesse o contato com a maca durante a realização do movimento.

    A etapa seguinte foi a realização do tratamento proposto na pesquisa, consistindo em uma única sessão, onde o paciente era avaliado e reavaliado no mesmo dia da aplicação das técnicas. Primeiramente foi realizada a liberação miofascial através das técnicas de dígito compressão dos pontos-gatilho e massagem transversa nos músculos quadrado lombar, paravertebrais, piriforme e isquiotibiais, seguida da realização de alongamento com técnica FNP nos músculos isquiotibiais, iliopsoas e paravertebrais.

    A técnica de dígito compressão ou dígito pressão, iniciou-se através da identificação e localização dos pontos-gatilho colocando o paciente em uma posição confortável, na qual o músculo afetado pudesse sofrer uma extensão completa. Após isto, foi aplicada uma pressão crescente de forma suave e gradual no ponto-gatilho, que foi sustentada até sentir que o mesmo estivesse aliviado, podendo durar de segundos a minutos.

    Em seguida, houve a aplicação da massagem transversa com o paciente em uma posição confortável na qual o músculo afetado pudesse sofrer uma extensão completa, foi identificado o quadrante da musculatura tensionada, e com a região tenar aplicou-se na direção transversal das fibras dos músculos a serem tratados deslizamentos profundos, até sentir o ponto-gatilho aliviado e o paciente referir ausência da dor.

    No alongamento com técnica de FNP para o músculo isquiotibial, o participante se posicionava em decúbito dorsal com a coxa contralateral a ser alongada, estabilizada em extensão pelo pesquisador. Com o joelho estendido, o quadril do avaliado foi fletido passivamente até o limiar de dor, sendo solicitado que o voluntário realizasse contração dos extensores do quadril contra a resistência aplicada pelo pesquisador durante 5 segundos. Ao relaxar a musculatura o voluntário tinha o quadril flexionado passivamente, com o joelho estendido, até referir novamente desconforto. Essa manobra foi repetida três vezes em cada membro.

    Para o músculo iliopsoas, o paciente se posicionava em decúbito dorsal à beira leito com a coxa contralateral a ser alongada estabilizada pelo pesquisador, que se encontrava ao lado do hemicorpo a ser alongado com suas mãos sobre a região distal do quadríceps, este solicitava ao avaliado que realizasse força contraindo os flexores do quadril durante 5 segundos contra a resistência aplicada pelo avaliador. Ao final da contração, o paciente relaxava a musculatura e logo em seguida tinha o quadril estendido passivamente com o joelho flexionado. Essa manobra foi repetida três vezes em cada membro.

    Por último foi aplicada a técnica de FNP nos músculos paravertebrais. Com o avaliado sentado sobre a maca, solicitou-se ao indivíduo que realizasse uma contração de 5 segundos contra a resistência imposta pelo pesquisador na região dorsal do paciente, ao término da contração a coluna do mesmo foi fletida passivamente. Esta manobra fisioterapêutica foi repetida três vezes.

    Após aplicação das técnicas, cada docente quantificava seu grau de dor através da EVA e relatava se havia ocorrido qualquer alteração sensório/motora durante o tratamento.

    A reavaliação através do flexímetro foi realizada, para o cálculo da média da flexibilidade pós tratamento, e cada participante juntamente com os pesquisadores analisava seus resultados, e comparava o grau de flexibilidade pré e pós tratamento.

    A descrição dos dados foi inicialmente compilada através de estatística descritiva da média, desvio padrão e coeficiente de variação. Após esta etapa foi realizada a estatística comparativa através do teste "t" de Student com nível de significância para "p" de 0,05. Foram também elaborados dois gráficos com os valores subjetivos de dor relatados pelos pacientes através da EVA, comparando os valores pré e pós atendimento do sexo masculino e feminino separadamente.

Resultados e discussão

    Na presente pesquisa todos os participantes apresentaram pontos-gatilho em um ou mais músculos avaliados, do total 80% dos docentes apresentaram quadrado lombar bilateralmente acometido, assim como no estudo de Lima et al (1999) onde este músculo foi diagnosticado como um dos maiores causadores da lombalgia. Estes mesmos autores citam o glúteo médio como importante estrutura envolvida na origem da dor lombar, porém em nossa estatística não houve confirmação deste dado, onde foi observado que os outros músculos mais acometidos foram os paravertebrais (66,66%), seguido do piriforme (46,66%) e isquiotibiais (33,33%), valores estes encontrados na tabela abaixo.

    Segundo Issy e Sakata (2010), em patologias com acometimentos miofasciais, a dor localizada é associada à presença de contraturas musculares e pontos-gatilho, causando dor referida ao serem comprimidos.

Tabela 1. Músculos com pontos-gatilho

    Nos gráficos a seguir são apresentados os resultados da avaliação de dor através da EVA dos docentes que participaram da pesquisa, comparando o grau de dor pré e pós tratamento fisioterapêutico com a utilização da liberação miofascial e alongamento com técnica de FNP, sendo o gráfico 1 a avaliação dos docentes do gênero masculino e o gráfico 2 do gênero feminino.

Gráfico 1. Escala Visual Analógica de dor dos docentes do gênero masculino

    Pelo gráfico acima podemos observar que todos os sujeitos da pesquisa apresentaram queixas de dor na região lombar, estando de acordo com o estudo de Delcor et al (2004) o qual encontrou em sua pesquisa sobre queixas de dores em professores, a presença de lombalgia na maioria dos pesquisados. Portanto, verificou-se a diminuição do quadro álgico em todos os participantes após o tratamento realizado, tendo dois deles chegado à zero na sensação de dor pós sessão, enquanto os demais ao valor um na escala.

Gráfico 2. Escala Visual Analógica de dor das docentes do gênero feminino

   Analisando-se o gráfico 1 e 2 é possível observar que independente do gênero dos docentes houve a diminuição dos quadros álgicos de todos os pacientes participantes do tratamento, tendo diminuído a dor a menos de 50% da escala na comparação pré e pós- tratamento.

    O grupo feminino, de acordo com Silvany et al apud Delcor et al (2004) representa a maioria dos profissionais que atuam como docentes. Ao término da sessão quatro sujeitos não relataram dor após o tratamento, sendo no total dez avaliadas. As demais apresentaram diminuição dos valores atribuídos a dor no pós tratamento.

    Os resultados apresentados corroboram com os estudos de Garcia e Souza (2009) os quais observaram as técnicas de liberação miofascial do tecido conjuntivo como recursos utilizados no tratamento das lombalgias, pois amenizam o quadro álgico, melhoram o aporte sanguíneo e recuperam a mobilidade das fáscias.

    Da mesma forma, Campelo (2008) afirma que através da utilização desta técnica, é possível proporcionar a desa­tivação de pontos-gatilhos, promover um alinhamento correto das estru­turas corporal, minimizar a restrição do movimento e a dor sem causar comprometimento das estruturas miofasciais.

    Na tabela 2, são apresentados os valores de média, desvios padrões e coeficientes de variação encontrados antes do programa de tratamento proposto e após o término do atendimento, dos docentes do sexo masculino, relacionados ao teste de flexibilidade de flexão e extensão da coluna e flexão e extensão do quadril de cada hemicorpo.

Tabela 2. Valores descritivos da avaliação da flexibilidade antes e depois do tratamento dos docentes do sexo masculino

    Analisando-se a tabela 2 é possível inferir que a amostra do sexo masculino tem uma característica relativamente homogênea na maioria das variáveis do estudo. Tendo como valor padrão para amostras heterogêneas o coeficiente de variação acima de 30% (MAGALHÃES; LIMA, 2009).

    Na comparação entre pré e pós-tratamento podemos observar que houve diferença significativa em todas as variáveis coletadas. Durante a avaliação da flexão da coluna, o ângulo médio antes do tratamento foi de 11,13 graus, tendo um aumento significativo para 36,53 graus ao término do atendimento.

    Este ganho de amplitude é muito importante para pacientes com lombalgia, pois a musculatura posterior do tronco limita esta ação, quando encurtada aumenta a compressão de uma vértebra sobre a outra, podendo aumentar ou acelerar o processo de formação de uma herniação discal, influenciando no quadro álgico destes pacientes. Da mesma forma Helfenstein Junior, Goldenfum e Siena (2010) afirmam que queixas freqüentes de dor na coluna lombar estão associadas à tensão da musculatura paravertebral decorrente de posturas incômodas e da degeneração precoce dos discos intervertebrais pelo excesso de esforço físico e posturas inadequadas por longos períodos de tempo.

    No movimento de extensão do tronco também foi apresentado um ganho de amplitude significativo, tendo praticamente dobrado este de 18,53 para 35,73 graus. Esta variável é de suma importância para o processo de reabilitação de um quadro álgico, pois a limitação neste movimento pode ser gerada por um encurtamento dos músculos Iliopsoas, tendo a sua inserção proximal no corpo da última vértebra torácica e em todas vértebras lombares. Este músculo quando encurtado bilateralmente pode gerar um aumento da lordose lombar, e seu encurtamento unilateral pode gerar rotação ou inclinação de uma vértebra lombar que estariam ligadas diretamente as alterações no alinhamento da mesma, auxiliando assim no aumento da dor do paciente (KISNER, 2005).

    Analisando-se a tabela 3 é possível inferir que a amostra do sexo feminino tem características relativamente homogêneas na maioria das variáveis desta pesquisa tanto antes quanto depois da aplicação das técnicas propostas no estudo. Tendo como valor padrão para amostras heterogêneas segundo Magalhães e Lima (2009) o coeficiente de variação acima de 30%.

Tabela 3. Valores descritivos da avaliação da flexibilidade antes e depois do tratamento dos docentes do sexo feminino

    Quando comparado os valores das médias pré e pós-tratamento é possível observar que as docentes também apresentaram um aumento significativo da flexibilidade em todas as variáveis após aplicação dos procedimentos. Entretanto, os valores de flexibilidade das mulheres antes do tratamento já apresentavam-se maiores que a dos homens concordando com os estudos de Kuo et al (1997) os quais observaram meninas apresentando maior grau de flexibilidade na musculatura do que os meninos e nenhuma variação significativa ocorre com o avanço da idade.

    Somando-se a esta discussão, Shiromoto (2002) afirma que a mulher possui maior flexibilidade quando comparada ao homem, seja por questões anatômicas, hormonais e/ou comportamentais, sendo as questões hormonais um grande agente na maior flexibilidade das mulheres, devido à menor densidade dos tecidos provocada pelo estrógeno, responsável pelo menor desenvolvimento de massa muscular.

    No que diz respeito aos ganhos de flexibilidade deste estudo, os homens obtiveram maior desempenho na flexão e extensão da coluna após o tratamento, contradizendo a literatura supracitada, porém na articulação do quadril as mulheres obtiveram maiores ganhos, estando de acordo com os achados de Carvalho et al (1998) onde mostraram que em relação à flexibilidade, as mulheres possuem de forma global, maiores ganhos que os homens.

    Wojtys et al apud Alcântara et al (2010) defende esta maior complacência em mulheres sendo associada ao aumento de temperatura e oscilações hormonais durante o ciclo menstrual, sobretudo de estrogênio, progesterona e relaxina.

    Com relação ao tratamento da lombalgia, inúmeras são as técnicas disponíveis na área fisioterapêutica podendo ser utilizadas e associadas para diminuição do quadro álgico do paciente. Deste modo, Hong et al apud Couto (2009) relatam em seu estudo a combinação da digito pressão e massagem transversa são técnicas eficazes para o alívio imediato da dor.

    Do mesmo modo, Campelo (2008) alega que a pressão exercida pela liberação miofascial aumenta o fluxo sanguíneo para a área afetada, promove melhora da oxigenação tecidual, desencadeia alterações bioquímicas locais, e conseqüentemente, facilita o alongamento da fáscia e da musculatura envolvida por ela.

Conclusão

    O presente estudo permitiu observar a diminuição imediata do quadro álgico e o aumento da flexibilidade da coluna e do quadril em todos os participantes da pesquisa de forma significativa, independente do gênero dos docentes. Quanto a avaliação dos músculos em relação aos pontos-gatilho, o quadrado lombar foi o mais acometido, seguido dos paravertebrais, piriforme e isquiotibiais.

    Na comparação entre os ganhos de flexibilidade com relação aos sexos feminino e masculino, os homens obtiveram maior desempenho na flexão e extensão da coluna após o tratamento, enquanto as mulheres apresentaram melhores resultados na articulação do quadril, demonstrando a eficácia da associação das técnicas escolhidas para a pesquisa. Entretanto, os valores de flexibilidade das mulheres antes do tratamento já apresentavam-se maiores que a dos homens.

    Por fim, vale destacar a importância da realização de novos estudos que reproduzam a metodologia usada nesta pesquisa para avaliar seus efeitos a longo prazo sobre a flexibilidade e diminuição do quadro álgico, utilizando um maior número de docentes, a fim de observar se tais resultados serão mantidos.

Referências

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Autores:

Raíssa Caroline Brito Costa* | Anderson Reges Ferreira*

Renata de Brito Bezerra* | Renato Carlos de Queiroz*

Cristiane Aschidamini** | Jansen Atier Estrázulas**

jansenef@hotmail.com


Pilates sobre cadeira de rodas

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Cadeirantes podem fortalecer músculos e melhorar a qualidade de vida com o Pilates? - Portadores de necessidades especiais como os cadeirantes têm o Pilates como grande aliado no dia a dia. Com o médoto é possível trabalhar diversos grupos musculares de forma não agressiva e inteligente proporcionando benefícios como alongamento e maior controle corporal, correção postural, maior flexibilidade, além de tônus e força muscular.

Cadeirantes podem fortalecer músculos e melhorar a qualidade de vida com o Pilates Portadores de necessidades especiais como os cadeirantes têm o Pilates como grande aliado no dia a dia. Com o médoto é possível trabalhar diversos grupos musculares de forma não agressiva e inteligente proporcionando benefícios como alongamento e maior controle corporal, correção postural, maior flexibilidade, além de tônus e força muscular.

De acordo com os fisioterapeutas Michel Salgado e Sérgio Machado, sócios-fundadores e diretores da Metacorpus Studio Pilates, a atividade física específica para pessoas com lesão medular é fundamentada no condicionamento físico baseado em seis princípios fundamentais como: concentração, controle, power house, movimento fluido, respiração e coordenação motora. "Até pouco tempo, o tratamento de pacientes com lesão medular estava restrito à prevenção de danos à medula espinhal, limitando o tratamento fisioterápico à reabilitação intensiva.

Com o aumento da expectativa de vida dessas pessoas e o ganho social para sua maior acessibilidade de mobilidade, o processo de reabilitação desviou-se da preocupação de sobrevivência e tem foco na melhoria da qualidade de vida e no aumento da independência", avalia o fisioterapeuta Michel Salgado. Entre os vários benefícios proporcionados pela prática do Pilates Michel Salgado destaca o alongamento e maior controle corporal; a correção postural; mais flexibilidade; melhora no tônus e força muscular;alívio de tensões, estresse e dores crônicas; desenvolvimento da consciência corporal; melhora da mobilidade das articulações; estimulação do sistema circulatório e oxigenação do sangue; fortalecimento dos órgãos internos; melhora da capacidade respiratória e aumento da sensação geral de bem estar. "Deve-se trabalhar bem a questão do aumento da força em membros superiores uma vez que esta musculatura sofre sobrecarga.

É importante gerar uma harmonia dos movimentos estimulando maior coordenação motora na execução das atividades diárias", completa o fisioterapeuta Sérgio Machado. Atividade física acessível Nascido em 1880, Joseph Pilates criou um repertório de exercícios que eram executados no solo. Residente na Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial, foi feito prisioneiro e transferido a um campo de trabalho britânico, onde aprimorou seus movimentos com auxílio de molas e macas para reabilitar soldados feridos. De acordo com a fisioterapeuta Tatiana Kasahara, proprietária de três unidades da rede Metacorpus, a evolução dos pacientes portadores de lesão medular, assim como as respostas destes às aulas de Pilates, são imprevisíveis. As funções sensitivas, motoras e funcionais preservadas abaixo do nível da lesão apresentam padrões variáveis de recuperação. É importante que o paciente tenha o mínimo de controle de tronco para frequentar as aulas, alguns exercícios podem ser feitos na própria cadeira de rodas.

Ainda segundo Tatiana Kasahara,é importante para este público que passa a maior parte do tempo na mesma posiçãoter aulas buscando melhorar a capacidade respiratória, uma vez que ele é incentivado a utilizar a mobilidade de todo tórax de modo a dificultar o surgimento de possíveis doenças como pneumonias. Da mesma forma, o Pilates para portadores de lesão medular auxilia no trabalho dos órgãos internos e musculaturas profundas, oferecendo melhora no funcionamento intestinal. "Muitos alunos nos relatam este tipo de melhora. Exercícios específicos para controle e sustentação do tronco, fortalecimento de membros superiores para facilitar transferências de peso para outros locais (carro, cama, cadeira, sofá) e estímulos de equilíbrio", afirma Tatiana. Para o treino com paraplégicos, por exemplo, são utilizados bolas, elásticos e os próprios equipamentos de Pilates.

"O exercício é um ótimo aliado não só da performance motora como também da autoestima. Mesmo aqueles que precisam de auxílio para realizar os exercícios devem sempre ter em mente que ele será responsável pelos cuidados com o próprio corpo. Alguns exercícios do Pilates quando praticados no dia a dia proporcionaram a nossos alunos independência e autonomia, bem como maior equilíbrio estático e dinâmico", avalia Tatiana.

FONTE


Aspectos positivos e negativos do programa de ginástica laboral em uma empresa de call-center

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   A Revolução Industrial foi um movimento que constituiu em um conjunto de mudanças tecnológicas, impactando todo processo produtivo em nível econômico e social. Ocorrida na Europa, a partir do século XVIII, dando início ao processo de industrialização que vem perpetuando até os dias atuais (RESENDE et al, 2006).

    Após este marco histórico, houve uma expansão das tecnologias e conseqüente globalização com o aparecimento de novas profissões das quais podemos citar o teleatendimento, segundo a CLASSIFICAÇÃO BRASILEIRA DE OCUPAÇÕES (CBO, 2002), se baseia em uma estrutura organizacional que compreende postos de trabalho para atendimento ao cliente por meio de um terminal de computador e um aparelho telefônico.

    Como descrito por SILVA (2004), os agravos á saúde ocasionados pelas atividades aos funcionários são de ordem física e mental sendo que os aspectos psicoafetivos e relacionais recebem um enfoque diferenciado devido à falta de contato pessoal com o cliente, leitura de script, pausas monitoradas e metas a serem cumpridas.

    As empresas de call-center preocupadas com a produtividade e a qualidade do atendimento começaram a procurar programas de promoção da qualidade de vida como a Ginástica Laboral para minimizar alguns efeitos negativos do trabalho dos teleatendentes.

    Segundo LIMA (2005), o primeiro registro encontrado sobre Ginástica Laboral foi em um pequeno livro chamado Ginástica de Pausa, editado na Polônia em 1925, direcionado aos operários das indústrias. Alguns anos depois esta prática se estendeu para outros países como Holanda e Rússia, sendo que no Brasil, os primeiros registros encontrados da prática da Ginástica Laboral objetivando a promoção da qualidade de vida, foram nos estaleiros da Ishikawajima do Brasil, localizado na cidade do Rio de Janeiro. A partir deste momento ela passa a ser praticada por vários setores, sendo introduzida por profissionais de Educação Física, mas somente a partir de 1990 que a Ginástica Laboral ganhou importância e espaço nas discussões acadêmicas e empresarias.

    A Ginástica Laboral aparece na literatura como sendo o planejamento e execução de exercícios determinados, regulares e sistematizados que objetivam o incremento permanente e progressivo da amplitude do movimento de uma articulação, a minimização do encurtamento muscular e de outras estruturas, o combate às disfunções osteomusculares e o favorecimento da melhoria da qualidade de vida geral e bem-estar do trabalhador, (LIMA, 2005).

    Na visão de diferentes autores ALVES e VALE (1999), MENDES (2000), OLIVEIRA (2006) e PIMENTEL (1999), a Ginástica Laboral pode ser classificada em quatro tipos: Ginástica Laboral Preparatória, Compensatória, Relaxante e Corretiva.

    A Ginástica Laboral Preparatória consiste em exercícios realizados antes da jornada de trabalho, com o objetivo principal de preparar o indivíduo para o início do trabalho, aquecendo os grupos musculares solicitados em suas tarefas, despertando-os para que se sintam mais dispostos (ALVES e VALE 1999).

    A Ginástica Laboral Compensatória é definida por MENDES (2000), como alongamentos específicos de acordo com a demanda das atividades laborais praticados durante o expediente de trabalho, tendo como objetivo aliviar tensões e fortalecer os músculos do trabalhador.

    Segundo OLIVEIRA (2006), a Ginástica Laboral de Relaxamento são exercícios praticados após o expediente de trabalho, com o objetivo de proporcionar relaxamento muscular e mental aos trabalhadores.

    Para PIMENTEL (1999), a Ginástica Laboral Corretiva visa combater e, principalmente, atenuar as conseqüências decorrentes de aspectos ergonômicos inadequados ao ambiente de trabalho.

    Um programa de Ginástica Laboral pode ter um impacto positivo em uma empresa, pois a mesma estará investindo na saúde dos seus trabalhadores, por meio da instituição de pausas, proporcionando a quebra de possíveis vícios posturais, do ritmo de trabalho, descanso visual e auditivo e pela descontração do ambiente de trabalho. (RESENDE et al., 2006)

    Em contrapartida autores como, MACIEL et al (2005), citam algumas desvantagens associados à realização da Ginástica Laboral como a realização de exercícios físicos com as roupas de trabalho, o local inapropriado para a prática de atividade física e o constrangimento de se fazer exercício frente ao colega e de chefes.

    Mediante a estas informações, este artigo tem como objetivo verificar os aspectos positivos alcançados com a prática da Ginástica laboral, bem como verificar os aspectos negativos que possam comprometer o prosseguimento da prática em uma empresa de call-center situada na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Materiais e métodos

    Este estudo foi realizado em uma empresa de call-center situada na cidade de Belo Horizonte nos meses de setembro e outubro, com o objetivo de verificar os aspectos positivos e negativos alcançados com a prática da Ginástica Laboral.

    Para seleção da amostra, foi convidada a participar do estudo uma equipe composta por 24 teleatendentes, todas do sexo feminino, que demonstraram grande interesse pelo assunto e disposição em colaborar com o estudo.

    Os funcionários que concordaram em participar da pesquisa assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) que relata os principais riscos, benefícios e política de privacidade da pesquisa.

    O estudo experimental se baseou no tipo descritivo através de dois questionários compostos por perguntas de múltipla escolha, sendo que o primeiro foi entregue no início do estudo juntamente com TCLE (Termo de Consentimento Livre e Esclarecido) e o segundo ao final para mensuração dos resultados obtidos. Sendo que os dois questionários continham os mesmos dados e os seguintes domínios a serem analisados: Dores articulares e musculares, procura ambulatorial, absenteísmo, disposição, sensação de cansaço muscular, postura, humor, estresse, concentração, dores de cabeça e tensão.

    O tipo de Ginástica aplicada foi a Preparatória ou de aquecimento, realizada no início do expediente com duração aproximada de 15 minutos e freqüência de 3 vezes na semana. As aulas foram bastante diversificadas, mas mantendo o objetivo de fortalecer as musculaturas dos membros superiores e da coluna vertebral. Várias dinâmicas de grupo foram desenvolvidas para trabalhar à descontração, concentração, equilíbrio, coordenação motora e trabalho em equipe. Neste estudo uma aula de reeducação postural foi desenvolvida para correção da maneira de se sentar no P.A (Posto de Atendimento) e após alguns dias, foi feita uma Blitz postural para verificar se colocaram em prática a aula aplicada.

Resultados

    O presente estudo foi realizado nos meses de setembro e outubro de 2008 com a participação de 24 teleatendentes, todas do sexo feminino de uma empresa de call-center situada na cidade de Belo Horizonte. Destas, quando perguntado sobre tempo de trabalho que tinham na função de teleatendimento, relataram períodos entre 1 e 22 meses, referente ao grau de escolaridade, 79% possuíam o 2º grau completo, 12% possuíam 3º grau incompleto e 9% tinham o 3º grau completo. A idade média das participantes foi de 21 anos e nenhuma possuía outro emprego.

    Quando perguntadas sobre dores articulares e musculares, procura ambulatorial, absenteísmo, disposição, sensação de cansaço muscular, postura, humor, estresse, concentração, dores de cabeça e tensão as figuras a seguir demonstram descritivamente as respostas de antes da prática e após da Ginástica Laboral.

Figura 1. Distribuição do percentual das teleatendentes em relação

à disposição, concentração e postura antes e após a Ginástica Laboral

    Houve melhora significativa nos quesitos de disposição, antes das aulas de Ginástica Laboral era de 68% e após a pratica 86%, a concentraçãoantes das aulas era de 82% e após atingiu os 100% e a posturaantes das aulas era 57% e após as aulas de Ginástica Laboral chega-se a 82%.

Figura 2. Distribuição do percentual das teleatendentes em relação à dores musculares e articulares,

procura ambulatorial, sensação de cansaço muscular e mau-humor antes e após a Ginástica Laboral

    Diminuíram significativamente os quesitos relacionados a dores musculares e articulares, que antes das aulas de Ginástica Laboral era de 64%, após a prática caiu para 22%, a procura ambulatorial que caiu de 28% para 4%, sensação de cansaço muscular que antes das aulas era de 79% e após as aulas de Ginástica Laboral foi para 34% e até o mau-humor diminuiu de 59% para 33% após a prática das aulas.

Figura 3. Distribuição do percentual das teleatendentes em relação ao estresse,

insônia, dores de cabeça e tensão no trabalho antes e após a Ginástica Laboral

    O estresse que era de 37% também diminuiu para 13% após a pratica das aulas de Ginástica Laboral, a insônia entre as participantes era de 32% e após uma atividade física regular que Ginástica Laboral propicia caiu para 9%. As dores de cabeça diminuíram, foi notada uma queda significativa antes e após as aulas de 56% para 36%. A tensão no trabalho também caiu após as aulas de Ginástica Laboral de 54% para 4%.

Figura 4. Distribuição do percentual das teleatendentes

em relação ao absenteísmo antes e após a Ginástica Laboral

    O quesito de absenteísmo diminuiu após as aulas de Ginástica Laboral, mas podendo ter tido melhores resultados. Tudo isso devido à insatisfação ao da maioria, gerando atestados médicos, as faltas caíram de 56% para 45%.

Figura 5. Distribuição do percentual das teleatendentes em

relação à produtividade antes e após a Ginástica Laboral

    Com a implantação da prática da Ginástica Laboral na empresa e em especial nesta equipe, a motivação era perceptível, pois demonstrou a preocupação da empresa com os seus funcionários, tendo reflexo direto na produtividade que antes da Ginástica Laboral era de 23% e após foi para 31%.

Discussão

    Os resultados indicaram que a amostra em sua totalidade teve predominância do sexo feminino, a faixa etária jovem com idade média de 21 anos e a maioria com o segundo grau completo. Um estudo realizado por VILELA (2004), em uma empresa de teleatendimento o autor também descreve uma população onde o predomínio é do sexo feminino (70%), em uma faixa etária abaixo dos 30 anos (90%) e com segundo grau completo (72%). Resultados semelhantes também foram encontrados por RESENDE et al (2006). O que indica que apesar da amostra do presente estudo ser pequena é equivalente à população geral de teleatendentes em Belo Horizonte.

    Alinhado a análise ergonômica do trabalho, a inclusão de reeducação postural nas aulas de Ginástica Laboral obteve resultado significativo. Estudos realizados por TOKARS, (2001), mostraram que utilizando a análise ergonômica e a Ginástica Laboral em operadores de solda, favoreceu a inter-relação entre o homem e a máquina. Segundo MIYAMOTO et al, (1999), os exercícios executados durante a jornada de trabalho, mesmo que em um curto período de tempo, também podem contribuir para a melhora da postura e relaxamento dos funcionários participantes. A afirmação destes autores reforçam os resultados encontrados em relação à disposição, pois após as aulas de Ginástica Laboral as teleatendentes voltaram para o trabalho mais dispostas e mais concentradas.

    Autores como MENDES (2004), PINTO et al (2000) e ZILLI (2002), encontraram impactos positivos da Ginástica Laboral sobre a saúde dos funcionários e/ou ambiente de trabalho. O que também pode ser demonstrado no nosso estudo através da queda de queixas relacionadas a dores musculares e articulares e sensação de cansaço muscular. Segundo ROCHA (1999), a maioria dos funcionários que participam de um programa de Ginástica Laboral apresentaram melhoras nos mesmo quesitos.

    A procura ambulatorial caiu de maneira significativa, através de um feedback do supervisor da população amostral, que relatou que os casos que ainda ocorreram durante o estudo foram esporádicos e resolvidos na hora. A inclusão de dinâmicas de grupo nas aulas de Ginástica Laboral alcançou bons resultados referentes ao mau-humor. As dinâmicas aplicadas ao grupo tiveram objetivos de quebrar a rotina das aulas de maneira descontraída, surgindo efeito direto ao humor.

    KIRTA (1999) relata que o relaxamento consciente é um grande aliado contra o estresse, sendo positivo proporcionar aos trabalhadores momentos em que ele posa relaxar o corpo, lembrando que devem melhorar seus hábitos respiratórios. A Ginástica Laboral propicia aos seus participantes momentos como este, tendo reflexo direto na queda do estresse e na tensão no trabalho. Resultados semelhantes foram encontrados por REZENDE et al, (2004), os teleatendentes relataram melhora do cansaço, dores no corpo e do estresse, além de maior disposição para o trabalho e melhor integração com os colegas de trabalho.

    Em relaçãoàs dores de cabeça houve uma queda significativa, mas não referenciando somente às aulas de Ginástica Laboral, pois no estudo realizado, pode-se perceber que muitas teleatendentes necessitavam do uso de óculos para trabalhar e assim não faziam, foi pedido então a elas que providenciassem os óculos para o uso no trabalho.

    A prática da Ginástica Laboral não deve ser compreendida somente como um exercício físico realizado no trabalho, mas também como uma oportunidade de reeducar hábitos de vida para aumentar a capacidade para executar as atividades laborais e para enfrentar a rotina do dia-a-dia. O mais convincente dos argumentos que se pode utilizar para demonstrar que atividade física constitui um importante instrumento de promoção a saúde e da produtividade segundo POLLETO e AMARAL (2004), é que vale a pena praticar exercícios físicos regularmente, em virtude dos benefícios comprovados cientificamente. Reflexo desta afirmação é vista na diminuição da incidência de insônia, pois boa parte das teleatendentes iniciou um programa de atividade física regular alcançando benefícios visíveis como este.

    A Ginástica Laboral aliada a outros atributos da ginástica, a ergonomia e os benefícios oferecidos pela empresa, refletem diretamente na produtividade, como se pode observar na tabela 3. O retorno financeiro que a Ginástica Laboral tem trago para as empresas tem sido muito significativo. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos indicam que, para cada dólar investido em programas de qualidade de vida, são economizados três dólares, incluindo assistência médica, absenteísmo, turnover, além do aumento de produtividade OLIVEIRA (2007). No presente estudo é visível o impacto na produtividade que houve aumento significativo de 8%, o que é de grande interesse para empresa, funcionários relaxados, motivados e sem sentir dores produzem mais. Seguindo a mesma idéia, FERREIRA (1998), exemplifica: na Du Ponte do Brasil, para cada dólar investido no programa, a empresa economiza U$$ 4.00 com redução do número de licenças e despesas médicas, além de relatar um aumento da produtividade.

    Ao investir em um programa de Ginástica Laboral a empresa mostra a preocupação com a qualidade de vida, oferecendo mais um benefício ao funcionário. Sendo assim a insatisfação com a empresa diminuiu, fazendo com que o número de atestados médicos e faltas sem justificativas diminuísse.

    Durante estes dois meses de aplicação do programa de Ginástica Laboral, também foram encontrados alguns aspectos negativos como falta de espaço para realização das aulas, roupas inadequadas para realização das aulas e agitação da equipe após as aulas. Estes aspectos negativos são semelhantes aos encontrados no estudo de MACIEL et al (2005), que citam algumas desvantagens associados a realização da Ginástica Laboral como a realização de exercícios físicos com as roupas de trabalho, o local inapropriado para a prática de atividade física e o constrangimento de se fazer exercício frente ao colega e de chefes imediatos.

    Não foi considerável o aspecto relacionado às roupas para realizar os exercícios físicos, já que a população amostral não necessitava do uso de uniformes e sendo a empresa bastante flexível com relação a este quesito. As aulas aconteceram fora do ambiente de trabalho, em um espaço aberto, e algumas teleatendentes se sentiam inibidas em realizar os exercícios em ambiente aberto. Para minimizar este problema, foram alternadas aulas fora e dentro do local de trabalho, concentrando as aulas como dinâmicas de grupo fora do ambiente de trabalho.

    O feedback do supervisor foi bastante significativo, e pudemos perceber que a equipe ao retornar das aulas de Ginástica Laboral, ficava bastante agitada nos primeiros 5 minutos. Mas estes 5 minutos não impactaram na qualidade de atendimento e muito menos na produtividade, como ilustra o gráfico 3, sendo relatado pelo supervisor que após estes minutos de agitação a equipe tinha um melhor rendimento.

Considerações finais

    A implantação da Ginástica Laboral propicia uma relação de benefícios alcançados aos dois lados da relação do trabalho. A princípio os trabalhadores podem até acreditar que a empresa será a única a se beneficiar com o programa de Ginástica Laboral, mas ambos saem beneficiados. É interessante, entretanto, notar que a ginástica por si só, não altera resultados significativos, se não houver uma elaborada política de benefícios sociais, além de estudos ergonômicos, da colaboração dos gerentes, dos técnicos de segurança do trabalho, dos médicos ocupacionais e dos profissionais de recursos humanos.

    Fica evidente, portanto, que a Ginástica Laboral é eficiente na melhoria da qualidade de vida do trabalhador e alcançou expressiva melhora no desempenho das teleatendentes nos vários quesitos avaliados e que independentemente dos aspectos negativos encontrados os benefícios alcançados pela prática são mais significativos, valendo a pena as empresas investirem neste tipo de programa.

Referências

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AUTOR:

Ana Carolina Polignano Rates*

Prof. Ms. Renata Mônica Silva Amaral**

Prof. Dr. Sérgio Ricardo Magalhães**

sergio.magalhaes@unincor.edu.br

Relação fisioterapeuta-paciente e a integração corpo-mente: um estudo de caso

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Apesar de o avanço cultural e tecnológico ter possibilitado a cura para muitas patologias, notam-se, ainda, freqüentes discussões sobre as dificuldades para se dar conta das múltiplas demandas da relação profissional-paciente. No intuito de colaborar para essa discussão, destaca-se o objetivo desta pesquisa: abordar, através de um estudo de caso, algumas das questões relacionadas às relações corpomente nesse contexto dialógico, buscando contribuir para discussões interdisciplinares entre pesquisadores e profissionais de ambas as áreas envolvidas, no sentido de gerar novas perspectivas de abordagem dessas relações.

 

Relação fisioterapeuta-paciente

Desde muito tempo, estuda-se a relação entre corpo e alma. Inicialmente, o corpo foi considerado exclusivamente instrumento da alma, mas, com o dualismo cartesiano, corpo e alma passam a ser considerados duas substâncias diferentes e independentes. Essa forma de pensar influenciou e influencia até hoje o pensamento médico-científico ocidental, que passa a conceber o corpo fragmentado em duas partes : fisiológico e psicológico, destinando a diferentes especialistas o cuidado de cada uma de suas partes . Nasce, aqui, a dificuldade da fisioterapia em considerar a dialogia corpomente, com implicação direta na relação fisioterapeuta-paciente.

Para o fisioterapeuta, tratar o paciente representa, muitas vezes, uma rotina: ele já está familiarizado com as doenças, seus sintomas, as reações dos pacientes e as restrições do tratamento, o que o leva a preocupar-se somente com a solução da queixa física do paciente. Expectativas e emoções diante da limitação física e do próprio tratamento não são, comumente, consideradas relevantes pelo profissional para o sucesso do tratamento. É preciso considerar que a experiência de estar próximo ao sofrimento de outros (in)sensibiliza os profissionais que, por vezes, se recusam a conhecer as circunstâncias de vida do paciente, evitando o confronto com seus sentimentos, isso talvez pela crença de que sua formação profissional não abarque esses possíveis aspectos da vida humana (Boesch, 1977), o que é legitimado, em parte, pela estrutura curricular dos cursos de formação profissional. Existe também a idéia – compartilhada por pacientes, familiares e profissionais – de que o afastamento emocional é facilitador da objetividade que acompanha a competência para a cura. Assim, conforme Boesch, o profissional desenvolve mecanismos de defesa que, dentre outras consequências, tenderão a substituir o indivíduo pelo caso clínico, convertendo a relação fisioterapeutapaciente em mais uma experiência técnica, reforçando o pensamento dicotômico corpomente e favorecendo o caráter rotineiro da atividade do profissional, ao evitar que ele se veja, a cada contexto socioemocional dos diversos pacientes, diante do desconhecido, do imprevisível, para o qual ele não se sente preparado.

Já para o paciente, as modificações decorrentes do processo de doença se iniciam antes de ele procurar o profissional. O paciente passa por um período – de duração variada – entre os primeiros sinais da doença e a rendição em aceitar o papel de doente, papel esse que tem seu significado variável de acordo com a cultura na qual o indivíduo se insere, podendo ser visto como fraqueza e equiparado ao fracasso, o que causa transtornos sociais, econômicos e emocionais e envolve o paciente e também sua família (Boesch, 1977). Portanto, nesse período, ele busca preservar sua autonomia funcional, tentando superar e minimizar a importância dos sintomas. Assim, para o paciente, a doença não é um fato corriqueiro, com manifestações conhecidas e soluções previsíveis, mas uma ameaça à sua integridade, não apenas física mas também psicossocial, o que lhe impõe um olhar intuitivamente mais integrado quanto à relação corpo-mente.

Nessa perspectiva, os papéis do fisioterapeuta e do paciente são construídos com base nas elaborações cognitivo-afetivas pessoais das sugestões culturais. Essa construção é um processo interativo que evidencia a assimetria inerente às relações sociais em geral. Da parte do profissional, inclui a elaboração de mensagens culturais com relação ao que é esperado da pessoa que ocupa aquele lugar: estabelecimento de regras, regulação de experiências e direção de comportamentos. São expectativas exigentes, mas prazerosas, porque propiciam algum sentimento de poder. Já o papel de paciente exige colocar-se no lugar de doente, o que é pouco prazeroso e bastante ameaçador.

A relação fisioterapeuta-paciente denota, então, a existência de perspectivas diferentes e irredutíveis com respeito à relação eumundo da fisioterapia: uma vivida pelo paciente – que envolve expectativas e medos baseados em aspectos sociais, culturais e emocionais de seu momento de vida – e outra pelo profissional da saúde – que tem suas preocupações voltadas para o caso clínico –, o que gera tensão, característica das relações interpessoais baseadas no diálogo, conforme Marková (1997). E é no bojo desse desequilíbrio cognitivo e afetivo, conforme a perspectiva de Simão (2000), que pode se dar a emergência de novos conhecimentos tanto sobre possibilidades e prognósticos para o quadro clínico como sobre maneiras de maximizar possibilidades interativas que os efetivem no tratamento. Assim, a vivência de uma contradição experimentada internamente poderá levar à tomada de consciência de que uma determinada idéia ou expectativa com que fisioterapeuta ou paciente operavam não lhes serve mais, o que acarreta sua transformação e, mais amplamente, seu desenvolvimento.

 

A dialogia fisioterapeutapaciente

A reflexão advinda da idéia de que a vida de um indivíduo após algum evento – benéfico ou maléfico – nunca tem sua forma original restaurada nos remete ao potencial de mudança do ser humano: o vir a ser , conforme Boesch (1991); essa idéia é freqüentemente vivenciada nas relações entre fisioterapeuta-paciente diante de um episódio de doença, em que o desejo de continuar igual ao que se era se potencializa, pois há a ameaça de mudar para pior , que se torna assustadora para o paciente, para o fisioterapeuta e até mesmo para os grupos culturais aos quais pertencem. Dessa forma, é comum o paciente dizer: Gostaria que minha vida voltasse a ser exatamente como era e o terapeuta reforçar: Procuraremos deixar sua vida como se nada tivesse acontecido .

Esse tipo de discurso traz a presença do futuro, como antecipação e imaginação, orientando a ação presente, isto é, o indivíduo está constantemente movendo-se do que é no minúsculo presente em direção ao ainda não determinado momento futuro (Abbey & Valsiner, 2003). Esse movimento determina o novo presente, sendo a base para a próxima incerteza do futuro, que é então superada, infinita e irreversivelmente, o que ocorre por mediação semiótica, isto é, por um mecanismo funcional que transforma o futuro esperado (incerto, com possibilidades múltiplas) na possibilidade realizada e certamente acontecida (Simão, 2002), denotando um desenvolvimento baseado na incerteza. Quando em um tratamento fisioterapêutico, avançamos em exercícios com maior dificuldade, e é usual que a primeira atitude do paciente seja a rejeição ao exercício novo, segurando-se naquilo que já é capaz de fazer, em vez de enfrentar algo que não tem certeza se alcançará. Ao realizarmos esse avanço, oportunizamos ao indivíduo vivenciar essa ambivalência e encontrar mecanismos internos para a resolução desta, contribuindo para o desenvolvimento tanto no nível fisioterapêutico (melhora física) como no nível pessoal (melhora das capacidades de resolução de conflitos que envolvem incertezas e de projeção de um determinado futuro). Vale lembrar que a escolha do profissional e a permanência com este passam pelo sucesso ou insucesso da resolução desses conflitos, o que inclui empatia e confiança (Boesch, 1991). Tomando as proposições de Boesch (1991) e Simão (2002), a empatia se torna uma necessidade: fisioterapeuta e paciente precisam ser capazes de ler as intenções, discernir sentimentos, compreender gestos e captar os significados manifestos e latentes da linguagem de ambos, a fim de avaliar sua importância para os próprios objetivos, antecipando ações e reações, e de inferir sua avaliação sobre o outro. Ao entrar em contato com manifestações de algum sentimento experimentado pelo outro, fisioterapeuta e paciente aprendem as razões de esse sentimento ocorrer no outro e, em conseqüência, a conotação daquele sentimento para si próprio se alarga (Boesch, 1991).

 

A dialogia na corporeidade

Para que uma pessoa se exprima enquanto corpo que realiza seus próprios desejos, é necessário que ela cresça não em sua individualidade absoluta, mas em suas relações com os outros e com o mundo (Gonçalves, 1994); aqui, particularmente, em sua relação com o fisioterapeuta. O contexto da fisioterapia, que busca a Reeducação Postural Global (RPG), toca a contínua (re) construção de um corpo, uma morada onde realizar a centralização e a unidade da pessoa (Denys-Struyf, 1995). Assim, nossos estados de tensão, nossas emoções, nossa maneira de ser, se exprimem através do sistema músculo-aponevrótico, influenciando nossa postura e nossos gestos, em uma relação dialógica. Portanto, a imagem do corpo passa pelas funções centrais da personalidade, enquanto representatividade do indivíduo para o mundo (Abraham, 1963), sendo, um fenômeno social (Schilder, 1980), revelando instantâneos na vida de uma pessoa (Denys- Struyf, 1995).

Quando o paciente se olha no espelho – prática freqüente da RPG –, a imagem que faz de si é reveladora das representações que faz a seu próprio respeito, que dá ao indivíduo um conhecimento sobre si mesmo e sobre a consciência de sua própria perceptibilidade (La Taille, 2002), ou seja, não vê apenas o reflexo de seu Eu, vê sempre um personagem imaginário, localizado em um enredo de planos futuros e visto do ponto de vista do fisioterapeuta. Portanto, essas representações de si mesmo e as auto-avaliações do paciente diante do fisioterapeuta em relação à sua corporeidade e a seu comportamento têm vínculo estreito com os olhares judicativos deste e o de si mesmo, direcionando a interação; esse mesmo olhar judicativo recai sobre o fisioterapeuta como profissional. No entanto, a busca é sempre por representações positivas – uma das motivações básicas das condutas humanas, conforme La Taille.

 

Estudo de caso

Participantes

Participaram deste estudo um indivíduo (nomeado neste estudo paciente [P]), sexo feminino, 49 anos, com queixa de dor na região da coluna lombar, encaminhado à fisioterapia para RPG por médico ortopedista do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), São Paulo, com diagnóstico de lombalgia, e um profissional fisioterapeuta do HIAE (nomeado neste estudo fisioterapeuta [P]), sexo feminino, 32 anos, com formação em RPG, atuando nessa especialidade e nessa instituição há cinco anos. Escolheu-se para esta pesquisa a análise do diálogo dessa paciente, pois, desde o primeiro momento de contato, a fisioterapeuta observou, da parte desta, comportamento mais reflexivo que o usual quanto ao tratamento e sua relação com a vida cotidiana, o que aumentaria a possibilidade de se obter informações relevantes, da perspectiva da paciente, sobre as questões que escolhemos nos debruçar neste estudo.

Obtenção e registro das informações

A coleta das informações realizou-se em uma sala para RPG do HIAE, que continha um espelho, além do mobiliário usual. As sessões foram individuais, com intervalo médio de sete dias entre elas.

As informações foram obtidas no processo interativo fisioterapeuta-paciente, através de entrevista dirigida pela fisioterapeuta. O acesso à participante se deu após parecer favorável da comissão de ética do HIAE e conseqüente autorização da instituição. Solicitou-se também a concordância da participante, através de assinatura do Termo de Consentimento Voluntário, em participar da pesquisa, esclarecendo-se que sua aceitação não era obrigatória para que se procedesse ao tratamento. Após essa assinatura, iniciouse a coleta dos dados pessoais (nome, idade e antecedentes clínicos) da participante e a mesma foi indagada pela fisioterapeuta quanto à sua sintomatologia. Com base em narrativa feita pela participante, e orientada por seu enquadre profissional, a fisioterapeuta passou aos procedimentos terapêuticos, incluindo a auto-avaliação da postura diante do espelho.

Os relatos da fisioterapeuta e da paciente durante o processo interacional nas 10 sessões do tratamento foram registrados em fitas cassete, com uso de um gravador comum. Posteriormente, foram transcritos pela pesquisadora, mantendo-se a forma de diálogo e seqüenciados com as denominações de F para a fisioterapeuta e P para a paciente.

Procedimento de análise

A análise das informações iniciou-se com a imersão da pesquisadora nos dados, deixando aflorar os sentidos possíveis quanto à apreensão das expectativas, motivações e interesses em relação ao tratamento fisioterapêutico, assim como em relação às concepções de integração corpo-mente. Evitou-se encapsular as informações em categorias, classificações ou tematizações de dados definidas a priori, utilizando-se uma orientação microgenética (Catan, 1989) na tarefa interpretativa dos sentidos das falas. Duas questões nortearam a interpretação do diálogo escolhido: O que estaria levando P ou F a fazer/dizer isso? e Tendo uma delas (P ou F) feito/dito isso, o que aconteceu com ambas?

 

Resultados e discussão

A análise do diálogo entre F e P nas 10 sessões identificou um processo de construção de novos significados relativos ao processo fisioterapêutico bem de questões que tocam a corporeidade. Evidenciou-se o papel e o valor das trocas e negociações no espaço terapêutico, o que sugeriu que o trânsito de significações se constitui em canal ímpar na própria elaboração pessoal das participantes a respeito de si própria, da outra e das razões que as colocaram ali. Notou-se, em muitos momentos, a presença de ambigüidade nos sentidos das falas das participantes quanto a aspectos que ambas consideravam relevantes no tratamento, e mudanças de opiniões, principalmente quanto ao significado atribuído por uma às ações da outra e quanto às reflexões sobre suas vivências.

Os relatos de P apontaram mudanças de comportamento que não ficaram estritos apenas à resolução da queixa que a levou ao tratamento – a dor –, passando para um âmbito mais amplo da vida, incluindo sua auto-imagem e sua relação com novas propostas de vida. Com isso, queremos dizer que, se viver sem dor era o objetivo último do tratamento, há também que se considerar o fato de que P passou a perceber-se de forma diferente, em muitos sentidos melhor , assim como os outros também passaram a percebêla dessa forma. Nessa medida, o objetivo da RPG pôde ser estendido a questões que tocam a qualidade de vida nas relações interpessoais e consigo mesmo.

Nesse processo dinâmico, F ocupou o lugar de organizadora das atividades terapêuticas, confirmando a P seu lugar de pessoa única, isto é, com problemas, razões e expectativas que, embora possam ser colocadas no fundo da generalidade dos conhecimentos da área científica da saúde, são ao mesmo tempo exclusivamente individuais em sua manifestação. P, de sua parte, permitiu que F apreendesse aspectos importantes do tratamento, a partir da perspectiva interacional eu-outro, o que a fez refletir e imprimir mudanças em seu comportamento profissional e pessoal.

A seguir, sintetizamos momentos significativos do diálogo durante as sessões para ilustrar o discutido na seção Introdução - para íntegra da pesquisa ver Canto (2006).

Primeira sessão

P afirmou ter uma dor nas costas constante , constância essa que foi questionada por F, gerando um momento de tensão e indicando a existência de duas perspectivas diferentes quanto ao caráter constante da dor referida por P. Talvez essa tensão tenha sido gerada pela falta de confiança de uma na outra: sem uma experiência prévia, P não sabia de fato se F iria ajudá-la; ela apenas supunha que a outra merecesse sua confiança, pois pressupunha seu preparo profissional, que lhe é culturalmente sinalizado, por exemplo, pela pertença de F a uma instituição de saúde.

No intuito de resolver a tensão, F fez novo questionamento sobre as condições físicas de piora da dor; com isso, P experimentou a disposição e a preocupação da profissional, mas reafirmou que suas costas doíam o tempo todo , apesar de demonstrar estar mais aberta à reflexão sobre o tema ao iniciar sua fala com Uhmmm... Nesse questionamento, F fez relação do quadro álgico com a questão espacial (posições corporais) e P respondeu em termos temporais: doem o tempo todo , sugerindo dificuldade em transpor os limites temporais para os espaciais, que, no presente caso, pode ser considerado o próprio corpo. Nota-se, aqui, a freqüente inabilidade do profissional em indicar seu objetivo com clareza, na pergunta, assim como a do paciente em se expressar frente a ele e em delimitar seus sintomas, dando a sensação de falta de conhecimento de seu próprio corpo e de atenção para com suas próprias dificuldades, talvez evitando defrontar-se com elas.

Explorando mais a queixa de P, F indagoulhe sobre as condições de alívio da dor, e P identificou uma posição corporal, solucionando a tensão e oportunizando nova etapa para o tratamento. Vale lembrar que a dificuldade de P em atender às solicitações de F pode ser entendida por esta como falta de reconhecimento de sua capacidade, fato que gerou sentimentos negativos em resposta às percepções desse comportamento. Mas, não fosse essa dificuldade, talvez a investigação de F fosse mais rápida e superficial e não resultasse em novas informações.

Na sequência, F buscou saber se P utilizava essa posição corporal para alívio da dor; ela respondeu que não, pois seu dia a dia era atribulado. Intuitivamente, F atribuiu essa condição a um excesso de atividade profissional, o que não foi validado por P, ao afirmar ser o sono ruim o fator limitante. Notase o aparecimento da novidade, mudando a direção do raciocínio de F e oportunizando a aquisição de novos conhecimentos sobre o quadro clínico de P.

F, diante da novidade, indagou a P sobre o possível fator desencadeador do sono ruim, sugerindo uma inter-relação entre estados emocionais e físicos e também interesse por sua história de vida. Demonstrando mais confiança e empatia, P afirmou que foi após o término de seu casamento e o crescimento dos filhos que seus problemas de sono apareceram, denotando uma noção integrada de si, estabelecendo relação estreita entre aspectos físicos e emocionais na sua condição sintomática.

Mesmo tendo identificado a dificuldade de sono de P, F explicitou ser necessário retomar o assunto que a trouxe ao tratamento (dor nas costas), não dando feedbackàs novas informações adquiridas, o que mostra dificuldade em lidar com temas que não têm relação direta com sua formação profissional (no caso, questões emocionais), embora o contato tenha acontecido. Ilustra, também, que o pensamento integrado corpo-mente fazia parte do raciocínio de F, mas não gerou atitudes integradas em benefício direto a P.

Em seguida, F solicitou a P uma autoavaliação postural. Nesta, P afirmou não ter uma ótima postura, por conta de eventos emocionais negativos em sua vida, indicando mais uma vez pensamento corpo-mente integrado. F, apesar de se assentar em aspectos objetivos (alterações de postura visivelmente identificáveis), solicitou uma reflexão simbólica a P: O que a senhora quer dizer quando afirma não ter uma ótima postura? , provavelmente por já ter aprendido que ela dava maior retorno verbal quando os aspectos simbólicos eram levados em conta, ou seja, passava a agir de acordo com o modo como experimentava as ações e reações de P na própria situação de interação. Além disso, P alegou que o tema postural era ligado à estética, e, portanto, não importava em seu momento de vida. No entanto, a auto-imagem negativa relatada anteriormente nos sugere que P, inconscientemente, considera, sim, a questão estética, pois ver-se melhor ou pior posturalmente não constitui algo de caráter somente cognitivo, e, sim, afetivo-emocional.

Nesse momento do diálogo, notou-se a presença de duas perspectivas diferentes quanto às condições terapêuticas para a melhora: P queria ficar sem dor, mas negava-se a aceitar mudanças para que isso ocorresse, talvez para se proteger de temas dolorosos ou ocultar sentimentos que julga não serem pertinentes ao conhecimento de F. Já o ficar sem dor , para F, exigiria mudanças na postura e na qualidade do sono. Vale lembrar, aqui, que não se trata de idealizar que as perspectivas de F e P possam ser idênticas, e sim, que haja negociação entre elas para se chegar a uma resolução.

Diante desse desequilíbrio, F dedicou-se a explicar mais sua perspectiva, o que possibilitou a continuidade da comunicação, sugerindo-nos que houve o reconhecimento, por parte de F e P, da necessidade de se movimentarem juntas na busca de um objetivo comum. P demonstrou compreender o ponto de vista de F, mas deixou claro que não acreditava em uma mudança postural, pois não tinha motivação para tal. Isso não pode ser analisado em termos de resistência à mudança ou de medo da transformação como acontecimentos isolados; deve ser entendido no contexto emocional de P, pois, em outro momento, ela deixou claro que, por não ter sua família presente, sua vida havia perdido o significado, não sendo importantes as mudanças. F, valendo-se da percepção desse conteúdo emocional, buscou mudar a concepção de P, argumentando que o fato de ela ter procurado auxílio para sair de uma condição física de dor para uma sem dor já denotava motivação pela mudança. Esse momento mostra uma tentativa de negociação de F em busca da (re)construção de novas concepções quanto à auto-estima de P, incluindo um incentivo emocional na direção do cuidar de si mesma , o que contribui simultaneamente para sua saúde física e mental, benefício aparentemente pequeno quando comparado ao que um acompanhamento profissional especializado poderia promover; entretanto, oportuniza pequenas mudanças, úteis no momento, para a continuidade do tratamento, mas com possível valor cumulativo.

Vale destacar também que, quando P disse ter uma postura ruim e por isso merecer a atenção dos filhos, tal fato nos sugeriu que essa condição ruim era privilegiada e até mesmo mantida por ela no intuito de chamar a atenção dos filhos, pois, em muitos outros momentos, F chamou-lhe a atenção para possíveis causas da dor que estavam nela , no nível corporal-objetivo e, no entanto, P se referia a causas que estavam fora dela , no nível mental-psicológico , subjetivo, portanto. No entanto, F atribuiu a postura ruim de Pà vida moderna, não valorizando as questões emocionais, assumindo assim uma concepção desintegrada da unidade corpo-mente. A solução desse conflito, diferentemente dos citados anteriormente, não gerou em ambas as participantes ações de reflexão e exploração de significados: F talvez tenha se baseado no pensamento dicotômico de que essas percepções emocionais de P não pudessem interferir negativamente em seus procedimentos; já para P, o importante era que seus filhos soubessem da sua condição de dor, encontrando na má postura uma prova cabal para isso. As intenções, possivelmente inconscientes, de cada uma delas não entravam em sintonia e, portanto, não geraram reflexão na busca de consenso ou de aprofundamento de discenso.

Segunda sessão

P relatou que as alterações posturais observadas na sessão anterior por F lhe fizeram mal emocionalmente, indicando uma noção integrada de corpo e mente; no entanto, usou o termo coisa para denominá-las, como algo que não lhe pertencesse, mas como algo que havia se abatido sobre ela, denotando fragilidade na sua forma integrada de pensar. F não valorizou esse relato, dicotomizando corpo e mente, muito talvez por sua formação profissional não abarcar amplas discussões sobre a unicidade corpo-mente.

Outro tema abordado foi a realização de exercícios, que, por sua vez, gerou momentos de desequilíbrio, como os vistos na sessão anterior. F, por já ter familiaridade com a resistência de Pàs suas proposições, tentou validá-las usando argumentos mais amplos no contexto saúde-doença, como, por exemplo, o significado de ser um profissional da saúde e o papel de uma instituição de saúde. Utilizou, também, uma linguagem mais próxima à de P, direcionando suas ações na integração corpo-mente, como no convite para que ela sentisse o efeito do exercício em seu corpo, voltando sua atenção para si mesma, em vez de buscar as causas de seu sentir nos outros, no que os outros lhe fazem ou deveriam fazer-lhe. P respondeu positivamente a esse novo falar de F, mostrando que o convencimento se dava através da sensação corporal, isto é, a linguagem do corpo era capaz de modificar seu comportamento.

Ao final dessa sessão, P se mostrou satisfeita com os resultados obtidos, o que atribuiu somente ao trabalho de F, talvez sustentada por uma condição cultural em que aos profissionais da saúde é atribuída a responsabilidade absoluta pelo sucesso ou não do tratamento. F, diferentemente de P, ciente da necessidade da disponibilidade interativa de ambas as partes para o sucesso do tratamento, torna claro essa condição a P e recebe a compreensão desta.

Terceira sessão

P chamou F pelo nome, indicando maior empatia e confiança em relação a ela e até mesmo mais disposição para o tratamento. Seus relatos, nessa sessão, mantiveram estreita ligação entre sentir dor e a necessidade de ter os filhos ao lado, ao se autodenominar inválida. Essa denominação foi contestada por F, possibilitando a P repensar sua concepção de invalidez e, ao mesmo tempo, permitiu a F formular um possível significado para esse conceito no mundo de P.

Quarta sessão

No início da sessão, F mostrou maior envolvimento com as questões emocionais de P, mas não manteve esse sentimento, o que fez com que P propusesse a realização dos exercícios para sua distração, deixando transparecer que o pensamento dicotômico corpo-mente não lhe agradava. F atendeu a solicitação, disponibilizando-se a contemplar uma perspectiva diferente da sua sem, no entanto, abrir mão da própria, quando colocou que sua função profissional não abarcava a distração. Esse momento foi desafiador para a discussão das diferentes motivações do fazer fisioterapia – para P, realizar os exercícios tinha o efeito de distração, nos sugerindo uma descrença pelo efeito mecânico do exercício sobre o corpo; já para F, relevante era o efeito do exercício no corpo de P - mostrandonos mais uma vez, que, mesmo a partir de perspectivas diferentes, como era de se esperar, o consenso em realizar os exercícios foi alcançando.

Quinta sessão

Nessa sessão, P afirmou sentir-se melhor com a realização do tratamento, sugerindonos maior percepção de si mesma. Afirmou também que esse sentir-se melhor havia sido notado por seu filho, indicando que os benefícios do tratamento tinham ido além do corpo e alcançado suas relações familiares, possibilitando a ela abandonar a idéia de precisar estar doente para receber atenção. Outro momento que contribuiu para a idéia de que P passou a estar disponível para propostas novas, diferentemente das sessões iniciais, foi quando F alertou P sobre a necessidade de realizar exercícios em casa, fato inaceitável anteriormente, e ela respondeu que tentaria cumprir.

Sexta sessão

O final dessa sessão destacou um momento de tensão bastante único: P afirmou que F não fazia só fisioterapia, fazia também psicoterapia . Imediatamente, F a contestou, alegando que sua formação profissional não permitia práticas psicoterapêuticas. No entanto, P colocou que o fato de F escutá-la, sem avaliá-la ou criticá-la, já a ajudava muito, o que fez com que F passasse a agir como ouvinte na continuidade do diálogo, mostrando ter incorporado a relevância dessa atitude.

Sétima a nona sessões

Nessas sessões, os relatos de P e F foram bastante recorrentes aos analisados até aqui, não merecendo destaque na presente discussão.

Décima sessão

Essa sessão foi marcada por tentativas de negociação e validação de opiniões sobre a continuidade ou não do tratamento: P afirmou ser necessário continuar o tratamento para sua dor não voltar; F contestou, alegando que suas condições físicas permitiam o encerramento, mas, buscando contemplar a opinião de P, e não impor a sua, propôs que as sessões passassem a ser quinzenais, e não mais semanais. No mesmo intuito, P aceitou a proposta, solucionando o conflito.

 

Contribuições semiótico-construtivistas para a prática interativa fisioterapeuta-paciente

No diálogo analisado, notamos que as decisões de F para agir foram tomadas ora com a participação, ora sem a participação de P. Quando F, em colaboração com P, identificou o que supôs serem as necessidades de P, e passou a agir nessa direção, houve mudanças nas atitudes de P, assim como melhora em sua condição fisioterapêutica. Já as atividades propostas por F que não se assentavam na exploração de informações e construção conjunta de suposições com P a respeito do tratamento (expectativas, avaliações, etc.) parecem não ter resultado em novas significações para ambas. Tais propostas parecem, em alguns momentos, ter inclusive criado dificuldades na relação pacientefisioterapeuta, retardando o progresso no tratamento fisioterápico.

Houve, portanto, diferenças qualitativas no processo de tratamento, dependendo do envolvimento conjunto de F e P na exploração de informações e na construção de suposições sobre as intenções, os motivos e os demais aspectos subjetivos que instruíam seus fazeres e dizeres nas sessões. Ressalta-se, então, a importância do atendimento fisioterapêutico ser individual, pois só assim fisioterapeuta e paciente podem, efetivamente, dedicar-se à prática da construção e da reflexão sobre significados que dizem respeito não só à meta do diálogo mas também à posição relativa e momentânea dos interlocutores naquele diálogo, conforme Simão (2004).

Merece destaque também a presença recorrente, nas sessões, de ações verbais de F pautadas na dicotomia corpo-mente, onde, ao centrar-se nos aspectos técnicos da profissão, fez também pouca alusão às repercussões sobre as possíveis intervenções de P, evidenciando, nesses momentos, pouca abertura à participação desta. É possível que esse tipo de atitude, comum às práticas profissionais na área de saúde, se ancore na ênfase dada durante a própria formação profissional aos aspectos mais objetivos e instrumentais, considerados importantes para a consistência científica e profissional, havendo pouca disponibilidade para discussão e reflexão das questões atinentes aos aspectos subjetivo-emocionais aí envolvidos. Adicionalmente, nas formações e práticas profissionais, podem estar também envolvidas relações de poder, em que o corpo se torna um objeto que o profissional conhece e o paciente, não (e por isso vem ao profissional). Essas questões estão, por sua vez, vinculadas ao sistema comum de crenças culturais, que também se faz presente na gênese da profissão do fisioterapeuta (Rocha, 2002).

Em consonância com os estudos de Neville et al. (1999) e Van Houdenhove (2002), identificamos, no caso analisado, certa falta de disponibilidade de F para as questões emocionais no trato do paciente, o que comprometia o desenvolvimento da própria relação e, em conseqüência, o alcance do sucesso terapêutico. Saber ouvir é uma postura de respeito com o outro, para que se estabeleça uma comunicação que permita construir relações compartilhadas, nas quais se evidencie a realidade trazida pelo cliente, para a compreensão de seu viver e adoecer (Mariotti, 2000).

Essas constatações inquietam e fazem-nos questionar o foco de intervenção e atenção do fisioterapeuta: o corpo e sua motricidade. A ação da fisioterapia está voltada para o outro; com o nosso corpo, atuamos sobre o corpo do outro. E, quando falamos em atuar sobre o corpo do outro, falamos em reconhecer que o corpo do outro é sua expressão de vida, pois esse corpo, enquanto corporeidade, existe na relação com os outros, construída e reconstruída no ser e se fazer fisioterapeuta/ paciente (Simão, 2002). Por outro lado, dada a multiplicidade de conceitos envolvidos nas diversas abordagens psicológicas sobre as relações eu-outro bem como a complexidade envolvida nas escolhas teórico-metodológicas, não é difícil imaginar porque tais perspectivas dificilmente estão incluídas na formação do fisioterapeuta. Parece-nos, entretanto, que se trata de uma inclusão que deve ser intensificada na formação profissional, o que implica também maior interdisciplinaridade.

Em síntese, a pesquisa aqui ilustrada com a análise de um caso embasa nossa consideração do processo fisioterapêutico como espaço interativo. Fisioterapeuta e paciente, juntos, estão mergulhados em diferentes dimensões interativas, e desempenham funções inerentes aos papéis que lhes são reservados no processo terapêutico, mas permanecem em contínuas (re)significações no contexto intersubjetivo, que envolve relacionamentos humanos destinados ao cuidado e à cura e atuam de modo único ao compor as dimensões do corpo e da mente. Acreditamos que as considerações aqui destacadas são representativas da realidade profissional que conhecemos. Se as trazemos, é para argumentar que esse é um contexto que nos preocupa, e acreditamos ser necessário abordá-lo na formação dos futuros fisioterapeutas. Trata-se, a nosso ver, de manter as especificidades da formação em fisioterapia sem omitir uma perspectiva humanizadora do processo saúde-doença, ou seja, de exercer uma atuação reflexiva como profissionais das ciências médicas na fronteira com as ciências humanas.

 

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Autor:

Clóris Regina Elias de Moraes CantoI;

Lívia Mathias SimãoII

IMestre em Psicologia experimental pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo; Fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein
IIProfessora Livre-Docente do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo; Bolsista de produtividade em Pesquisa do CNPq

Ensino de massoterapia: habilidades envolvidas na relação fisioterapeuta-paciente

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Este estudo, desenvolvido no âmbito da disciplina Recursos Terapêuticos Manuais, focaliza o ensino de habilidades profissionalizantes. Cabe ao docente, como formador, promover o desenvolvimento dessas habilidades, permitindo aos alunos reflexão sobre a relação fisioterapeuta-paciente, especialmente durante a aplicação de massoterapia, por ser este um recurso que demanda exposição corporal e contato físico. O futuro profissional fisioterapeuta deve não só aprender a técnica a ser utilizada como também incorporar uma conduta profissional adequada, respeitando a individualidade do paciente e estabelecendo para com ele uma relação profissional formal e de confiança.

No ensino de massoterapia, dois conteúdos são introduzidos como informação e orientação: as habilidades profissionais envolvidas na relação fisioterapeuta-paciente e o autocuidado físico.

O ensino de habilidades envolvidas na relação terapeuta-paciente tem sido relativamente pouco explorado na pesquisa e na prática educacional das ciências da saúde1-3. Publicações didáticas sobre o tema são recentes na Fisioterapia, embora algumas pesquisas apresentem elementos esclarecedores no que se refere a conteúdos e formas de ensino nessa área4-6. Estudos sobre o desempenho na execução de técnicas também começam a surgir na literatura, colaborando para o delineamento de um panorama mais completo sobre o ensino de Fisioterapia7,8.

O objetivo deste estudo foi elaborar, aplicar e avaliar a eficácia de um programa de treinamento de habilidades profissionalizantes envolvidas na relação fisioterapeuta-paciente durante uma sessão de massoterapia, identificando ainda a opinião dos alunos sobre a experiência vivenciada.

 

METODOLOGIA

Este estudo consistiu na pesquisa observacional de situação, desenvolvimento de programa de ensino, intervenção e avaliação.

Participaram graduandos do quarto semestre do Curso de Fisioterapia do Fofito/ FMUSP - Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - regularmente matriculados na disciplina de Recursos Terapêuticos Manuais que manifestaram concordância em participar da pesquisa. Todos os participantes assinaram termo de consentimento livre e esclarecido, conforme proposto no projeto de pesquisa aprovado pela Comissão de Ética para Análise de Projetos de Pesquisa da FMUSP. Foi critério de exclusão o interesse em interromper a participação na pesquisa.

Foi desenvolvido em uma sala de aula medindo 6 por 10 metros, onde foi garantido um ambiente reservado e silencioso para treinamento, e no Laboratório de Fisioterapia e Comportamento, onde ocorreu a filmagem da prova prática, a observação e análise dos conteúdos dos filmes, ambos localizados no Fofito/ FMUSP. Além do programa de ensino de habilidades profissionalizantes, os materiais utilizados foram televisão de 24 polegadas, filmadora e filmes VHS, ficha de checagem e avaliação de habilidades, ficha de registro de tempo de comunicação, ficha para avaliação da postura do fisioterapeuta e os relatos escritos entregues pelos alunos.

Procedimentos

A pesquisa foi desenvolvida em quatro fases: 1, identificação das habilidades profissionalizantes envolvidas na relação fisioterapeuta-paciente; 2, sua validação por peritos, bem como sua definição operacional e seqüência; 3, desenvolvimento do programa de treinamento dessas habilidades; e 4, avaliação do desempenho dos alunos nas habilidades treinadas.

Na primeira fase, a identificação das habilidades profissionalizantes envolvidas na relação fisioterapeuta-paciente foi feita com base na análise da literatura9-14 e por observação direta, realizada previamente pela responsável da disciplina e pela pesquisadora, de 120 sessões de massoterapia, desenvolvidas por dez alunos (do 4º ano do curso) em treinamento em massoterapia, junto a dez pacientes, sendo um paciente para cada aluno.

Foram selecionadas e operacionalmente definidas 21 habilidades para a prática de massoterapia, a saber:

1 vestimenta do fisioterapeuta

2 preparo do local para tratamento

3 chamada do paciente

4 acomodação do paciente sentado

5 mensuração de freqüência cardíaca pré-intervenção

6 questionamento sobre intercorrências físicas ou emocionais durante a semana

7 avaliação funcional básica do paciente

8 feedback sobre a avaliação

9 explicação sobre a intervenção a ser realizada

10 drapejamento

11 posicionamento na maca

12 autocuidado físico do fisioterapeuta

13 intervenção

14 mensuração de freqüência cardíaca pós-intervenção

15 ajuda para o paciente sentar-se

16 ajuda para o paciente sair da maca

17 ajuda para o paciente vestir-se

18 acomodação do paciente sentado em cadeira, confirmação do retorno

19 preenchimento da ficha de avaliação

20 comunicação verbal entre terapeuta e paciente

21 despedir-se formalmente do paciente.

As habilidades selecionadas, entendidas como eticamente corretas e essenciais para o desenvolvimento profissional, compuseram o programa de ensino treinado junto aos alunos. Essa intervenção baseia-se na convicção de que a partir do aprendizado das mesmas o aluno poderá avaliar de forma crítica sua experiência e a relação que estabelece com o paciente, adotando uma forma de intervenção compatível com suas necessidades, possibilidades e expectativas profissionais e pessoais.

Na fase 2, com o objetivo de validar a lista de 21 habilidades, utilizou-se o critério de seleção de peritos adotado por Fehring15. O grupo de peritos constituiu-se de profissionais que atuam na área de ensino e/ou de massoterapia. Eles opinaram não só sobre as definições operacionais, mas também quanto à seqüência temporal das habilidades propostas durante o atendimento de massoterapia. Os peritos deram notas para cada item utilizando uma escala de pontuação do tipo Likert13, de cinco pontos. À semelhança de Fehring15, usou-se um coeficiente de confiabilidade para comparar as notas, considerando-se que o coeficiente maior ou igual a 0,8 (sendo o máximo 1,0) significa que os peritos concordam que a descrição é muito indicativa da habilidade testada.

Para desenvolver o programa de treinamento das habilidades, na fase 3, o recurso didático escolhido foi o treinamento a partir de demonstração. Ocorreram, em sala de aula, oito treinamentos de quatro horas cada, e mais oito períodos de quatro horas de treinamento com monitores. Cada aula foi dividida em duas horas teóricas (técnicas e efeitos fisiológicos da massagem) e duas horas práticas (seqüência de habilidades propostas, considerando suas definições operacionais). Foi entregue uma cartilha com imagens e descrições das posturas de autocuidado utilizadas na massagem clássica.

Durante as aulas práticas, foi realizada demonstração das técnicas de massoterapia pela professora e um aluno voluntário fazia o papel de assistente da professora, auxiliando na execução das demais habilidades estipuladas no roteiro, desde o preparo do local de trabalho até a despedida do paciente-aluno. Após a fase de demonstração, os alunos se dividiram em trios para a simulação do atendimento e treinamento prático. Na mesma semana, o aluno agendava horário com um dos monitores para treinamento durante uma hora.

Na última fase foram avaliadas as habilidades treinadas em prova prática, realizada ao final do programa de ensino, tendo sido seu registro efetuado pela gravação de filmes. Dezenove das 21 habilidades foram avaliadas, considerando a escala de Likert13 de três pontos adotada, como: adequada, parcialmente adequada, inadequada ou não-realizada. O autocuidado físico foi avaliado pelo tempo, forma (adequada, parcialmente adequada e inadequada) e postura escolhida. A comunicação foi analisada segundo a definição de terapêutica e não-terapêutica14.

A atividade de prova consistiu em atender um paciente, em situação real, por meio da aplicação de massagem clássica de corpo inteiro. O aluno deveria apresentar a seqüência de habilidades de acordo com as respectivas definições operacionais. Para tanto, contou-se com a colaboração de pessoas consideradas saudáveis, sem queixa, no papel de paciente. Esses "pacientes" tiveram o conhecimento do termo de consentimento livre e esclarecido e forneceram aquiescência em participar do estudo. O tempo máximo estipulado para a realização da prova foi de uma hora e meia por aluno, em sala individual, com uma câmera filmadora posicionada a uma distância de três metros. A observação dos filmes para análise foi feita com o auxílio de uma lista de checagem e avaliação das habilidades de acordo com a definição operacional estabelecida.

Para assegurar a confiabilidade dos resultados obtidos, dois terços dos filmes (16 de 24) foram avaliados por um examinador independente, com conhecimento do conteúdo aplicado. O coeficiente de confiabilidade foi estabelecido para cada habilidade, utilizando-se a fórmula proposta por Fehring15: R = A / A+D, onde "R" é o coeficiente de confiabilidade entre observadores; "A", o número de concordâncias; "D", o número de discordâncias. O resultado acima de 0,8 demonstra concordância entre os examinadores.

Finalmente, foram avaliados relatos escritos pelos alunos sobre a experiência de aprendizagem e treinamento de habilidades profissionalizantes. Foi solicitado que, de forma escrita e não-identificada, dessem sua opinião, sugestões ou críticas à disciplina, à monitoria e ao programa de ensino de habilidades profissionalizantes. Os relatos foram analisados de forma quantitativa, agrupando-se os enunciados em categorias.

 

RESULTADOS

Iniciaram o estudo 25 alunos, sendo 3 homens e 22 mulheres, com idade média de 19,2±0,8 anos. Não houve desistência; porém a filmagem de uma prova prática de um aluno foi descartada por questões técnicas de gravação, ficando portanto válidos 24 filmes para a avaliação das habilidades profissionalizantes. Os dados obtidos pelo relato escrito desse aluno foram considerados para estudo. Atuaram como pacientes 25 voluntários, 15 mulheres e 10 homens, maiores de 18 anos e saudáveis.

Quanto à elaboração do programa, na análise das definições operacionais das 21 habilidades profissionalizantes, realizada pelos dez peritos (todos fisioterapeutas), nenhuma das habilidades recebeu escore menor que 0,80; três habilidades receberam escore maior que 0,90 e menor que 1, sendo 0,92 para a habilidade de "preparo do local de tratamento" e 0,95 para as habilidades "feedback sobre avaliação" e "explicação sobre intervenção a ser realizada". As demais habilidades tiveram um escore de 1,0 para suas definições. Sugestões de complementação das definições foram aceitas pela pertinência. Não houve sugestão de mudança na seqüência temporal.

Na avaliação do desempenho dos alunos, dentre as 21 habilidades, duas não foram mensuradas por pontuação (autocuidado e comunicação), sendo comentadas adiante. Das demais 19, 12 foram avaliadas como realizadas adequadamente pelos 24 alunos que participaram do estudo, a saber: vestimenta do terapeuta; preparo do local de tratamento; chamada do paciente; explicação sobre intervenção; drapejamento; posicionamento na maca; intervenção; ajudar o paciente a sentar-se na maca; ajudar o paciente a sair da maca; auxiliar o paciente a vestir-se; despedir-se adequadamente; preencher a ficha de evolução.

As habilidades "acomodar o paciente sentado", "mensurar a freqüência cardíaca pré-intervenção" e "questionar sobre intercorrência física ou emocional durante a semana" tiveram sua execução realizada de forma parcialmente adequada por um aluno cada uma. Observou-se como ocorrência que um aluno iniciou a anamnese com o paciente em pé e, após alguns instantes, pediu-lhe para sentar-se; um aluno mensurou a freqüência cardíaca pré-intervenção em momento fora da sequência prevista e outro aluno não questionou de maneira suficiente sobre intercorrências físicas ou emocionais. Os demais alunos realizaram essas habilidades de forma adequada. Na habilidade "feedback sobre avaliação", dois alunos realizaram a habilidade de forma parcialmente adequada, dando informações insuficientes sobre seus achados clínicos ao paciente. Os demais alunos fizeram-na adequadamente.

Nenhuma habilidade foi realizada de forma inadequada por parte dos alunos.

Com relação às habilidades não realizadas, um aluno não coletou a freqüência cardíaca pós-intervenção, um não acomodou o paciente sentado após a intervenção; dois alunos não realizaram a coleta de frequência cardíaca pré-intervenção, assim como não realizaram a avaliação funcional básica; e quatro alunos não deram feedback sobre os achados da avaliação.

No que se refere ao pareamento dos resultados obtidos na análise dos filmes feita pela pesquisadora e pelo examinador independente, o índice de concordância obtido foi superior a 0,93 para todas as habilidades pesquisadas. Especificamente, as habilidades "questionamento sobre intercorrências físicas ou emocionais", "avaliação funcional básica", feedback, drapejamento e "acomodar o paciente sentado" tiveram um índice de concordância entre 0,93 a 0,95; e as demais habilidades tiveram um índice de concordância de 0,96 a 0,98.

Os resultados encontrados sobre o desempenho na habilidade de autocuidado físico demonstram que as posturas adotadas de forma adequada totalizaram 97,6% do tempo total da intervenção. Posturas parcialmente adequadas foram observadas durante 2,4% do tempo total. Não houve ocorrência de postura inadequada. Os resultados referentes ao autocuidado físico apresentam um índice de concordância de 0,95.

Durante a análise dos 24 atendimentos, 2004 sentenças foram proferidas e classificadas de acordo com Stefanelli e Carvalho14, com média de 90 sentenças por atendimento. Os fisioterapeutas falaram 72% do total de sentenças. A comunicação foi considerada terapêutica em 86% das sentenças proferidas pelos alunos durante a intervenção (tendo a comunicação não-terapêutica totalizado 14% das sentenças dos alunos). O índice de concordância entre a pesquisadora e o examinador independente, na habilidade de comunicação, foi de 0,92.

Para avaliação dos relatos individuais escritos pelos alunos sobre a disciplina, a monitoria e o ensino de habilidades profissionalizantes, os relatos foram resumidos e as respostas, categorizadas. Em 85% dos relatos foi pontuado que a existência de um roteiro foi fator de segurança e domínio no desenvolvimento da sessão de massoterapia. Em relação à rotina empregada para o ensino das habilidades profissionalizantes, 76% dos alunos a consideraram importante e necessária, sendo alegado que facilitou a relação com o paciente, trazendo os alunos mais próximos da realidade clínica.

A habilidade de autocuidado físico foi destacada como importante para o desenvolvimento profissional e apropriada para a situação por 40% dos alunos.

A presença do monitor foi destacada por 52% dos alunos como importante para a fixação do conteúdo teórico-prático aprendido, e igualmente foi avaliado de forma positiva o conteúdo programático da disciplina.

Contudo, algumas opiniões sugerem necessidade de ajustes do programa oferecido, uma vez que cinco alunos mencionaram a necessidade de aumentar a carga horária da monitoria, dois mencionaram que as habilidades profissionalizantes foram "pouco amigáveis" e dois alunos sugeriram que a parte prática do ensino da massoterapia ocorresse de forma simultânea à demonstração pelo professor.

 

DISCUSSÃO

No presente estudo, explorou-se uma área da fisioterapia clínica que é normalmente tida como muito importante no ensino de graduação - mas nem sempre tão lembrada na literatura -, a relação fisioterapeuta-paciente*.

A proposta de ensino foi considerada, pelas autoras e pelos alunos, satisfatória para o desenvolvimento de habilidades na relação fisioterapeuta-paciente, em consonância com Altamaier9 e Hojat et al.17, segundo os quais, para ocorrer o desenvolvimento cognitivo, deve ser incluído também o treinamento técnico. Jette6 afirma que os alunos nos primeiros anos de graduação devem dar início ao treinamento de sua independência clínica, mesmo que ainda não em todas as situações vivenciadas.

Na pesquisa, a opção por utilizar filmagem e o feedback de um examinador independente com relação à prova prática do aluno baseou-se no estudo de Roberts e Bucksey18 segundo os quais, na prática clínica, a gravação em filme de um dos primeiros atendimentos do aluno pode contribuir com uma informação rica e material para reflexão, ajudando a identificar os pontos a serem mudados ou melhorados nos futuros atendimentos.

O fato de 100% dos alunos terem realizado de forma adequada as 12 habilidades mencionadas mostra que esses conteúdos, treinados durante o estudo, foram incorporados de forma integral durante a prática clínica. Acreditamos que essas habilidades possam se tornar parte da rotina clínica em futuros atendimentos, entendendo-se que a manutenção adequada dessas habilidades favoreça um atendimento competente. O programa proposto deve abrir um espaço de reflexão para que alunos e educadores repensem suas atitudes e valores, considerando a ética e o respeito ao próximo, como exemplificado no relato de um aluno: "O treinamento das habilidades do fisioterapeuta foi importante, pois existe uma dificuldade de relacionamento com o paciente no início e acredito que a formalidade realmente deve ser mantida".

Neste estudo, manteve-se atenção à habilidade de comunicação, pois se acredita que, a partir da comunicação eficiente, haverá intervenção adequada e a evolução satisfatória do tratamento. Considerando a comunicação uma habilidade interpessoal necessária para assegurar a competência dos alunos durante um atendimento, a utilização dessa habilidade foi considerada satisfatória, pois se observou a comunicação terapêutica em mais de 80% das sentenças ditas pelos alunos, favorecendo uma terapia mais formal e diretiva, posicionando o paciente numa situação de segurança, caso fosse necessário esclarecer alguma dúvida com seu fisioterapeuta. O treinamento dessa habilidade incentiva o aluno a ultrapassar barreiras de medo, insegurança e desconhecimento, deixando-o mais confiante para orientar e instruir seu paciente em relação às orientações e cuidados, demonstrando assim maior controle da situação clínica. A comunicação inadequada encontrada em 14% das sentenças induziam às respostas "sim" e "não" o que, de acordo com Stefanelli e Carvalho14, deve ser evitado, pois muitas vezes o paciente fica sem alternativa para dar outra resposta que não a contida na pergunta e fica evidente o que o profissional quer ouvir como resposta. É o tipo de comunicação que não estimula nem propicia a expressão verbal dos sentimentos ou pensamentos do outro.

No que concerne o autocuidado físico do terapeuta, considerando que em 97,6% do tempo total da intervenção observada o aluno adotou postura adequada, este estudo tem como expectativa que, a partir do ensino prático e aprendizado do autocuidado, sejam evitadas ou minimizadas futuras lesões, contribuindo para a diminuição do alto índice de dores ocupacionais do fisioterapeuta, como encontrado no estudo de Holder et al.19.

O ensino direcionado para o autocuidado físico e comunicação propiciou um aprendizado satisfatório, apontando para uma boa evolução terapêutica, o que estimula avaliações mais amplas e detalhadas em estudos posteriores.

A adesão de 100% dos alunos ao programa demonstrou a compreensão, por parte deles, da importância dessas habilidades em sua vida profissional, entendendo a situação de treinamento como uma experiência compartilhada por meio de feedback e disponibilidade da professora e da pesquisadora em auxiliar na aprendizagem, sem vigilância, julgamento ou autoritarismo.

 

CONCLUSÃO

O programa de ensino proposto mostrou-se eficaz, produzindo aprendizado das habilidades de relação fisioterapeuta-paciente selecionadas para este estudo. As 21 habilidades descritas mostraram-se relevantes para a intervenção fisioterapêutica, contemplando a maioria das sugestões e indicações de conteúdo oferecidas pela literatura e atenderam às normas éticas da profissão.

A colaboração dos peritos foi de grande auxílio na elaboração das definições operacionais e da escolha das habilidades profissionalizantes.

Este trabalho permitiu compreender a importância da presença de conceitos cognitivos e não-cognitivos no ensino de massoterapia, ou seja, que o graduando necessita aprender conteúdos que lhe permitam adquirir informações consistentes abrangendo teorias, técnicas, habilidades, mas também possa desenvolver aspectos pessoais que envolvam suas emoções e sua interação com o paciente, sempre em busca de um atendimento humanizado.

Atitudes preventivas devem ser incentivadas. O autocuidado físico deve ser valorizado e o aluno precisa ser conscientizado de seus limites, possibilidades, dificuldades e cuidados com seu corpo e suas emoções, tornando-se ciente do alcance de sua profissão e de sua responsabilidade social, científica e de seu conforto físico e emocional.

 

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Beatriz Calil Padis CamposI; Terezinha Calil Padis CamposII; Clarice TanakaIII; Fátima Aparecida CaromanoIII

IFisioterapeuta Ms. do LaFi.Com do Fofito/FMUSP
IIProfa. Dra. do Depto. de Fundamento da Educação da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP
IIIProfa. Titular do Curso de Fisioterapia do Fofito/FMUSP
IVProfa. Dra. do Curso de Fisioterapia do Fofito/FMUSP


Fisiolinks 93

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Possíveis causas da Condromalacia Patelar

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A condromalácia da patela (antiga rótula) é uma lesão da cartilagem articular deste osso devido ao excesso das forças de cisalhamento ( "atrito" ) entre a patela e a porção distal do fêmur durante ou após esforços repetitivos de flexão do joelho. O sintoma mais comum é a dor atrás da patela, especialmente nas subidas ou durante longos percursos com pedaladas lentas.

Vamos as possíveis causas.

Encurtamento do mecanismo extensor:

O mecanismo extensor é composto pêlos ísquios tibiais (semitendinoso, semimembranoso e bíceps femoral). Esses músculos quando apresentam-se em tensão devido ao seu uso excessivo levam a uma diminuição do seu comprimento, com isso, o mesmo tracionará o osso ilíaco posteriormente que causará um reflexo de estiramento da musculatura do quadríceps tracionando a patela mais superior. Com a mesma intensidade que o quadríceps traciona a patela superiormente, o tendão patelar a traciona inferiormente, com isso, teremos duas forças de mesma intensidade, porém, em sentidos opostos aluando sobre a patela e aumentando a sua compressão sob o encaixe femoral.

Alterações do ângulo:

O aumento do ângulo Q do joelho, que é formado pelo tendão do quadríceps da coxa e o ligamento patelar, leva a um desvio lateral da patela devido a resultante formada pêlos vetores de força vindos da espinha ilíaca ântero-superior e do terço superior da tíbia. Se eu tiver uma diminuição desse ângulo terei um desvio medial da patela, também como resultado da resultante dos dois vetores já citados aumentando a compressão patelo-femoral.

Os valores considerados como normais, do ângulo Q são de aproximadamente 12° para os homens e de 15° para as mulheres. Essa diferença de valores se dá pela estrutura da bacia feminina. Ângulos superiores a 20° têm uma incidência mais alta de anormalidades da articulação patelo-femoral, tais como a condromalácia patelar que vem a ser uma conseqüência da instabilidade.

Entorse de tornozelo por inversão:

Embora em primeiro momento uma entorse de tornozelo por inversão não aparente ter nenhuma relação direta com uma instabilidade fêmuro-patelar se formos analisar todo o mecanismo desta lesão veremos que a relação realmente existe. Em uma entorse de tornozelo por inversão, devido aos movimentos de flexâo-plantar, supinaçâo e adução teremos como conseqüência a anteriorização do tálus e da tíbia que por sua vez também anteriorizam a fíbula. Com a anteriorização da fíbula teremos o tensionamento do músculo bíceps femoral que tem uma de suas inserções na mesma. Este tensionamento causará um reflexo de estiramento na musculatura anterior da coxa (quadríceps) que irá tracionar a patela superiormente aumentando o contato fêmuro-patelar.

Enfraquecimento do vasto medial oblíquo:

O vasto medial oblíquo é considerado como o estabilizador mediano primário da patela. Uma falta de equilíbrio entre o vasto medial oblíquo e o vasto lateral pode contribuir para a subluxação da patela, A maioria dos autores atribui para este desequilíbrio dinâmico a insuficiência do vasto medial oblíquo.

As fibras do vasto medial oblíquo se inserem dentro da rótula a um ângulo de 50 a 55° desde o plano sagital. O vasto medial oblíquo é ativado através da flexão total do joelho e é o único estabilizador dinâmico medial da patela. A insuficiência do vasto medial oblíquo irá contribuir para o arrastamento lateral da patela.

Estudos eletromiográficos feitos em pacientes sem dor no joelho mostram que a relação do vasto medial oblíquo com o vasto lateral é de 1:1 e que a atividade do vasto medial oblíquo é tónica por natureza. Em joelhos com dor patelo-femoral a relação vasto medial oblíquo / vasto lateral é menor do que 1:1 e a atividade do vasto medial oblíquo adquire uma natureza fásica. Essa mudança na atividade do vasto medial oblíquo pode ser resultante de uma assimetria localizada no músculo quadríceps. São necessários 20 a 30 ml de líquidos para inibir o vasto medial oblíquo enquanto a 50 e 60 ml de fluído são necessários para inibir a atividade do vasto lateral.

A Fisioterapia na Copa do Mundo e nas Olimpiadas

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Já sabemos que hoje um diploma de graduação apenas não basta. É preciso ser o melhor, é necessário estar atendo ao avanço tecnológico, buscar por diferenciação e ter destaque no ramo. E como começar? Qual curso escolher? Qual o perfil profissional que se espera?
 
A fisioterapia é o conjunto de exercícios e atividades motoras para tratar, prevenir ou recuperar lesões em nosso corpo. Mas, o que surpreende é a sua capacidade de atuar em dezenas de áreas da saúde, e é o que faz dessa profissão um verdadeiro desafio aos profissionais da área. 
 
A questão é que nos dias atuais a Fisioterapia tem atuado de maneira cada vez mais diferenciada e a busca por essa diferenciação tem feito da área uma profissão de demanda tanto para o presente, como para o futuro. 
 
E onde está essa diferenciação? A Fisioterapia é uma ciência que vem avançando juntamente à medicina com atendimentos cada vez mais especializados na área da saúde. Com a expansão das possibilidades de trabalho para o fisioterapeuta, há a necessidade de se aprofundar nas diversas áreas de assistência à saúde do homem. Para que o profissional consiga se encaixar com sucesso no mercado de trabalho e consiga oferecer um atendimento de qualidade, é fundamental que ele ingresse em cursos de especialização, para adquirir o conhecimento completo e atualizado de cada área de atuação. 

Para os profissionais que querem se preparar para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos no Brasil, não existe momento melhor. Desde 2002 a Fisioterapia tem sido vista com outros olhos, afinal, foi durante as lesões e longos períodos de tratamento do Ronaldo "Fenômeno", conseguiu se superar e conquistar o Mundial ao lado dos demais jogadores brasileiros. Na época Ronaldo agradeceu a Deus e ao seu Fisioterapeuta. Em 2010 a busca pela Fisioterapia aumentou e visando a Copa no Brasil em 2014 e as olimpíadas em 2016, hoje, os cursos de especialização, entre eles a pós-graduação em FISIOTERAPIA TRAUMATO-ORTOPÉDICA tem como objetivo preparar os profissionais para as situações que estes dois eventos exigem.

Cuidados pré e pós-operatórios em cirurgia cardiotorácica: uma abordagem fisioterapêutica

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Nos últimos anos, tornaram-se crescentes os avanços na monitorização das trocas gasosas e mecânica respiratória do paciente submetido a ventilação mecânica (VM). A monitorização destes parâmetros é útil na caracterização da fisiopatologia das doenças respiratórias, auxiliando no ajuste adequado dos parâmetros ventilatórios, reduzindo o risco de complicações induzidas pelo ventilador e otimizando a interação do paciente com o mesmo. Tais informações irão auxiliar, inclusive, a determinar o momento ideal para a descontinuidade do suporte ventilatório [1].

A anestesia e determinadas cirurgias predispõem a alterações na mecânica respiratória, nos volumes pulmonares e nas trocas gasosas [2]. Na cirurgia cardiotorácica, considerada de grande porte, inúmeras complicações podem ocorrer, entre elas as de causa respiratória, que culminam com a necessidade de cuidados intensivos, bem como suporte ventilatório por tempo prolongado. Nos pacientes submetidos a cirurgia com circulação extracorpórea (CEC), particularmente, podem ocorrer reações inflamatórias desencadeadas por este procedimento, que acarretam deterioração da função pulmonar no pós-operatório [3], sendo estas complicações responsáveis pelo prolongamento do tempo de internação com aumento dos custos hospitalares [4], além de ser importante causa de morbidade e mortalidade [5-7].

Apesar da modernização dos procedimentos utilizados em cirurgia cardíaca, a função pulmonar ainda é prejudicada [7]. Após o procedimento cirúrgico, os pacientes estão mais propensos a desenvolverem complicações respiratórias. Cerca de 65% dos pacientes desenvolvem atelectasias e 3% adquirem pneumonia [4]. Por essa razão, a fisioterapia possui papel essencial no tratamento destes pacientes, com o objetivo de prevenir ou amenizar tais complicações [3]. Sua atuação inicia-se com a aplicação de técnicas de desmame ventilatório descritas em alguns estudos [8,9] e estende-se até manutenção do paciente em ventilação espontânea após a extubação [10].

A motivação deste estudo surgiu a partir da vivência dos autores na Unidade Pós-operatória de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto - FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto). Neste local, a atuação fisioterapêutica ocorre em todos os momentos da recuperação do paciente, contando com a integração de uma equipe multidisciplinar. É descrito na literatura que, além da relativa escassez, os trabalhos relacionados à abordagem da fisioterapia nas complicações pulmonares apresentam resultados divergentes. Diante da considerável incidência destas complicações no pós-operatório de cirurgia cardíaca e da importância da fisioterapia em sua prevenção e tratamento, realizou-se a presente revisão bibliográfica, com o objetivo de reunir informações relevantes sobre este assunto.

Para obtenção dos dados deste trabalho, utilizou-se uma estratégia de pesquisa eletrônica para revisões bibliográficas e artigos científicos, com o objetivo maior de identificar estudos e diretrizes que relacionam atuação fisioterapêutica e cirurgia cardiotorácica. A pesquisa foi realizada em artigos publicados nos últimos 20 anos, disponibilizados na base de dados do MEDLINE, usando os termos "physiotherapy", "cardiac surgery", "respiratory monitoring" e "respiratory complications". Procuraram-se, também, trabalhos relevantes de autores brasileiros, particularmente publicados pela Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular e pelos Arquivos Brasileiros de Cardiologia, órgãos de divulgação oficial da cardiologia brasileira, com os descritores "fisioterapia" e "monitorização". Além dessas consultas, foram acrescentados dados de investigações realizadas em nível de pós-graduação na Divisão de Cirurgia Torácica e Cardiovascular da FMRP-USP.

Foram incluídos na pesquisa ensaios clínicos randomizados, metanálises, artigos de revisão e diretrizes de consensos, relacionando fisioterapia, monitorização respiratória, cirurgia cardíaca e suas complicações. Conforme o diagrama da Figura 1, foram encontradas 623 publicações do MEDLINE potencialmente relevantes, das quais restaram 55 por preencherem todos os critérios do rigor científico.


Fig. 1 - Esquema da estratégia de seleção das publicações encontradas através da busca a ferramenta eletrônica



ALTERAÇÕES DECORRENTES DA CIRURGIA CARDÍACA


As alterações respiratórias no pós-operatório podem estar relacionadas à função pulmonar e cardíaca prévia, ao uso de CEC, ao grau de sedação [11], à intensidade da manipulação cirúrgica e ao número de drenos pleurais [12], sendo os fatores intra-operatórios os principais responsáveis por alterar a mecânica respiratória no pós-operatório imediato [5,13].

A anestesia geral parece reduzir a capacidade residual funcional (CRF) em cerca de 20%; a circulação extracorpórea prejudica a troca gasosa e os pacientes, cujas artérias mamárias são dissecadas, apresentam um risco maior de extravasamento de líquido para pleura com subseqüentes complicações pulmonares [3].

A passagem de sangue por um circuito artificial na CEC impõe ao organismo um número de alterações importantes, como a mudança do regime do fluxo sangüíneo, possível aumento do gradiente de temperatura e estresse mecânico sobre os elementos figurados do sangue devido ao seu contato com superfícies não endoteliais, filtros, compressão e turbulências, entre outros. Com este processo, há o desencadeamento de uma cascata de reações inflamatórias com conseqüências pós-cirúrgicas. Estas reações sempre acontecem, em menor ou maior grau, sendo mais evidentes e deletérias em idosos e neonatos, podendo se manifestar por uma febre ou até mesmo levar ao óbito [14].

As complicações respiratórias (Figura 2) após a cirurgia de revascularização miocárdica (CRVM) estão associadas à incisão (esternotomia) e à presença de drenos pleurais que, por sua vez, reduzem o volume residual (VR), a capacidade pulmonar total (CPT), a capacidade vital e a CRF, levando à formação de atelectasias, com alterações da relação ventilação-perfusão (V/Q), da pressão parcial de gás carbônico no sangue arterial (PaCO2) e pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2) [5]. Ocorre nos pulmões um aumento no extravasamento de água extravascular causado pelas células inflamatórias, com preenchimento alveolar, levando à inativação do surfactante e ao colapso de algumas regiões, modificando a relação V/Q, alteração dos valores de PaO2 e PaCO2, decréscimo na SaO2 com considerável aumento no trabalho respiratório no período pós-operatório [7,10]. A exposição à hipotermia durante a CEC também afeta a função pulmonar negativamente, causando prejuízo para o endotélio pulmonar [15].


Fig. 2 - Alterações decorrentes a circulação extracorpórea



A gravidade da lesão pulmonar associada à CEC está relacionada com a duração da cirurgia e com a faixa etária, principalmente em crianças mais jovens [15]. Pacientes operados sem uso de CEC demonstram melhor preservação da função pulmonar e menor tempo de intubação traqueal quando comparados àqueles operados com CEC [16]. Uma das causas da prolongação do tempo de VM está relacionada ao tempo prolongado de CEC. Akdur et al. [17] observaram que, entre os pacientes submetidos a cirurgia cardíaca com alterações respiratórias obstrutivas e restritivas, os que permaneceram entubados por mais de 24 horas necessitaram de um período maior de internação e recuperação, quando comparados a pacientes que foram retirados de VM em um período inferior a 24 horas.

A incidência de complicações pulmonares é difícil de ser determinada pela literatura, devido à separação realizada pelos autores, como complicações de significância clínica e mesmo radiológica da doença [18]. Feltrin et al. [19] propuseram uma graduação em quatro níveis de gravidade: grau 1 - tosse seca, microatelectasia e dispnéia; grau 2 - tosse produtiva, broncoespasmo, hipoxemia, atelectasia e hipercapnia; grau 3 - derrame pleural, pneumonia, pneumotórax e reintubação; grau 4 - insuficiência ventilatória. Todos estes fatores irão determinar a necessidade de suporte ventilatório por tempo indeterminado, com grau variável de sofisticação.


ABORDAGEM FISIOTERAPÊUTICA E MONITORIZAÇÃO RESPIRATÓRIA NO PROCESSO QUE ENVOLVE A CIRURGIA CARDÍACA

O papel da fisioterapia em cirurgia cardíaca


Historicamente, a fisioterapia respiratória tem sido empregada profilaticamente em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas com o objetivo de reduzir o risco de complicações pulmonares, como a retenção de secreções pulmonares, atelectasias e pneumonia [3]. A fisioterapia no período pré e pós-operatório faz parte do tratamento de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, especialmente nas subpopulações que apresentam maior risco de desenvolver complicações cardiorrespiratórias pós-operatórias [20]. O atendimento engloba diversas técnicas e as mais comumente empregadas no período pós-operatório imediato incluem exercícios de padrões ventilatórios (incursões profundas), deambulação precoce, cinesioterapia, posicionamento e estímulo à tosse [3].

A fisioterapia respiratória, após a chegada na UTI, contribui muito para a ventilação adequada e o sucesso da extubação [11].

Abaixo, seguem os períodos de atuação fisioterapêutica em cirurgia cardíaca.

Pré-operatório

A maior atenção ao paciente no período pré-operatório pode influenciar na sua possível e mais rápida recuperação pós-operatória [18]. Os pacientes devem receber orientações sobre a cirurgia e o pós-operatório imediato e receber informações sobre a importância dos exercícios respiratórios e deambulação precoce a ser realizada [16]. Informações como a história prévia do paciente, presença de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), tabagismo, obesidade e idade são relevantes, pois a melhor recuperação da função pulmonar depende de adequada avaliação pré-operatória, com determinação do risco cirúrgico [5]. Importantes fatores de risco para a cirurgia cardíaca incluem: características demográficas e comorbidades dos pacientes: idade > 70 anos, tosse e expectoração, diabete melito, tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica, Índice de Massa Corpórea (IMC) > 27 e função pulmonar (VEF1 < 75% e VEF1/CVF < 70%, sendo FEV 1 o volume expirado forçado no 1º segundo e CVF a capacidade vital forçada) [6].

Vários estudos demonstram que a realização de fisioterapia pré-operatória é mais eficaz na redução de complicações respiratórias nos pacientes com risco maior ou moderado do que naqueles cujo risco era baixo. A intervenção por meio de treinamento muscular inspiratório intensivo com aparelho de carga linear baseada em 30% da pressão inspiratória máxima, com aumentos progressivos em pacientes de alto risco para cirurgia eletiva de revascularização do miocárdio, é capaz de reduzir o risco de complicações pulmonares grau e" 2 (graduação citada no estudo de Feltrim et al. [19]), porque melhora a força e endurance dos músculos respiratórios.

Admissão do paciente na Unidade de Pós-operatório de Terapia Intensiva

Ao final do procedimento cirúrgico, os pacientes são transferidos sob ventilação manual a uma unidade de pós-operatório onde é instalada a VM. A recuperação anestésica permite que o paciente reassuma a ventilação espontânea. Durante a VM, recomenda-se a utilização de volume-corrente de 8 a 10 mL/kg na modalidade volume controlado ou pico/platô de pressão inspiratória suficiente para manter este mesmo volume na modalidade pressão controlada [9], e como utilizado em estudo de Ambrozin e Cataneo [13] com PEEP (pressão positiva expiratória ao final da expiração) de 5 cmH2O e fração inspirada de oxigênio (FiO2) de 100%. Uma ventilação protetora (volume corrente "fisiológico" e PEEP) também pode ser utilizada durante anestesia geral e pós-operatório. Como avaliada em alguns estudos, observou-se que com o uso da mesma houve redução na resposta inflamatória na cirurgia cardíaca, melhora na função pulmonar, resultando em uma extubação mais precoce [21].

Durante este período de VM deve ser monitorizada a FiO2, o fluxo, freqüência respiratória, volume corrente, pressão inspiratória, pressão final positiva, tempo inspiratório e expiratório, além da oximetria de pulso. Realiza-se a avaliação da expansibilidade torácica e simetria do murmúrio vesicular na ausculta pulmonar. Alguns ajustes dos parâmetros ventilatórios podem ser realizados a partir dos valores da gasometria arterial. A FiO2 deve ser suficiente para manter uma PaO2 entre 80 e 90 mmHg e uma SaO2 acima de 90% [11]. A partir desta avaliação e análise da monitorização, é decidido se há necessidade de intervenção fisioterapêutica para a contribuição na evolução do desmame ventilatório, respeitando-se sempre a estabilidade hemodinâmica do paciente.

Após a estabilização hemodinâmica completa, o ideal é a extubação, realizado após avaliação clínica e laboratorial adequadas, estando o paciente bem monitorizado [11]. Os critérios utilizados para a extubação são: freqüência respiratória <25 ipm, PaO2/FiO2 >200; PaCO2 entre 35 e 45 mmHg, pressão inspiratória máxima >25cmH2O, respiração espontânea, a presença de reflexos protetores de vias aéreas, obediência a comandos verbais simples, saturação periférica de O2 (SpO2) > 90% com FIO2 = 0, 21, volume corrente > 7 ml/kg, capacidade vital > 10 mL/kg e índice de FR/Vc < 80. Antes de proceder à extubação, a cabeceira do paciente deve ser elevada, mantendo-se uma angulação entre 30º e 45º. Também é indicado que se aspire a via aérea do paciente antes de extubá-lo [9]. A Figura 3 mostra o processo que envolve a evolução do paciente a partir da admissão na Unidade Intensiva de Pós-operatório.


Fig. 3 - Admissão e evolução do paciente no pós-operatório de cirurgia cardíaca



Pacientes que permanecem em VM por tempo prolongado

Devido às complicações decorrentes da CEC e da própria manipulação cirúrgica, alguns pacientes necessitam de suporte ventilatório prolongado. A VM pode levar a uma lesão pulmonar que pode ser induzida por quatro mecanismos específicos: excessiva distensão regional de células e/ou tecidos causada pela aplicação de pressões ou forças que não existem durante a respiração normal; baixo volume pulmonar no final da expiração, o que causa um recrutamento e colapso repetido de unidades alveolares instáveis; desativação do surfactante pulmonar pelas oscilações impostas pelo estresse; e a elevação da interdependência elevada entre células e tecidos vizinhos com diferentes propriedades mecânicas [21]. A pneumonia e a atelectasia também são complicações respiratórias associadas à dependência da assistência ventilatória mecânica [10]. Por estes motivos, estes pacientes que permanecem intubados por um longo período no pós-operatório de cirurgia cardíaca e têm suas funções pulmonares deterioradas devem ser submetidos a longa e intensa fisioterapia [17].

Nos casos de grande comprometimento pulmonar e baixa SaO2, podemos aumentar a PEEP para melhorar a oxigenação, não à custa de incrementos na pressão inspiratória e volume corrente, que são mais agressivos ao pulmão [11]. O prejuízo das vias respiratórias pode ser diminuído por meio da utilização de volumes correntes baixos e aplicação de uma PEEP adequada [21]. A PEEP não deve exceder 12 a 15 mmHg e não deve ser utilizado quando há baixo débito cardíaco [11] devido à possibilidade de instabilidade hemodinâmica. Quando utilizados valores de PEEP de 10 e 15 cmH2O, observam-se mudanças significativas na complacência pulmonar devido ao recrutamento alveolar suplementar. Melhoras no índice de oxigenação também podem ser observadas com o emprego desta técnica.

Técnicas de posicionamento, hiperinsuflação manual, vibração na parede torácica e aspiração endotraqueal têm sido usadas para a remoção de secreção brônquica e melhora da relação V/Q após a cirurgia cardíaca [22]. Recomenda-se a realização de exercícios ativos em pacientes sob VM capazes de executá-los, na ausência de contra-indicações, com o objetivo de diminuir a sensação de dispnéia, aumentar a tolerância ao exercício, reduzir a rigidez e dores musculares e preservar a amplitude articular [9]. Mudanças periódicas de decúbito têm se mostrado eficiente para evitar o prejuízo às vias aéreas [21].

Rosa et al. [23] observaram que os valores da SpO2, após a aplicação de um protocolo de atendimento (compressão torácica manual na fase expiratória, hiperinsuflação manual, instilação de solução fisiológica e aspiração traqueal), mantiveram-se acima do valor de base por até duas horas. Foi observada ainda, por meio do cálculo de diversas variáveis, uma redução significativa na resistência das vias aéreas após a terapia de higiene brônquica em relação ao grupo controle onde só foi realizada a aspiração traqueal.

A dependência do suporte ventilatório está diretamente relacionada à incidência de morbidade, e o aumento do tempo de internação nas Unidades de Terapia Intensiva com o conseqüente aumento do tempo de hospitalização. Pode-se diminuir a incidência de complicações pulmonares e o tempo de hospitalização, reduzindo-se o tempo de início de desmame e desconectando o paciente, o mais precocemente possível, do suporte ventilatório mecânico que, usualmente, compromete mais de 40% do tempo total de VM. Logo que os pacientes apresentem uma ventilação espontânea satisfatória, ou seja, estejam aptos a sustentar a ventilação com efetiva troca gasosa, esses processos devem ser iniciados. É nesse momento de transição entre VM e ventilação espontânea que muitos distúrbios respiratórios se instalam e são agravados por fatores restritivos, como sedação, algias e presença de drenos torácicos e abdominais [10].

O desmame da VM (transição da ventilação artificial para a espontânea) pode ser realizado utilizando-se pressão de suporte (PSV) ou a ventilação mandatória intermitente sincronizada (SIMV). A triagem sistemática de pacientes aptos para a realização do teste de respiração espontânea deve ser realizada diariamente pelo fisioterapeuta da UTI, seguindo protocolo multidisciplinar da respectiva unidade [9].

Ainda, para a retirada de VM ou desmame, pode-se lançar mão da prova de respiração espontânea ou da retirada progressiva. Na primeira modalidade, o paciente é colocado em respiração espontânea sem assistência (tubo T) ou com mínimo suporte ventilatório através da pressão positiva contínua na via aérea (CPAP) ou, ainda, sob um baixo nível de pressão de suporte. Já a segunda constitui um processo mais gradual em que se diminui, progressivamente, o trabalho ventilatório do paciente. Essas técnicas foram validadas em dois ensaios clínicos randomizados e foi observado que aproximadamente 75% dos pacientes toleraram a prova de respiração espontânea. A maioria dos pacientes que se recupera do episódio de falência respiratória aguda suporta a prova de respiração espontânea, mas quando é necessária a retirada progressiva da VM, o tempo gasto para o desmame é substancial, chegando a, aproximadamente, 40% do período total de permanência na VM ou a até 60% para pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica [8].

Costa et al. [8] compararam o desmame em pacientes cardiopatas e não cardiopatas utilizando pressão de suporte ou tubo T e concluíram que no modo pressão de suporte ocorreu melhora da oxigenação e dos parâmetros funcionais respiratórios, demonstrado pela diminuição da freqüência respiratória pelo menos durante os primeiros 15 minutos e aumento do volume minuto e volume corrente. Na comparação intergrupos, entre os cardiopatas e não cardiopatas, registrou-se entre os primeiros valores significativamente menores de freqüência cardíaca nos 30 minutos em que permaneceram em pressão de suporte, quando comparados ao tubo T, provavelmente devido ao uso de drogas específicas, como propranolol, digoxina, captopril, isossorbida e amiodarona. Porém, houve maior incidência de alterações eletrocardiográficas no segmento ST e uma tendência maior a ocorrência de arritmias no grupo dos cardiopatas. Já dentre os pacientes não cardíacos houve tendência a maior incidência de taquicardia.

Abordagem fisioterapêutica após a extubação

Após a extubação, inicia-se uma fase importante do atendimento fisioterapêutico com o objetivo primordial de manutenção de ventilação espontânea no paciente, evitando o retorno à prótese ventilatória [10].

Dentre os recursos empregados na fisioterapia respiratória estão manobras de higiene brônquica e expansão pulmonar, CPAP, BIPAP (dois níveis de pressão na via aérea), EPAP (pressão positive expiratória), RPPI (respiração com pressão positiva intermitente) e o uso de inspirômetro de incentivo (EI), que constituem recursos seguros e de fácil aplicação no período pós-operatório [5].

Os exercícios respiratórios aumentam a coordenação e eficiência dos músculos respiratórios e mobilizam a caixa torácica. São realizados na forma ativa, com a orientação e o auxílio do fisioterapeuta na execução [12]. Os exercícios de inspirações profundas, com no mínimo cinco incursões seguidas, mantidas por cinco a seis segundos, são eficazes no tratamento e prevenção de atelectasias refratárias, com melhora na capacidade vital e complacência pulmonar. Além disso, estes exercícios melhoram o volume corrente e facilitam a remoção de secreções [3].

Com o uso de anestésicos, drogas narcóticas e a interrupção da ventilação no intra-operatório durante o período de circulação extracorpórea, associados à dor, há diminuição da função ciliar, limitação do esforço inspiratório e prejuízo da eficácia do reflexo de tosse, favorecendo o acúmulo de secreção pulmonar [24]. O estímulo da tosse vem sendo empregado como técnica de higiene brônquica para remoção de secreções em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca [6,7]. A inalação de solução salina hipertônica com NaCl a 6% associada à fisioterapia respiratória convencional mostra-se eficaz no clearance mucoliciliar, induzindo a tosse produtiva [24].

A intervenção fisioterapêutica na reabilitação cardíaca é rotineiramente empregada em pacientes que foram submetidos a cirurgia cardíaca. A aplicação de exercícios de respiração profunda, estímulo à tosse, manobras de vibração na caixa torácica e o CPAP podem prevenir a deterioração da função pulmonar e reduzir a incidência de complicações pulmonares [7].

A ventilação colateral é importante para o funcionamento normal dos pulmões e os autores deste estudo citam que a aplicação de uma PEEP pode promover uma distribuição mais homogênea da ventilação pulmonar através dos canais colaterais interbronquiais, prevenindo o colapso na expiração. Então, a intervenção fisioterapêutica associada à aplicação de PEEP por meio de uma máscara em um circuito pressurizado pode ser eficaz para minimizar as complicações pós-operatórias. A PEEP auxilia na remoção de secreções para os brônquios principais, facilitando a sua expectoração. Uma menor incidência de complicações foi observada em um grupo de pacientes no qual a intervenção fisioterapêutica foi associada à aplicação de PEEP. No entanto, os volumes pulmonares não se restabeleceram completamente até o 5º pós-operatório, sugerindo a necessidade da continuidade do tratamento após o período de internação hospitalar. Ainda, existem estudos que demonstraram que a aplicação profilática de PEEP não apresentou benefícios quando comparada à abordagem fisioterapêutica sem PEEP, em pacientes submetidos à cirurgia torácica [7].

Romanini et al. [5] compararam o uso de RPPI e o EI em pacientes após a cirurgia de revascularização do miocárdio e concluíram que existe uma diferença funcional entre o RPPI e o EI. O RPPI é uma técnica de expansão pulmonar na qual um aparelho injeta ar pressurizado nas vias aéreas do paciente. Já o EI caracteriza-se por um dispositivo de exercícios respiratórios que fornece um estímulo visual do volume inspirado durante cada incursão ativa, melhorando a capacidade respiratória. Para uma reversão mais rápida de hipoxemia, o RPPI foi mais eficiente em comparação com o EI. No entanto, o EI parece ser mais eficaz na melhora da força muscular respiratória. Já Thomas e McIntoshi [25] conduziram uma metanálise para analisar as publicações conflitantes sobre a eficácia dos EI, RPPI e exercícios de respiração profunda na prevenção de complicações pulmonares pós-operatórias de pacientes submetidos a cirurgias abdominais superiores. As conclusões foram de que os exercícios de respirações profundas e o uso do EI são mais eficazes quando comparados a grupos de pacientes que não fizeram nenhum tipo de tratamento. Esta significante heterogeneidade entre os estudos pode ser atribuída a pobre metodologia e a diferentes tipos de tratamento empregados nos estudos analisados.

Para Agostini et al. [26], o EI após a cirurgia torácica é relativamente benéfico para verificar a função pulmonar e avaliar sua recuperação após a cirurgia. A fisioterapia com ou sem o uso do inspirômetro de incentivo reduz a incidência de complicações pós-operatórias e melhora a função pulmonar, mas atualmente não há nenhuma evidência de que o uso do inspirômetro isoladamente pode substituir a função do fisioterapeuta. Os profissionais devem estar atentos ao fato de que, apesar do inspirômetro fornecer informações sobre a recuperação pulmonar, a fisioterapia convencional permanece sendo o tratamento mais eficaz na recuperação do paciente e na prevenção de complicações pós-operatórias.

Vários trabalhos comprovaram a eficiência da ventilação não-invasiva (VNI) na terapêutica do desmame e manutenção da ventilação espontânea. A utilização desse tipo de procedimento promove o decréscimo do trabalho ventilatório, a diminuição do índice de dispnéia e o aumento do volume residual, prevenindo, portanto, a presença de atelectasias e favorecendo o recrutamento alveolar, como também incrementando PaO2 [10].

No pós-operatório tardio de cirurgia cardíaca, a realização de exercícios em pacientes com doença valvar pode melhorar sua tolerância aos exercícios e a qualidade de vida, embora não haja mudanças significativas na função pulmonar [27].

A Tabela 1 mostra as algumas complicações respiratórias decorrentes da cirurgia e algumas sugestões de possíveis intervenções fisioterapêuticas avaliadas em alguns estudos.




A FISIOTERAPIA EM NÍVEL DE PÓS-GRADUAÇÃO NA DIVISÃO DE CIRURGIA TORÁCICA E CARDIOVASCULAR DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO - USP

Com base em experiência adquirida em tempo superior a 10 anos treinando e utilizando os serviços de aprimorandos recém-formados em fisioterapia e, com o crescente interesse desses profissionais em participarem de programas de pós-graduação, o Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP criou uma linha de pesquisa em seu curso. Essa experiência tem sido bastante produtiva, agregando fisioterapeutas aos cuidados dos pacientes submetidos a cirurgias cardiotorácicas. Embora, a sessão posterior dessa revisão questionará a real importância da atividade fisioterapêutica, a observação da evolução diária e a melhora do atendimento aos pacientes são evidentes. É possível que as dificuldades dessa comprovação em números sejam difíceis, sem significar que a fisioterapia não tenha valor real.

Dentro dos projetos desenvolvidos, três, já concluídos, relacionam-se com o período pré-operatório. O primeiro deles estudou o efeito de um programa pré-operatório de reabilitação da musculatura inspiratória na evolução hospitalar de pacientes submetidos a operações cardíacas. Nesse estudo, 30 pacientes voluntários, de ambos os sexos, com idade mínima de 50 anos, e candidatos à operação de revascularização cirúrgica do miocárdio e/ou operação valvar cardíaca foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos. Em um grupo, 15 pacientes foram submetidos a um período mínimo de 2 semanas de treinamento da musculatura inspiratória utilizando um incentivador respiratório marca "ThresholdÒ IMT" (Respironics, Cedar Grove, NJ, EUA), com carga de 40% da pressão inspiratória máxima (PI Max). Os outros 15 pacientes receberam apenas orientações gerais, sem treinamento objetivo da musculatura respiratória.

Compararam-se os valores espirométricos antes e após o treinamento dentro de cada grupo. A evolução da PI Max, da pressão expiratória máxima (PE Max) e da gasometria arterial de ambos os grupos, antes e após o treinamento, bem como a sua evolução temporal no pós-operatório. Compararam-se, também, a evolução clínica de ambos os grupos. Observou-se que o treinamento causou elevação significativa da capacidade vital forçada (CVF) e da ventilação voluntária máxima (VVM), bem como redução da relação entre o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) com a CVF. Todavia, não houve diferença na evolução gasométrica e da PI Max, PE Max, tampouco na evolução clínica entre ambos os grupos. Concluiu-se que o treinamento da musculatura respiratória inspiratória em regime domiciliar, além de factível e seguro, resultou em melhora da capacidade vital forçada e da ventilação voluntária máxima, embora o benefício clínico não tenha sido evidente no grupo de pacientes estudados [28].

O segundo estudo focou o conhecimento prévio dos fatores de risco para a necessidade de ventilação mecânica invasiva prolongada, com a finalidade de proporcionar oportunidade de medidas profiláticas e o melhor gerenciamento dos recursos disponíveis. Assim, os objetivos deste estudo foram: 1) avaliar a incidência e as causas da ventilação mecânica invasiva por mais de 48 horas (VMIP) no pós-operatório de cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea e 2) identificar os fatores de risco pré e intra-operatórios para a necessidade de ventilação mecânica invasiva prolongada (>48h). Foram analisadas, retrospectivamente, as informações clínicas de 501 pacientes adultos consecutivamente submetidos a operações cardiovasculares com circulação extracorpórea, no período de 10 de janeiro de 2002 a 31 de dezembro de 2005.

Verificou-se a incidência de 10,8% (54 pacientes) de ventilação mecânica invasiva prolongada (VMIP) no pós-operatório. As complicações respiratórias foram as principais responsáveis pela necessidade de VMIP (48,7%), seguidas da instabilidade hemodinâmica (22,2%) e das complicações neurológicas (14,8%). Foram identificados como fatores isolados associados à necessidade de ventilação mecânica invasiva prolongada no pós-operatório: idade superior a 60 anos, classe funcional III/IV NYHA, endocardite, tabagismo ativo, estado clínico crítico no pré-operatório, DPOC, tempo de CEC >120 minutos, cirurgia não eletiva e cirurgia de revascularização do miocárdio associada à operação valvular. Já a análise de múltiplas variáveis mediante regressão logística forneceu modelo em que apenas a idade superior a 60 anos, o estado crítico pré-operatório, a DPOC, a classe funcional III/IV NYHA e o tempo de CEC superior a 120 minutos foram incluídos. A incidência e as causas de ventilação mecânica invasiva prolongada no pós-operatório, assim como os fatores de risco pré e intra-operatórios para a ocorrência da mesma, foram semelhantes àqueles reportados na literatura por outros pesquisadores. Muitos desses fatores de risco são passíveis de tratamento e/ou indicativos da necessidade de planejamento da estratégia operatória mais oportuna [29].

O terceiro estudo teve como objetivo apreciar as condições da musculatura respiratória e ventilação pulmonar pela avaliação de parâmetros manovacuométricos e ventilométricos, bem como verificar se esses parâmetros têm valor preditivo para complicações respiratórias. O estudo envolveu 226 pacientes submetidos a cirurgia de revascularização do miocárdio ou cirurgias valvares cardíacas. A análise de múltiplas variáveis pela regressão logística mostrou que idade, DPOC, pressão arterial pulmonar maior ou igual a 50 mmHg, fração de ejeção menor do que 0,40 e PImax e PEmax, ambas com valores inferiores a 70% do predito para a idade e sexo, eram preditores de complicações pulmonares no período pós-operatório. Os valores de PImax e PEmax, ambos menores do que 70% do previsto, podem ser considerados como um fator de risco útil para auxiliar o fisioterapeuta na estratificação do risco cirúrgico [30].


EVIDÊNCIAS CONTRÁRIAS SOBRE A REAL UTILIDADE DA FISIOTERAPIA RESPIRATÓRIA NA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES RESPIRATÓRIAS APÓS CIRURGIA CARDÍACA

Estudo realizado na Austrália (Patman et al. [22]) não mostrou nenhuma diferença entre pacientes submetidos a tratamento fisioterapêutico ou não em relação ao tempo de intubação, permanência na UTI e duração da internação. O mesmo ocorreu em relação aos valores de espirometria e complicações pulmonares. Concluiu-se que, em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca sem complicações, a provisão de fisioterapia durante o período de pós-intubação não traz vantagens adicionais para a evolução pós-operatória de pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Os autores concluem pela realização de mais estudos para investigar fatores de risco para o desenvolvimento de complicações pulmonares após cirurgias cardíacas, no sentido do fisioterapeuta dirigir apropriadamente seus esforços e recursos.

Com o objetivo de verificar se a fisioterapia respiratória previne complicações pulmonares após cirurgia cardíaca, Pasquina et al. [4] realizaram uma metanálise usando dados extraídos dos bancos de dados Medline, Embase, Cinahl, Cochrane Library. Concluíram, com base em dados extraídos de 18 ensaios (1457 pacientes), que nenhuma intervenção fisioterapêutica mostrou superioridade em nenhum parâmetro adotado. Assim, para esses autores, a utilidade da fisioterapia respiratória na prevenção de complicações respiratórias após cirurgia cardíaca permanece até o momento não comprovada. Além disso, se os benefícios podem não ser reais, fica difícil uma análise custo-benefício, uma vez que a fisioterapia acrescenta custos ao atendimento do paciente submetido a cirurgia cardíaca.

Se a relevância da fisioterapia rotineira é questionada em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca não complicada, o mesmo não ocorre em relação a cirurgias torácicas não-cardíacas, nas quais a atuação do fisioterapeuta passa a ser fundamental. Em outra metanálise, utilizando dados dos mesmos bancos de dados do estudo anterior, observou-se que a inspirometria de incentivo é um bom método para cuidados e avaliação da função pulmonar no pós-operatório de cirurgias torácicas. Apenas a utilização da inspirometria de incentivo, isoladamente, não substitui a atuação do fisioterapeuta por meio de uma bem organizada e regular fisioterapia.

Atualmente, como já foi exposto acima, é grande a diversidade de técnicas a serem utilizadas no pós-operatório de cirurgia cardíaca. No entanto, existem controvérsias quanto à eficácia destes procedimentos na redução da incidência de complicações respiratórias e quanto à estratégia mais adequada para identificar quais pacientes se beneficiariam de tais intervenções [6]. Diante disso, é necessário conhecimento da fisiopatologia e dos mecanismos que envolvem as disfunções pulmonares pós-operatórias para definir a terapêutica a ser empregada [5]. Uma correta interpretação desses dados proporciona melhor abordagem no tratamento e na atenção ao paciente no pós-operatório de cirurgia cardíaca.

Já em relação aos benefícios da fisioterapia profilática para a prevenção de complicações, os autores relatam que as evidências são escassas. Os estudos mostram várias divergências quanto às conclusões e, ainda, os recursos utilizados variam bastante de um ensaio para o outro. A fisioterapia de maneira profilática é amplamente utilizada e acredita-se que reduza o risco de complicações pulmonares como pneumonias e atelectasias. Faltam evidências sobre o benefício dos métodos empregados na fisioterapia profilática após a cirurgia cardíaca [4].


CONCLUSÕES

1. Metanálises apresentadas na literatura especializada sugerem que em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca sem complicações, a provisão de fisioterapia durante o período de pós-intubação não traz vantagens adicionais para a evolução pós-operatória de pacientes submetidos a cirurgia cardíaca.

2. A utilidade da fisioterapia respiratória na prevenção de complicações respiratórias após cirurgia cardíaca permanece até o momento não comprovada. Além disso, se os benefícios podem não ser reais, fica difícil uma análise custo-benefício, uma vez que a fisioterapia acrescenta custos ao atendimento do paciente submetido a cirurgia cardíaca.

3. Se a relevância da fisioterapia rotineira é questionada em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca não complicada, o mesmo não ocorre em relação a cirurgias torácicas não-cardíacas, nas quais a atuação do fisioterapeuta passa a ser fundamental.

Na opinião dos autores dessa revisão, as conclusões acima enumeradas não se confirmam na prática diária ao atendimento fisioterápico aos pacientes submetidos a cirurgia cardiotorácica, o que pode ser criticado em relação ao questionamento sobre o binômio custo-benefício. São necessários estudos selecionando pacientes com fatores de risco para comparação entre pacientes com fatores de risco menores. Os principais fatores incluiriam, principalmente, os fatores respiratórios, já que os benefícios do atendimento fisioterapêutico em pacientes submetidos a cirurgias torácicas não-cardíacas (principalmente pulmonares) estão bem estabelecidos.

Outro possível viés a ser considerado refere-se à atuação do fisioterapeuta dentro da equipe multidisciplinar (médicos e enfermeiros) de grandes serviços, atuação essa que, independentemente de resultados de metanálises, trata-se de uma unanimidade internacional. Essa atuação específica em grandes serviços, com certeza, soma-se às atuações de médicos e enfermeiros na prevenção de complicações pós-operatórias em pacientes submetidos a cirurgia cardíaca.


REFERÊNCIAS

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3. Brasher PA, McClelland KH, Denehy L, Story I. Does removal of deep breathing exercises from a physiotherapy program including pre-operative education and early mobilisation after cardiac surgery alter patient outcomes? Aust J Physiother. 2003;49(3):165-73. [MedLine]

4. Pasquina P, Tramèr MR, Walder B. Prophylactic respiratory physiotherapy after cardiac surgery: systematic review. BMJ. 2003;327(7428):1349.

5. Romanini W, Muller AP, Carvalho KA, Olandoski M, Faria-Neto JR, Mendes FL, et al. The effects of intermittent positive pressure and incentive spirometry in the postoperative of myocardial revascularization. Arq Bras Cardiol. 2007;89(2):94-9.

6. Hulzebos EH, Van Meeteren NL, De Bie RA, Dagnelie PC, Helders PJ. Prediction of postoperative pulmonary complications on the basis of preoperative risk factors in patients who had undergone coronary artery bypass graft surgery. Phys Ther. 2003;83(1):8-16. [MedLine]

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28. Ferreira PEG. Efeito de um programa pré-operatório de reabilitação da musculatura inspiratória na evolução hospitalar de pacientes submetidos a operações cardíacas [Tese de Mestrado]. Ribeirão Preto:Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo;2007. 90p.

29. Megna RC. Fatores de risco para ventilação mecânica invasiva prolongada em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea [Dissertação de Mestrado]. Ribeirão Preto: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2007. 67p.

30. Borges VM. Avaliação da musculatura respiratória e dos volumes pulmonares como preditores de complicações respiratórias no pós-operatório de cirurgia cardíaca [Dissertação de Mestrado]. Ribeirão Preto: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2008. 47p.

Lívia ArcêncioI; Marilize Diniz de SouzaI; Bárbara Schiavon BortolinI; Adriana Cristina Martinez FernandesI; Alfredo José RodriguesII; Paulo Roberto Barbosa EvoraIII

1. Fisioterapeuta; Aprimoranda do Departamento de Cirurgia e Anatomia, FMRP-USP. 2. Professor-doutor do Departamento de Cirurgia e Anatomia, FMRP-USP; Vice-coordenador do Programa de Pós-graduação do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRP-USP. 3. Professor Titular; Chefe do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.

FisioImagens 38

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Imagens diversas, que exemplificam a atuação do Fisioterapeuta no dia a dia!

Evite patologias que afetam as pernas

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Dores e inchaços nas pernas ao final do dia são queixas frequentes, principalmente quando acompanhadas de queimação e formigamento. Tais sintomas podem ser um sinal de alerta para problemas no sistema circulatório. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças venosas comprometem cerca de 17% da população, sendo a maioria mulheres devido às questões hormonais. Apesar da hereditariedade ser um fator inalterável, a prática de atividade física e hábitos alimentares saudáveis podem estagnar e até retardar o aparecimento de doenças que comprometem o aspecto das pernas.

De acordo com o angiologista Ary Elwing (CRM-22.946), especialista em cirurgia vascular periférica e tratamento a laser, quando as pessoas se queixam da sensação de peso e cansaço nas pernas geralmente referem-se às alterações do retorno venoso. "Problemas no sistema circulatório é hereditário, porém obesidade, sedentarismo ou quem permanece muito tempo em pé ou sentado, faz força excessiva e o uso de hormônios femininos, incluindo os anticoncepcionais, são fatores que podem desencadear alguma doença venosa", explica.

O sistema circulatório que compreende o sangue, o coração e os vasos sanguíneos é responsável pelo fornecimento de nutrientes e de oxigênio para as células e tecidos corporais. "Qualquer transtorno pode causar complicações sérias à saúde, que podem variar de uma doença leve a uma condição ameaçadora", destaca o angiologista.

Insuficiência venosa

As varizes são uma das principais inimigas das pernas, e é caracterizada pela dificuldade de retorno do sangue das pernas ao coração, provocado pela falha das válvulas venosas que dirigem o fluxo sanguíneo nesse sentido. As varizes podem surgir em qualquer fase, mas geralmente se manifesta na puberdade. "As varizes iniciam com uma sensação de peso nas pernas, dor, cansaço, comichão e cãimbras. As veias dilatam-se e deformam se tornando visíveis e de aspecto sinuoso", ressalta o médico. Dependendo da gravidade, podem deixar de ser um problema estético e causar sequelas graves como feridas de perna de cicatrização difícil, as úlceras varicosas.
As causas, ainda não são claramente identificadas, mas os fatores hereditários desempenham um papel importante no desenvolvimento da doença. Obesidade, gravidez, tratamentos hormonais e profissões que exigem longos períodos em pé ou sentado podem desencadear o problema.
Para evitar é fundamental começar a eliminar os fatores de risco ou, pelo menos, minimizá-los. Converse com familiares e procure saber se sofrem com a doença venosa, se a resposta for positiva, os cuidados devem ser reforçados. "Neste caso, procure um angiologista para realizar um diagnóstico e identificar o grau da doença para indicação do tratamento mais adequado", destaca Elwing. Além disso, manter hábitos saudáveis pode retardar o seu aparecimento. Pratique exercícios físicos como bicicleta, natação ou hidroginástica e cuide da sua alimentação.

Isquemia Crônica

Essa patologia é mais frequente em pessoas com idade entre 40 e 50 anos. A dor se manifesta geralmente quando o paciente estar caminhando e é uma dor forte que obriga o paciente a ficar parado alguns minutos para poder andar novamente, o mesmo espaço ate aparecer de novo , esse processo repetitivo é chamado de claudicação intermitente. "A isquemia crônica acontece quando o sangue deixa de ser suficiente para irrigar os tecidos dos músculos, diminuindo a sua oxigenação", afirma o especialista.

A causa pode ser desencadeada por arterosclerose que entope as artérias ou Diabetes que causa fibrose da artéria tornando-a muito afunilada e atacando os capilares. Para evitar mantenha uma alimentação saudável sem gorduras, cuide da higiene dos pés, caminhe sempre, controle o colesterol e pare imediatamente de fumar.

Doença do sistema linfático

As pessoas que apresentam essa doença têm menor circulação da linfa pelo corpo. "Como a linfa fica mais estagnada, uma parte do líquido sai de dentro para fora do vaso linfático, ficando acumulado debaixo da pele. Por esse motivo, ocorre os inchaços nos pés, tornozelos e pernas", explica o angiologista. Quando o linfedema aumenta, pode causar dor local, deformidades e dificuldades para movimentar as pernas e braços.

A causa pode ser congênita ou adquirida por infecções dos vasos linfáticos.

Para evitar, o tratamento é feito por meio de medicamentos que promovem a contração dos capilares linfáticos. Além disso, manter a higiene dos pés é uma maneira de evitar infecções e feridas.

FIQUE POR DENTRO

Para evitar doenças e deixar as pernas livres de qualquer inchaço ou sensação de peso, confira algumas dicas importantes:

Mexa-se – Caminhe, suba escadas, ande pelo escritório e em casa. Evite ficar muito tempo sentado ou em pé para evitar dor e inchaço.

Relaxe as pernas – Depois de um dia cansativo, relaxe as pernas com um banho frio. Evite a exposição prolongada ao sol. Banhos quentes ou saunas podem provocar dilatações das veias e induzir o inchaço.

Eleve as pernas – Para ajudar o retorno do sangue venoso, eleve suas pernas ao sentar-se no sofá ou quando for se deitar.

Mantenha seu peso – Procure adotar uma dieta saudável para evitar o excesso de peso. Não alterar os ponteiros da balança suaviza os sintomas e os inchaços das pernas.

5 motivos para começar a fazer Pilates

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Imagine um enfermeiro preocupado em reabilitar pacientes feridos em um hospital para combatentes da I Guerra Mundial. Usando a imaginação, e com o auxílio de camas hospitalares, Joseph Pilates, idealizou um programa de exercícios capazes de alongar e flexibilizar o corpo. Passado quase um século desse evento, o método Pilates hoje é considerado uma prática corporal capaz de promover equilíbrio físico e mental, pois tem como base a respiração, o controle, a concentração, a precisão e a fluidez. Os benefícios são o alinhamento da postura, maior equilíbrio e coordenação, redução do estresse, alívio de dores crônicas, fortalecimento e flexibilidade dos músculos, entre outros.

5 motivos para começar a fazer Pilates

1. Maior conhecimento do próprio corpo: os exercícios requerem atenção em cada movimento, e região corporal. A consequência é a percepção de si.
2. Aprimoramento da qualidade respiratória: respiração correta, controlada e coordenada estimulam a resistência pulmonar. Para quem vive em meio a poluição, essas práticas ajudam a previnir doenças respiratórias em geral.
3. Fortalecimento e alongamento simultâneo: o método fortalece os músculos, o que promove a melhora dos desalinhamentos físicos. O corpo se torna funcional e passa a realizar as tarefas diárias com menor gasto energético.
4. Diminuição do estresse e aumento da atenção: a concentração na execução de cada movimento, aos comandos do instrutor e ao tempo de cada prática, leva à chamada automatização - a série de exercícios passa a ser feita de forma natural e sem compensações, garantia de relaxamento. O todo passa a integrar a vida do praticante, que alcança perfeito equilíbrio entre mente, corpo e espírito.
5. Prática variada: o método tem mais de 500 exercícios em sete aparelhos diferentes, além das práticas de solo (Mat), o que permite execuções diferenciadas para cada nível existente na prática.
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